27- Emma
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Depois de muito pensar e muitos pedidos vindo de Samuel, resolvo ir assistir um de seus treinos. Seus amigos também estariam lá e pareciam empolgados com a ideia. Eu não fazia ideia do que vestir para ver um treino sem chamar atenção, então opto por apenas colocar uma bermuda e continuar com a camiseta sem graça do uniforme.
O sol naquele dia, mesmo beirando às quatro da tarde, estava quente. Então fico enrolando em casa até que ele entre atrás das nuvens para mim partir de bicicleta.
Quando chego à quadra do colégio os garotos já estão todos suados pelo aquecimento com exceção de Samuel, que parecia estar esperando por mim no canto da quadra. Seu rosto ganha um radiante sorriso quando me vê. Ele vestia um uniforme de seu time de basquete e tinha uma bola embaixo do braço.
-Você veio!- Exclama ele todo animado.
-É claro.
Samuel me cumprimenta com um meio abraço rápido. O mesmo cheiro de perfume que senti de manhã permanece em seu pescoço, só que mais fraco. Quando nos afastamos percebo que alguns atletas haviam parado para descansar, se dirigindo para a arquibancada. O aquecimento parecia ter chegado ao fim.
-Acho que atrasei seu treino. Parece que eles já acabaram de se aquecer- Digo me sentindo culpada por Samuel estar perdendo treino por minha causa- Não deveria ter esperado por mim.
-Mas eu quis te dar a noticia sem estar coberto de suor. Eu expliquei ao treinador que você estava com vergonha de fazer um teste com o time feminino,então ele deixou você fazer os exercícios comigo. Me voluntariei para te ajudar no que for preciso. O que você acha?
Samuel estava tão animado com a ideia de me ensinar a jogar, que não consigo dizer não. Ele havia sido um ótimo amigo ao ouvir meus problemas e me acolher mesmo não me conhecendo. Agora é minha vez de ser uma boa amiga e fazer algo para deixa-lo feliz.
-Seria legal.
Ele abre um sorriso de orelha a orelha. Samuel deve brilhar mais do que o sol nesse momento. Com um aceno de mão, ele chama a atenção do treinador, um cara alto na faixa dos quarenta anos de cabelos negros e corpo definido por anos praticando esporte.
-Você deve ser a Emma. Sou o treinador Alex- O homem aperta minha mão firmemente e depois usa a mesma para apertar o ombro de Samuel- Samuel te ajudará a treinar com os garotos hoje. Caso gostar podemos encaixa-la no time feminino.
-Tudo bem. Obrigada.
-Garotos, preparar! Formem duplas que hoje vamos fazer aquele mesmo sistema de exercícios. Quero vinte repetições de cada- Anuncia o treinador soltando um ruído agudo com o apito. Por estar ao meu lado, sinto meu ouvido latejar.
Samuel me puxa pelo braço até uma das pontas da quadra. O treinador nos segue para explicar como funcionariam alguns exercícios. Pela inquietação de Samuel, dava para perceber que era capaz de espantar o treinador só para ter a chance de me ajudar. Sua agitação me tirava um pouco da concentração e tinha vontade de rir.
Começamos os exercícios assim que o treinador nos dá as costas. Estávamos um pouco mais atrasados do que os demais, mas Samuel não parecia se importar. Ele detalhava cada repetição que deveríamos fazer. Para sua felicidade, aprendo rapidamente como driblar a bola, um pouco desengonçada, mas com treino melhoraria. Samuel se mostra bastante habilidoso nos exercícios. Tem uma facilidade impressionante em movimentar a bola que parece flutuar em seus dedos. Os meus movimentos ainda são pesados e nada naturais, mas se fechar os olhos e esquecer-se da realidade por alguns segundos me consigo ver deslizando pela quadra e passando pelos jogadores, pronta para fazer uma cesta.
-Você foi muito bem para uma iniciante- Comenta Samuel enquanto nos arrastamos até as arquibancadas para descansar e tomar água. Ele bebe um longo gole de água, fazendo a garrafinha se curvar com a pressão e depois me oferece um pouco- Deveria continuar.
-Talvez sim.
Samuel inclina o corpo para trás, apoiando-se com as mãos e olha para a quadra reluzente sob o sol. Seu cabelo escuro estava salpicado de gotinhas de suor assim como meu rosto. Seu peito subia e descia de forma ofegante.
-A melhor parte vem agora. Infelizmente você não vai poder participar.
-Vocês vão jogar?
-Sim- Ele continua a olhar para a quadra, os olhos brilhando tanto pelo sol quanto pela paixão- Eu amo estar em quadra.
O apito ensurdecedor ecoa pelo ar novamente. O treinador grita para que os jogadores larguem seu descanso para começar o jogo. Samuel me mostra um último sorriso antes de correr para onde todos os outros garotos se agrupavam.
Rapidamente os garotos se dividem em dois times, cada um indo para um lado da quadra. O treinador arremessa a bola para o alto e um garoto de cabelos cacheados a joga para o seu campo. Samuel é mais habilidoso ainda em quadra. Ele mostra a mesma leveza que tinha nos exercícios e desliza até o campo adversário, batendo a bola no chão e arremessando com segurança para seu parceiro.
O jogo se arrasta por mais alguns minutos até que alguém marque uma cesta. São garotos surpreendentemente bons para um time de basquete do colegial. Um garoto do time de Samuel faz uma cesta e eles se reúnem abraçando-o e gritando em comemoração.
