Capítulo 6: Confronto: Os ninjas contra os dois samurais
~ Shinji ~
— Então, como vamos capturar os ninjas? — indaguei a Kanemin enquanto observávamos a vista noturna da cidade de Okomura do alto de um telhado.
— Posso localizar o ninja da névoa com meus instintos, e você pode perseguir o outro ninja. — explicou Kanemin.
— O que quer dizer com 'instintos'? — perguntei, movido pela curiosidade que há tempos tinha sobre ele.
— Cresci entre as raposas na floresta, por isso meus sentidos são extremamente aguçados, bem diferentes dos de um humano normal. — ele respondeu.
— Hmm, certo, vou confiar em você, então não faça nenhuma besteira!
(...)
Com a chegada da madrugada, uma névoa espessa envolveu a cidade. Fiz um sinal para Kanemin, que colocou sua máscara, compreendendo a situação.
O garoto raposa saltava pelos telhados com destreza e passos silenciosos. Corri pelas ruas tentando alcançá-lo, mas sem sucesso, então tive que deixá-lo ir na frente. Certamente, os roubos não são obra de uma única pessoa; pelos fatos, há dois ninjas a serviço do ministro. Suponho que um deles utilize o estilo névoa e, se estiver certo, o outro domina o estilo vento.
Enquanto Kanemin persegue o ninja da névoa, preciso lidar com o outro para não interferir em seu combate.
— Mas como vou encontrá-lo? — questionei-me, parando no meio da rua. Olhei para ambos os lados e só vi névoa. — Sayuri tinha razão ao dizer que não se vê nada. E agora? Não posso simplesmente esperar que Kanemin faça tudo sozinho; ele é um cabeça de vento, provavelmente cometerá algum erro.
Refleti por um momento, observei o céu cinzento pelo nevoeiro e respirei profundamente.
— Já sei! — exclamei ao ter uma ideia. — A névoa só pode atrapalhar a visão! Então, para encontrar o outro ninja, preciso usar os outros sentidos!
Relaxei meus músculos e agucei minha audição, captando um assobio distante enquanto uma brisa suave tocava meu rosto.
— Encontrei!
Desembainhei minha espada e corri ágil seguindo o assobio, que parecia uma canção de ninar soprada pelo vento, um som baixo e calmante, enquanto a brisa refrescante acariciava meu rosto, uma técnica antiga descrita em livros, usada para induzir o sono.
Entendi o esquema: eles fazem os moradores mais fracos dormirem, cegam os mais fortes com a névoa e confundem seus ouvidos com o vento, facilitando o roubo sem dar chance de perceberem até o amanhecer.
— Que desprezível! — protestei ao alcançar a origem do som.
Mal distinguindo uma silhueta, ouvi uma voz surpresa: — Hã? Quem é você?
— Sou o homem que vai te ensinar uma lição, seu ninja incompetente! — declarei, assumindo posição de combate.
— Ha?! Acha que pode me vencer, garoto? Quem é você? Um samurai? Bem, não importa, se quer lutar, é o que terá! — O ninja saltou, desaparecendo na névoa.
— Droga, onde ele está? De que lado atacará? — questionei-me, vasculhando o nevoeiro à procura do ninja.
— Estilo do vento, lâminas de vento!
De repente, fui atacado por ventos que pareciam lâminas afiadas, sofrendo cortes no braço esquerdo, nas pernas e no rosto. Por pouco, desviei de um golpe que poderia ser fatal.
— Ai! Isso doeu! — exclamei, limpando o sangue do meu rosto. — Mas como essa névoa não se dispersa com tanto vento? — questionei.
— Não é hora de pensar! Lâminas de vento!
Saltei, evitando o ataque.
— Idiota, não sabe que gritar o nome do ataque alerta o oponente?
— Será mesmo? — ele riu, confiante. — Lâminas de vento da morte!
Um vento ainda mais forte e feroz me atingiu, retalhando-me.
— Aaah! — gritei de dor, caindo de joelhos. — Droga! Se ao menos eu pudesse vê-lo!
Lembrei-me de Shinro, sorrindo e me encorajando, e uma chama se acendeu em mim, lembrando-me do meu objetivo.
