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Capítulo 7 - O Sequestro

– Enny. – Aline entrou abruptamente no quarto que estava com a porta aberta, fazendo-me fechar meu caderno de vez. – Tracy acabou de me ligar. Ela não vai poder ir, ficou doente. Acha que dá conta de sair sem a supervisão da gente?

Ri, nitidamente zombando daquela pergunta sem sentindo.

– Por mais perigoso que seja ir assistir a um filme no cinema com 4 outros adolescentes, acho que vou ficar bem, Li. – Respondi com um falso decoro que a irritou.

Aline pegou a sua agulha de crochê que ela mantinha em seu porta-caneta e a apontou para mim como uma faca. Fingi estar rendida.

– Ninguém além de Nate me chama de Li. Regra básica, tampinha. – Ela, guardou a agulha, pegou um batom na sua escrivaninha e o aplicou, ajeitando o brinco de miçanga. – Estou saindo com uma amiga e vou dormir lá, caso perguntem. Lembrada que Nate e Jane vão sair... Talvez reatem hoje... Então, se eles chegarem juntos, recomendo fones de ouvido durante a noite.

– Ele ainda está se arrumando? – Perguntei e meu queixo caiu em choque ao vê-la assentir. – Céus! Mais de uma hora?! Tá tirando o grude até da alma pelo tempo! Acho que voltam, hein?

A garota riu, mas ela pareceu conter opiniões bem afiadas de virem à tona, contentando-se a me dar um beijo na bochecha e ir embora. Sem inspiração, fechei meu diário e fui para sala, aguardar os quatro que viriam me buscar. Três eram aqueles que mencionei no caderno. O quarto era o interesse amoroso de Tracy, Brad. As duas vezes que os vi juntos me fizeram questionar o amor próprio da loirinha, mas a conhecia há pouco tempo para já me meter nisso.

Assim que a campainha tocou, comecei a colocar meu salto enquanto via Nathan abrir a porta. Ele cumprimento Jack de forma animada, falando que não o acompanharia hoje porque tinha planos e descobriu naquele momento que eu não teria supervisão de ninguém do nosso grupo. O semblante do meu protetor ficou tenso, parecendo ponderar se iria ou não conosco.

– Poxa. – Nathan esfregava a toalha branca em seus cabelos molhados, pensativo. Caminhei até a porta, ficando ao seu lado. Que perfume estranho que ele escolheu hoje. – Enny ainda não conhece as ruas para voltar sozinha... Pode ser perigoso...

Notei que Erick já estufou o peito para se voluntariar, mas, antes que ele abrisse a boca, escutei:

– Eu moro a duas ruas daqui. Pode deixar que a trago. Deixo na porta.

Foi Brad. Ele estava encostado na parede em frente à porta. Seu cabelo amarrado em um coque despojado, um sorriso branquíssimo e a camisa que realçava seus músculos. Se não fosse tão pretensioso e babaca, até poderia entender o porquê Tracy era tão besta por ele.

– Eba! Catástrofe arrumou carona. – Erick brincou, nitidamente desanimado.

Ri por Erick ter mencionado o apelido que recebi depois da minha primeira semana de trabalho, quando derrubei um prato no colo do cliente e quase ateei fogo em mim mesma.

– Catástrofe só se for sua vida. – Brinquei com uma falsa raiva, já me colocando para fora do apartamento. - Vamos logo. Tchau, Nathan. Chego por volta das oito. Divirta-se no seu dia de folga, babá. Ah! Perfume horrível esse, coloca o de sempre! É bem melhor!

Ele, em desagrado, revirou os olhos e bateu a porta sem qualquer traço de simpatia. Apesar da brincadeira, admito que estava incomodada de sair sem ele. Nesse último mês tínhamos desenvolvido uma boa relação, até as brigas diminuíram até serem praticamente inexistentes. Meio que me habituei a ter Nathan ao meu lado quase que diariamente. Balançando a cabeça, tentei me desvencilhar desses pensamentos. Se alguém me ouvisse agora podia pensar algo totalmente errado. Nos tornamos bons amigos, apenas isso.

– Enny, você vai sentar do ladinho de Erick. – Carol me entregou o ingresso, falando em alto e bom tom. – Não é possível que esse casal não saia hoje.

– Você pare com isso agora! – Dei um sorriso tímido para Erick, e ele abriu o seu grande sorriso para mim. – Somos amigos. Depois fica um clima chato entre a gente e a culpa é sua.

