Sob outros olhos - O ataque de Katerine
Sabia que Katerine não me machucaria. Meus braços estavam ao redor dela, puxando-a para longe de Jane. Mas, ela não me me feriria por mais transformada que estivesse. Do mesmo jeito que, mesmo agora, eu não conseguiria a matar. O passado tinha um peso ao qual não conseguíamos nos livrar.
Então, uma luz roxa a acertou na face. Soltei-a de imediato, pelo susto. Olhei adiante e lá estava Enny. Olhos inteiramente brancos brilhosos e uma luz roxa fazia o caminho de suas veias. A sua magia tinha despertado. A serva de Victor pareceu perder o interesse em mim ou Jane, seu foco exclusivo na garota que sequer parecia humana neste momento.
Aproveitei a distração e fui até Jane. Ela tinha dois cortes profundos, um no braço e outro na perna. Tirei minha jaqueta e o canivete, cortando o tecido para ter duas ataduras, envolvendo as tiras com pressão ao redor dos machucados. Mas não podia evitar de olhar para trás, observar a luta que estava acontecendo. Katerine sabia lutar, eu mesmo a ensinei outrora. E Enny, ao contrário do que fez com Petrik, parecia estar se contendo para não machucar a outra severamente com seus poderes. Sem usar o máximo dos dons, aquela menina vinha perdendo aos poucos a vantagem.
– Jane, princesinha, acorde. – Falei, dando sutis tapinhas em sua face até que ela acordou.
Os olhos azuis se abriram e, não podendo segurar o alívio, lhe dei um leve beijo nos lábios. Mas, um grito me trouxe para o momento. Enny. Assim que me virei para a ver, constatei que Katerine lhe desferiu um golpe com suas garras, cortando profundamente seu antebraço. A minha protegida estava de joelho, perdendo o brilho e com um forte sangramento. Seus poderes estavam indo embora. Segurei com força meu canivete e fui até lá, atacando Katerine de surpresa.
Derrubei-a e, assim que ela se pôs sobre os próprios pés, começamos a lutar. Por algum motivo, desta vez não vacilei. Desferi golpes, tentando cravar meu canivete nela, obrigando-a a recuar. Desde a transformação, ela era rápida. Mas eu era mais. A garota de 19 anos tomou distância.
– Kat, eu não estou brincando. Dê mais um passo para Enny e, dessa vez, não hesitarei em lhe matar. – Apesar da ameaça, estava claro a súplica.
A garota de cachos negros e olhos vermelhos abriu um sorriso diabólico, mas eu podia enxergar um novo sentimento intragável quando ela encarou a minha protegida de joelhos. Então, Katerine mirou nos meus olhos e falou:
– Você só pode salvar uma delas.
Me mantive ereto, sem vacilar ou sair da frente de Enny. Eu precisava proteger aquela garota.
– Jane, então. – Minha adversária concluiu.
Katerine está com um semblante furioso ao se virar e correr até uma Jane sentada no chão. Minha namorada estava machucada demais para conseguir usar seus dons e foi logo, novamente, derrubada. Porém, dessa vez, conseguiu segurar as mãos de sua agressora.
Corri até lá, cortando as costas de Katerine. Ela tentou usar suas garras para me atacar, porém, eu desviei a tempo e peguei seu braço, jogando-a para longe. E então...
Uma luz atrás de mim surgiu, parecendo transformar a noite em dia e um raio caiu sobre o corpo da serva de Victor. Olhei para a origem da claridade. Não faço ideia como seja um anjo, mas, com toda certeza, deveria ser parecido com ela. Enny flutuava, seus cabelos pareciam dançar no ar, seu corpo emitia um brilho forte branco e suas veias eram roxas, da mesma cor da pedra do anel neste momento. O ar ao redor dela parecia tremer com tamanho poder.
Um barulho me chamou a atenção, parecia um trovão. Um raio lilás com veias brancas atingiu a serva de Victor, fazendo-a esticar todo seu corpo e cair como um cadáver no chão. Me odiava por isso, mas tinha que admitir que me doeu ao pensar em sua morte. Racionalmente, sabia que esse seria seu fim, porém, não queria estar presente quando acontecesse. Gratificado, suspirei ao vêr o movimento ruidoso do tórax dela com a respiração fraca, mas que anunciava vida.
Katerine levantou debilmente, os olhos exalando medo, e fugiu. Com a ida da inimiga, o brilho de Enny diminuiu e ela foi se aproximando do chão. Acelerei o passo, amortecendo sua queda. Estava desmaiada. Ao redor, nas poucas casas que haviam, olhos curiosos nos observavam da janela. Ninguém teria coragem de sair depois do que viram. Só que nós precisávamos sair daqui ou teríamos grande problemas. Peguei Enny em meus braços e andei até minha ex-namorada.
