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Sob Outros Olhos - Mudanças

– Eu não devia estar aqui... – Resmunguei para mim.

A casa branca parecia ter sido tirada dos livros de romance típico que Tracy quase nunca parava de falar. Não que Tracy conseguisse ficar calada por muito tempo, seja qual fosse o assunto. Ao escutar a voz do outro lado da porta, meu sangue fugiu. Não era para ela estar aqui. Antes que eu pudesse raciocinar ou até me esconder, a porta vermelha foi aberta e a garota abriu um sorriso incrédulo.

– Nathan Jular Monteiro. Achei que ia para Rheyk. O que faz por aqui? – Havia um quê de deboche porque eu estava que nem um cão arrependido para ela.

– Sabe... – Olhei por cima do ombro dela. Coçava minha cabeça, constrangido pela chacota desenhada no sorriso dela. – Não foi você quem vim ver. Achei que ficaria com as meninas hoje.

– Nada disso! Hoje era o dia do meu amor. David! Não vai acreditar em quem tá aqui. – A garota de pele de chocolate me deu uma piscadela. – Ele estava sentindo sua falta também.

O garoto gótico apareceu ligeiro com um menino loirinho de oito anos nas costas e a gêmea desse logo atrás. Cobri a boca com a mão para encobrir o sorriso ao notar que meu amigo tinha o rosto maquiado com produto infantil.  David largou as duas crianças e, passando o braço nos ombros de Angel, se juntou na linha da zombaria pela minha presença. 

– Ora, ora. Meu anjo, não estou acreditando em meus olhos. Não é esse o cara que disse que nunca mais falaria comigo?

Olhei para baixo, constrangido. Disse isso e muito mais quando estava com raiva depois de descobrir a mentira de Jane e como ela descobriu sobre mim e Enny. Esse bocudo tinha culpa, mas acabei descontando nele a fúria por eu ser um idiota que fez merda.

– Vou deixar as duas madames se resolverem. Giovana e Giordano, vamos para dentro. Que tal pedir uma pizza e esperarmos assistindo um filme? O irmão de vocês vai conversar com o amigo.

As crianças comemoraram e, antes de partirem, vieram me dar um beijo na bochecha. Giordano adorava que eu sempre ensinava um golpe novo para ele usar com o mais velho. Já a pequena Giovana fazia vários desenhos, garantindo a confecção do seu próprio "mangá". As historinhas eram bobas, mas me tiravam um riso ou outro. Angel beijou seu namorado antes de também sair, fazendo um sinal com as mãos, indicando que estava de olho.

Nós descemos para o porão. Lá, me foi oferecido um refrigerante. Preferia uma cerveja, mas na situação atual... Não ia reclamar.

– Essa maquiagem toda é para mim? – Brinquei, afundando no puff. – Não precisava, querido. 

David esticou o pescoço, vendo o quadro impressionista pintado em sua face e pegou a blusa para limpar, não antes de me xingar como de praxe. Ótimo, não tinha ferrado tanto assim essa amizade. Projetei meu corpo para frente, apoiando os cotovelos no joelho, deixando bem claro que queria ter uma conversa séria.

– Relaxa. Tá de boa. – Ele me cortou assim que abri a boca. – Sem ressentimento. Era isso, não era?

– Sim... – Admito que fiquei um pouco perdido. – Achei que... Sabe... Fui bem grosso.

– Entendo, você tava puto e eu, de fato, contei coisa que não devia. – David deu de ombros. – Sobre o que você disse, zero mágoas. 

Aquela escolha de palavras não foi casual, David era esperto demais para deixar uma ambiguidade surgir ao acaso.

– E no quê tem mágoa ainda?

– Porra, cara... Eu acho você um cara foda, amigão para todas as horas. Mas, caralho... É merda atrás de merda que tu faz quando o assunto é mulher. E com a melhor amiga de Angel... Eu te falei para não fazer besteira ou nossa amizade já era. Você me forçou a escolher um lado.

Puta que pariu. O pior é saber que David era tão previsível  que eu já vim aqui sabendo e querendo tomar esse esporro. Ontem, depois que saí da casa de tia Lúcia para Rheyk, bati um papo com Felipe, contando toda a história com Enny, o baile, ter ido para casa de Jane para transarmos e falhar miseravelmente porque eu não conseguia parar de pensar que a garota por quem me apaixonei estava beijando outro. Meu melhor amigo riu, tentou me arrastar para um bordel e tentou falar mal de minha protegida e da minha ex. O olho dele, por essas horas, ainda devia estar inchado.

Nunca briguei sério com Felipe, nunca partimos para violência, nem mesmo quando éramos pivetes exibidos que tentavam ganhar a atenção da rebelião para sermos tutorados por alguém de maior patente. Só que, nos últimos anos, cada vez era mais difícil de convivermos tão próximo. Ele dizia que eu era infectado pela cultura da Terra e nem parecia mais um homem de Rheyk. Já as garotas... Ser o único homem no meio de mulheres era desesperador. Nesse sentido, talvez uma das melhores amizades que desenvolvi foi com David. 