– Outch. – Brad ria de forma presunçosa. – Colocado na friendzone sem dó. Tem que ser muito trouxa mesmo.

– A conversa não chegou em você. – Respondi de forma ríspida, dando um sorriso duro antes de me virar para entrar na sala.

Erick acelerou o passo e veio ao meu  lado e, colocando as mãos em meus ombros, me chacoalhou. O mau-humor, sem motivo, que eu estava sentindo desde que saí da casa de Dona Lúcia, se amenizou suavemente.

– Relaxa, Enny. Ele é idiota assim mesmo. – Engraçado o quanto Erick, com toda sua altura, parecia desengonçado e se atropelar em suas próprias palavras. – Não liga pra pressão dos outros, pode ser?

– Claro! – Cruzei os braços, soltando minha mão da dele. – A galera tá fantasiando muito.

Ele se sentou, de forma encolhida, e eu assumi a cadeira ao seu lado. Assistimos a um filme e, por fim, demos uma volta pela cidade, parando para tomar um chocolate quente. No final, Brad foi me deixar em casa como prometido a Nathan. Definitivamente, preferiria ter voltado sozinha. Chegando à porta de casa, ele veio com um papo clichê sobre como a noite tinha sido boa comigo. Agradeci e acrescentei que achava que seria melhor com mais pessoas.

– Enny. – Ele me chamou com sua voz grossa e rouca. – Me diz, qual seu lance com aquele Nathan? Na real, o lance das seis? Vocês se pegam? Tracy fica com ele também? 

– Não. – Fui rude, uma raiva crescendo no peito. – Respeita as meninas. Me respeite. – Me vi rindo, incrédula com o absurdo que escutava. – Quer saber? Por que não pergunta para a garota que você tá saindo? Quem sabe ela te dispensa logo. Tracy é boa demais para você.

Ergui minhas sobrancelhas e me virei para a porta.

– Ah! Então você curte garotas. – Parei, incrédula com o que estava escutando. – Por isso você é tão... Seca com o Erick e comigo. Se quiser experimentar coisas novas, estou aqui.

– Céus! Se você fosse a única opção no mundo, eu iria preferir a solidão. Entendeu?

Abri a porta e entrei, fechando-a com força na cara de Brad. Ele parecia pensativo sobre o que eu acabara de falar. Avisei aos quatro ventos que tinha chegado, mas ninguém respondeu. Tia Lúcia ainda devia estar no restaurante e Nathan, no seu encontro com Jane.

Fui à cozinha pegar um copo de água e me dirigi para o sofá, pegando um livro de Aline. Nunca tinha ouvido falar dele na minha Terra, apesar de ser uma celebridade aqui. Nesta dimensão, várias coisas recentes do meu mundo não existiam, bandas, artistas, livros... Me sentia quase como uma criança, descobrindo meus gostos e preferências aos poucos e, sendo honesta, sofrendo influência severa de Tracy, Luna e Nathan, aqueles que tive mais contato até agora.

O rapaz, que  era fã de rock, vinha pesquisando bandas que misturasse esse estilo com música clássica ou que trouxessem o canto lírico, o que admito me impressionou. Já as duas garotas, adoravam músicas enjoativamente românticas ou super dançantes, as quais elas preparavam coreografias em casa e me arrastavam para participar. Angel me apresentava o mundo dos esportes, até então pouco explorado por esportes. Mas, de longe, Aline tinha o gosto literário mais parecido com o meu. Agora, Jane... Eu tentava não brigar com ela.

O barulho da tranca cativou minha atenção e, curiosa, mirei a porta para ver se Nathan ia estar com Jane ou sozinho. Ele entrou desacompanhado, com seus olhos me encontrando quase de imediato, suspirando aliviado.

– Já estava preocupado que teria que ir para uma missão de resgate. – Nathan se aproximou, tomando o livro das minhas mãos para ver o título e se sentou relaxado ao meu lado. – Como foi o filme? Carol deu muita dor de cabeça? Ou Erick?

– Filme romântico. – Simulei que ia vomitar e arranquei uma risada dele. – Zero dor de cabeça. Só aquela insinuação dela de sempre sobre eu e Erick. Inclusive, vieram perguntar da minha sexualidade porque eu não dou "atenção" para ele. – Ri sem graça.

