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3 - VALHALLA

"Ela será orgulhos e destemida, pois em seu sangue corre a magia verdadeira".

— Fragmentos dos Registros Druidas, 533 d. C.

Sempre me orgulhei em ser uma pessoa cujas dúvidas eram quase inexistentes, por isso o fato de eu não saber se estava viva ou morta, foi a pior situação que pude sentir no decorrer de minha existência. Sentir as batidas do meu coração, bem como e ver o sangue sair do meu corpo, poderia ser um sinal de que não estivesse morta. No entanto, descobri um pouco cedo demais, que tais evidências de nada valiam em Asgard: o lugar em que tudo podia acontecer.

— Você acha que estou morta? — indaguei, olhando o reflexo de Acme no espelho, enquanto ela trançava meus cumpridos cabelos negros.

A jovem soltou um longo suspiro antes de responder:

— Eu não sei... Você parece viva para mim. Porém, verá, na noite de hoje, que aqui todos os mortos parecem vivos. — Ela olhou para o alto como se estivesse pensando e depois seus olhos novamente se encontram com os meus. — Uma vez ocorreu uma briga durante o banquete em Valhalla. Nesse embate, dois fortes guerreiros discutiram acerca de quem se sentaria ao lado de Odin durante o banquete, e como não chegaram a um acordo verbal, ambos se atracaram em socos. Recordo que até sangraram, portanto pensei que estivessem vivos, entretanto Thor garantiu com veemência que ambos estavam mortos. — Uma expressão de tristeza tomou conta de sua face — Não sei te dizer se está viva ou morta, mas se isso é importante para você, eu posso tentar descobrir a verdade com Thor. — Esforçou-se a demonstrar animosidade com aquilo que havia proposto.

— Faria isso por mim? — questionei, arqueando a sobrancelha em sinal de desconfiança.

— Claro! — Sorriu — Nós somos amigas, não é?

Assenti levemente com a cabeça, pois ainda não sabia se realmente tínhamos um laço de amizade. Achei que confirmar com palavras algo que eu ainda não tinha certeza, seria uma grande falta de caráter e uma atitude nem um pouco honrada para com uma pessoa que estava tentando, de fato, ajudar-me.

— Como é Valhalla? — indaguei, na esperança de que me fornecesse informações suficientes que pudessem servir de auxílio para a temida noite e os acontecimentos viria a enfrentar.

— Bem... — começou ela com seus olhos brilhando em puro êxtase — Valhalla é o maior palácio de Asgard e está construído no Bosque de Glesir. O salão é tão grande que pode ser avistado de qualquer lugar dessas terras. Nunca vi algo tão grandioso, belo e imponente quanto Valhalla. É lindo, mas também é um pouco assustador. É um lugar adequado para guerreiros, não há muito luxo, no entanto, está longe de ser uma morada simples. Quando estiver em Valhalla saberá o que estou tentando te dizer. Nenhuma descrição pode ser comparada com a magnitude daquele palácio. — Acme tentou ao menos, responder minha pergunta. Embora eu ainda permanecesse no escuro em relação a famigerada Valhalla que todos os guerreiros escandinavos sempre ansiavam em habitar.

Estava prestes a iniciar uma série de questionamentos, quando fui interrompida por Loki, que adentrou no quarto sem fornecer qualquer aviso.

— Olá miladys. — Cumprimentou sorrindo, como se sua presença fosse apreciada.

Acme, como sempre, enrubesceu ao fitar o deus.

Contive o impulso de revirar os olhos. Loki sabia exatamente como usar seu charme para provocar jovens inocentes.

— Você pode nos deixar a sós? — Loki pediu a minha, possível, amiga.

— Não, ela não pode. — respondi, antes que ela abrisse a boca para dizer o que não deveria ser dito.

— Acontece que não falei contigo. —rebateu, ele, em tom ríspido, sem nem ao menos me olhar.

— Acontece que eu não me importo se falou comigo ou não. Acme não sairá desse quarto. — repliquei, irritada.

O maldito deus sempre despertava a ira dentro de mim toda vez que abria a maldita boca.

Eu estava encarando, furiosa, o seu reflexo no espelho, quando sua atenção se voltou para mim. Ficamos nos fuzilando por um longo tempo enquanto Acme esfregava as mãos uma na outra em um evidente gesto de nervosismo.

— Acme, querida, creio que é melhor ir. Thor está te aguardando para conversar a respeito do que sucederá hoje à noite. — informou, Loki, sem desviar os olhos de mim.

Não tive tempo evitar que Acme partisse, pois a garota me lançou um apressado sorriso de desculpa, e rapidamente saiu do cômodo, deixando-me — para minha infelicidade — sozinha com Loki.

