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Sob outros olhos - Heranças

Meus pés nus se gratificam com o gélido contato com o vidro mágico, conectando todo o meu ser ao meu mundo. A cabeça pende de um lado para o outro conforme me embrenho nas quinas tão escondidas de Rheyk. A energia fluindo em mim estimula cada terminação nervosa minha, causando-me um prazer tão único que nada mais poderia alcançar.

– Meu amo. – A voz do meu braço esquerdo era comedida, tentando evitar a minha fúria.

Abri os olhos. Não o via, uma vez que eu estava envolto na névoa vermelha densa que surgia sempre que usava o Olho de Rheyk. No último século, esta era a forma que eu tinha de ver meu mundo. Ninguém jamais podia ver meu rosto, exceto que fosse marcado ou fosse mandado para a forca. Um nome sem uma face, sendo gritado por moribundos e condenados, se torna muito mais imponente e dá margem à imaginação – que é muito mais perigosa e letal do que a realidade. O povo podia não conhecer minha face, mas tremia frente à ideia de quem eu era.

Mas, eu mostrei a face por causa dela. As notícias se espalhavam. Uma herdeira real viva desafiou  Victor. A garota fênix, que se incendiou para salvar traidores de Gomno e ressurgiu como a rainha reconhecida pela rebelião. Era cômico que ela fosse comparada ao símbolo que recebi para ser meu ainda em berço. Essa singela analogia me fazia ter mais certeza que ela seria quem me prometeram outrora.

– Thomas. – Respondi-o em voz baixa

– Achei pistas que sua sobrinha está treinando perto de Ozin. Um portão surgiu lá com conexão para a Terra em um lugar perto da casa dela. Devo mandar tropas?

Caminhei em sua direção. Assim que meu pé rompeu o limiar do círculo vermelho, a névoa se dissipou, ganhando espaço pelo meu reino, demonstrando para aqueles miseráveis que estavam sob meu domínio. Meu tronco nu foi coberto por um quimono negro, com uma fênix bordada em fios de ouro, depositado sob meus ombros pelos dedos ágeis da minha atual cortesã. Olhei-a de soslaio, encarando os olhos de esmeralda, o único motivo pelo qual ainda não a marcara.

A mulher de vinte anos, como todas aquelas que ocuparam a mesma posição antes dela, não tinha medo de mim. As candidatas eram sondadas por anos, desde quando debutavam nas casas de prazeres a qual trabalhavam até que atingissem a maturidade, e eu então escolheria a felizarda. Esta se chamava Cecília, antes houve Lumena, Katerine, Margô... Duzentos anos e nenhum desses nomes jamais seria o da minha prometida. 

– Meu amo? – Thomas parecia impaciente com meu silêncio.

– Para quê? – Criei uma luz vermelha e a deixei rodar entre meus dedos. – Ela conseguir escapar mais uma vez? Chamar a atenção para nossa fraqueza e inflar a rebelião? Não. Deixe-a quieta, por enquanto. Tenho outros planos para minha Hecozonha. Agora, vá treinar os novatos. Precisaremos agir em breve... E mande Petrik para cá.

O meu rastreador se foi após uma reverência breve. Assim que a porta da sala do trono fechou, voltei-me para Cecília, tomando-a em meus braços e lhe beijando de forma perniciosa. As mãos dela foram para dentro das minhas vestes, querendo cumprir a função que exercia para ainda estar viva. Cerrei com força as minhas pálpebras, focando em criar a ideia de que eram da minha prometida aqueles olhos esmeralda. Somente assim poderia querer me conectar com aquela escória que se agarrava ao meu pescoço como um animal. Deixei-me ser tomado pelas minhas alucinações. Era ela, a minha prometida estava ali.

Ardendo em desejo, podia sentir o pulsar acelerado do meu coração por todo meu corpo,  ansiando por mais. Minha boca corria pela sua pele, deleitando-me com o maravilhoso cheiro de seu perfume, o mesmo que a forcei a usar desde seu primeiro dia em meu castelo. De olhos fechados, podia me deixar imaginar que o arfar e gemidos daquela cortesã eram os da minha amada. Tudo que deveríamos ter vivido, mas Aliat me negou a ter.

Todavia, a dura realidade logo cai sobre mim quando abro os olhos com o barulho da porta, anunciando a chegada de Petrik. A pele de uma plebeia, marcada pelo sol, jamais seria a do meu amor. Encarei cada traço de Cecília, horrorizando-me como ela podia ser tão diferente da minha prometida. O ardor que antes me queimava a carne, agora me incendiava o espírito. 