— Eu não posso morrer aqui! Vou te derrotar, custe o que custar! — declarei com determinação.
— Quanta insolência!
Levantei-me, firmei as pernas, segurei a espada e a cravei no chão, que começou a rachar.
— Aah! O que você fez?! — o ninja exclamou, escorregando nas pedras.
— Encontrei você! — gritei, saltando sobre ele e o atingindo com a espada, fazendo-o perder a consciência.
Peguei-o pela roupa e saí do buraco antes que desabasse. Guardando a espada, me perguntei onde estaria Kanemin, já que não ouvia barulho de batalha e ele havia saído há trinta minutos.
— Estou preocupado, espero que aquele tolo não tenha ido atrás do ministro sozinho. Melhor me apressar.
Coloquei o ninja inconsciente sobre meus ombros e comecei a correr sem destino, esperando ouvir algum som que me guiasse até aquele louco.
Felizmente, após correr cerca de cem metros, escutei sons de combate e avistei uma silhueta familiar.
— Ei, Kane-chan!
— CUIDADO, SHINJI! — Ele gritou, desesperado.
Fiquei surpreso, não sabia se era porque ele me chamou pelo nome pela primeira vez ou pelo aviso em si. Afinal, cuidado com o quê?
Meu corpo começou a pesar gradativamente, um cheiro estranho invadiu minhas narinas, soltei o homem que carregava e caí para trás, sem ar e com a visão turva.
"Isso é veneno?"
Pela primeira vez, o nevoeiro se dissipou e uma pessoa foi revelada. Diante de mim estava um dos ninjas de mais cedo.
— Você derrotou o Kurogui? — Ele indagou ao ver seu companheiro desacordado e sangrando ao meu lado. — Vocês dois são crianças muito incomuns, é por isso que preciso eliminá-los, para que não se tornem ameaças ao imperador! — Exclamou, sacando uma Kunai e a cravando em meu coração.
— SHINJI! — Kanemin gritou.
Enquanto minha visão escurecia, a única lembrança que me veio foi a do meu irmão mais novo. Mexi os lábios e, embora sem emitir som, disse: — Me perdoe por não poder te salvar, Shinro.
~ Kanemin ~
Amor? O que realmente significa essa palavra? Não consigo compreender; é verdade que me incomoda ver alguém ferir outra pessoa mais frágil, mas isso não me afeta diretamente, às vezes me confundo com meus próprios sentimentos. Certa vez, alguém me perguntou se eu gostaria de ser seu filho, e eu fiquei surpreso, sem entender por que aquela mulher me tratava tão bem. No fim, ela morreu por minha causa, e sua morte deixou uma marca em minha vida. Ela não merecia um destino tão cruel, e eu não consegui salvá-la, nem entender por que ela me amava tanto, mesmo sem termos laços de sangue.
Quando ouço histórias de pais que dão tudo pelos filhos, e de filhos que enfrentam governantes para salvar os pais da fome, eu quero compreender, mas parece impossível. Talvez o amor seja um enigma, algo que não faz sentido.
— Cuide do ninja da névoa e não faça besteiras, Kane-chan!
— Kane-chan? — perguntei, surpreso e envergonhado.
— Sim, você disse que não queria ser chamado pelo seu nome na frente dos outros, então vou te chamar de Kane-chan! — ele explicou.
— Ah, é verdade... Mas isso não significa que você pode me chamar assim, soa como se eu fosse uma criança! — protestei.
— Ora, mas você é uma criança, nunca se viu no espelho? Além disso, não quero te chamar de raposa, é muito estranho, então é melhor se acostumar com Kane-chan! — ele argumentou com convicção.
Suspirei, resignado, mas talvez eu possa me acostumar com esse apelido embaraçoso.
— Então, você acha que pode lidar com o ninja da névoa sozinho? — ele perguntou.
— Com certeza, ele pode tentar me cegar o quanto quiser, mas nunca vai conseguir escapar, pois meus sentidos e instintos são muito aguçados!
— Isso mesmo, só você consegue fazer isso! Vá e acabe com ele, garoto! — exclamou o moço, bagunçando meu cabelo com sua mão e exibindo um largo sorriso orgulhoso, que me deixou envergonhado e constrangido.
