034
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O céu lá fora estava cinzento e carregado de nuvens densas, como se estivesse prestes a desabar. A chuva tamborilava suavemente contra as janelas, enquanto o vento uivava pelos cantos da casa, sussurrando segredos incompreensíveis.
No quarto de Enid, a iluminação fraca criava um ambiente aconchegante, apesar da tempestade. Ela estava deitada de bruços em sua cama, o rosto apoiado nas mãos, os olhos vagueando sem foco. O som da voz de sua melhor amiga preenchia o espaço, mas as palavras se misturavam ao som da chuva e do vento, transformando-se em algo indistinto. Enid apenas balançava a cabeça de vez em quando, sua mente distante, perdida em pensamentos que ela mesma não sabia explicar.
Enquanto a voz de sua melhor amiga continuava a ecoar pelo quarto, Enid deixou escapar um suspiro profundo e se virou de lado, encarando a janela. A chuva agora caía com mais intensidade, escorrendo pelo vidro em trilhas sinuosas. O som do vento ficou mais forte, fazendo as árvores lá fora balançarem como se estivessem vivas, dançando sob a fúria da tempestade.
── Você está me ouvindo, Enid? - a voz de sua amiga cortou o ar, levemente impaciente.
Enid piscou, voltando ao momento, e se virou lentamente para encarar a garota que agora estava sentada na poltrona ao lado da cama. O rosto dela estava franzido, claramente esperando uma resposta.
── Hã? Claro que estou, pode continuar.. - murmurou Enid, tentando soar convincente, mas o tom desinteressado não passou despercebido.
A amiga bufou, cruzando os braços. ── Não, você não está ouvindo. Você nem sabe o que eu acabei de dizer.
Enid suspirou novamente e se sentou na cama, passando a mão pelos cabelos bagunçados. ── Desculpa, Mione. É só que... sei lá, esse clima, essa chuva... parece que tá me deixando estranha.
Hermione a observou por um momento, antes de relaxar o semblante e soltar um sorriso discreto. ── Estranha como?
Enid hesitou, olhando novamente para a janela. O vento uivava mais alto agora, e por um instante ela achou ter visto algo se mover lá fora, entre as sombras das árvores.
── Eu não sei explicar. Só tenho a sensação de que algo está... diferente. Como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer.
O sorriso da Granger desapareceu, substituído por uma expressão curiosa, quase preocupada. Ela se inclinou para frente, estreitando os olhos.
── Você tá falando sério? Porque.. - fez uma pausa, olhando para a janela. ── Lá fora parece estar normal.
As duas ficaram em silêncio por um momento, com apenas o som da tempestade preenchendo o ar. Enid estremeceu, e não foi por causa do frio.
── Talvez seja a tensão da mente causando agonia com a vida real. - Opnou observando a amiga caminhar pelo quarto ── Você se resolveu com o Malfoy?
── Sim, reatamos. Mas mesmo assim.. Continuo não podendo ver ou falar com ele por causa daquele homem.
── A única solução é matar o Lucius. - A acastanhada se deitou na cama abrindo um livro de capa azul escuro
── Não me diga isso, eu vou cogitar. - Enid ironizou aproximando-se mais ainda da janela, podendo ver o lado de fora.
As gotas de chuva escorriam pelo vidro em linhas tortuosas, distorcendo a vista do lado de fora. No entanto, algo parecia fora do lugar. Entre o movimento das árvores, uma sombra passou, rápida e quase imperceptível.
Ela piscou, achando que era apenas sua imaginação. Talvez fosse apenas o vento ou um galho balançando.. mas então, a figura voltou. Era um vulto preto, alto e esguio, que parecia se mover com uma fluidez quase antinatural. Ele surgiu entre duas árvores, ficando parado por alguns instantes como se também estivesse observando a ruiva ou sua casa.
Enid sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O quarto que antes parecia acolhedor agora parecia sufocante. Seus dedos se fecharam ao redor do cobertor, mas ela não conseguia desviar o olhar.
── O que estão fazendo trancadas aqui? - A voz de Ginny chamou a atenção das duas, Enid olhou rápido e voltou a procurar o que via antes.
E então, em um instante, o vulto desapareceu, engolido pelas trevas e pela chuva incessante.
Hermione, percebendo a expressão alarmada de Enid, se levantou de repente. ── O que foi? - perguntou, a voz agora carregada de preocupação.
