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Antes de irmos para a cozinha, nós passamos no banheiro para lavar as mãos e para Saya prender o cabelo. Quando chegamos à cozinha, minha avó já havia separado os ingredientes em duas vasilhas, uma para mim e outra para Saya. O sabor da massa seria de chocolate com cobertura de chantilly. Minha avó ensina a Saya como ela deve mexer a massa para ficar no ponto perfeito. Eu estava com um pouco de medo dela achar tudo isso chato, mas havia certo brilho em seu olhar.

Mergulho um dedo na massa pronta para sentir o sabor. Perfeito. Saya ainda misturava a dela, concentrada e perdida em seus próprios pensamentos. Estávamos em silêncio há um tempo, com apenas minha avó passando as instruções. Agora, fora da cozinha, não havia sua voz para preencher o vazio. Meus olhos vão dela para minha vasilha de massa. Mergulho-o novamente e passo em sua bochecha, lambuzando-a.

-Emma!- Ela diz limpando a bochecha com a palma da mão e mergulhando um dedo na massa com desejo de vingança. Algo em sua ferocidade me diria que eu ia acabar inteira suja

-Não, não- Sorrio e seguro seus pulsos empurrando-os para longe- Deixe seus dedinhos sujos longe de mim.

Saya se rende, murchando os ombros e voltando para o seu lugar com um pequeno sorriso. Eu também volto para o minha vasilha, mas sou surpreendida quando algo embaça minha visão e escorre pelo meu nariz. Eu deveria saber que ela não desistiria assim tão fácil.

-Saya!- Exclamo tirando meus óculos melecados de massa de cupcake. Tenho certeza de que demorará um bom tempo para deixar a lente limpa novamente.

Ela não faz mais nada além de gargalhar. Suas bochechas ficam vermelhas com aquele som maravilhoso que saia dos seus lábios. Acabo rindo junto com ela. Era impossível ficar brava com alguém rindo assim. Com alguém que fica tão bonita e calorosa gargalhando. Fazer cupcakes com Saya era divertido.

Quando as risadas diminuem, minha amiga olha para mim. Seus olhos preenchidos de alegria faz meu coração bater mais forte no peito e minhas bochechas corarem. Pela primeira vez no dia presto atenção em seus lábios rosados e delicados. Eles pareciam ter sido desenhados com cautela. Entre eles, havia um lindo sorriso.

-Pronto? Agora vamos encher as forminhas e colocar para assar- Vovó entra novamente na cozinha trazendo uma caixa com forminhas de cupcake das mais diversas cores.

Eu escolho forminhas estampada de estrelinhas para os meus, enquanto Saya escolhe algo parecido com o tom de seu cabelo. Em minutos, eles estão dentro do forno, junto com os de forminha azul de Saya. Espiamos pela porta do forno juntas. A luz amarela os iluminava enquanto cresciam lentamente.

-Por que sempre tem estrelas em algum lugar de você?- Pergunta ela, ainda encarando os cupcakes. O cheirinho deles se espalhava levemente pelo ar.

- Não tenho uma explicação certa para isso. Gosto do formato delas e foi a primeira coisa que eu aprendi a bordar. Deve ser isso.

Voltamos a ficar em silêncio. Um som de carro nos faz desviar o olhar do forno. Quem seria? Mamãe e papai estavam no trabalho e demoraria mais algumas horas para acabarem seus turnos. E se aconteceu alguma coisa? Mas também poderia ser o vizinho.

Corro para a porta com passos largos. Meu coração receia que algo ruim pode ter acontecido. Mas o que? Algum deles foi demitido? Divórcio? Saya vem logo atrás de mim. Seus passos largos tentando acompanhar os meus.

As batidas do meu coração desaceleram quando vejo o sorriso brilhante de Joshua. Ele acena do portão com algo nas mãos e vem até mim acompanhado de minha avó que havia desaparecido da cozinha logo depois de nos aquecer o forno.

-Joshua? O que está fazendo aqui?- Pergunto dando um abraço rápido em meu primo.

-Soube que estão fazendo cupcakes.

-Chamei Joshua para tomar um café da tarde conosco- Explica vovó bagunçando os cabelos do neto antes de se voltar para a casa- Vou dar uma olhada nos cupcakes. Ver se as meninas fizeram um bom trabalho.

-Oi Saya- Ele diz acenando para ela que está praticamente escondida atrás de mim, tímida.

-Olá.

- Onde estão?-Ele fareja o ar procurando pelo aroma dos bolinhos. O cheiro realmente estava ficando cada vez mais forte, pairando para fora da casa.

-Ainda estão no forno.

Reparo que Joshua está mais animado do que nunca. Suas bochechas estão mais coradas do que o normal, o sorriso maior e os gestos mais rápidos e empolgados. Tudo nele está mais feliz. Meu olhar cai em sua mão, onde segura um pequeno objeto que reconheço imediatamente.

-Aquele carro é seu?

-Carro?- Ele faz um gesto exagerado como se não soubesse do que estou falando- Aquele carro bem ali? É sim.

-Sério mesmo?

Um sorriso de orelha a orelha surge em seu rosto. A chave balança na ponta de seus dedos e brilha com os raios de sol.

-Acabei de buscá-lo. O que acha? Agora não vou precisar pegar o carro dos meus pais emprestado para vir pra cá.

Passo pelo meu primo e abro o portão que estava apenas encostado. Na rua, um carro novinho estava estacionado em frente a casa. Meu dedo desliza pela tinta preta brilhante do carro. É tão novo que eu sentiria pena de usar e sujar com cocô de pombo.

-É incrível!

-Realmente. É um lindo carro- Diz Saya, também analisando os detalhes junto comigo. Nos curvamos no vidro escuro para tentar olhar o interno do carro, mas algo reflete no vidro chamando minha atenção e um bip assusta Saya.

-Querem dar uma voltinha?- Pergunta Joshua erguendo a chave do carro que parece brilhar tanto quanto seu sorriso.

-Acho que temos alguns minutos até que os cupcakes ficarem prontos. 

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