Capítulo 18: Memórias
No dia seguinte, acordei cedinho, antes de Robert se levantar. Ao sair do quarto e descer as escadas, percebi que minha mãe não estava em casa. Talvez ela estivesse na feira do centro da cidade, costume que ela tinha toda quarta-feira.
Não consegui mais sentir sono para voltar para a cama, então fiquei perambulando pela casa. Até que encontrei algo que me tiraria do tédio na sala de estar.
Era meu piano, meu velho e pequeno piano. Talvez eu nem soubesse mais tocar nada, mas mesmo assim me sentei de frente para ele e fiquei acariciando suas teclas.
— Você ainda tá intacto. — Falei com o objeto.
A música que veio em minha memória logo de cara naquela hora foi Can't help Falling in Love, do Elvis Presley. Acho que foi a primeira música que eu aprendi no piano quando era criança.
Minha mãe sempre foi apaixonada pelo Elvis, então quando meu pai foi embora eu quis aprender sua música preferida para animá-la. Era uma canção que nós tínhamos muito carinho.
Por incrível que pareça, todos os acordes tinham se fixado na minha memória, eles só ficaram escondidos por bastante tempo. Eu consegui tirar a música de letra e até consegui cantá-la.
Como era irônico... a poucos meses atrás meu coração estava completamente endurecido, e hoje eu cantava e tocava uma música que a letra retratava exatamente a minha atual situação. A situação de não poder evitar de me apaixonar.
De repente, ouvi uma voz masculina cantando ao meu lado. Era Robert me acompanhando na canção. Ele se sentou no banco junto comigo e começou a acompanhar os meus acordes. Eu nem sabia que ele sabia tocar de verdade, sempre achei que fosse encenação.
Quando terminamos a música, ele sorriu para mim com os olhos brilhando. Foi um sorriso encantador.
— Você nunca me disse que tocava... e que também cantava.
— E você também nunca me disse que tocava.
— Sua voz é linda. — Robert acariciou minha bochecha.
— E a sua é mais ainda.
— Como você consegue, hein?
— O que?
— Fazer eu me apaixonar por você a cada dia mais.
— Eu não sei. — Respondi tímida e ele encostou sua testa na minha.
— Que cena linda de se ver... — Minha mãe chegou e falou. Não existia alguém mais apaixonado pelo nosso relacionamento do que ela.
— Oi, mãe, onde você tava?
— Tava comprando o nosso café da manhã. Já tô muito velha pra ficar em beira de fogão fazendo comida.
— Não precisava... — Falei em um tom de agradecimento.
— Vem, vamos comer, trouxe aqueles waffles que você adora. — Ela chamou.
Nós três fomos até a cozinha e começamos a tomar o nosso café da manhã. Eu tinha até me esquecido como era bom fazer uma refeição em família.
— Sabe o que vocês podiam fazer hoje? — Mamãe disse.
— O que?
— Poderiam ir naquela cachoeira que a gente ia. Se lembra, filha?
— Claro que lembro.
— Pois é, tá um dia tão quente hoje, acho que seria legal vocês irem visitar lá.
— O que acha, amor? — Perguntei.
— O que você decidir, eu topo.
— Então a gente vai.
Nós terminamos de comer, fomos até o quarto arrumar uma mochila com roupas de banho e toalhas e logo saímos de casa.
Preferi que não usássemos o carro para irmos até a cachoeira, ir caminhando e sentindo o ar fresco e ouvindo o som da natureza era muito melhor.
Acho que depois de uns dez minutos de trilha pelo pequeno bosque que havia atrás de casa, nós começamos a ouvir o som da água vindo de longe. Devíamos estar chegando perto.
— Como você descobriu esse lugar? — Robert me perguntou durante a caminhada.
— Ah... sabe como é, né... Meus pais brigavam demais e às vezes eu só queria um momento de paz. Até que um dia eu meio que fugi pra dentro desse bosque e encontrei a cachoeira. Anos depois apresentei o lugar pra minha mãe.
— Entendi.
— Essa cachoeira meio que se tornou um refúgio pra mim durante anos. Sempre que eu queria relaxar, eu vinha pra cá.
— Deve ser um ótimo lugar então.
— E é, você vai ver.
Uns cinco minutos depois, finalmente chegamos ao local, que continuava extremamente preservado. A água ainda era cristalina e a vegetação também parecia que nem tinha sido tocada.
— Nossa, é bem bonito aqui. — Ele se encantou.
— Eu te disse.
— A gente só não pensou em uma coisa...
— O que?
— Aqui não tem onde a gente trocar de roupa.