── Tem alguém lá fora. - murmurou Enid, quase sem voz. Seus lábios mal se moviam.
── Como assim? - Ginny se aproximou da irmã mais velha, ela e Hermione procuram por qualquer movimentação ── Não estou vendo.
Uma batida firme na porta interrompeu o silêncio tenso do quarto. Antes que qualquer um pudesse responder, a voz familiar e autoritária de Molly ecoou pelo corredor:
── Enid, Ginny, Hermione! Desçam agora, precisamos ir!
Enid piscou, ainda um pouco abalada pela visão do vulto lá fora, mas o tom de urgência na voz de sua mãe a trouxe de volta à realidade. Ginny, que estava sentada na cama ao lado, trocou um olhar rápido com Hermione, que já estava arrumando suas coisas com precisão meticulosa.
── Vamos, não podemos fazer que esperem mais. - disse Hermione, ajustando a alça da sua mochila com a expressão séria de sempre.
Ginny se levantou rapidamente, mas lançou um olhar curioso para Enid, que ainda parecia distante. ── Ei, o que foi? Tá tudo bem?
── Nada. Não é nada - respondeu ela rapidamente, tentando disfarçar.
Molly chamou novamente, desta vez com mais urgência: ── Andem logo, meninas! Harry e os outros já estão esperando!
Sem outra palavra, as três desceram correndo as escadas estreitas da Toca. No andar de baixo, a casa estava um caos organizado: Ron discutia com Fred e George sobre algo que parecia irrelevante, enquanto Harry, encostado na parede com as mãos nos bolsos, observava tudo em silêncio, como se também estivesse perdido em pensamentos.
Molly os apressava, ajustando o cachecol no pescoço de Ron enquanto lançava olhares preocupados para o relógio mágico da família, cujos ponteiros indicavam "Perigo iminente".
── Vamos, sem demora! Precisamos ir ao esconderijo de Sirius antes que alguém perceba nossa ausência - disse ela, a voz cheia de determinação.
Enid olhou para sua mãe, tentando ignorar a sensação incômoda que ainda latejava em sua mente. Ela sabia que visitar Sirius era importante, mas algo no fundo dela dizia que aquela noite não seria tão tranquila quanto planejavam.
── Eu estou curioso para saber o que tanto Sirius tem a conversar com Harry. - Ron comentou lançando um olhar para o amigo
── Menino curioso. - Arthur balançou a cabeça se aproximando da lareira ── Encontraremos alguns membros na rua, não se esqueçam de falar o nome "Grimmauld place".
── Faça primeiro, ande logo. - Molly abanou os braços em direção do marido
Cada um foi depois que Arthur sumiu, Enid estava ficando por último assim como Harry. Mesmo que notou o quão quieta a amiga parecia ultimamente, e isso o preocupava.
── Enid, o que você tem?
A garota olhou para trás, observou o rosto do Potter em silêncio e suspirou profundamente.
── Estou bem, Harry. - Sorriu minimamente
Harry deu um passo a frente vendo a última pessoa aparatar, e pousou a mão no ombro da ruiva com delicadeza. ── Estou aqui para ouvi-la sempre que precisar.
Enid apenas assentiu lhe mostrando um sorriso que passava tranquilidade, ela não queria preocupar aquele momento com algo que não sabia ser real ou não, então não disse nada.
Logo os dois seguiram os passos do resto, indo parar em um beco escuro.
Quando chegaram à casa de Sirius, o ambiente parecia ainda mais sombrio do que Enid se lembrava. A casa estava oculta entre as árvores, seu contorno em ruínas e seu telhado coberto por musgo. A porta de entrada estava ligeiramente entreaberta, um convite sombrio que parecia descer das sombras como um presságio.
Arthur, com um olhar de alerta, foi o primeiro a entrar, Molly segurando o braço de Enid enquanto as outras meninas seguiam logo atrás. A casa estava fria, o cheiro de mofo e poeira invadindo as narinas. As paredes estavam cobertas por tapeçarias antigas e retratos desbotados, mas tudo parecia ser envolto por um véu de abandono.
── Sirius? - chamou Molly, sua voz reverberando nas paredes vazias.
Uma porta se abriu à frente rangendo alto e lentamente, e Sirius Black apareceu na entrada do que parecia ser a sala principal. Ele estava com um semblante cansado, mas seu olhar brilhou com uma mistura de alívio e felicidade ao ver a família.