Continuei sentada em frente ao espelho, e observei atentamente quando o deus caminhou até o grande baú disposto aos pés da minha cama, e dele retirou um vestido cuja tonalidade era de um azul escuro semelhante a cor do céu ao entardecer.

— Quero que vista isso hoje à noite. Irá realçar a cor de seus olhos. — Depositou a veste sobre a cama.

— Recuso-me a atender seu pedido. — Arqueei a sobrancelha e ergui o queixo evidenciando a minha obstinação

— Então vista qualquer outro. — expressou, com certo desgosto.

— Quero um vestido preto. Apenas preto, sem nenhum detalhe a mais. — Ordenei com seriedade.

Loki gargalhou alto.

— Está zombando, não é? — perguntou, sustentando um sorriso debochado.

— Não. — Mantive a expressão séria e irredutível.

O sorriso rapidamente desapareceu de seus lábios.

— Valhalla é um lugar de festividade, comparecer em tal localidade trajando vestes pretas, é um ato um tanto sombrio e pode ser considerado uma afronta aos guerreiros que tanto batalharam para conquistar a eternidade ao lado dos deuses.

— Pouco me importo com esses guerreiros e me importo menos ainda com os deuses. Estou morta e ficarei de luto por mim, pois se eu não ficar, ninguém mais ficará. Todos que um dia vieram a se importar comigo estão, nesse momento, tão mortos quanto a mim. — argumentei, com veemência, tentando descobrir a minha real situação. Precisava saber se estava morta ou viva. Todavia, como sempre, Loki fez o favor de não me conceder tal preciosa informação.

— Tenho meios pouco convencionais para fazer com que entre em qualquer vestido do meu desejo. — Inclinou a cabeça para o lado analisando-me com um pequeno sorriso de canto em seus lábios.

— Matarei qualquer homem, mulher, deus, deusa, elfo, gigante... matarei qualquer ser que invada esse quarto e tente me colocar em um vestido que não seja preto. — ameacei, de uma forma que ressaltava as verdades em minhas duras palavras.

— Acredito que deves saber que deuses são imortais. — Arqueou uma de suas sobrancelhas loiras em um sinal repleto de presunção.

Loki estava tão enganado. Eles não eram imortais, isso eu tinha certeza.

— Vocês sangram. Se sangram, morrem. — Encarei-o em um misto de seriedade e fúria.

Loki riu alto. Seu riso se espalhou pelas quatro paredes daquele quarto e som voltou diretamente para mim.

— Já que não temos outra escolha, é melhor que eu vá à procura de tal vestido. — Virou-se e começou a andar em direção a porta — Ah já ia me esquecendo... — Voltou a me olhar, dessa vez com austeridade — Hoje é será uma noite de celebração, tente não ocasionar nenhuma confusão enquanto estiver no banquete.

Dito aquele aviso, ele partiu, deixando-me sozinha com meus pensamentos desorganizados.

O que aconteceria em Valhalla? Eu estava ansiosa e um tanto temorosa para descobrir.

🏰

Naquele mesmo dia, logo que o Sol cedeu seu lugar para a noite, as criadas vieram até meu quarto e uma delas me entregou o vestido na cor que havia solicitado.

Eu ainda não sabia o nome delas, creio que uma — a de cabelos ruivos — chamava-se Ecatarina, mas não podia afirmar com certeza, já que elas não eram de falar comigo, o que dificultava muito minhas tentativas de especular sobre os deuses a quais serviam.

Uma das criadas — a de cabelos cor de terra e olhos tão negros quanto a noite — Informou que me ajudaria a entrar no vestido, porém eu recusei tal auxílio. Estava cansada de ver as expressões de pena se formarem em seus rostos todas as vezes que se depravaram com as inúmeras cicatrizes estampadas em meu corpo. Por essa razão, dispensei as mulheres e tratei de começar a me arrumar para tal noite que estava consumindo o pouco que restou de minha insanidade.

Olhei para o vestido disposto em cima da cama e passei os dedos pelo suave tecido negro. Jamais havia sentido algo tão leve e delicado.

Retirei minhas vestes e tentei, em vão, colocar-me dentro do belo vestido, no entanto, percebi que aquela era uma tarefa complicada de realizar sozinha, já que a maldita veste tinha complexas amarras nas costas que eu não conseguia alcançar. Olhei para meu reflexo no espelho e percebi que tal traje era um tanto escandaloso para ocasião. Notei que o decote que seguia até um pouco acima do umbigo, deixava boa parte de meus seios expostos. Uma tala de couro marcava minha cintura e o leve tecido descia de forma graciosa pelas sinuosas curvas dos meus quadris, e se abria em duas fendas, expondo boa parte das minhas coxas. Minha pele que raramente via o Sol quando vivia nas terras nórdicas, ficou ainda mais branca em contrastes com o preto que cobria meu corpo.