– E o que você disse? – Seus olhos semicerrados pareciam curiosos.

– Deixa pensarem o que quiserem. Ao menos, vão parar de montar esse circo. – Dei de ombros. – Mais fácil do que responder: eu curto caras, mas não estou com cabeça para isso porque fui sequestrada para uma realidade paralela e não sei como voltar para casa.

Meu olhar acusador ao dizer a palavra "sequestrada" o fez rir e gesticular um pedido de desculpa mudo. Vendo-o tão relaxado, imaginei que o encontro tinha tido sucesso. Além da curiosidade normal, uma palpitação me fez querer perguntar:

– O encontro foi bom? Reataram? – Notei que franzi sutilmente o nariz e, para tentar disfarçar, o cocei.

Nathan encarava a capa do livro, o dedo traçando o caminho no tabuleiro de xadrez na imagem.

– Foi bacana, mas não foi um encontro. Só saímos para conversar como amigos. Muita coisa foi dita, com certeza. – Seu sorriso nervoso deixou claro que tinha sido mais uma briga do que uma conversa. – Até surgiu o papo de reatar, mas... Melhor não.

– Foi tão pesada assim a conversa?

– Não. Muita coisa ela tem razão. Jane sempre foi de flores, música lenta e lugares muito mais caros do que eu posso pagar. O problema é que nada disso eu gosto. E ela não é fã também dos meus gostos. Vê o problema?

– Não tem um meio termo? – Pigarreei, incomodada com aquelas palavras.

Ele então repousou a mão sobre meu pé, que estava sobre o sofá, e me fitou diretamente. 

– Sabe... Talvez eu não queira achar um meio termo com ela. 

– Por quê? – A pergunta saiu quase como um sopro.

Nathan deu uma risada anasalada, deu de ombros e se levantou do sofá, indo no sentido dos quartos.

– Vá dormir, amanhã logo cedo vamos para Rheyk, e já estou avisando, não vou mais aliviar para você.

***

A noite foi rápida, já estava me acostumando ao sonho – que era o mesmo dos últimos quinze dias. Eu tentava encontrar alguém dentro de um castelo gigantesco, sempre falhando na busca. Mas já sabia onde se encontrava a cozinha e o quarto principal. A tal pessoa que eu tanto procurava ficava correndo de um lado para o outro, fazendo minha busca ser inútil.

Nos encontramos em Rheyk, diretamente na clareira que usualmente treinávamos. A floresta próximo da rebelião era de plantas com a folhagem verde escura predominante, tendendo quase para o preto. Isso mais a sutil neblina avermelhada gerava uma sensação quase que claustrofóbica. Então, sendo sincera comigo, era muito reconfortante quando encontrávamos essas clareiras que os rebeldes usavam.

Nathan e eu fomos os primeiros a chegar, então o ajudei a tirar o material de dentro da mochila até que Tracy, Aline, Luna e Jane chegaram. A ruivinha estava quase sendo arrastada pela loirinha, que não tardou em me dar um abraço apertado. A de cabelo curtos foi abraçar Nathan e parecia estar contando um segredo empolgada. Já a de olhos de oceano parecia nervosa. Talvez a conversa com Nathan ainda estivesse a incomodando.

– Bom dia! Angel não veio? – Perguntei com um sorriso ao vê-la se aproximando.

– Oi. – Jane falou com um tom baixo e falho, algo totalmente inédito para mim. – Liguei para ela, mas nada. Deve ter ido visitar David antes de vir pra cá. Logo chega. Ele me disse ontem que eu começaria os alongamentos contigo hoje. É bom não perdermos tempo.

Duas horas se passaram durante aquele treino. Quando as garotas foram praticar seus dons, Nathan veio me ensinar a manusear apropriadamente um escudo, testando meu reflexo. Pela segunda vez que deixei cair minha proteção, o rapaz veio mais uma vez me mostrar como segurar, driblando o fato do equipamento ser para alguém duas vezes meu tamanho e praticamente sambar no meu braço. 

– Essa tira de couro na parte interna. – Ele a pegou e começou a enrolar com força no meu antebraço e findando na mão enquanto prosseguia a dizer: – A maioria dos escudos daqui tem. Use como sua aliada. Pode até lançar o escudo na cara de alguém e o puxar de volta com ela. Não se esqueça disso ou vai continuar perdendo sua defesa.