– Jane, preciso que você se levante. A guarda de Victor deve ter visto isso. Precisamos fugir!
– Nathan, você tem que me carregar. – A voz dela vacilava enquanto se sentava.
– Não dá! – Tomei a minha protegida no colo. – Enny está desmaiada. Não consigo com as duas.
Ela me encarou com fúria, mas não demorou a se colocar de pé, arrastando uma perna que ainda sangrava. Assim que ela segurou no meu ombro, atravessamos o portão. No momento em que Jane se apoiou na parede daquele beco fétido, chutei a porta com uma força acima da que eu sabia que tinha, deformando a mesma, ainda com os braços ocupados com minha protegida.
Que porra foi essa?
Apoiei Enny na parede, suas veias mantinham um sutil brilho arroxeado, porém a pedra do anel tinha voltado a ser uma típica ônix. Por trás da pálpebra, seus olhos se movimentavam rapidamente. Felizmente, o sangramento no braço estancou.
– Por que você não me defendeu? – Jane murmurava, mas minha ausência de resposta a irritou. – Diga logo!
Tomei o celular em mãos, esperando a área voltar para ligar para Aline e Angel. Precisávamos de um carro.
– Droga, Jane! Será que dá para termos essa conversa depois? Minha prioridade é tirar vocês duas daqui.
Nunca um batalhão atravessou o portão para nos atacar, mas também, nunca Victor foi tão insistente, mandando seus servos mais leais para levar alguém. Ele queria Enny desesperadamente e, por algum motivo que não sabia explicar, eu tinha certeza que não iria permitir isso, mesmo que custasse minha própria vida. Eu precisava garantir a segurança daquela garota.
– Eu ou ela? – Jane perguntou, parecendo ler meus pensamentos.
– Será que dá para controlar o ciúmes por cinco minutos? – Coloquei o telefone no ouvido. – Li, pegue o carro de tia Lúcia. Fomos capturados. Enny teve outro acesso de poderes e desmaiou. Jane está machucada, vamos ter que a levar para o hospital.
Passei o endereço e desliguei logo em seguida. Fui até Jane, indo ver as ataduras. Ela me bateu repetidas vezes, não querendo que eu me aproximasse dela. Insisti porque notei que precisava pressionar o ferimento na coxa. Ainda estava sangrando. Jane me xingava bastante por eu não a ter escolhido na hora que Katerine ameaçou.
– Você me beija para depois escolher salvar aquela novata dos infernos no meu lugar? Que droga é essa, Nathan? Nossa história não vale nada?
– Eu escolhi vocês duas. – Encarava o ferimento, tentando me convencer daquilo. – Deixei uma menina despreparada lutar contra Katerine para te acordar, cuidar dos seus ferimentos. Isso não significa nada? Mas não podia deixar Enny sozinha nessa, ela precisava de ajuda.
– Você mal conhece essa idiota. Uma semana...
– Ciente. Mas Angel me deu a missão de cuidar dela. Foi o que eu fiz.
– Não parece ser só isso.
E, por mais que eu tentasse criar justificativas, sabia que ela não estava errada e, para piorar, não conseguia entender o porquê.
Aline não demorou a chegar com Tracy, Luna e Angel. As quatro foram de imediato à Jane e eu recuei, encarando Enny, tentando desvendar o porquê precisava tanto proteger ela. A garota parecia balbuciar algumas palavras indistinguíveis. Estaria sonhando? Mais pesadelos?
– Nate. – Angel me chamou estando ao lado de Jane, deu um beijo na têmpora da melhor amiga e veio em minha direção. – Você vai com Jane e Aline para o hospital. Já liguei para David, ele vem nos pegar. Luna e Tracy vêm comigo.
Não tinha o que discutir. Angel tendo dito era uma ordem. Verdade que fiquei curioso em saber qual mentira ela teria dito para o namorado para o convencer de as buscar. David ainda não tinha conhecido a novata. Seria uma introdução e tanta da intercambista – história que alinhamos assim que soubemos que a estadia da menina aqui demoraria.
– Enny está com o antebraço bem cortado. – Avisei já tomando distância. – Tem um kit de primeiros socorros no meu banheiro. Bom fazer uma limpeza.
– Acho que viu errado, Nate. – A líder me avisou, após analisar o braço dela. – É uma ferida bem leve.
Aline estava colocando Jane no carro e me chamava, mas tive que voltar para ver. Não podia ser. Eu vi o sangue jorrar do corte aberto. Eu a trouxe para a Terra vendo que tinha atingido o músculo. Mas, agora, era um corte menor. Parecia com uns quatro dias de cicatrização, no mínimo.
Como isso era possível?
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