Prólogo
Uma nação sob Deus.
Conforme adentravam, sob a aclamação do povo, a cidade dos jebuseus—não, não mais, agora era a cidade de Davi—Joel começava finalmente a entender a grande visão de seu rei, a visão pela qual batalharam todo esse tempo.
A destruição já mal se fazia perceber naquela região, a não ser pelos costumeiros escombros e pilhas de ossos queimados nos cantos das ruas. O palácio, de fato, começava a se erguer em glória sob as mãos aplicadas de uma miríade de construtores e artesãos cananeus das mais diversas origens. O melhor de todos os mundos. Os adereços de cobre aplicados nas grandes colunas de pedra reluzindo sob o sol de forma tão magnífica; era como se o próprio Elohim se manifestara, mas sem a intensidade letal de sua presença.
— Zion — o jovem pronunciou inaudivelmente com os lábios, paralisado por apenas um instante pela grandiosidade de tudo, maravilhado com a audácia e a provisão divina para que isto se tornasse possível. Os Valentes não passavam de instrumentos nas mãos deste poder inapreensível.
O grito de mercadores próximos aos grandes portões de bronze o despertou de seu devaneio e precisou apressar os passos para alcançar novamente a marcha dos soldados.
Nem mesmo as profecias de seu irmão, tão vívidas em imagens, eram capazes de descrever esse tipo de beleza. Aquilo que poderia ser. Aquilo que estava se tornando.
Do pó do deserto, Zion se erguia. Rica e majestosa.
E tudo graças ao rei.
Joel engoliu em seco e olhou para os cavaleiros em marcha ao seu redor, cada qual num galope peculiar, com um intenso sentimento de lealdade e dever cumprido. Uma camada espessa de pó, suor e sangue era a máscara que cobria seus rostos, seus braços, suas couraças. Seus olhos se assemelhavam pela vermelhidão da secura que os emoldurava. Olhos sem lágrimas.
Por honra e por glória. Todos lutaram.
Cada ordem cumprida, cada cabeça decepada, cada corpo trespassado por suas espadas, era para que este momento chegasse.
Com honra e com glória. Eles lutaram. E agora eram irmãos.
Ira, filho de Iquesh; Eliam, o viúvo; Abisai e Joabe, sobrinhos de Davi; Utah, filho de Ribai; Jonathan, filho de Shamah e tantos outros que os acompanhavam nessa jornada.
Uma nação sob Deus.
Mas a que custo?
Meu Deus, a que custo?
As mãos de Joel se estenderam à espada de ferro atada ao cinturão e ele deslizou a arma lentamente pelo estojo de couro que a protegia. Estava levemente curvada, fruto do impacto duro contra o capacete de um dos jebuseus. A espada miraculosamente venceu. Capacete e crânio e massa cinzenta tombaram ao chão, divididos em dois pedaços, como uma noz rachada.
A espada o salvou.
Esta espada.
A realização deste fato mal se apoderara de sua mente quando o cavalo negro de Urias, o hitita, disparou relinchando numa carreira sem dono, deixando uma nuvem de poeira vermelha para trás.
Seu dorso vazio era um lembrete.
Um lembrete doloroso.
De algo que ninguém jamais queria lembrar de novo.
[502 palavras]
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