Capítulo 09: Complicações
Depois do dia que eu fugi da casa de Robert, nós dois nunca mais nos falamos ou nos encontramos. Vi em jornais e revistas que todos o fatos a respeito da traição já haviam vazado para o mundo todo. Não pude evitar de me perguntar como Rob estava depois daquilo.
— Eu não te entendo. — Ana me exortou durante o nosso intervalo de almoço. Tínhamos saído para comer em um restaurante a duas quadras da empresa. — Pra que fugir do cara? É muito desnecessário. Dava pra ver que vocês se gostavam.
— Exatamente, o nosso relacionamento já tava indo longe demais, e você sabe como eu sou com esse negócio de lance sério. Além do mais, se afastar de mim até vai fazer bem pra ele, o próprio Robert me disse que também não acreditava nessa baboseira de amor.
— Ah, pelo amor de Deus né, Rebeca! Ele disse tudo isso antes de te conhecer.
— O Robert não tava apaixonado por mim, Ana. A gente se curtiu, transou e depois acabou, esse é o ciclo das coisas.
— Só se for na sua cabeça. — Ela estava inconformada.
— Dá pra a gente mudar de assunto, por favor?
Então logo começamos a falar sobre coisas banais, como o último capítulo da série que estávamos assistindo.
Ficamos enrolando naquele papo bobo por bastante tempo, até Ana mudar completamente o seu semblante. Seu sorriso despreocupado se tornou um olhar de espanto e choque.
Ela olhava fixamente para a porta de vidro do restaurante, para a qual eu estava virada de costas. Não consegui entender de primeira o motivo daquela reação tão repentina. Mas preferia ter continuado sem entender.
— Melhor a gente ir. — Ana se apressou.
— Mas a gente nem pediu a conta ainda.
— Só deixa o dinheiro e a gorjeta em cima da mesa, a garçonete pega depois.
— Pra que toda essa pressa, hein?
Me virei para a entrada do restaurante e liguei todos os pontos. Ana queria me tirar dali por causa do que ela tinha acabado de ver.
Robert havia entrado no local e
estava muito bem acompanhado. Ele estava de mãos dadas com uma mulher que eu não fazia ideia de quem era, mas ela era linda. A moça era alta, tinha um corpo de supermodelo, o cabelo era loiro dourado natural e os olhos eram bem verdes. Ela era tudo o que eu estava bem longe de ser.
— Sinto muito. — Ana alisou meu ombro.
— Vamo logo embora. — Funguei com o nariz, segurando o choro, e peguei minhas coisas para ir embora, sem que Robert me visse.
O caminho de volta para a empresa foi repleto de silêncio. Ana nem ousou falar sobre o que tínhamos acabado de presenciar. Aquela foi uma das únicas vezes que ela me deu total privacidade.
Quando voltamos para a sede da GQ, cada uma foi para o seu escritório resolver suas coisas. Fiquei mexendo no meu computador, procurando as últimas notícias de famosos e tal. Pelo menos aquilo aliviaria minha mente um pouco.
— Rebeca. — Simon entrou em minha sala. — Precisamos conversar.
Quando seu chefe diz "precisamos conversar" é porque alguma coisa ruim está por vir.
— Sim?
— Vou lhe fazer uma pergunta e quero que seja honesta comigo, pode ser?
— Claro.
— Você tá tendo um caso com o Robert Pattinson?
— Q-Que? — Engoli seco.
— Você tem dormido com ele?
— Não, Simon, eu nunca faria uma coisa dessas!
— É mesmo? Não foi isso que as últimas notícias falaram. — Ele tirou uma revista do bolso para me mostrar. A revista em questão era a nossa concorrente. — "Robert Pattinson aparece aos beijos com uma garota misteriosa em Beverly Hills após término com Kristen Stewart". A garota da foto parece muito com você.
— Olha... eu posso explicar, Simon.
— Então explique-se. Porque se esse boato for verdade, você foi uma profissional extremamente incompetente.
— O Robert me contou tudo, eu descobri tudo o que aconteceu entre ele e a Kristen, mas tive medo de vazar as informações que ele me deu.
— É, você ficou apaixonadinha nele e deixou a revista rival descobrir primeiro tudo sobre todo o término deles. Graças a você, nós ficamos para trás.
— Eu não achei justo espalhar pro mundo inteiro algo que fez tão mal pra ele.
— Você é uma jornalista, Rebeca, a gente não tá aqui pra ter pena dos nossos entrevistados.
— Isso não tá certo... ele não merecia isso. — Massageei a testa para tentar aliviar o estresse.
— Se você não acha isso certo, então talvez o seu lugar não seja aqui.
— Você tá me demitindo? — Perguntei no susto. — Sabe o quanto eu lutei pra conseguir chegar até aqui?
— Arrume suas coisas e vá pra casa, por favor.
Simon saiu da sala e bateu a porta com força, eu não pude evitar de cair em prantos. O que seria de mim agora? Sem emprego, sem "namorado", sem família por perto. Como iria pagar minhas contas? Como iria sobreviver?