Ele não tinha muitos amigos, mas, pelo menos comigo, sempre era muito honesto e dava sermões vez ou outra. Admito, muitas de suas palavras entraram por um ouvido e saíram por outro. Só que, de pouquinho em pouquinho, aquele garoto terráqueo vinha me transformando e eu podia ver que as seis garotas pareciam simpatizar mais com essa minha nova versão. Porém, na porra do baile, eu tive que ser o Nathan de 14 anos de novo e joguei tudo a perder. E, para piorar, ontem, em um surto de alívio, beijei Enny, mesmo sabendo que ela ainda não queria me ver nem pintado de ouro. Burro! Idiota!

Meu silêncio pareceu o incomodar. Talvez David tivesse esperando que eu me levantasse e fosse embora. Só que eu não queria ir para Rheyk e ser o General Monteiro, tampouco ia procurar Aline e tia Lúcia e ser o Nate que vai ser abraçado e tomado conta. Eu vim aqui sabendo o que ouviria porque queria que alguém jogasse na minha cara o que já sabia de mim. E o garoto a minha frente vinha funcionando nos últimos sete meses como minha bússola moral, desde o dia que admiti que queria acabar com Jane, mas não queria a magoar ainda mais, considerando toda a situação que ela estava vivendo.

– Eu sei, cara, que sua vida foi difícil pra porra. – David decidiu quebrar o silêncio. – Perdeu mãe e pai e, pelo que Angel fala, o cara que  tu considera um segundo pai era escroto. Desculpa o termo, mas, pelo que meu anjo fala, ele não era uma boa pessoa, nem mesmo para você. 

Queria perguntar o que sabia tanto, mas minha voz se perdeu em minha garganta, atolada no choro trancafiado. Comecei a travar e relaxar a mandíbula, a forma que eu sabia que era efetiva em controlar o excesso de emoções em meu peito.

– E, sendo real contigo, eu vejo que você protege as meninas de sei lá o quê. Não sou cego, dá para ver as cicatrizes. Que quase sempre que uma delas aparece machucada, você também tá meio ferrado.  E, por isso, venho fingindo não ver a grande merda que você tá fazendo na vida delas. Principalmente da menina que você diz gostar.

– Eu quero ser melhor, David. Não quero ser o cara que Enny odeia. – Funguei e olhei para o lado, tentando evitar de notar o julgamento de "fraco" no semblante do outro. – Mas continuo fazendo merda. Terminei tudo com Jane, esperei o tempo que Enny pediu, a pedi em namoro, para ir comigo no baile, tentei aceitar a posição de "bons amigos". Só que fodi com tudo no momento que não coloquei Jane no lugar dela lá no começo e piorava cada dia mais porque...

Fechei os punhos com força, calando-me antes de falar mais do que deveria. David sabia de todo o drama de Jane, o que fazia tanto eu quanto ele e Angel sermos muito mais complacentes com a grosseria dela. Porém, não gostava de trazer esse assunto à tona porque mostrava o quanto eu era idiota de não tomar alguma atitude antes. Minhas promessas ao pai dela não justificavam jamais eu aceitar calado tudo que ela queria, especialmente quando já tínhamos terminado e meu silêncio magoava claramente quem eu mais queria por perto.

– Você quer mudar por Enny ou por si? – Ele me encarou sério.

– Tem diferença? – Perguntei rindo e selei meus lábios ao redor da latinha de bebida.

– Claro que tem. – David abriu um sorriso e jogou uma almofada em mim. – Se for por alguém, é errado porque alguma hora você vai botar o peso de quem você é nos ombros de outra pessoa e isso não é justo.

Ele olhou para cima, sabia muito bem pelo brilho no olhar que estava pensando na sua namorada.

– Nos quase três anos com Ang, eu mudei pra cacete. Mas porque eu quis. Minha meta é bater no peito e dizer que me orgulho das minhas ações e, entre elas, é honrar a mulher que eu escolhi para minha vida. Mesma coisa ela faz por mim. Agora, tem coisas que ela odeia e eu não vou mudar. Amo meu estilo gótico, caveira, zumbi, vampiros, rock pesado.

David mostrou os pulsos cheio de pulseiras e balançou a camisa com estampa de caveira. O estilo dele era horrível, mas não vou julgar.

– Ang entendeu que me amar é amar também as partes que ela talvez não goste tanto. Se você quiser mudar para caber na visão ideal de alguém, tudo que estiver fazendo vai ser jogado no lixo. Alguma hora, vai mostrar sua verdadeira cara e a sua garota não vai querer ficar porque ela não vai te amar, mas sim a máscara que construiu. E, para foder tudo, você vai se tornar alguém que nem goste de ser. Parece uma vida de merda.

