7- Emma
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-Aconteceu alguma coisa, papai? Você não costuma voltar cedo para casa.
-Está tudo ótimo Emm. Sua mãe vai me cobrir hoje.
Emm. Faz tanto tempo que eu não o ouço me chamar pelo meu apelido. Costumava usá-lo quando era menor e podia brincar comigo. O trabalho não atrapalhava nossa relação ainda. Por alguns segundos permito-me fingir que estávamos de volta aos tempos antigos. Meu coração batia forte no peito. Estava tão feliz por tê-lo aqui ao meu lado.
-Eu tenho duas surpresas pra você. Vou te contar quando chegarmos à casa da vovó.
-Ah não!- Um sorriso enruga o canto dos olhos do meu pai. Ele estava fazendo isso de propósito- Quer matar sua filha de curiosidade? Não deveria ter me dito isso então.
-Está bem. Está bem. Eu conto. A primeira é que- Ele simula baquetas batendo no volante do carro como se fosse um tambor. Estávamos parados em um dos semáforos da avenida comercial- eu vou folgar o final de semana todo.
-Então quer dizer que você não vai trabalhar mesmo?- Me viro no banco para ficar de frente com ele. Não conseguia acreditar nas palavras que tinha acabado de ouvir. Talvez meu cérebro esteja distorcendo as informações por pura saudade- Sem trabalhos extras?
-Sem trabalhos extras. Nada. Nadinha.
Desabo no banco novamente com um sorriso bobo na cara. Por dentro eu sorria bem mais. Acho que todos os meus órgãos sorriam com a notícia. Mas me volto novamente para ele.
-E a segunda surpresa? É impossível ser melhor do que essa.
-Bem, essa você vai descobrir com seus próprios olhos- Diz ele com aquele mesmo sorriso. Após sairmos do semáforo, ele vira à direita e desce a rua, diminuindo a velocidade para estacionar em frente à casa da minha avó. Parado em frente ao portão, com as mãos enfiadas no bolso e um olhar distraído, estava meu primo.
-Mentira que você está aqui!- Ele se vira em minha direção assim que me ouve saltar do carro, fechar a porta com força e correr em sua direção. Joshua abre os braços para me receber e eu o aperto nos meus- Que saudade!
-Emma! Você cresceu tanto. O que fez com o seu cabelo?- Seus dedos longos se afundam nas ondas curtas do meu cabelo e os bagunça como seu eu fosse uma criança. De alguma forma, eu ainda me sentia assim em seus braços. Nos tempos antigos.
-Eu quis mudar meu visual.
-Está ainda mais bonita.
Afasto-me para olhar Joshua melhor. Meu primo não mudou tanto desde a última vez que eu o vi. Seu sorriso continua sendo um belo sorriso, seu cabelo castanho claro continua bagunçado de uma forma charmosa e os olhos ainda contém a mesma alegria. A única diferença é que seus bíceps estavam mais fortes e a pele corada pelo sol.
Abro a boca para elogiá-lo também. Queria dizê-lo que aparentava estar muito bem e perguntar sobre a faculdade. Queria saber como era estudar e trabalhar em uma cidade que ficava a umas duas horas de Estância Brava. Mas meu pai me interrompe antes que alguma palavra saia da minha boca.
-Já contou a notícia para ela? Eu me enganei, eram três surpresas- Ele se aproxima de nós sem abandonar aquele sorriso enigmático e aperta o ombro de Joshua.
-Ah, ainda não.
-Que notícia? Desembucha!
-Eu e seu pai vamos te levar para acampar nesse final de semana.
-Mentira! Sério mesmo?- Esse dia estava ficando cada vez melhor.
-Seríssimo- Joshua esboça um de seus belos sorrisos. Era verdade. Iriamos acampar como nos velhos tempos.
-Eu adorei! Sério mesmo- Pulo novamente em cima de Joshua. Precisava verificar se aquilo tudo era real. Se ele era real. Se eu não iria acordar a qualquer momento na minha cama em um cochilo da tarde.
-Vejo que encontrou Joshua- Diz vovó descendo as escadas e vindo em nossa direção. Ela usava um de seus aventais bordados- Aposto que vocês têm muitos assuntos para colocar em dia. Por que vocês dois não vão dar uma volta enquanto eu e seu pai conversamos e fazemos o jantar?
-Você quer?- Joshua me oferece o braço.
-Claro.
Decidimos apenas caminhar pelas ruas cheias de casas. Nós dois concordamos de que a avenida estaria lotada e barulhenta há essas horas e que ficaria difícil conversar assim. Então apenas caminhamos em silêncio pela rua, ouvindo o ruído das televisões dentro das casas e o eco das conversas. Era um final de tarde tranquilo. O sol já havia se escondido no horizonte e o céu começaria a escurecer em breve.
- Fiquei sabendo que mudou de colégio. Como está indo? - Ele quebra o silêncio com uma pergunta. Meu braço ainda continuava preso ao dele.
-Normal- Chuto uma pedrinha na rua- É um colégio normal com pessoas idiotas.
- Então quer dizer que você não falou com alguém ainda.
Uma das coisas que eu mais amo sobre a gente é que sabemos muito um sobre o outro. Tínhamos a capacidade de adivinhar o que se passava na cabeça do outro como se fossemos gêmeos. Ele também sempre me deixou muito a vontade para dizer o que se passava na minha cabeça ou na minha vida. Sabia que não me julgaria.
- Conversei com uma menina, mas no outro dia ela simplesmente ignorou minha existência. E hoje mais cedo ela me encontrou na praça e se sentou para conversar comigo. E então ela se desculpou por não ter ficado comigo em alguma aula, fiquei muito surpresa com isso- Olho para Joshua que apenas encara o chão enquanto andamos- Acho que ela não é idiota igual aos outros, não é?
-Talvez.
- Os amigos dela não parecem gostar de mim- Um nó se forma na minha garganta ao pensar no meu primeiro dia de aula. O olhar do garoto que andava com Saya foi o primeiro que senti na minha nuca – Ouvi eles dizerem umas coisas ruins sobre mim.
Joshua limpa a garganta e desvia o olhar de seus sapatos.
- Se eles disseram isso é porque não te merecem. Você é boa demais para esses idiotas, Emma.
Sorrio. Joshua é bom em fazer eu me sentir melhor. Minhas bochechas coram e preciso esfregá-las com a mão livre para disfarçar que fiquei feliz com seu comentário bobo.
- E a garota que você conheceu... Talvez os amigos dela que estejam mantendo-a longe de você.
- Acho que você tem razão.
Chuto mais uma pedrinha na rua. Eu nunca fui de importar muito com as pessoas, a não ser minha família, mas com essa garota é diferente. De alguma forma eu a quero do meu lado conversando comigo. Chuto mais uma pedrinha. Que droga de sentimento.
- Joshua?
Ele se vira para mim com seus olhos castanhos calmos e que ganharam uma pitada de responsabilidade no tempo em que ficamos sem nos ver. Seus movimentos tranquilos me lembram de ondas suaves se dissolvendo na areia.
-Posso a chamar para acampar com a gente?- Me arrependo de ter feito a pergunta assim que a ouço em voz alta- Se não for atrapalhar seus planos, é claro.
-Claro que pode. Assim eu posso saber se ela é uma idiota ou não.
-Obrigada- Aperto seu braço levemente enquanto continuamos a andar- Você é o melhor.
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