── Molly, bem-vinda. - Ele sorriu, mas o sorriso desapareceu rapidamente quando passou a olhar cada um dos jovens atrás da mulher, e voltou a sorrir. ── Enid, Ginny, vocês cresceram desde a última vez em que as vi.
As garotas sorriram diante de suas palavras, os olhos curiosos do Homem continuaram até chegar no garoto de cabelos escuros e óculos redondos, que olhava Sirius com a mesma intensidade de curiosidade.
── Você se parece com o seu pai, mas no fundo dos seus olhos eu a vejo. - Comentou admirando os detalhes mais escondidos do garoto.
Sirius deu um suspiro profundo, conduzindo-os pela casa enquanto falava, e sua voz ressoava nas paredes escuras.
── Vamos conversar na sala. - disse ── É melhor que vocês saibam tudo o que está acontecendo, especialmente agora que as coisas estão ficando... complicadas.
── Cadê o resto? - Arthur perguntou olhando ao redor
── Em algum lugar da casa.
Quando chegaram à sala de estar, o ambiente estava mais aquecido pela lareira acesa, e os móveis eram simples, mas confortáveis. No entanto, o lugar tinha um toque de mistério, com prateleiras cheias de livros antigos e objetos que pareciam ter sido deixados em uma pressa de sair.
Harry já estava ali, sentado ao lado de um mapa da área, sua expressão grave, como se estivesse esperando por algo. Ele olhou para as meninas, e seus olhos se encontraram com os de Enid, que sentiu uma pontada de inquietação.
── Ele está de volta, não está!? - disse Harry, com firmeza. Foi mais uma afirmação do que uma pergunta, de fato.
Enid olhou para o garoto, sabia perfeitamente de quem Harry estava se referindo.
── E quer chegar em você. - Uma voz chamou a atenção de todos ali, na porta estava Lupis de braços cruzados e expressão casual.
── Bill. - Enid viu seu irmão aparecer logo atrás do homem e abrir os braços para recebê-la em um abraço acolhedor, ela foi sem hesitar.
── Querem café? - Fleur caminhou até os pais de seu marido para cumprimentá-los, sorridente e gentil como sempre.
Ron se aproximou de Fleur, um sorriso travesso nos lábios enquanto esfregava as mãos.
── Tem uma comidinha também? — perguntou com um tom brincalhão, lançando um olhar suplicante para a cunhada, que riu de suas palavras.
── É claro, cunhado. - fingindo indignação, mas já apontando na direção da cozinha.
Hermione revirou os olhos, embora não conseguisse evitar o riso.
── Garoto morto de fome - Enid comentou
Sem perder tempo, ela decidiu segui-los. O cheiro reconfortante de comida caseira parecia irresistível, e ela também não recusaria uma oportunidade de petiscar algo delicioso.
No entanto, ao cruzar a soleira da cozinha, ela parou abruptamente, como se tivesse batido em uma barreira invisível.
Uma voz estridente e familiar soou no ambiente.
── Dobby trouxe comida extra para os convidados especiais!
Enid arregalou os olhos ao se deparar com a figura inconfundível do pequeno elfo doméstico. Ele estava vestido com uma toalha de mesa antiga, amarrada como uma túnica improvisada, e seus olhos enormes brilhavam de alegria.
Ela sabia que Dobby costumava fugir da mansão onde servia, mas nunca esperaria encontrá-lo ali, tão à vontade e cheio de entusiasmo.
Dobby virou-se para Enid, uma expressão de surpresa e contentamento no rosto.
── Senhorita Enid! - exclamou, fazendo uma reverência exagerada. ── Dobby está feliz em ver a senhora namorada do meu mest-
── Dobby! - Enid correu tampando a boca do elfo antes que ele concluísse
── Namorada de quem? - Ron ergueu uma sobrancelha em dúvida
── De ninguém. - Enid respondeu, sabendo que não poderia soltar a boca de Dobby agora ou ele e sua sinceridade traiçoeira iriam lhe jogar em uma situação complicada.
── Então solta ele. - Ron estreitou os olhos, cruzando os braços enquanto lançava um olhar desafiador para Enid, que não parecia disposta a ceder.
── Já falei, Ronaldo Weasley, não é nada. - Enid respondeu com a mesma intensidade, revirando os olhos enquanto mantinha o tom firme.