Assim fosse capaz de vencer a luta contra as amarras frouxas em minhas costas, eu tinha a certeza de que estaria preparada para encarar a temida noite em Valhalla.

Encontrava-me em uma árdua batalha com os laços, tentando de uma forma ou de outra prendê-los, quando Loki, mais uma vez sem avisar, adentrou em meu quarto.

— Parece que está apresentando um pouco dificuldade em vestir-se? — ele, ironicamente pontou, ao me ver naquela posição estranha, tentando com muito esforço alcançar as amarras atrás de mim.

— Maldito vestido. — resmunguei, determinada a fechá-lo.

— Deixa que eu faço isso! — O deus aproximou e posicionou-se atrás de mim.

Encontrei seus olhos através do reflexo do espelho, eles me olharam com demasiada intensidade que me perturbou. Pensei em negar sua ajuda, mas não tinha muita opção no momento e — ingenuamente — acreditei que não havia mal algum em deixar que prendesse as amarras.

Antes de iniciar com sua tarefa, senti seus dedos percorrerem suavemente a extensão de minha espinha, começando um pouco acima de minhas nádegas e detendo-se um pouco abaixo da curva do pescoço. Sem poder controlar meu próprio corpo, meus pelos se arrepiaram em reação ao seu toque sedutor. Loki riu baixinho ao perceber os sinais que meu corpo exibia e tentou encontrar meu rosto através do reflexo, no entanto, eu sabiamente desviei o olhar.

Logo, ele começou, com extrema habilidade, puxar as amarras do vestido deixando-as bem firme em minhas costas. Quando notei que finalizou o laço, rapidamente sai de seu alcance e sentei-me sobre cama com o objetivo de calçar a sandália.

— De nada. — murmurou, em tom de provocação.

— Obrigada. — Agradeci, secamente, e voltei a me concentrar nas novas malditas amarras da sandália marrom.

— Porcaria de tala! — rosnei enquanto percebia que não leva jeito algum em manusear os finos cordões de couro que já deveriam estar bem fixos na minha panturrilha. Parecia até que estavam enfeitiçados!

Eu nunca tinha calçado uma sandália, o frio das terras escandinavas permitia apenas o uso de pesadas e desgastadas botas couro, e quando não estava com elas, fazia questão de ficar descalça sentindo a energia do solo sob meus pés.

Loki soltou uma risada rouca ao ver minha tortuosa batalha com a maldita e ardilosa sandália.

— Deixe-me te auxiliar a vencer essa luta. — Iniciou uma felina caminhada em minha direção.

— Não precisa! Posso fazer isso sozinha! — Rapidamente recusei seu auxílio.

— Deixe de ser teimosa, Erieanna! Desse jeito terminará a sua tarefa amanhã. E, além do mais, nós já estamos atrasados. — Ele insistiu, e se colocou de joelhos à minha frente.

Impedindo que eu tecesse qualquer argumento contra sua atitude, Loki pegou uma de minhas pernas e começou a trançar às talas de couro em minha panturrilha.

Ele manuseou os finos cordões da sandália e a prendeu um pouco abaixo do meu joelho. Entretanto, antes de finalizar a tarefa, Loki apertou minha coxa de um jeito possessivo e sorriu maliciosamente, antes de começar a prender o outro par.

Aproveitei que estava concentrado em sua atividade e decidi analisar seus traços. Seus cabelos loiros estavam meticulosamente penteados para trás e sua barba encontrava-se muito bem podada. Notei que seus dedos calejados, trabalhavam habilidosamente nas amarras como se fosse habituado a realizar tal ação. Então, pegando-me completamente desprevenida, seus olhos azuis se encontraram com os meus.

— Gosta de ver um deus ajoelhado aos seus pés? — indagou, exibindo seu costumeiro sorriso malicioso.

— Confesso que esta não é uma visão ruim. — Retribui o mesmo sorriso — Mas na verdade — prossegui, esquivando daquela conversa perigosa —, eu estava pensando sobre o fato de que suas vestes também são negras, o que contrasta com a informação que transmitiu com veemência, a respeito de que tal ato pode ser considerado uma afronta aos seus companheiros de eternidade.

Loki soltou um riso rouco que me fez encará-lo com muita atenção.

— Não poderia te deixar sozinha nisso. Além do mais, creio que tal atitude renderá muitos comentários. Eu gosto de causar inquietações nos demais deuses. — Balançou os ombros e terminou de amarrar minha sandália que ficou bem presa em minha panturrilha.

