Deitada na poltrona de um só lugar, com as pernas para cima, encostadas na parede, bem próxima da televisão, Aninha nem piscava. A música de mistério do filme deixava Aninha sem respirar. A luz da sala estava apagada, todos na casa dormiam, de vez em quando Aninha olhava para os lados e para trás, temendo que o vampiro saísse da tela da televisão e aparecesse atrás dela.

Ficou até terminar o filme. Depois foi para seu quarto dormir, sem ir ao banheiro, mesmo estando com vontade. Tapou a cabeça e não deixou nada de fora das cobertas.

De repente, do nada, a velha bruxa cheia de ossos, apareceu bem na sua frente, sorrindo e com os olhos de dar medo em qualquer um.

ㅡ Como é que a senhora entrou aqui?- Aninha perguntou com muito medo.

ㅡ Eu fiquei escondida dentro da sua casa!- Ela falava de um jeito muito estranho.

ㅡ Eu vou chamar a minha mãe!- Aninha falou com vontade de chorar.

ㅡ Agora não é hora de chorar! Sua mãe não vai ouvir. Você gosta tanto de rir dos outros, por que não ri agora?

Aninha estava imóvel em cima da cama. A velha veio se aproximando e falou em seu ouvido:
ㅡ Vou fazer parafuso dos seus ossos! Pensa que eu não sei que você ri de mim, só porque sou magra e cheia de ossos?

ㅡ Eu não faço isso!- falou Aninha- É brincadeira.

ㅡ Agora é tarde! Vou pegar primeiro sua mãe, depois sua irmã e por último você. Vou fazer parafuso de todos os ossos da sua família.- depois que falou isso, soltou uma sonora gargalhada.

Aninha que até então não se mexia, pulou da cama e saiu correndo para ajudar sua mãe. Ficou berrando na porta do quarto para acorda-la, mas sua mãe não ouvia.

A velha não parava de rir alto e Aninha com medo, não entendia porque ela ria tanto.

ㅡ Deixa de ser bobinha, sua mãe não está aí.

Aninha correu para seu quarto e tentou acordar sua irmã. Ficou desesperada quando não a encontrou.

ㅡ O que a senhora fez com elas?- perguntou desesperada.

ㅡ Fiz parafusos de ossos das duas!

Sem perder mais tempo, Aninha correu para o banheiro e se trancou lá. A velha bruxa gritava do lado de fora da porta e não parava de gargalhar.

ㅡ Aqui você não vai me pegar- Aninha falou rindo alto também.

ㅡ Então, abre a tampa do cesto de vime e olha lá dentro, pra você ver o que tem.

Aninha abriu devagar a tampa do cesto, com medo do que iria encontrar. Dentro do cesto, ao invés de roupas sujas, havia os ossos de sua mãe e sua irmã. Aninha começou a chorar por causa delas. Então, fechou rapidamente o cesto e virou-se para a porta. O susto que levou foi enorme, a velha bruxa estava atrás dela, dentro do banheiro, se preparando pra pega-la.

ㅡ Agora é sua vez...- a bruxa falou, dando a gargalhada mais alta que já tinha ouvido.

ㅡ Levanta Aninha! Vem tomar café. Você fica até de madrugada na frente da tv olhando filme, depois não quer acordar.

Aninha estava feliz por ver que foi só um pesadelo, mas ainda assim, estava muito desconfiada. Foi até o banheiro para lavar seu rosto e escovar os dentes, mas antes, abriu a tampa do sexto para confirmar o que tinha lá dentro. Para sua surpresa, as roupas sujas estavam lá novamente e os ossos sumiram.

Tomou o café da manhã e reparou que sua mãe estava toda arrumada.

ㅡ Nós vamos sair mãe?- perguntou feliz.

ㅡ Vocês vão ficar em casa, só eu vou sair. Vou para Camboriú e volto só no final da tarde.

ㅡ Ah mãe eu quero ir junto...-

ㅡ Não e cuida da sua irmã!

Quando sua mãe saiu de casa, Aninha foi logo contando seu sonho para sua irmã Ivete, que ficou apavorada.

ㅡ Nós não vamos ficar dentro de casa.- falou Aninha- Temos que ir logo para rua brincar. Só vamos entrar quando a mãe chegar.

E assim fizeram. Depois de umas duas horas, Ivete pediu para ir ao banheiro.

ㅡ Abaixa e faz aí na rua!- Aninha gritou com a irmã.

ㅡ Não, eu quero ir no banheiro lá dentro. Quero papel higiênico.

ㅡ Mas a velha está lá dentro. _ disse Aninha.

ㅡ Eu vou fazer na calça.- Ivete falou choramingando.

Aninha não teve outro jeito, se não pegar dois vidros de conservas, que estavam em cima do armário, perto da porta de casa e com um em cada mão, entrou na casa seguida pela irmã.

ㅡ Não fala nada...- sussurrou para Ivete- fica atrás de mim.

Entraram no banheiro e Aninha sentou em cima da tampa do cesto, pra evitar que a velha saísse lá de dentro, "se estivesse lá é claro". Depois que terminaram, voltaram para a rua.

Depois que Aninha começou a ter mais confiança, entrou na casa novamente e foi até o quarto verificar se a velha estava lá. Antes porém, avisou para a irmã ficar lá fora e se a velha aparecesse, jogaria os vidros na cara dela. Claro que isso não aconteceu. Nem a velha apareceu, nem precisou jogar os vidros.

Quando sua mãe chegou em casa, estranhou os vidros fora de lugar.

ㅡ O que vocês andaram fazendo com esses vidros de conservas?

ㅡ Deixa que eu conto!- Aninha se apressou em dizer.

Dona Soraya abria cada vez mais seus olhos e boca, ao ouvir o relato de toda a história. Aninha fazia questão de não deixar nada de fora.

No dia seguinte, quando seus primos vieram, em vez de brincarem de esconde e esconde, como era de costume, resolveram contar histórias de Terror. Advinha só quem contou a melhor história? Acertou quem disse Aninha, afinal, era uma história real e que precisou de muita coragem para enfrentar a velha bruxa, que fazia ossos de parafusos.

FIM