Capítulo 10: Sentimentos incontroláveis
Robert POV:
Os médicos disseram que Marlene teve uma súbita hipertensão durante a madrugada, logo depois ela teve uma hipotensão, em um intervalo de tempo curtíssimo. Foi isso que possivelmente ocasionou seu óbito.
Rebeca estava arrasada e não queria aceitar que a mãe havia falecido, já Willow ficou chorando durante uma semana inteira. As duas nem sequer conseguiram ficar no velório até o final.
Eu me preocupava com o estado de Rebeca, pois ela nem sequer chorava. Parecia que ela acumulava tudo o que estava sentindo dentro de si e a qualquer momento iria ter um súbito surto.
— Quando você volta pra casa? Esqueceu que tem namorada? — Suki falou enquanto estávamos em videochamada. Já tinham duas semanas que eu estava no Texas.
— Em breve. Eu tô esperando as coisas se acalmarem por aqui, agora que a mãe da Rebeca faleceu, tá tudo um caos. — Respondi. — Tenho que ajudar com as coisas da mudança e tal... ela não tem nenhuma condição psicológica pra isso.
— Que mudança?
— A Rebeca e a Willow vão morar em Los Angeles, pra melhorar o compartilhamento da guarda.
— Sua ex vai morar perto de nós agora? — Suki revirou os olhos.
— Sim, ela vai, ela é mãe da minha filha.
— Nossa vida ficou totalmente virada do avesso depois que elas apareceram.
— E você quer que eu faça o que? Siga a minha vida e faça de conta que elas não existem?
— Não, Robert, mas você também tem outra vida além dessa vida de pai. Você tem uma namorada, tem um emprego, tem amigos. Você tá simplesmente cagando pra tudo isso só por causa desse arrependimento de ter sido um pai ausente.
— Tudo o que importa na minha vida agora é a Willow, Suki. Tô pouco me fodendo pro que vão pensar de mim.
— Tá... não vou discutir mais com você por isso. — Ela suspirou. — Mudando de assunto, não se esqueça que nós temos uma entrevista marcada no programa da Ellen na semana que vem. Não falte. Lutei muito pra conseguir uma vaga.
— Tá, eu não vou faltar.
— Não fuja dos nossos compromissos, Robert. Essa criança não é o centro da sua vida.
— Tá, tá. — Respondi aborrecido.
— Tenho que desligar, vou ir pra ioga agora. Te amo.
— Tchau. — Me despedi.
Assim que desliguei, ouvi a porta do apartamento de Rebeca se abrir, provavelmente ela tinha chegado com a Willow da escola. Então saí do quarto onde eu estava acomodado e fui encontrá-las. Porém, para a minha surpresa, Willow estava sozinha.
— Wills, cadê sua mãe?
— Sei lá. — Ela estava chateada, era perceptível em seu semblante.
— Como assim "sei lá"? Como você veio pra casa?
— Peguei uma carona com a tia Gisele.
— Sua mãe não foi te buscar?
— Não.
Estranho, Rebeca tinha saído de casa umas quatro horas da tarde e disse que ia resolver umas coisas e depois buscaria Willow na escola. Mas não deve ter sido isso que aconteceu, pelo visto. Então comecei a me preocupar.
— E por que você não me ligou? Eu poderia dar um jeito de ir te buscar.
— Mamãe não deixa eu ter celular. Como eu ia ligar?
— Assim que a gente chegar na Califórnia, eu vou te comprar um telefone.
— Valeu, pai.
— Você pode ficar sozinha aqui por algumas horas? Vou ir atrás da sua mãe.
— Tá bom.
— Não saia daqui, ok? Qualquer problema, ligue para o porteiro pelo interfone.
— Ok.
Desci até a garagem do prédio e peguei o outro carro que Rachel tinha para sair pela cidade em sua procura. O único problema era que eu não tinha a mínima ideia de onde ela tinha se enfiado.
Por sorte, eu tinha pegado o número da sua amiga Gisele para contato em casos de emergência. Assim que fiz a ligação, a moça me atendeu logo.
— Oi, Robert. — Gisele cumprimentou do outro lado da linha. — Nossa... é tão estranho ter uma pessoa tão famosa me ligando, eu meio que sempre fui sua fã, tipo... desde a adolescência. Eu só tô falando isso agora porque não tive a oportunidade de dizer antes.
— Ah... eu agradeço. — Fiquei sem jeito.
— O que você deseja?
— A Rebeca tá com você?
— Não.
— Tem alguma ideia de onde ela possa estar?
— Já tentou ver no Friends Bar? A Rebeca vai muito lá quando tá com problemas.
Engraçado... a Rebeca não bebia, talvez ela tenha começado a beber quando nos separamos. As coisas mudam.
— Tá, vou procurar o endereço no GPS e ir lá.
— Ok, me ligue se precisar.
— Obrigado.
O bar não ficava muito longe da minha localização atual, devia ficar a uns 3km dali, então pisei no acelerador e fui encontrar Rebeca o mais rápido que pude.
Depois de uns dez minutos dirigindo, finalmente cheguei no tal Friends Bar. Era um bar velho, pequeno e simples, com muito cheiro de maconha por sinal, não parecia o tipo de local que a Rebeca de dez anos atrás frequentaria.