Antes que Ron pudesse retrucar, o som de passos firmes ecoou no corredor, e Arthur Weasley apareceu na entrada da cozinha. Ele olhou para os filhos com uma expressão de leve exasperação, mas também com a curiosidade de um pai que sabia que algo interessante estava acontecendo.
── O que aconteceu aqui? – perguntou, levantando as sobrancelhas enquanto alternava o olhar entre Ron e Enid.
── O Dobby disse que a Enid tem um namorado! – Ron acusou rapidamente, apontando para a irmã como se tivesse acabado de desvendar um segredo importante. Seus olhos não desgrudaram dos dela, como se tentasse arrancar uma confissão à força.
Arthur piscou, claramente surpreso, e voltou sua atenção para Enid.
── Quem, filha? – perguntou em um tom mais calmo, mas sua expressão rapidamente mudou para preocupação. ── Não me diga que é aquele Marco? Ele já não machucou o seu coração demais?
Ao ouvir o nome, o rosto de Enid endureceu por um breve instante. Ela odiava que todos ainda pensassem nele, como se ele fosse o centro de sua vida. Respirando fundo, ela cruzou os braços e balançou a cabeça, tentando conter sua frustração.
── Pai, não é o Marco - respondeu, desviando o olhar.
── Então tem alguém! - Ron exclamou
── Deixa sua irmã em paz. - Arthur interrompeu antes que houvesse mais interrogações, puxando o filho junto com ele.
Enquanto todos estavam distraídos com suas próprias atividades, imersos em conversas e preocupações do que vieram fazer aqui, Enid se aproximou furtivamente de Dobby. O ambiente ao redor estava cheio de murmúrios e risadas, mas ela se inclinou para o lado do elfo, certificando-se de que ninguém mais a ouvisse. Seus olhos estavam atentos, como se cada palavra fosse importante.
— Dobby, como Draco está? — Enid sussurrou, sua voz suave e carregada de uma preocupação discreta.
🐍🦁
Mansão Malfoy, Noite Fria
Draco estava deitado em sua cama de dossel, os olhos fixos no teto esculpido de seu quarto. O brilho prateado da lua entrava pelas cortinas entreabertas, refletindo na mobília escura e nas tapeçarias caras que decoravam o cômodo. O silêncio ali dentro era sufocante. Ele odiava esse silêncio.
Seu castigo havia sido claro — sem sair da Mansão até o retorno a Hogwarts. Seu pai mal olhara para ele depois de descobrir seu "erro".
Mas ali estava ele, preso em seu quarto, enquanto cada célula de seu corpo ansiava por vê-la. Pansy teria rido da sua cara se soubesse disso. Ele mesmo teria rido, meses atrás.
Ele virou de lado, encarando a lareira apagada. A ideia começou a se formar em sua mente, incerta, perigosa, mas irresistível. O elfo doméstico da casa—Dobby já não estava ali, mas ainda havia outros. Se pedisse com a entonação certa, sem levantar suspeitas… talvez conseguisse que um deles entregasse uma mensagem.
Ou então… poderia simplesmente sair. Ele sabia onde seu pai guardava a chave de portal particular da família. Bastava alguns passos silenciosos, um feitiço para destrancar a gaveta, e em minutos poderia estar fora dali.
Se fosse pego? Bom… já estava sendo punido de qualquer forma. Qual era a diferença?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Estava absorto demais na possibilidade de vê-la, no risco que poderia correr, mas foi arrancado de seus pensamentos quando ouviu barulhos surgirem na porta de seu quarto, Draco se apoiou nos cotovelos aguardando quem estava ali se anunciar de uma vez.
Antes que pudesse responder, ela se abriu, revelando sua mãe.
Narcisa entrou com a elegância de sempre, vestindo um robe azul-escuro que contrastava com seus cabelos loiros perfeitamente alinhados. Sua expressão era neutra, mas seus olhos carregavam algo… diferente. Algo que ele não conseguiu decifrar de imediato.
── Boa noite, Filho - ela disse suavemente, fechando a porta atrás de si.
── Mãe - respondeu, se sentando na cama.
Ela segurava um envelope em mãos e o observava com atenção. Com um gesto discreto, chamou uma das empregadas domésticas, que entrou logo atrás dela carregando uma bandeja com o jantar. O cheiro era agradável, mas Draco não sentia fome.
A empregada colocou a bandeja sobre a mesinha ao lado da lareira e saiu silenciosamente, deixando os dois sozinhos.