– Já pensou em fazer psicologia? – Recostei-me no sofá, bocejando, e vi o garoto recusar a hipótese fervorosamente. 

Estava cansado, passei a madrugada passada conversando com um músico que tocava na rebelião ontem, procurando melhores tipos de madeira para fazer um instrumento. Era uma ideia idiota por agora, mas acho que conseguiria executar meu plano. Esse seria a parte para ela, minha atenção e devoção nos detalhes. Porém, David estava certo, não podia mudar para alguém. Eu queria não ter medo do monstro em mim que apreciava as torturas, que gostava da brutalidade da guerra. 

No meu íntimo, pela primeira vez, vinha pensando em quem eu queria ser após tudo acabar porque, se o que ouvi naquela noite era verdade, de uma forma ou de outra, o fim estava perto, e eu sabia que protegeria Enny com minha própria vida se fosse necessário. Queria sentir orgulho da pessoa que eu sou antes de morrer, ao menos uma vez... Enny estava certa, sem os títulos da rebelião, eu era um assassino e um pirralho. Nada a me orgulhar, caso morresse hoje.

– Eu quero fazer por mim. – Engoli em seco.

– Ótimo, cara! Amanhã começamos. – A campainha tocou e pude escutar os passos das crianças. – A pizza deve ter chegado. Vem comer com a gente. Os pestinhas te adoram, tem jeito com crianças. Pensa em ser pai?

– Vai lá, não quero atrapalhar mais sua noite. – Propositalmente não respondi sua pergunta. – Posso dormir aqui nesse sofá hoje? – Apontei para o móvel e o garoto deu de ombros.

– Claro. Vou ficar lá. – Ele bateu em minha mão estendida. – Nathan, sempre que se sentir meio perdido, pode me ligar. Eu realmente acho que você é um bom cara. Tá?

Agradeci e observei mudamente o outro se levantar e ir embora. Tirei do meu bolso o papel e o grafite, reiniciando o desenho do meu projeto. Contudo, as imagens da quebra das ondas me vieram à mente. A mão do meu pai segurando na minha, a risada de mamãe nos observando da areia. Não lembrava do rosto dele, nem seu nome, mas eu sabia que era real, era meu pai ali comigo. Era doloroso demais voltar naquele lugar porque toda vez que estive lá foi com pessoas que eu amava tanto e nenhuma mais restou.

Não deixava ninguém se aproximar tanto de mim porque nunca quis amar tanto assim de novo. Aline e tia Lúcia foram duas exceções, minha irmã e mãe que eu protegeria. Mas não, nunca pensei em casar ou ter filhos. Na real, repudiava essa ideia. Podia ser um escroto, só que jamais seria escroto o suficiente para colocar uma criança no meu mundo, sabendo que haveria tantas chances de ela crescer sem pai ou de ver a mãe ser assassinada como eu vi. 

Todas que me namoraram sabiam disso, essa conversa eu fiz questão de ter com as duas que houveram. Poderia até aceitar viver com alguém debaixo do mesmo teto. Mas marido? Isso não. Esse título carregava uma pressão para gerar filhos e isso era além do que eu poderia suportar perder ou arriscar magoar. 

Se eu não pensava em construir minha própria família, por que estava tão intencionado a ter Enny comigo? Fazendo planos de a apresentar aos meus lugares favoritos em Rheyk, aqueles que nunca quis mostrar a ninguém? Por que a ideia de ela partir um dia para casa dela me sufocava como gás venenoso? Por que vez ou outra me vinha a ideia que me fazia rir sem nem perceber que eu deveria confeccionar o pingente com uma raposa das montanhas? Não queria sequer pensar em uma possível resposta, mas ela já estava clara na minha própria negação.

– Quando eu for um homem melhor, vou te contar tudo. – Suspirei, contemplando o rabisco que fiz dos olhos dela. – Espero que você fique.

***

(2291 palavras)

Perdão povo, sonhei literalmente na última noite (19/02/2025) com esse papo entre Nathan e David e precisava adicionar. Não tá revisado e nem reli, então favor digam o que acharam e me digam se errei algo grave. É um POV que eu sabia que existia de alguma forma, mas nunca tinha construído a cena na minha cabeça.

Deem opinião sobre o David, deixem sua mensagem de amor para ele porque não tem ninguém tão arreada dos quatro pneus por ele quanto eu.

Obs: David e Angel são inspirados em dois colegas meus de quando era piveta. Ele era apaixonado por ela e ela não dava bola para ele. E, de fato, ele e ela são pessoas incríveis e até hoje acompanho as suas vida (não, eles nunca namoraram). Mas, pequenina, quando comecei a criar esse livro, me pareceu de bom tom juntar essas duas pessoas que nunca tiveram a sua oportunidade.

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