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Capítulo 4: Kitsunes

~ Shinji ~

— Ei, moço da grande espada, você já sabe por onde começar a procurar o ninja? — perguntou Kanemin.

— Pode me chamar de Shinji! E não, não faço ideia de por onde começar...

— Sério? — suspirou, frustrado.

— Mas tenho uma sugestão: a cidade de Yoshioka, onde a guerra começou há dezesseis anos, a capital imperial, lar do soberano deste país, o imperador que comanda todos os ninjas. Tenho certeza de que Shinro foi levado para lá. — expliquei.

— Faz sentido, mas não temos certeza de que o sequestro do seu irmão foi uma ordem do imperador, nem podemos garantir que ele ainda esteja vivo ou que voltaremos vivos. Está disposto a seguir essa jornada sem nenhuma garantia? — Kanemin perguntou, sério.

Engoli em seco e, determinado, respondi: — Sim, arriscaria tudo por uma pista do meu irmão. Se essa é a única sugestão que temos, então é essa que seguirei até encontrar meu irmão.

— Eu sabia que diria isso, estava apenas testando sua determinação, mas você se assustou, não foi? Devia ter visto sua cara, estava hilária! — Kanemin riu.

— Ah, seu... Hump! Não adianta discutir com uma criança. — murmurei, contendo a vontade de esbofetear o garoto. — Vamos dormir, amanhã acordaremos cedo para continuar a viagem.

— Tudo bem, mas primeiro... — ele hesitou por um instante antes de exclamar: — Devolva minha katana!

— Só devolverei se você prometer que não matará mais ninguém! — declarei, sentindo-me um verdadeiro adulto.

— Prometo! — ele respondeu prontamente, desmantelando minha postura invicta e inabalável.

— Quando digo ninguém, refiro-me a militares e ninjas também! — insisti.

— Isso não será possível, senhor! — ele replicou imediatamente.

— E por que não? — indaguei.

Ele baixou a cabeça sutilmente e com uma expressão calma disse: — Devido a uma promessa feita no passado a alguns amigos, não posso deixá-los ilesos, por favor, entenda. — Sua expressão se alterou e ele me encarou com olhos penetrantes, e com determinação afirmou: — Prefiro cometer seppuku a quebrar uma promessa!

Abaixei a cabeça, envergonhado, pensando que Kanemin era apenas uma criança ingênua, movida apenas por instintos vingativos, mas ele tem convicção e certeza em suas ações, seus olhos determinados dizem tudo, mostram que ele está disposto a morrer para cumprir sua promessa, o ingênuo aqui sou eu.

— Papai, o que é seppuku? — perguntei ao meu pai, que cortava lenha enquanto eu lia um livro sobre samurais.

— Seppuku é uma morte honrosa para os samurais, uma forma de morrer pelos seus deveres e pelo seu senhor, embora essa prática tenha sido abolida agora que os samurais estão sendo perseguidos, ainda há muitos que cometem seppuku por seus senhores. — ele explicou.

— Uma morte honrosa, hein? — refleti em silêncio.

Sem dizer uma palavra, retirei a espada de cristal azulado da cintura e a entreguei ao garoto, que sorriu radiante ao ver sua preciosa katana novamente. Esbocei um meio sorriso e me cobri com o cobertor para dormir, sabendo que em breve o dia amanheceria com o nascer do sol e nossa jornada começaria.

— Vai dormir? — Kanemin perguntou.

— Não é óbvio? — retruquei.

— Que frescura! Você por acaso é filho de algum nobre? — perguntou.

— Ah! Frescura é a minha mão na tua cara, agora dorme, seu pirralho! — respondi irritado.

— Meu mestre disse que verdadeiros samurais suportam o frio da noite sem reclamar! — ele insistiu.

— Pouco me importa o que seu mestre ou qualquer um diga! — esbravejei.

— O correto é dormir ao relento, sem cobertores ou fogueiras, pois o fogo e a luz podem atrair inimigos e os cobertores te deixarão acomodado, baixando sua guarda e...

— Não quero saber, só quero dormir, então cala a boca! — gritei.

— Gritar também é imprudente, pois se os inimigos ouvirem, saberão nossa localização e nos atacarão. — ele explicou.

— Tudo bem, se você é tão esperto, fique de guarda a noite toda! — disse, virando-me de lado.

Olhei para a lua no céu, parcialmente oculta por nuvens, suspirei e antes de adormecer, falei: — Até amanhecer, faça o favor de ficar aqui.

(...)

— Aaah!

Despertei com um grito familiar e o som de latas batendo. Corri para o local do barulho e encontrei Kanemin de cabeça para baixo, pendurado por uma corda, com latas fazendo barulho ao seu movimento.

— Não te disse para não sair até clarear? — Perguntei, irritado.

— Fui fazer xixi, não aguentava mais, e o sol já está quase nascendo! Que armadilhas são essas? — Ele perguntou, curioso, após se justificar.

— São armadilhas que preparei caso alguém ou algo se aproximasse. — Expliquei, cortando a corda e fazendo Kanemin cair no chão.

— Que divertido! Quero fazer de novo! — Ele exclamou, animado.

Fechei o punho e dei-lhe um cascudo, irritado: — Seu pirralho, por sua causa perdi material de uma armadilha à toa! Sabe quanto tempo e material preciso para fazer uma dessas?!

— A culpa é sua por não ter me avisado!

— Se eu tivesse avisado, tenho certeza de que você teria acionado todas as armadilhas por pura diversão, seu maluco!