A mulher, notando a brasa em meu olhar, tentou escapar. Mas não antes que meus dedos se envolvessem ao redor de seu pescoço, usando meus dons afim de ter força para a erguer centímetros do chão. O corpo se debatia, as unhas cravavam em meu pulso e a boca se abria em uma vã aventura em busca de ar. Então, pouco a pouco, a inércia lhe tomou, anunciando a chegada da morte.

Antes que a linha fosse ultrapassada, lhe larguei, deixando a massa inútil cair debilmente aos meus pés. Furioso, constatei que a cortesã tinha sujado o meu tecido. Plebeia maldita. Cecília valia muito pouco para que eu estragasse uma roupa minha por ela.

– Meu amo. Deixará ela disponível para nós da lotação A? – O sorriso malicioso tomou a besta horrenda.

Cada aberração que minha marca criava deixava claro quem era aquele servo além do meu domínio. Petrik era uma quimera de um Lobo-tatu com um Lagarto Rei. Ambas as espécies eram raivosas, mas apenas a segunda era capaz de ser uma assassina indomável. Qualquer um que fosse uma criação que envolvesse o Lagarto, eu sabia que se entregaria rápido às mudanças e seria o mais monstruoso, tanto esteticamente quanto moralmente. Essa era minha lotação A. Não necessariamente confiava mais nela, pois já tive desertores dessa classe. Porém, eram os servos que aceitariam fazer os serviços mais sujos.

– Não, meu caro. – Meu sorriso se abriu ao ver a decepção do outro. – Ela será exclusivamente sua se você me fizer algo.

Os olhos sedentos de luxúria da besta brilharam. Servos tão transformados não pisavam em bordeis. As pobres prostitutas, com muito esmero, sobreviviam a uma noite com eles. Pelo bem do negócio de Madame Kia, fiz um acordo e proibi a lotação A de frequentar aquele ambiente. Contudo, sempre que uma prostituta parava de dar lucro, a cafetina a mandava para meus guardas se entreterem. 

Desse modo, era uma proposta quase irresistível para Petrik. Teria uma bela prostituta unicamente para si. Lambendo os lábios, a besta concordou.

– O que deseja, meu amo?

– Quero que vá para o Olho de Rheyk. – Sorri ao ver meu servo tremer com as palavras. – Eu lhe dar um prêmio, não faz meu comando ser uma opção a ser recusada. Se não me obedecer agora, lhe colocarei a disposição dos outros guardas. Quer isso?

Engolindo em seco, o meu braço direito usou suas seis patas para chegar ao destino. Assim que adentrou no perímetro do círculo, eu ergui minhas mãos e o deixei imerso na fumaça vermelha. À medida que ele inalou a névoa, permitiu que minhas artimanhas se instaurassem em sua  mente. Arrastei lentamente para superfície as memórias de sua vida pregressa.

– Eu quero que você lembre de Laiane Jular.

A mulher de cabelos escuros como a noite era uma das peças raras que habitou Rheyk. Inteligente demais para seu próprio bem. Uma oponente que eu respeitei durante toda sua breve vida. Não poderia dizer o mesmo sobre seu rebento Monteiro.

Foi deveras gratificante descobrir a relação dela com Petrik. Por mais transformado que ele fosse, era burro demais para eu o trazer para o meu círculo interno de confiança. Hoje, o real motivo de o manter tão perto era só pela possibilidade de usar esse elo em meu jogo para destruir a herança dos Monteiros. E, admito, sentia um quê de satisfação em permitir que o marido de Laiane convivesse, como melhor amigo, do maior traidor de sua esposa, aquele que a abandonou na desonra. 

Há 11 anos, enquanto eu acompanhava, transmutado em um animal alado, uma missão de tropas em Rheyk, reparei que Petrik encontrou Laiane e, conscientemente, a escondeu do pelotão. A rebelde teria ficado segura se não fosse o moleque dela de nove anos que, assustado, correu. Em meio a agitação que esse ato gerou, quase houve a morte do garoto Monteiro pelas mãos do próprio pai. A mãe se expôs para impedir a ação do seu transformado marido. Foi assim que ela foi presa. 