Estava pronta para retirar suas mãos de mim, contudo, ele segurou minhas pernas com firmeza, as prendeu em seu em torno do seu corpo, e vagarosamente, lambeu a extensão de uma delas desde o alto de minha panturrilha até o meio da coxa. Loki finalizou o gesto indecente com uma leve mordida na pele acima do joelho, fazendo com que, mais uma vez, meu corpo reagisse diante de seu toque. Algo que me irritou profundamente.

Puxei seus cabelos com brusquidão e o afastei de mim. Levantei-me furiosa e Loki me acompanhou. Pela primeira vez, desde que cheguei em Asgard, usei minha magia e o lancei de encontro com a parede onde o mantive completamente imóvel a minha mercê.

— A próxima vez que tocar em mim dessa forma, eu juro que queimarei suas mãos e até mesmo sua língua. — Ameacei entredentes.

O deus que parecia não me temer, apenas sorriu antes de contrapor:

— Querida, eu também sou conhecido por ser o deus do fogo. Não tenho medo de me queimar.

— Então cortarei seus dedos junto de sua pervertida língua. E não se esqueça, Loki. Tenho outros meios de manter meu juramento. — adverti, em meio a um escarcéu de fúria.

— Não se preocupe, querida. Tenho o propósito de te fazer implorar por meu toque. E pode ter certeza... cedo ou tarde eu estarei entre suas pernas enquanto você escandalosamente geme o meu nome. — Exibiu aquele maldito sorriso repleto de malícia.

— Isso nunca irá acontecer. — rebati convicta — Se decidir nutrir tais fantasias em sua mente... Verá, meu caro Loki, que a eternidade pode se tornar um tremendo mártir. — Finalmente o libertei da magia que o prendia.

O deus, no entanto, continuou sustentando um sorriso nos lábios quando voltou a se aproximar de mim e ofereceu seu braço para que me guiasse até Valhalla. Ainda estava furiosa com o ele. Porém, a contragosto, enganchei meus braços nos seus e esperei que levasse até o nosso destino.

— Creio que seja melhor segurar-me com firmeza, pois iremos desvanecer. — Informou com seriedade.

— Desvanecer? — perguntei, confusa.

— Sim desapareceremos instantaneamente daqui e reapareceremos e Valhalla. — explicou vagamente — Você não vai gostar, mas terei de segurar forte em sua cintura para que eu possa te levar comigo. — Instruiu me olhando com muito ardor.

Ao notar a seriedade que raramente usava, presumi que não se tratava de mais uma artimanha para se aproveitar de mim, por isso enlacei meus braços ao redor do seu pescoço e apertei meu corpo junto ao seu.

O deus segurou firme em minha cintura e antes de partirmos, questionou:

— Preparada?

— Sim. — Senti meu coração disparar sob meu peito ao declarar aquela palavra.

Rapidamente a magia serpenteou a nossa volta e a seguir, desaparecemos como fumaça no ar.

A viagem foi curta e um tanto desconfortável, e quando aterrissamos no novo solo, meu estômago se revirou em náuseas.

Loki ainda mantinha suas mãos em mim de um jeito possessivo enquanto eu arfava em um ritmo acelerado.

— Está bem? — ele perguntou, preocupado.

— Na medida do possível, sim. — Tentei controlar a minha respiração conturbada.

— A primeira viagem sempre é ruim, mas logo você se acostuma. — Forçou um pequeno sorriso de canto.

— Espero não repetir isso tão cedo! — resmunguei contrariada — Pode soltar-me agora. — Ordenei secamente.

Loki, inacreditavelmente, soltou-me sem percorrer suas mãos espertas por meu corpo.

O deus ofereceu os braços para mim e eu aceitei enganchando meu braço no seu. Mesmo que não gostasse da ideia de permanecer ao seu lado, ele conhecia o local. Além disso, eu me sentia mais segura por estar ao seu lado enquanto desbravava um lugar que eu não conhecia. Estranhamente, sua presença me proporcionava uma sensação de segurança. De alguma forma, sabia que Loki não me abandonaria naquela noite.

🏰

Quando chegamos a Valhalla, não pude evitar que minha boca se escancarasse em demonstração de profunda admiração. Acme tinha razão, o palácio era — de longe — o maior lugar que eu já havia visto. Olhando tanto de cima, quanto para sua extensão, simplesmente não era capaz de avistar o fim.

— É tão raro te ver sem palavras que chego a ficar impressionado. — comentou, Loki, ao notar a expressão embasbacada estampada em meu rosto à medida em que eu admirava a majestosa Valhalla.