— Quer saber... por que não nadar sem roupa? — Dei ideia.
— Rebeca e suas loucuras.
— Qual é, não tem ninguém aqui. O que pode acontecer?
— É, você tá certa.
Tiramos nossas roupas e pulamos naquela água azul e gelada. Nós nos aproveitamos o máximo possível naquela cachoeira, jogávamos água na cara um do outro, mergulhávamos e também íamos para debaixo da cascata para refrescar a cabeça. Até que uma hora, finalmente cansamos.
— Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim. — Robert comentou me abraçando.
— Assim como?
— Livre.
— Pena que daqui a pouco a gente volta pra Los Angeles e esse seu sentimento vai acabar.
— Não, talvez ele não acabe.
— Por que? Achei que você estivesse se sentindo assim por causa do lugar que a gente tá.
— É, eu também achei, mas não é o lugar, é você.
— Eu?
— Sim, Rebeca, você me dá essa sensação de liberdade. Eu sinto que quando tô perto de você, sou capaz de fazer absolutamente qualquer coisa. Você tem esse poder.
— Virei super heroína agora? — Ri.
— Sim, minha super heroína. — Ele me beijou na testa. — Minha super heroína que me salva todos os dias.
— Salvo? Como? — Fiquei confusa.
— Fazendo eu me sentir amado e especial. Me dando um motivo pra dia após dia me levantar da cama e enfrentar qualquer coisa que vier pela frente.
— Você é tão romântico. — Sorri para ele.
— Eu só digo o que sinto.
— Me sinto mal por isso, eu nunca consigo verbalizar meus sentimentos como você faz.
— Você faz o suficiente, Rebeca, pode ter certeza disso. Palavras não são tudo.
— É, tem razão.
— Ei... eu venho pensando a um tempo em uma coisa. — Robert falou com receio.
— O que?
— Olha, vou entender completamente se você disser "não", até porquê é uma coisa bastante séria a se fazer.
— O que é?
— Vamos morar juntos quando voltarmos pra L.A.
— Morar juntos?
— É, minha casa é enorme e eu me sinto muito sozinho lá. Achei que seria boa ideia dividi-la com você.
— Robert... isso é uma decisão muito séria a se tomar.
— Eu sei disso, por isso pensei bastante antes de te perguntar. Não vou ficar chateado se você disser "não".
— Eu não quero dizer "não".
— Então diga "sim". — Robert riu.
— Tenho medo de tomar uma decisão precipitada e isso estragar tudo. Não quero ter pressa com nada relacionado a nós.
— Sim, eu entendo, mas do que você tem medo?
— Não sei. Vamos começar a nos ver todo dia durante 24 horas por dia, tem grandes chances de você acabar me enjoando.
— É mais fácil você me enjoar. — Ele brincou.
— É sério, Robert.
— Rebeca, o que eu mais quero é isso. Eu quero ficar com você pra sempre. Morar juntos é só o primeiro passo pra esse sonho começar a se concretizar.
— Mas será que...
— Amor, — Ele me interrompeu. — vamos tentar. Tenho certeza que vai dar certo.
— Você me tira a racionalidade às vezes, Robert Pattinson. — Balancei a cabeça.
— Porque às vezes você tem que usar menos a razão e mais a emoção pra ser feliz, meu anjo. Não dá pra planejar tudo certinho sempre, algumas vezes nós precisamos arriscar.
— Talvez você esteja certo...
— Então, qual é a sua resposta?
— Minha resposta é sim. Pra você, sempre vai ser sim.
— Te amo.
— Também te amo.
Ficamos na cachoeira até o fim da tarde. Quando o sol começou a se pôr, decidimos colocar nossas roupas e voltar para casa.
A paisagem até lá estava linda. O céu estava pintado com um tom rosado e alaranjado bastante vivo e o sol já estava pela metade no horizonte.
— Peraí. — Parei e apreciei a vista. — vamos tirar uma foto.
— Tá, pega meu celular aí na mochila.
— Não, não quero uma foto de celular. Eu trouxe minha câmera de fotos polaroide. Vamos fazer uma recordação desse momento.
— Tá bem.
Então peguei a câmera e tirei uma foto daquele lindo sol e também uma foto de nós dois.
— Ficou linda. — Robert disse com a polaroide na mão.
— É, é uma bela foto pra a gente recordar no futuro.
— É mesmo, podemos até mostrá-la pros nossos filhos. — Ele provocou sabendo que eu não gostava da ideia de ser mãe. Mas mal Robert sabia que eu havia mudado de ideia quanto a esse assunto.
— Quem sabe... — Sorri.
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