Quando assumi minha posição para interceptar o ataque dele, minha mente foi invadida. A visão de Katerine me atacando surgiu. Recuei, tropeçando nos meus próprios pés e caindo de bunda no chão. A imagem da serva de Victor se desfez e ouvi a risada de chacota à distância.

– Tanto treinamento e ela ainda é uma medrosa. – Jane acusou. – Ou talvez os treinos estejam servindo para coisa, não é?

– Amiga, tá bem? – Tracy foi a primeira a chegar, me estendendo a mão. – Qual foi a necessidade disso Jane? 

– O que foi? Angel não apareceu até agora e só vejo aqui duas amigas fofocando, Aline ali no mundo da lua e o casalzinho flertando na minha cara. Ninguém tá preocupado com minha amiga.

Quis abrir a boca para brigar por causa de sua insinuação, mas antes que qualquer palavra fosse proferida, Aline se colocou no meio de nós duas e, calmamente, disse:

– Quer checar se ela está bem? Tranquilo! Vamos para Terra. Chega de treino por hoje. Nate, vou te ajudar a guardar as coisas. – Aline apontou o indicador de mim para Jane. – Sem brigas, vocês duas. Tracy, Luna, deixo essa bomba na mão de vocês.

Eu e Jane ficamos nos encarando até que tivéssemos autorização para ir embora. A resposta entalada na minha garganta foi sendo sutilmente processada e, no caminho de volta, diminuí a passada para ficar ao lado dela e, com o máximo de calma que pude, questionei:

– O que eu te fiz para você me tratar sempre mal? – A vi engolindo em seco e fazendo um semblante de nojo. – Você não gosta de mim? Ótimo, digo o mesmo. Mas não dá para a gente conviver assim.

– Então, por que você não some de uma vez? – Ela acelerou o passo, me deixando sozinha.

Assim que atravessamos o portão e a área voltou ao celular do grupo, Jane constatou que tinha três chamadas da mãe de Angel e outras cinco do namorado da amiga. Quando tentava retornar, David ligou novamente. Aline, notando que as mãos de Jane tremiam de nervosismo, atendeu e deixou no viva voz.

– Onde você se meteu, Lopes? – David quase gritava, nervoso. – Me diz que Angel tá contigo.

– Não. Pensei que estivesse contigo.

– Diz que tá mentindo, favor? Ela saiu de casa enquanto Karla estava se arrumando para o trabalho. Deixou o celular em casa e um bilhete com uma localização. Depois disso, nem mais uma palavra. Já fui na quadra de basquete, no parque... 

– David, é Nathan aqui. Qual foi o endereço? Nós vamos dar uma passada lá.

– Eu já fui, não tem ninguém. É aquele beco estranho que a intercambista de vocês tava desmaiada.

O silêncio imperou e nós seis trocamos olhares aflitos. Por que Angel tinha ido para aquele portão? Nathan tinha nos proibido de ir para aquela área, uma vez que a passagem ainda não tinha fechado e ele tinha medo que outros servos, cientes daquela localização, se utilizassem dela para nos fazer um cerco. 

– A gente está por perto. – Ele foi o primeiro a responder, afagando o ombro de Jane, que estava com a respiração irregular. – Vamos dar só uma olhada por lá, ver se achamos alguma pista de onde Ang pode ser ido.

– Tudo certo. Me mantenham informado. Obrigada pela ajuda, cara.

Quando o telefone desligou, Luna foi a primeira a puxar Jane para si, repetindo que tudo ficaria bem. Porém, a garota de cabelo ébano afastou a ruivinha e começou a andar agilmente, seus passos raivosos fazendo barulho apesar da cacofonia urbana.

– Tudo vai ficar bem quando estivermos com Ang. – Ela viu que tínhamos ficado para trás. – Estão esperando o quê? Vamos!

Assim que chegamos, as memórias do dia invadiram minha mente. Desde quando vi Katerine pela primeira vez até quando desmaiei depois de a atacar. A porta estava aberta, o que, por algum motivo, pareceu impressionar a todos os outros.

– É muito interessante. – Ouvi alguém falar atrás de mim. Mesmo com milhares de vozes falando ao redor, eu só escutei essa. Gélida como seu dono. Já sabia de quem era. – Só preciso capturar uma para conseguir pegar todos.