— Vamos entrar! — Ele gentilmente segurou meu cotovelo e me guiou para dentro do salão.

Entramos por uma das muitas grandes portas que cercavam o palácio. Meus olhos se encantaram tanto com as esculturas águias e lobos dispostos no corredor em que caminhávamos, assim como nas pinturas das paredes que representavam os animais em todas exuberantes suas cores e tamanhos. As artes pareciam tão reais que tinha impressão de que nos observava enquanto passávamos por elas.

O corredor era demasiado longo, e durante o trajeto, não vi nenhum guarda pelo palácio. Deduzi, portanto, que todos já deviam estar se banqueteando com os deuses.

— Diga-me Loki, qual a história por de trás desse lugar? — Especulei, um tanto intrigada.

Uma sombra de austeridade se apossou de seu roso. Percebi que meu questionamento o deixou contrariado. Acreditei que iria receber uma resposta ríspida, contudo, apesar de torcer os lábios contrariado, ele decidiu de narrar:

— Valhalla fora construída pelo próprio Odin. A história que foi contada através do tempo, diz que o referido deus, em um determinado dia, encontrou-se entediado com sua imortalidade decidiu ir até a sombria Nilfheim atrás da vidente tencionando obter informações sobre o passado, presente e, claro, o futuro. A velha que de tudo sabe, narrou, portanto, todos os acontecimentos da Yggdrasil desde o passado até o presente e finalizou trazendo à tona a antiga profecia sobre o terrível Ragnarök, e afirmou que tal temido fim, realmente acontecerá. Segundo o que fora dito pela Vidente, o fim de tudo sucederá através de uma batalha em que deuses e gigantes irão guerrear pela última vez e o mundo sucumbirá em um torrencial de sangue e mortes. Odin preocupado com o destino dos deuses, decidiu construir o palácio Valhalla, conhecido também como "O Salão dos Mortos" que se tornou um local onde guerreiros são treinados para que possam se preparar para a última e a mais sangrenta das batalhas. Desde então, o local recebe os einherjar, guerreiros solitários que após a morte, existem apenas para se aperfeiçoar na arte da guerra, a fim de lutar ao lado de Odin quando Ragnarök, enfim, chegar. — Contou a história como se aquilo não passasse de uma lenda. Mas não se tratava de um mito. Valhalla era tão real quanto um dia eu fui.

— Não basta esses homens viverem toda sua vida em combate, agora na eternidade, devem servir aos deuses e lutar por eles no fatídico Ragnarök! Isso é muito egoísmo! — exclamei, indignada.

— Parece que os anos que passou com os vikings não lhe ensinaram nada. Esses homens sonham em morrer em combate só para vir à Valhalla. Não há nada melhor para um guerreiro do que passar a eternidade junto a seus companheiros de batalhas. Nenhum deles deseja ir para Helvegen e ter uma eternidade enfadonha ao lado de velhos e mulheres entediantes. Morar aqui, e frequentemente se banquetear com os deuses, é o melhor pós-morte para um guerreiro. É com isso que eles sonham todas as noites antes de abraçar a morte nos campos de batalhas. Estar aqui é realização de um desejo. Nada os faz mais feliz do que entrar pelos portões de Valhalla e se banquetear com Odin. — Defendeu seu povo com afinco.

— Detesto concordar contigo, porém acredito que esteja certo a respeito de Valhalla. Esses homens só sabem guerrear, dessa forma não há destino melhor do que se preparar todos os dias para a maior batalha de suas existências. — Havíamos chegado em um consenso, afinal.

Sorri, ao constatar que por mais inacreditável que fosse, eu realmente havia concordado com o deus da trapaça.

Ele não acrescentou mais nenhum comentário, já que logo paramos de frente a uma grandiosa porta encrustada com joias de diversas cores e tamanhos. Runas também podiam ser encontradas ao longo de sua extensão, e bem no topo dos portões, estava escrito: Bravos einherjar, sejam bem-vindos a Valhalla.

— Preparada? — Loki indagou, antes de abrir a porta.

Apenas afirmei com a cabeça em sinal de concordância. Por fora eu era a face da tranquilidade, mas por dentro, meu coração batia acelerado sob meu peito.

Observei quando o deus levou as mãos em direção a porta que se abriu vagarosamente expondo o maior salão que meus olhos já viram. Acho que jamais serei capaz de descrever a extensa amplitude daquele lugar, cujos meus olhos não eram capazes de enxergar o seu fim. Lanças reluzentes compunham a arquitetura e a decoração das paredes, assim como escudos de ouro ocupavam todo o teto do salão que podia claramente ser considerado o mais lindo local reservado para um guerreiro. Valhalla era muito mais impressionante do que as histórias narravam. Era um local incrível, tão belo que me fez perder o ar.