O jogo dura até o final do treino, quando Alex anuncia o fim com um sopro de apito. Seu olhar encontra os meus, e com um sorriso se dirige até mim. Ao contrario dos outros, ele não está ensopado de suor, apresenta apenas algumas gotículas causadas pelo calor do dia.
-O que achou Emma?- Pergunta sentando-se ao meu lado na arquibancada com seu corpo musculoso.
-Eu gostei mais do que estava esperando- Respondo. Logo, Samuel nos avista e corre em nossa direção com um sorriso. Seus olhos verdes continuavam a brilhar.
-Emma deveria entrar no time feminino- Sugere meu amigo, animado- Ela se saiu muito bem nos exercícios, não acha treinador?
-Acho. Se quiser fazer parte disso, consigo te encaixar no time feminino. Eu também sou treinador delas. Tenho certeza de que elas a acolheriam muito bem.
Eu estava tão indecisa. Nunca um esporte me chamou atenção e também nunca fui boa neles, mas o basquete não parecia ser tão ruim. Talvez eu devesse tentar só por diversão. Seria bom arrumar uma distração para que eu não fique vinte e quatro horas por dia pensando em Saya. Dessa forma, seriam apenas vinte e duas horas pensando nela e revirando toda aquela situação dentro da minha cabeça.
Está bem. Estou dentro.
-Que bom ouvir isso. Fazia muito tempo que uma garota não entrava pro nosso time- Alex se levanta e eu faço mesmo. Sua mão aperta a minha com a mesma firmeza de hoje mais cedo- Espero você no treino da semana que vem.
O apito ecoa pela última vez na quadra para dizer que o treino estava encerrado. Acho que teria que me acostumar com a dor de ouvido que isso me causava.
Samuel e eu caminhamos juntos até a saída do colégio. Ele secava o suor com uma toalha enquanto andávamos embaixo do sol que deslizava lentamente em direção ao horizonte. Mesmo cansado ele continuava transbordando energia e animação.
-Não consigo acreditar que você vai começar a treinar- Ele diz, exibindo outro daqueles grandes sorrisos. Acho que essa era uma das maiores qualidades de Samuel: ser sorridente.
-Nem eu- Respondo correspondendo seu sorriso animador com outro sorriso.
-Certeza que você vai pegar o jeito rapidinho. Além de habilidosa no xadrez, vai ser no basquete.
-Deixa disso- Dispenso seu comentário com um aceno de mão. A lembrança do jogo volta a minha mente. Lembro de meu amigo correndo pela quadra e dando a vida pelo jogo. Sinto saudades e vontade de voltar para lá mesmo fazendo tão pouco tempo- Samuel você é um dos melhores do time. Tão habilidoso que parece flutuar nas quadras.
Imito o movimento que fez ao tentar marcar uma cesta. Parecia ser realmente capaz de voar. Ele apenas sorri, agradece ao elogio e suas bochechas ganham um tom corado.
Estávamos quase chegando ao pátio coberto, atravessando o extenso gramado, quando um bando de garotas, vestindo joelheiras e cabelo amarrados em um coque ou rabo de cavalo, atravessam em nossa frente. Havia me esquecido completamente de que havia outra quadra há alguns metros da quadra de basquete. Àquela era própria para vôlei, pois continha a rede montada e pilhas de bolas. Uma garota em especifico entre tantas outras me chama a atenção, a garota de cabelo azul.
Saya andava mancando ao lado de Pam e de algumas outras meninas que tagarelavam animadamente. Lembro- me dela me dizendo que não tinha encontrado algo que era realmente boa. Pam deve tê-la arrastado para o time de vôlei para que Saya não tenha que me encontrar fora da sala de aula. Aposto que minha garota havia se machucado durante o jogo.
Ela não quer ser sua, Emma.
A saudade era um negócio horrível. Mas horrível ainda era ver essa pessoa e continuar sentindo saudade. Sentir a falta do que ela era. Do que erámos. Meu coração se aperta imediatamente.
-Está vendo a garota de cabelo azul?- Digo puxando o braço úmido de suor de Samuel para que ele chegue mais perto e aponto discretamente para a garota de cabelo azul - Ela é a Saya.
Enquanto olhamos em sua direção, seu olhar cruza o meu. Seus olhos castanhos focam em mim e seus lábios ficam entreabertos, como se não acreditasse no que estava vendo. Depois olha rapidamente para Samuel e sua boca volta a formar uma linha fina em seu rosto e sua expressão fica dura, como se lembrasse de algo doloroso.
Samuel e eu ficamos parados observando o bando passar e ir embora. Uma parte de mim fica escura, meus ombros murcham e de repente estou mais cansada do que antes. Uma parte de mim esperava que ela viesse até mim, esquecendo-se de tudo que havia acontecido.
-Não se culpe- Diz Samuel lendo minha expressão. Talvez minha angústia esteja mais aparente do que imaginava. Sua mão aperta meu ombro- A gente não escolhe quem vai amar. As coisas vão melhorar. Sei que esse comentário não ajuda muito, mas se ela gosta de você, vai voltar um dia. O amor quebra qualquer barreira.
Frase clichê, mas de alguma forma me deixa melhor. Eu só espero que esse dia chegue logo, pois não sei quanto tempo vou aguentar.
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