Sem ter como fugir, eu tive que ordenar sua execução. Tardei o máximo que pude, fragilizei minhas barreiras para que ela tentasse escapar. Mas a teimosa escolheu se despedir de seu amado, em se tornar uma mártire da causa maior. Então, chegou o momento e não tive como evitar. A cabeça dela foi reclamada pelo seu grande carrasco.  Não que eu me interesse em checar a veracidade dos boatos, porém as más línguas afirmam que ele ainda mantém o seu pequeno troféu exposto para quem queira ver.

Um grito me trouxe de volta para o presente. As memórias regressavam como uma ferida exposta putrefata para Petrik. Precisava que lembrasse só o essencial, aquilo que o fez vir até mim, a aceitar minha marca. A fumaça vermelha se dissipou, revelando a besta caída. Os olhos furiosos encontrando os meus e achando alívio em mim. Eu era o eu salvador. 

– Meu amo, me deixe matar Thomas. – A quimera balbuciava, recobrando o fôlego. 

– Não agora, meu caro. – Um sorriso se desenhou em meus lábios. – Nós dois temos a mesma intenção aqui. Resguardar nosso legado. E o seu herdeiro com Laiane treina a minha. Lembra-se do seu filho, Petrik? Do nome dele?

A besta dilata suas narinas e bufa. Estaria ressentido da criança que levou à prisão da mãe que tão pouco conhecia? Não me importava com a resposta. O moleque cresceu e agora era da rebelião, instruía Enny nos treinos que eu pude ver e parecia ter posição o suficiente para desestabilizar o sistema antagônico ao meu regime.

– Sim, meu amo. – Petrik finalmente disse, parecendo que aquela cabeça oca finalmente tinha começado a raciocinar. 

– Verdade seja dita, caro Petrik. Sempre fui alguém que... gosta de manter as coisas em família. – A graça dos diversos significados dessa frase me tomaram enquanto eu me sentava em meu trono. – Desse modo, acho por bem que o garoto descubra que não é órfão de pai.

– O que quer que eu faça, meu amo?

– Vi que Enny irá treinar na clareira que Thomas a emboscou antes. O seu rapaz estará lá, chegará antes para preparar o treino. Capture-o e o traga para mim. Temos que quebrar essa proteção que o menino Monteiro faz em volta da menina. Somente então, você poderá ter sua vingança contra Thomas, inclusive, atacando a família dele. Sabe do rapaz, certo?

– Nunca esqueci, meu amo. – Um rosnado rompeu pela sua garganta. Odiava mais a cria de Thomas do que amava ao próprio filho. Espetacular.

O sorriso demoníaco de minha besta foi o suficiente para eu saber que não haveria falhas no meu plano. Se o filho de Petrik não aceitasse a marca, o próprio pai o mataria. Eu acompanhei o rapaz por anos, descobri o quanto era egoico e, secretamente, odiava a mesma pessoa que eu, o verdadeiro inimigo que impedia de realizarmos nossos sonhos. Sabia bem como o comprar, apenas ofertaria a vida do outro. Um acordo secreto, apenas Petrik, o rapaz e eu poderíamos saber para assegurar a queda da rebelião.

– É só isso, meu amo?

Mudamente assenti e apontei com meu olhar para a jovem que não tinha recobrado a consciência. A quimera saiu do Olho de Rheyk e tomou Cecília em seus braços, os cantos do lábio se curvando de satisfação.

– Petrik, eu gostei dos olhos dessa. – O chamei quando ele estava se retirando. Aquelas poucas palavras eram o suficiente para que ele entendesse o que eu queria. – Agora, vá.

A besta saiu se sentindo glorificada pelo presente que receberia. Encaro a porta fechada e penso melhor naquela cortesã desacordada de olhos incríveis. Ela não era minha amada e merecia pagar por isso. Uma risada me escapou pelo nariz ao imaginar a morte dela. Garantiria que seu corpo seria exposto em frente à casa de Madame Kia. A próxima que viesse teria que ser melhor ou o próximo cadáver seria o da própria cafetina.

Sozinho com meus pensamentos, retirei meu quimono e caminhei rumo ao círculo central. Fechei os olhos, lembrando da última noite com aquela prostituta. Cada balançar, gemido e toque me faziam pensar na minha amada. Quantas vezes eu já fantasiei com ela na minha existência? Perdi a conta ainda no meu primeiro século. A teimosia de Aliat afastou de mim a vida que eu queria, a mulher que eu queria. A única que existiu para mim.

Quer dizer, até agora.

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