— Loki! Estava me perguntando quando viria! — Um homem que, apesar de sua barba branca, não aparentava ser tão velho, veio nos cumprimentar assim que adentramos no salão.

— Eu disse que viria, só estou um pouco atrasado. — respondeu em um tom alto para ser ouvido, já que o ruído de centenas de homens gritando e cantando parecia ser um caos que faziam meus ouvidos doerem.

— Vejo que trouxe seu sacrifício. Todos estão curiosos para conhecê-la. Dizem por aí que se esforçou com afinco para trazê-la até Asgard. Ela deve ser alguém deveras especial — O homem me analisou dos pés à cabeça como se estivesse avaliando uma mercadoria.

Cravei as unhas no braço de Loki tentando conter a raiva que começava a se agitar dentro de mim. O deus, ao perceber que eu estava prestes a estourar em ira, depositou sua mão sobre a minha e a afagou brandamente tentando de me acalmar.

— Erieanna, esse é Bragi, filho de Odin. Também é conhecido por ser deus da arte e poesia. Entre outras coisas, é responsável por receber todos em Valhalla. — Loki falou sem emoção alguma. Eu estava certa de que ambos não tinham um bom relacionamento.

Bragi retirou uma de suas mãos da Harpa que carregava e estendeu a mim. Olhei para seu rosto por breves instantes, semicerrei os olhos e decidi, por fim, estender minha mão para ele.

— Não me chamo sacrifício. Tenho um nome e desejo ser chamada por ele. Eu sou Erieanna. — Segurei firme em sua mão que era tão suave quanto a de uma Lady.

— Seu pedido será atendido milady. — Sorriu. Não gostei de seu sorriso que me pareceu bem falso.

Devolvi um fraco sorriso e retirei minha mão da sua.

— Ela é muito bonita e tem uma personalidade forte. Estou certo de que terá um grande desafio pela frente. — comentou com Loki, que por sua vez não teceu nenhum comentário a respeito de suas observações.

Percebendo que sua companhia não era bem-vinda, o deus da poesia tratou de se afastar de nós. Enquanto caminhava, notei que ele tinha um comportamento peculiar: seu andar era gracioso como de uma mulher e suas mãos se movimentavam de um jeito um pouco estranho para um homem de seu porte. Guardei aquelas observações para mim. Não queria iniciar um conflito por conta de especulações de uma primeira impressão. Loki, disperso as minhas observações, colocou sua mão em minhas costas e me levou mais para dentro do salão. Os rostos de muitos homens se voltaram em minha direção enquanto eu passava por eles exibindo minhas pernas. Era sempre assim, nenhum homem resistia a beleza de uma mulher. No fundo, todos eram iguais.

— Está fazendo sucesso. Os homens estão te devorando com os olhos. — Meu companheiro sussurrou em meu ouvido.

— Bem típico de homens. — Chacoalhei o ombro demostrando que não me importava com a atenção recebida.

Depois de uma longa caminhada, chegamos ao final do salão onde havia uma grande mesa que estava ocupada por cerca de dez pessoas, inclusive Thor. Deduzi que aquele se tratava do assento dos deuses, visto que havia uma cadeira vaga, na qual presumi que pertencia ao deus da mentira.

— Loki! Achei que não viesse mais. — exclamou um homem forte cujo seu olho direito estava coberto por um tapa-olho.

Permiti-me a analisá-lo enquanto ele aproximava-se de nós. Seus cabelos de tonalidade marrom chegavam até a altura dos ombros. Seu físico era de um forte guerreiro. Ele aparentava ser um pouco mais velho que os demais deuses, mas estava longe de ser franzino, ao contrário, sua força era bem nítida. A barba da mesma cor que o cabelo, emoldurava um queixo quadrado que lhe conferiam um ar de pura masculinidade. O homem — ou deus — tinha uma presença imponente, parecia ser indestrutível da mesma forma em que parecia ser o único, verdadeiramente, imortal. Ele só poderia ser o poderoso e temido Odin.

— Vejo que trouxe a jovem por quem tanto lutou para trazer até nosso lar. — Odin lançou seu olhar em minha direção.

Endireitei minha postura a fim de demostrar que não estava intimidava. Embora no fundo eu estivesse. O deus supremo cochichou algo no ouvido de Loki e em seguida voltou a ocupar seu lugar no centro da mesa. Meu companheiro se separou de mim e tomou o lugar ao lado de Thor. Fiquei incerta de como seguir a partir dali, por sorte Acme veio ao meu encontro e cedeu-me um lugar na mesa ao lado que ficava próxima da que pertencia as divindades.