— Ha, ha, ha! Seria muito engraçado! Na próxima vez, quero ajudar a preparar mais armadilhas! — disse ele, entusiasmado.

— De maneira alguma! — gritei, irritado.

Enquanto o pequeno e maníaco Kanemin gargalhava de suas travessuras, o sol despontava, banhando de luz todas as terras do país. Ergui meu olhar para o céu tingido de amarelo com determinação, revivendo as amargas memórias por mais um dia e renovando o voto de resgatar meu irmão, custe o que custar.

— Kanemin Kashigawa! — Chamei o garoto, que parou de rir e me olhou sério por alguns segundos. — Vamos pegar a estrada.

— Vamos lá! — Respondeu ele com um largo sorriso.

Depois de desarmar as armadilhas, voltamos ao local onde passamos a noite. Peguei minha mochila, que parecia estranhamente leve, até que a abri e vi que só havia latas vazias.

— Quem comeu todos os suprimentos?! — Perguntei desesperado, com lágrimas nos olhos, pois sem esses suprimentos passaríamos por grandes dificuldades.

— Fui eu! — Respondeu Kanemin, inocentemente. — Eu fico com muita fome à noite, e como fiquei de guarda, aproveitei para fazer um lanche. — Explicou ele com um sorriso inocente.

— Lanche? Você comeu o suficiente para uma pessoa adulta sobreviver por um mês inteiro! — Exclamei, com lágrimas de desespero escorrendo.

— Sério? Aquela quantia iria durar um mês inteiro? — indagou ele, despreocupado.

— Não era uma quantia insignificante! Ah! Por que só acontecem desgraças comigo? Por que me envolvi com um garoto louco, irritante e comilão? Ah! — Lamentei, choramingando.

— Nossa, você não deveria chorar na frente de alguém mais novo assim, que vergonha! — Disse ele, desdenhoso.

— Eu vou te estrangular, seu pirralho! — Gritei enfurecido, mas logo meu estômago roncou, o que me fez aceitar a derrota.

— Que situação lamentável, moço! Posso ajudar em alguma coisa? — Perguntou ele, com um sorriso malicioso e astuto.

— O que você está aprontando, garoto? — indaguei.

— Só estou tentando ajudar o senhor. — respondeu ele, mantendo o sorriso.

— Não tenho muita escolha, né? Certo, tenho algumas ferramentas e tecidos que podemos trocar por comida na cidade próxima. Há um mapa na minha mochila; você pode usá-lo para nos guiar. Mas terá que me carregar, pois estou fraco demais para andar. — expliquei.

— Deixa comigo, senhor!

— E eu já disse que meu nome é...

— Vamos ver! — Kanemin interrompeu, virando-se para pegar o mapa e examiná-lo.

— Ah, esquece, meu nome não é importante agora.

— Achei! Sei para onde devemos ir. — anunciou Kanemin.

Ele retirou uma corda da mochila, colocou-a sobre os ombros e, com um sorriso maroto, aproximou-se de mim, causando-me um calafrio.

— O que você está pensando em fazer? — perguntei, recuando lentamente.

— Só um jeito mais rápido de... — Ele pulou em cima de mim e, antes que eu percebesse, amarrou-me. — Nos locomovermos.

— Locomover? Como vou me mover amarrado? — questionei, irritado.

— Puxa, nem isso você consegue pensar? Você é mesmo um burro, moço. — disse ele com desdém.

— Burro é a sua avó, e me dê o devido respeito, sou mais velho que você! — retruquei, indignado.

— Ha, ha, ha! Você é muito divertido, moço, mas chega de conversa fiada, precisamos ir logo para a cidade. Agora... sua espada. — disse ele, retirando-a do cinto em minhas costas.

— Ei, o que você pensa que está fazendo com a minha Shinjimaru?!

— Então esse é o nome dela? Incrível, ela é pesada, mas você a manejou como se fosse leve como uma pena! Você é impressionante, senhor! — exclamou ele, com olhos cheios de admiração, fazendo-me sentir lisonjeado e um pouco envergonhado.— Eu sou mesmo, é bom respeitar o mano aqui! — Me gabei.

— Certo! — Ele amarrou Shinjimaru na cintura, que por ser baixo, arrastava no chão. Segurou o cabo da corda que me prendia, jogou sobre o ombro e começou a me arrastar. — Vamos, em direção à cidade de Okomura!

— Eu não lhe disse para me respeitar, seu moleque insolente?! — falei, irritado por ele me tratar dessa maneira.

— Ah, é verdade! Quase me esqueci! — Ele respondeu, enfiando a mão na roupa e retirando sua máscara de kitsune, colocando-a em seguida.

— Por que você usa essa máscara de kitsune? — Indaguei, movido pela curiosidade.

— Dizem que as kitsunes são espíritos de raposa youkai que tomam forma humana. São vistas como símbolos de sabedoria e inteligência. Há histórias de kitsunes que se transformavam em belas mulheres para seduzir homens e roubar suas riquezas, sendo a raposa um símbolo de traição e astúcia. Mas para mim, para o meu clã, as raposas são criaturas sagradas e as kitsunes youkai, nossas protetoras. Por isso, é comum no meu clã o uso de máscaras de kitsune. — Ele esclareceu.

— Nossa! Pensei que era só uma máscara qualquer, mas percebo que tem seu valor. — Disse, pensativo.

— Você é muito estranho, moço da espada grande.

— Veja quem está falando! — Respondi, revirando os olhos.

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