Enquanto arrumava minhas coisas, fiquei pensando em vários planos para a minha nova vida. Voltar a trabalhar com jornalismo não parecia uma boa opção, pelo menos não agora, quem iria querer trabalhar com uma pessoa que se envolvia com os entrevistados?
Talvez a melhor opção fosse voltar para a casa da minha mãe no Texas e arrumar um negócio por lá. Ela já estava envelhecendo e logo logo precisaria da minha ajuda.
— Aonde você vai? — Ana entrou desesperada em meu escritório.
— Vou pra casa.
— Pra casa? Por que?
— Fui demitida.
— Tá zoando, né?
— Não tô, tô com cara de quem tá de brincadeira?
— Merda...
— É, pois é, nossos plano de "sedução" foi uma ideia brilhante.
— Me perdoa, isso tudo foi culpa minha.
— Já não importa mais. — Falei baixo.
— Eu vou dar um jeito do Simon te perdoar, posso conversar com ele e fazê-lo mudar de ideia.
— Agradeço pelo esforço, mas não acho que vá adiantar de muita coisa, ele parecia bem decidido.
— Eu vou dar um jeito, prometo.
— Tá. Tenho que ir, nos vemos a noite.
Saí da empresa pela porta dos fundos, para que nenhum dos meus colegas de trabalho visse que eu tinha acabado de perder o emprego.
Peguei um táxi e dei graças a Deus por voltar para casa. Eu conseguiria ter um momento só meu, para refletir sobre tudo o que tinha acontecido. Sobre o meu emprego e principalmente sobre o Robert.
Mas algo estava estranho, a porta estava entreaberta. Me lembro de ter checado ela antes de sair, e me lembro muito bem de tê-lá trancado.
Entrei de fininho e peguei o bastão de baseball que ficava atrás da porta, por precaução. Quando cheguei ao final do corredor, vi que tinha um homem sentado no sofá da na minha sala de estar.
Ele logo se virou quando percebeu que eu estava atrás dele. Seu rosto me era familiar, mas ainda assim não conseguia lembrar de onde ele era.
— Oi, filha. — O homem veio em minha direção.
Escutar a palavra "filha" saindo de sua boca me fez perder totalmente a postura, eu fiquei sem acreditar. Aquele homem era o meu pai, só que muito mais velho e acabado.
— Como você descobriu onde eu moro? — Deixei o taco cair no chão e perguntei com a voz trêmula.
— Eu esperava uma recepção mais calorosa, no mínimo um abraço.
— Abraço? — Meus olhos marejaram. — Você some por quase vinte anos, invade a minha casa e depois espera um abraço?
— Não é bem assim, filha... — Ele se aproximou para me abraçar, mas eu dei um passo para trás.
— Você me abandonou. Tem noção do tanto de trauma que isso me causou? O tanto que eu gasto com remédios e consultas no psiquiatra e no psicólogo até hoje?
— Eu não fiz nada pra lhe deixar traumatizada assim, sempre providenciei tudo pra você e pra sua mãe.
— Pode não ter deixado faltar comida e um teto pra morar, mas deixou faltar amor! Até hoje eu tenho sonhos com você indo embora! Com você me menosprezando! Eu era só uma criança, porra!
— Você tá exagerando, Rebeca.
— Eu tive depressão severa na adolescência por sua causa e até hoje tenho crises de ansiedade. Ainda acha que é exagero?
— Você também não olha o meu lado! Nunca se perguntou o porquê de eu ter ido embora?
— É claro que não, caralho! Não tem justificativa isso! Ou na sua cabeça é justificável um pai abandonar a filha só com sete anos de idade pra fugir com uma amante? — Gritei chorando.
— Você é igualzinha a sua mãe... sempre acha que todos estão errados e só você tá certa. — Meu pai revirou os olhos.
— O que é que você quer? Por que tá aqui?
— Preciso da sua ajuda. — Ele falou e eu dei uma risada com deboche. Quem ele achava que era pra me pedir ajuda?
— Pra que?
— Bom... eu vi que você tá namorando aquele ator. Parabéns por ter arrumado alguém, aliás.
— Desembucha logo. — Cruzei os braços.
— O papai precisa de ajuda, filha... eu tô falido.
— Claro... a questão toda é dinheiro, nem sei porque passou pela minha cabeça que você veio do Texas até aqui por sentir minha falta. Qual merda você se meteu? Drogas? Agiota? Jogos de azar?
— É lógico que eu senti sua falta. Eu vim pra tentar consertar as coisas.
— Só se for pra consertar as suas coisas. As suas merdas.
— Filha, por favor... — Ele fez uma cara de pobre coitado, como se eu fosse ter alguma pena.
— Sai daqui... — Fechei os olhos e falei baixo, tentando me conter.
— Mas...
— SAI DA PORRA DA MINHA CASA AGORA OU EU CHAMO A POLÍCIA! — Dei um murro na parede ao meu lado.
— Tudo bem, eu já tô indo.
Então ele foi de fininho até a minha porta e saiu de casa. Foi quando eu corri para o quarto e comecei chorar com o travesseiro na boca para abafar o som. Aquele tinha sido, provavelmente, o pior dia da minha vida.
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