Mal tive tempo de me sentar na cadeira, quando Odin bateu três vezes a caneca de cerveja sobre a mesa., fazendo com que o estrepito barulho ecoasse por todo salão. Rapidamente todos se calaram e um silencio profundo se abateu no salão.

Todos os olhares se voltaram para Odin, inclusive o meu.

— Caros companheiros, peço desculpa pela interrupção do banquete, mas nesse momento chegou uma jovem que precisa ser devidamente apresentada. — Ele direcionou seu único olho de um azul tão claro que era quase esbranquiçado, em minha direção.

— Você, venha aqui! — Apontou o indicador para mim.

Acme endureceu ao meu lado e lançou um olhar desesperado a Thor que o retribuiu com indiferença.

Quanto a mim, para comprovar que não tinha medo, de imediato arrastei a cadeira e me coloquei em pé. Senti todos os olhos cravado em mim enquanto alinhava minhas costas. Não me abalei com nenhum olhar, e com o queixo erguido, caminhei a passos preciso e seguros até Odin.

Conforme seguia até o deus supremo, senti o leve tecido do meu vestido esvoaçar ao meu redor intensificando meu caminhar confiante. Também percebia que todos os olhares continuavam cravados em mim: a estrangeira que seguia de encontro ao poderoso Odin.

Parei há alguns passos de distância da divindade e fiquei de frente para o soberano. Ele inclinou seu corpo para frente de modo a me encarar com mais atenção. Não gostei te ter aquele olho esbranquiçado me estudando com tanta determinação e ousadia.

— Eu sou Odin, deus da guerra, líder dos Aesir e protetor de Asgard. — pronunciou, exatamente como um verdadeiro líder.

Fixei meu olhar no seu e falei em alto e bom tom:

— Eu sou Erieanna, ao que tudo indica... apenas mais um sacrifício de Loki. — Exibi um leve sorriso de canto. Se Odin pensava que iria me intimidar na frente de todos, ele estava muito enganado.

Alguns dos presentes seguraram o riso mediante minha apresentação. Tanto Loki, como Thor, estavam com uma expressão de divertimento no rosto.

Odin, todavia, não gostou do meu tom provocativo. Por isso, ele semicerrou seu único olho, antes de indagar:

— Deves saber que somente os guerreiros podem pisar em Valhalla após a morte, portanto responda-me: és uma guerreira? — Arqueou a grossa sobrancelha amarronzada.

O silencio assombroso voltou a dominar aquele imponente salão enquanto todos aguardavam pela minha resposta.

— Corrija-me se eu estiver equivocada, porém tenho quase certeza de que ao ser sacrificada por alguém, esta pessoa ganha o direito de entrar em Valhalla. Eu dei minha vida para salvar um viking, que mais tarde vim saber que se tratava do próprio Loki. Fui enganada, eu sei. No entanto, isso não isenta o fato de que morri por alguém de seu povo. Mas, estou certa de que já sabia disso, pois creio que vi um de seus corvos grasnando no céu no exato dia em que fui sacrificada nas águas revoltas do mar escandinavo. — respondi, confiante de meus argumentos. Eu era filha de um druida. A arte de debater e negociar haviam nascido comigo.

Odin, finalmente foi capaz de esboçar um singelo sorriso de canto.

— Sim. O Pensamento me reportou a imagem de uma bela mulher aterrorizando meus fiéis antes de ser afogada no mar. — ele replicou em um leve tom de escárnio.

— Não escolhi ser escrava dos vikings, assim como nunca tive a intenção de ser sacrificada para o deus da mentira. Não pode me culpar por defender minha vida e minha honra antes de encontrar a morte. — Encarei-o com seriedade. O salão estava espantosamente quieto ouvindo nosso debate.

— Não escolheu nada disso, contudo, aqui está você: segura em Asgard. — O deus supremo com expressou sinceridade. Porém, algo que vi no seu olhar não me agradou.

Eu tinha certeza de que estava pisando em solos frágeis, qualquer palavra errada poderia ser um erro fatal. Por isso, decidi manter a cautela.

— Se diz que estou segura, acreditarei em você, já que, és conhecido por ser um deus de palavra. Agora, respondendo sua primeira pergunta, devo dizer que sou uma guerreira como qualquer homem ou mulher presente nesse salão. Deixei um rastro de mortes antes de partir e carrego sangues nas mãos, assim como todos os guerreiros daqui. Lutei por mim e por meus princípios e não me arrependo de ter feito justiça por conta própria. Faria tudo de novo se tivesse a oportunidade. Marcharia novamente de cabeça erguida ao encontro da morte, pois eu nunca a temi. — proferi, com muita determinação, no intuito de demostrar que não temia ninguém dali, nem mesmo o deus supremo.