Não demorou muito para eu encontrá-la, sua pele alva e seus cabelos escuros a denunciavam de longe. Rebeca estava com a cabeça caída na mesa, parecia estar desacordada.
Ao me aproximar, pude concluir que ela realmente estava em um sono profundo, até tinha baba escorrendo da sua boca. Aquilo era bom, de certa forma, acho que desde que Marlene morreu, Rebeca não dormia mais.
— Rebeca? — Toquei devagar em seu ombro.
— O que? O que foi? Tô acordada. — Ele levantou rapidamente e olhou para todos os lados. Depois esfregou os olhos.
— O que você tá fazendo aqui? A Willow ficou te esperando na escola até agora, sabia?
— Puta merda... — Rebeca murmurou. — eu juro que não sou uma mãe irresponsável, não pense isso de mim.
— Eu não acho isso de você, só quero saber o que tá rolando. Fala comigo.
— O que tá rolando é o seguinte... — Ela se aproximou. — eu sou uma fodida, é isso que eu sou. Uma desgraçada que o pai abandonou, que a mãe bateu as botas da noite pro dia e que a filha prefere o pai dela do que eu.
— Você tá bêbada, você não quer dizer isso.
— Mas é verdade. Sou uma fodida. Fodida. — Rebeca riu sarcasticamente.
— Vem, vou te levar pra casa. — Apoiei ela em meus ombros.
Coloquei Rebeca no banco de trás e dei partida no carro para voltar até o seu apartamento. Ela ficava resmungando sozinha e falando coisas sem sentido. Ela estava, definitivamente, muito porre.
— Por que essas merdas todas acontecem comigo, hein? Será que eu sou uma pessoa tão ruim assim pra merecer tudo isso?
— Claro que não. Todo mundo passa por problemas.
— Tô passando por problemas desde que eu nasci, isso é normal?
— Bom... — Não soube direito o que responder.
— Enfim... como se já não fosse suficiente, eu ainda vou ter que morar na Califórnia de novo e voltar a sofrer.
— As coisas não precisam ser assim, Rebeca, podemos levar isso numa boa. Sem interferência do passado. — Por que eu estava tentando argumentar com uma bêbada?
De repente, ela começou a chorar muito, como um bebê, e eu não entendi o motivo daquilo.
— O que foi, Beca? Você tá bem?
— Tô. — Ela mentiu.
— O que foi? Pode me contar.
— Não, é segredo.
— Eu não vou dizer pra ninguém.
— Não importa se nós dois vamos conviver em Los Angeles de boa ou não. A merda é que eu nunca vou me acostumar a te ver com outra...
— Do que você tá falando?
— Eu não quero mais esconder isso.
— Isso o que?
— Que inferno... eu te amo... — Ela soluçou. — Simplesmente te amo e não posso mudar o que eu sinto. Você sempre foi o amor da minha vida, porra.
Não nego que aquilo atingiu meu coração como uma flecha. Eu achei que Rebeca me odiava... mas não... era tudo uma farça, ela me amava. E eu... bom... também a amava, pra caralho.
— Não muda em nada... — Ela deitou no banco. — Nunca vamos voltar.
— Beca... eu... — Pensei muito antes de falar. — eu te amo também.
— Porra nenhuma, você só quer se aproveitar de mim.
— Eu jamais faria isso com você.
— Você nunca vai largar aquela maluca pra ficar comigo. Eu tô fodida. Vou morrer apaixonada por você e nós nunca vamos ficar juntos.
Depois de um tempo, chegamos em casa. Willow se assustou ao ver a mãe naquele estado, mas eu garanti que estava tudo bem.
Então coloquei Rebeca na sua cama e a cobri com um lençol. Mas, mesmo assim, ela não parava quieta.
— Rebeca, vai dormir, você precisa se aquietar. — Sentei na beira da cama.
— Eu não quero. — Ela levantou, mas logo cambaleou e caiu no meu colo.
— Olha como você tá, Beca, precisa descansar. — Segurei firme seu corpo mole.
— Droga... — Rebeca olhou profundamente em meus olhos.
— O que?
— Você é tão bonito. Por que tem que ser tão lindo? Isso não é justo.
— Obrigado? — Quis rir.
— Seus olhos são a coisa mais linda que eu já vi, parece um oceano que me chama pra eu me afogar. — Ela acariciava meu rosto. — Você parece um anjo.
— Merda, eu quero tanto te beijar... mas você não tá em plena consciência pra isso.
— Só me beija, por favor. — Ela voltou a chorar. — Esquece tudo e me beija.
— Não. Hoje não. Só vou fazer isso no momento em que você tiver certeza. — Me afastei. Então ela se deitou na cama e finalmente capotou no sono.
Era possível um futuro para mim e para ela. Só precisávamos tomar a decisão certa. Era mesmo aquilo que o destino tinha para nós? Ficar separados por 12 anos e depois voltar? Pode ser que sim. Mas nós precisávamos ter plena certeza antes de decidir tudo. Não podíamos cair no erro de escolher às pressas e matar aquela nova chance que estava sendo dada a nós.
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