Quando chegou a hora marcada, exatamente como os anciãos do restaurante haviam dito, partimos em busca dos ladrões de plantações. Eu segui pela frente, saltando sobre os telhados, enquanto o moço seguia pelas ruas.
— Estou perto! Sinto o mesmo cheiro do ninja que estava com o ministro mais cedo no restaurante!
Acelerei o passo, deixando o moço para trás, e segui o aroma até o local em poucos minutos. Desembainhei minha espada e ataquei o ninja de surpresa, golpeando-o no torso, mas, infelizmente, o corte foi superficial e a criatura repugnante conseguiu fugir, escondendo-se na névoa.
— Não adianta se esconder! — gritei, avançando em posição de ataque, mas ele se esquivou novamente.
— Então, você é a famosa raposa-demônio? Que patético! Não pensei que fosse tão pequeno! — Disse o ninja, escarnecendo.
— E eu não esperava que os fiéis protetores do imperador fossem tão covardes a ponto de roubar pessoas em necessidade, parecendo mais um bando de mercenários desprezíveis! — retruquei com um sorriso provocante.
— Cale-se, seu samurai repugnante, você não tem direito de viver e é por isso que vou acabar com você agora! — Ele gritou enfurecido, lançando inúmeras shurikens em minha direção.
Esquivei-me de algumas, e com minha espada, rebati outras.
— Direito? Quem são vocês para decidir quem vive ou morre?! Vou destruir todos vocês, e ninguém mais terá que morrer por essa injustiça!
Ataquei o ninja, que bloqueou minha espada com uma kunai. Nossas lâminas colidiram, e trocamos golpes que chispavam pelo ar, a luta estava empatada, até que o ninja desviou minha espada e recuou, formando um selo com as mãos, e anunciou: — Jutsu dos clones das sombras!
Em segundos, cinco réplicas dele surgiram ao seu redor, todas avançando contra mim com kunais e shurikens.
— Ah! Vocês ninjas e seus truques baratos! Mas que pena que são inúteis! — Proclamei, dissipando as cópias que desapareceram como fumaça.
— E o verdadeiro? — Questionei-me, olhando ao redor sem encontrá-lo.
Inspirei o ar nebuloso e percebi um aroma suave e distinto.
— Que cheiro é esse?
Subitamente, um arrepio percorreu meu corpo e um calafrio desceu pela minha espinha. Apertei a máscara sobre minhas narinas e saltei para trás, mantendo uma distância segura da névoa.
— O que é isso? Sinto um presságio ruim! O que há nessa névoa?
— Ora, ora, estou impressionado que tenha percebido! Jutsu da névoa venenosa!
— O quê?! Veneno! — Falei atônito.
De repente, ouvi passos se aproximando e um aroma familiar.
— Ei, Kane-chan!
Era o moço que corria em minha direção com um sorriso radiante, talvez pela vitória sobre um inimigo. Meu coração se apertou e, em desespero, gritei: — CUIDADO, SHINJI!
Mas já era tarde demais. Shinji havia sido consumido pelo veneno e ferido fatalmente no coração. Gritei seu nome em vão; ele estava morto.
Caí de joelhos, olhos esbugalhados, deixando cair minha máscara, que pousou no chão. Encarei-a fixamente enquanto o suor descia pelo meu rosto, pingando no solo.
"De novo! Mais uma vez alguém morreu e eu nada pude fazer!"
— Que droga! — Exclamei, furioso, socando o chão com força.
— Afogando-se em desespero? Que maravilha, sofra para aprender que nós, ninjas, somos os senhores desta terra! — Provocou o ninja arrogante à minha frente.
Uma crise de riso me tomou, e eu gargalhei enquanto meu corpo ardia em ódio.
— Desespero? Sim, essa palavra descreve perfeitamente o que sentirás em breve! — Rebati, rindo, enquanto meu corpo se transformava aos poucos.
— Mas o que é isso? O que está acontecendo com seu corpo? Que tipo de monstro é você?! — Ele gritou, aterrorizado.
Levantei-me, com meu corpo envolto em chamas vermelhas, encarei o ninja com um largo sorriso diabólico e respondi: — Eu sou o seu pior pesadelo!
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