Narcisa, então, aproximou-se e estendeu a carta para o filho.
── Isso chegou há pouco - disse ela. ── Creio que tenha sido um erro.
Draco franziu a testa e pegou o envelope. Sua respiração se prendeu no instante em que viu a caligrafia no nome do destinatário.
Hermione Granger.
Seu coração deu um salto. Mas… por que uma carta para Granger teria vindo parar na Mansão Malfoy? Virou o envelope e, ao ver o remetente, sua garganta secou.
Enid Weasley.
Era dela.
── Parece que a coruja deles não é muito confiável para entregas - Narcisa comentou, observando a reação do filho.
Draco não conseguiu esconder o choque, nem a hesitação ao segurar a carta com um cuidado quase reverente. Seu nome nem estava ali, mas era dela.
── Eu não quis abrir - a mãe continuou. ── Não acho certo. Mas sei o suficiente para entender que você gostaria de recebê-la, mesmo que não tenha sido endereçada a você.
Draco abaixou o olhar para o papel em suas mãos. Parte dele queria rasgar o envelope e descobrir o que Enid escrevera para Granger. Outra parte sabia que seria invasivo.
Narcisa sentou-se na poltrona próxima e observou o filho por um momento, antes de dizer:
── Você a ama, não é?
A pergunta pegou Draco de surpresa. Ele ergueu os olhos para a mãe, sem saber como responder de imediato. Narcisa não parecia acusá-lo, nem julgá-lo. Pelo contrário.
Draco respirou fundo. Suas mãos apertaram o envelope enquanto as palavras saíam baixas, mas firmes:
── Sim. Eu a amo.
Ele não sabia o momento exato em que essa certeza havia se instalado dentro dele. Talvez tenha sido quando Enid ria daquele jeito despreocupado, sem ligar para os olhares ao redor. Ou quando ele percebeu que procurava por ela nos corredores de Hogwarts sem perceber. Ou talvez tenha sido naquele dia, no meio da discussão que tiveram, quando Enid caiu da vassoura e seu mundo parecia girar em torno da garota. Não existia mais nada, além da ruiva que precisava dele.
Narcisa sorriu. Foi um sorriso pequeno, quase melancólico, mas carregado de algo que ele raramente via nela: alívio.
── Você não sabe o quão orgulhosa estou de ouvir isso, Draco - disse ela, a voz suave, mas cheia de significado.
Ele franziu a testa.
── Orgulhosa?
Ela assentiu.
── E aliviada.
Draco sentiu o peito apertar.
── Porque eu não sou como o pai?
Os olhos de Narcisa suavizaram.
── Porque você não deixou que Lucius o tornasse como ele, e eu fico muito feliz por isso.
Um silêncio se instalou entre os dois. Draco sentiu algo se agitar dentro de si. Algo que talvez estivesse ali há anos, mas que ele nunca havia nomeado.
── O amor não é uma fraqueza, Draco — disse ela, baixinho. ── Nunca deixe ninguém convencê-lo do contrário.
Por um instante, Narcisa apenas o observou. Então, se levantou, caminhou até ele e pousou uma mão leve sobre seus cabelos.
── Se quiser sair para ver a garota, aproveite que seu pai saiu para uma reunião com os comensais. - deu um conselho para o mais novo
E com isso, saiu do quarto, deixando Draco sozinho com seu coração acelerado enquanto encarada a porta onde a silhueta de sua mãe havia acabado de sumir.
Draco ainda segurava a carta de Enid em mãos quando um "PLOP!" alto ecoou pelo quarto, quebrando o silêncio.
Antes que pudesse sequer erguer a varinha, ouviu um estrondo, seguido de um "AI!", e um monte de fuligem desabou dentro da lareira.
Draco estreitou os olhos.
── O que diabos…?
Então, duas pernas finas começaram a se debater para fora da chaminé, acompanhadas por um par de orelhas enormes.
── AHH, O Jovem Sr. Malfoy Não Deveria Estar Vendo Isso! - disse o elfo ── Dobby não era para estar aqui! Dobby deveria ter aparecido no telhado, mas errou o cálculo, senhor!
Draco arregalou os olhos.
── Dobby?!
Com um último empurrão, o elfo despencou da lareira, aterrissando de cabeça no tapete persa. Ele se levantou rapidamente, tentando se recompor, mas estava coberto de fuligem da cabeça aos pés, com os olhos esbugalhados brilhando no rosto sujo.