Virei-me para ver o rosto deformado de Thomas. Sua voz era tão fria e marcante quanto sua pele era pálida, e eu jamais confundiria aquele timbre com nenhum outro. Fiquei impressionada quando vi que ele estava um pouco mais selvagem – parecia ser a mistura de um tigre albino com um homem – e, incrivelmente, mais branco. Também me surpreendi quando Nathan se pôs à minha frente de uma forma protetora, mas percebi que ele esticou os braços, garantindo uma falsa segurança de todas as garotas.

– O que você quer? – O rapaz rosnou.

– Simples. A garota. – Thomas riu das feições de fúria que apareceram no rosto de todos. – É a única maneira de devolver a sua liderzinha. Angel, não é?

– Você a capturou? Seu monstro! – Falei severamente.

– Claro que a capturei. Foi necessário. Meu mestre só a libertará se você for o ver, querida Enny.

– Se eu me entregar, o que garante que ela ficará segura?

Ouvi Nathan mandando eu me calar e fui puxada para trás por Tracy. Mas meus olhos estavam fixos em Thomas, sem qualquer vacilar.

– Eu juro pela minha vida. – Algo em sua voz me parecia honesto. – Meu mestre só quer conversar com você, pequena.

– Sabe... Você devia estar com medo, Thomas. – A gravidade na voz de Nathan era assustadora. – É minoria aqui. O que me impede de te matar?

– Se eu não voltar, a sua liderzinha vai virar petisco de Petrik. É o que querem? Não? Bom, foi exatamente o que pensei.

O rastreador empurrou Nathan da minha frente, pegou a minha mão que tinha a cicatriz e a beijou. Aline segurou o meu protetor para não tomar nenhuma atitude. Eu mesma não tinha reação. Achei que sentiria nojo tal qual houve com Petrik ou Katerine... Mas não.

– Até mais ver, Enny. – Um esboço de sorriso surgiu em sua face. – Pensem com carinho na minha proposta. Vocês têm até o amanhecer antes da paciência de meu mestre acabar.

Thomas atravessou o portão. Com o olhar, Nathan nos mandou andar. Percebi que ele não encarava os olhos de ninguém, e seu semblante parecia esconder culpa e constrangimento. Voltamos para a casa de Dona Lúcia (não estava com paciência de me forçar para a chamar de Tia Lúcia). Uma maré de tristeza inundava o olhar de todos. Não aguentava mais o silêncio que tinha ficado depois de Thomas aparecer.

– Parem de chorar e comecem a pensar. – Falei grosseiramente, quase aos gritos. – Vocês não têm nenhum plano de resgate na manga?

– Eu tenho um. – Jane se levantou e veio me encarar. – Por que você não se entrega logo? Se Ang morrer, a culpa vai ser sua! Desde que você chegou, tudo virou uma merda!

Com suas palavras ácidas e certeiras, eu desarmei. Ela me responsabilizar fez com que eu tecesse a mesma crítica a mim. Era minha culpa? 

– Acha que eu queria isso? Que ela fosse capturada?! Estar aqui neste mundo? – Comecei a elevar o tom de voz com o pânico crescendo que me tomava. – Se eu tivesse certeza que ela ficaria bem, eu trocaria de lugar com ela sem hesitar.

Jane bateu palma lentamente, rindo com nítido deboche. Percebi que nós duas estávamos com o rosto molhado por lágrimas, cada uma expressando a sua própria fúria.

– Como você fala bonitinho. – A acidez transbordava sua voz. – Na prática, é a gente que tá arriscando o pescoço desde o começo.

– Chega! – A voz estridente de Luna cativou nossa atenção. Talvez por nunca a vermos tão séria, o efeito de silêncio foi imediato. – Entendo que estão chateadas, mas apontar dedos não vai trazer nossa amiga de volta. Então, se controlem e foquem no que importa.

Aline então tomou a frente, orientando a todos a se reunirem na sala. Nathan foi pegar seus mapas de Rheyk, parecia ter alguns sobre pequenos caminhos fluviais que corriam debaixo do castelo. Em algum momento enquanto nos debruçávamos no planejamento, anoiteceu. No fim, ficou decidido pelo voto da maioria que eu não iria porque era entregar o prêmio a Victor e, sem saber controlar meus poderes, ainda era um peso morto – palavras completadas por Jane.

– Bom descansarmos um pouco. – Nathan olhou o relógio. – Saímos em duas horas? Preciso montar mochilas equipadas para a extração de Angel.