Odin ficou um tempo em silêncio. O que me levou a acreditar que estava pensando se acabava comigo ou permitiria que habitasse junto ao seu povo.

— Bem, devido as informações que me forneceu e ao fato de meu irmão Loki lhe ter em alto estima... Estou de acordo com sua permanência em Asgard. Meu único pedido é que se curve perante a mim em demonstração de sua lealdade. — impôs, o deus supremo, e depositou as mãos amplamente abertas sobre mesa.

E com aquele ousado pedido, cruzamos uma linha perigosa rumo ao fim. Eu ainda tinha um orgulho a zelar.

Soltei um pequeno riso antes de falar:

— Então temos um problema, Odin, pois eu não me curvo para deus algum. — Ergui ainda mais meu queixo em sinal de obstinação. Nada me faria curvar diante de si. Nem mesmo o Ragnarök.

Murmúrios agitados tomaram conta do salão após eu ter declarado que não me curvaria para o deus supremo. Ninguém ali esperava por aquela afronta. Nem mesmo Loki cuja cor havia deixado a face.

Odin lançou um olhar penetrante para multidão que de imediato ficou em silêncio. A quietude foi tão extrema que, apesar da grandiosidade do salão, era possível ouvir os agitar das asas das moscas que perambulavam ali.

— Não se curva por seus deuses? — Havia incredulidade em sua voz.

— Eu não tenho deus. Sou a única governar o meu destino. Morri acreditando e temendo somente a mim e permanecerei dessa forma pela eternidade, se for possível. — respondi, de forma clara e precisa, que dissipava qualquer indício de dúvidas.

— Está ciente de que posso apagar sua existência em um simples estalar de dedos, caso insista em não se curvar para mim? — ele questionou, sugestivamente.

— Estou cinte de tal lamentável fato. Entretanto, devo deixar claro que não serei vencida sem ao menos lutar. Tenha em mente, Odin, o fato de que levarei muitos de seus homens comigo antes de tudo acabar. — Efetuei alguns passos à frente de modo a ficar mais próximo de seu rosto — Se optar por esse caminho é provável que o Ragnarök comece aqui e agora. — Fechei os punhos na tentativa de controlar meus impulsos que ansiavam por uma batalha.

Odin, avaliou minha ameaça e recostou-se em sua cadeira enquanto levou a mão no queixo. O deus me analisou com demasiada atenção. Eu, assim como todos no salão, fiquei esperando que algo saísse de sua boca e aquela espera quase exauriu todo o meu controle.

Então, para o alívio de todos o deus riu. Não uma risada qualquer, era um riso genuíno de alguém que realmente estava se divertindo.

— Com certeza és mais guerreira que qualquer um aqui presente. Sempre esperei que alguém me desafiasse, nunca pensei que esta pessoa seria uma mulher. — Continuou a rir — És mais do que bem-vinda em Asgard, assim como em Valhalla. Terá minha proteção e a liberdade de fazer justiça para com aqueles que te incomodarem. Saiba, Erieanna, que em Asgard, guerreiras como você são tratadas com muito valor. Fico feliz em saber que Loki a trouxe para nós. — Ergueu a caneca de cerveja. — Façamos um brinde a Erieanna, a mulher mais destemida de toda Asgard.

O salão todo levantou os copos e um coro de sköl ecoou por toda Valhalla. Homens e mulheres me lançavam olhar de admiração. Eu já tinha presenciado olhares de nojo, medo, luxuria e até mesmo indiferença. Mas nunca me olharam como naquela noite: como uma guerreira prestes a conquistar o mundo. As coisas eram diferentes em Asgard; diferentes do tipo bom.

— Loki meu caro, — disse Odin em meio a um riso — Você terá um grande desafio pela frente. — Lançou uma piscadela ao irmão.

— Estou ciente disso. — O deus da trapaça exibiu um leve sorriso.

Rapidamente uma caneca cheia de bebida chegou em minhas mãos. Depois disso, não me recordo muito com precisão de todos os acontecimentos daquela noite que passou como um borrão. Lembro-me que bebi muito hidromel, e este foi meu maior arrependimento, pois Loki — mais uma vez — aproveitou de mim.

Talvez o destino estivesse tentando me lançar no caminho do deus da mentira e por isso, mesmo que eu o detestasse, sempre acabava presa ao loiro de olhos tão azuis quanto o céu de um dia quente de verão.

Asgard, estava começando a ficar interessante. E ainda assim, eu ansiava pelo dia que partiria dali.

CAPÍTULO SEM REVISÃO

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