Draco cruzou os braços, sem paciência.
── O que você está fazendo aqui?!
Dobby limpou a garganta e ergueu um dedo ossudo, como se tivesse algo de extrema importância para dizer.
── Dobby veio porque Dobby sabe que o jovem mestre Malfoy quer ver uma certa pessoa antes de voltar para Hogwarts! E Dobby pode ajudar!
Draco congelou.
Ele olhou de relance para a porta, certificando-se de que ninguém estava ouvindo. Depois, se virou lentamente para o elfo.
── Como você poder saber que quero isso?!
Dobby sorriu, satisfeito consigo mesmo.
── Dobby sempre sabe das coisas, senhor! - disse orgulhoso ── O jovem mestre fica suspirando para o teto e murmurando enquanto olha pela janela! É muito óbvio!
── Eu não suspiro! - Draco sentiu o rosto esquentar instantaneamente.
Dobby piscou inocentemente.
── Claro que não, senhor. Dobby deve estar ouvindo fantasmas então!
Draco massageou as têmporas, tentando ignorar a vontade de chutar aquele elfo irritante para fora dali.
── Tá. Você disse que pode me ajudar. Como?
Dobby abriu um enorme sorriso, claramente orgulhoso de si mesmo.
── Dobby pode aparatar o jovem mestre para onde a senhorita ruiva está, de novo!
Draco estreitou os olhos.
── Você? Me aparatar? - olhou para a lareira onde o elfo caiu segundos atrás
Dobby estufou o peito, empolgado.
── Sim, sim! Mas… tem um pequeno probleminha..
── Ótimo. O que foi agora?
Dobby coçou a cabeça, derrubando mais fuligem no tapete luxuoso.
── A senhorita Weasley esta em um lugar reunida com pessoas que o mestre não se agrada muito. - Disse se referindo a rivalidade que lucius tem com todos que estão juntos na residência do Black
Draco ergueu uma sobrancelha.
── Onde ela está?
Dobby começou a contar nos dedos.
── Número 12 da rua dos alfeneiros. - respondeu, voltando a sorrir ── Ela pediu para vir convencê-lo de ir até lá, mas pediu que eu o aparate em um quarto onde está sozinho, preciso me concentrar para não pararmos no meio da sala com todo mundo.
Draco o encarou por um longo momento.
Ele estava realmente considerando isso?
Ele, Draco Malfoy, confiando sua vida a um elfo doméstico que acabara de cair de cabeça no tapete? Que propôs ir para uma casa, se for se quem ele pensa, um dos maiores inimigos de seu pai apenas para ver Enid?
Sim. Sim, estava.
── Bom… não pode ser pior do que ficar preso aqui.
Dobby deu um gritinho animado.
── Ahh, Isso será divertido, senhor!
Draco teve a nítida sensação de que acabara de tomar a pior decisão da sua vida.
── O que eu não faço pela Enid? - Falou consigo mesmo, calçando seus sapatos, saindo da cama e soltando uma grande quantidade de ar.
O Malfoy suspirou.
Ele realmente tinha se tornado esse tipo de pessoa? O tipo que se meteria em um "território inimigo" só para ter um vislumbre de alguém? O tipo que confiaria no Dobby, de todas as criaturas do mundo, para ajudá-lo a escapar?
Se fosse qualquer outra pessoa, Draco teria rido. Teria zombado. Chamado de ridículo. Mas aqui estava ele, prestes a deixar seu orgulho de lado para fazer algo completamente impulsivo. Algo que o Draco Malfoy de um ano atrás nunca cogitaria.
O que essa garota fez comigo?, pensou.
Ele sabia a resposta. Enid desafiou tudo o que o malfoy conhecia. Não o tratou como um Malfoy. Não teve medo de apontar seus erros. Não recuou quando ele tentou afastá-la.
E agora ele era um tolo apaixonado, tramando uma fuga como se fosse um condenado.
Seu pai teria um colapso se soubesse. Mas, pela primeira vez, isso não importava.
Ele faria o que fosse necessário. Quebraria regras. Fugiria. Se preciso, apareceria na casa de uma família quebro detesta om um elfo trapalhão como cúmplice.
Porque perder a chance de vê-la?
Isso era simplesmente inadmissível.
Draco sentiu um puxão forte no estômago, a pressão do aparato fazendo sua visão girar.
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