As garotas concordaram e, logo em seguida, me encararam. Percebendo que elas esperavam algo de mim, retribuí o olhar com os lábios franzidos.

– Vou tentar ser útil por aqui e ajudar Dona Lúcia no restaurante. Aproveito e aviso para ela da missão. – Dei um sorriso duro e saí do apartamento sem esperar resposta.

A aflição na voz de David, falando da mãe de Angel, me consumia. Não pude evitar de pensar em mamãe, que ela estava se sentindo desse mesmo jeito desde meu sumiço. E, para piorar, sabia que Jane estava certa. A líder do quinteto foi sequestrada por minha culpa. Os outros cinco se arriscariam porque não iam me sacrificar. Mas, e se desse errado?

Quando a porta do elevador se fechou, uma lufada rompeu meus lábios, a muralha da falsa calma se tornando farelos.

Você não pode ir lá. É perigoso. 

Aquela voz estranha da moça dos meus sonhos tomou forma em minha cabeça. O elevador parou e eu inspirei profundamente, tentando trazer alguma coragem para meu peito. Peguei o caminho que dava na cozinha do restaurante e encontrei Erick, nitidamente atordoado com o movimento e a ausência de funcionários.

– Finalment...

– Não posso ficar, Erick. – Interrompi, tentando me esconder da Tia Lúcia que estava rodando no salão principal. – Preciso de um favor, urgente. Daqui a uma hora, e somente uma hora, diga a Dona Lúcia que eu fui ver Victor. Consegue fazer isso por mim?

 – Claro! – Ele parecia genuinamente preocupado. – Aconteceu algo? Tá tudo bem?

– Eu preciso resolver um negócio. – Apertei sutilmente seu braço. – Não conte para ninguém que eu saí antes dessa hora. Tá certo?

Com sua confirmação, agradeci e corri o mais rápido que pude para longe do prédio. Admito que foi um pouco mais difícil do que esperava chegar naquele lugar, mas não demorou muito até estar de frente para a velha porta de metal enferrujada. Peguei a trinca, abri-a e entrei naquele mundo.

A Cidade Rheyk estava mais obscura do que da última vez que vim à noite. Agora a vegetação que cobria o chão estava quase toda morta. Apenas algumas flores de pétalas roxas e sépalas multicoloridas resistiam. Olhei para o castelo e vi que uma tropa estava levando alguém algemado para dentro. Lembrei-me do primeiro dia, a constatação que, de dentro da cidade, conseguia ver o castelo de qualquer ponto, quase como se Victor tentasse mostrar sua onipresença. Bem, ao menos, isso ia me ajudar a chegar no meu destino.

Uma luz vermelha veio do castelo e chamou a minha atenção. Victor sabia da minha presença e me chamava, eu sentia isso. Corri em direção ao palácio sem hesitar. A cidade estava deserta sob a luz da lua, tornando o processo rápido.

Cheguei perto do castelo e pude ver a imagem entalhada na madeira da porta. Era a figura de uma pedra e percebi que era similar ao corte da ônix que tinha no anel que eu usava. Aproximei-me do portão e um guarda, meio humano e meio tigre gigante, veio em minha direção. Ele era o dobro do meu tamanho e devia ser tão magro quanto eu. Percebi um sinal marrom triangular nas costas de sua mão. Então, assim que era uma marca?

– O que queres, mera intrusa? – Ele perguntou com sua voz rouca.

– Vim ver o rei. – O guarda riu do que eu disse e me empurrou.

Mostrei o anel que ficava no meu dedo maior de todos e ele parou de rir.

– Na realidade, é Victor quem está louco para me ver. Mas, se insistir em minha partida, fique à vontade para ter que se justificar para ele.

– Mil perdões, senhorita. – Ele quase se ajoelhou. – Podes entrar.

O guarda abriu a porta de madeira para mim. Entrei e pedi para me mostrar onde o rei se encontrava. Ele guiou o caminho com muita facilidade, chegando em um terceiro andar. Admito que estava gostando de sua simpatia e que, talvez, nem todo servo de Victor fosse tão maquiavélico assim.

O homem alto parou em frente a uma porta imponente - altamente trabalhada - e me deu um sorriso. Retribuí com um pouco de animação, o que me deixou surpresa.

– Não se preocupe. Tudo vai terminar bem. – Ele falou e abriu a porta.

Entrei, pronta para a troca.

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