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Capítulo 30 - A cantiga

Segunda-feira, o pior e mais cruel dia da semana, com absoluta certeza. Além de ter que recomeçar toda a rotina escolar, tinha o agravante de estar adoentada desde meu aniversário. Uma semana ignorando os sinais do meu corpo fez uma tosse persistente tomar meu peito e um cansaço extremo me alcançar.

Hoje, pela primeira vez desde que cheguei a esta realidade, perdi a hora. Queria ficar coberta e afastar aquele frio que doía os ossos. Porém, sabendo que não podia me dar ao luxo de parar, banhei-me em água escaldante e vesti mais camadas de roupas do que o habitual. Com passos débeis pelos joelhos fragilizados, caminhei até a cozinha.

- Bom dia! Nem assistiu ao nascer do sol hoje, pequena. - Tia Lúcia comentou sem me olhar.

Um prato com waffle já estava na mesa para mim. O cheiro de mel, que tanto me cativava, revirou meu estômago e afastei a comida, deitando a cabeça na mesa.

- Não sou de reclamar, mas acho que estou com febre. - Comentei entre suaves gemidos.

Se não fosse pelo rabo-de-cavalo, meu cabelo cobriria um quarto do tampo da ilha. Tia Lúcia finalmente me olhou, tomando algo prateado em suas mãos.

- Certeza que está, seu rosto está vermelho febril. Levante o braço. - A senhora colocou o termômetro em minha axila, acariciando minhas costas. Ouvi um barulho de porta abrindo. - Bom dia, meu menino.

- Bom dia! - Nathan entrou bem feliz. - O que houve?

Um barulhinho irritante dominou o ambiente, fazendo minha cabeça latejar. Tia Lúcia tirou o termômetro e, fazendo um muxoxo, disse:

- A pequena está com muita febre. - Ela parecia preocupada. Maternalmente preocupada. - Não vai para aula nem Rheyk por hoje. Repouso.

- É bobagem. - Levantei-me da cadeira, sentindo dor em cada articulação minha. - Sem tempo pra doença. Combinei de treinar com Tracy e Luna hoje.

Comecei a andar em direção à porta, os pés se arrastando em uma luta contra o meu real querer. Antes de chegar lá, meu corpo pesou em uma clara fraqueza. Apoiei-me na parede, respirando com esforço para garantir que não perderia a consciência.

- Você pode ser princesa lá em Rheyk, mas quem manda nessa casa sou eu. - A senhora acariciou minhas costas. - Nate, me ajuda a levar a pequena para cama.

***

A voz de Aliat cantava quase como uma canção de ninar.

"Rheyk é o destino, nada irá se esconder,
A coroa e o trono, onde hão de viver?
Por trás dos olhos, a sua visão vai crescer,
Até mesmo os reis precisarão ceder."

A batida à porta me despertou, interrompendo a cantiga infantil que permeava, de maneira repetitiva, meus sonhos.

- Trouxe janta. As meninas foram para casa quase agora, não quiseram te acordar. Se importa se eu comer contigo?

Gemi, me sentando na cama sem proferir qualquer resposta, mas dando espaço para Nathan se sentar ao meu lado. Ele depositou a bandeja em meu colo, jogou seu sapato de lado e lentamente assumiu a posição que permiti.

- A doentinha vai querer que eu dê na boca? - Ele pegou a colher e fingiu fazer um aviãozinho.

- Vou te enfiar essa colher goela abaixo se tentar. - Teatralmente revirei os olhos. O mínimo esforço para falar me trouxe uma crise de tosse e Nathan riu da minha cara. - Jurava que os meus poderes curassem tudo, incluindo gripe.

- O corpo uma hora ou outra pede descanso, Enny. Desde que descobriu que era a Senhora da Luz, você enlouqueceu para aprender tudo que podia. Uma hora isso ia acontecer.

Engoli a colherada da sopa de legumes. Ela desceu ardendo pela minha garganta inflamada, mas reconfortou meu estômago. Comi tudo em silêncio ao lado dele, que fazia o mesmo.

- Você sabia desde setembro que eu era a Senhora da Luz? Por que nunca disse nada?

- Eu te perguntei se me escondia algo e você disse que já tinha me contato. Não era mentira, mas... - Ele deu de ombros, colocando a última colherada na boca. - Ainda não estava pronta para dizer na minha cara. Então, respeitei seu tempo.

Nathan então expirou lentamente, parecendo querer retirar o peso de sua mente.

- Sobre o que eu te contei... Tem algo para me dizer? - Seu clássico travar e relaxar da mandíbula tomava vez. - Sabe... Honestamente, queria ouvir qualquer coisa, mas estou com medo de que esteja com nojo de mim.

Apoiei minha cabeça na parede, com meu rosto voltado para o seu, analisando seu semblante sério, que observava um ponto fixo na parede.

- Você passou por coisas que eu não posso imaginar e conheceu pessoas que usaram a sua dor para que fizesse coisas atrozes. Não vou mentir, me assusta saber o que você já fez e quer fazer... - Nathan me encarou. A ponta do seu nariz vermelha e o queixo tremendo. - Mas, você escolheu parar a tortura de Malok, escolheu poupar Alberto... Não tiro uma palavra do que disse antes, você tem um bom coração.

Um singelo sorriso se desenhou em seu rosto quando ele suspirou, parecendo finalmente respirar. Sua mão tomou a minha, entrelaçando nossos dedos e a levando para a beijar. Todavia, puxei-a para mim, reajustando minha postura e adquirindo distância dele. Sua expressão migrou para a dúvida, tentando descobrir o motivo da minha reação. Decidi então ser o mais honesta possível.

- Não é porque eu entenda esse seu lado, que não veja outros defeitos que não consigo conviver. - Dei de ombros, crispando os lábios. - Você se diz tão apaixonado por mim e eu quase podia acreditar. Quase. - Entreguei a bandeja para ele. - Mas, não importa quanto tempo passe, você sempre garante que Jane vai esta lá, como um estepe. Ou seria eu o plano B? Talvez Katerine? Não... Acho que, por causa da marca, ela está mais para o plano C.

- Não existe Katerine para mim, Enny. E eu já disse que não fomento isso de Jane.

- Como também nunca deu um basta. As outras duas podem gostar desse circo de disputar afeto, de se atacarem... Eu não, Nathan. Não vou implorar por migalhas de atenção de ninguém. - Lembrei da nossa conversa na praia. - Acho que foi bom você ter me lembrando de quem eu era no início. A "eu" que chegou aqui jamais aceitaria esse drama, mesmo gostando de você.

Silenciosamente, ele apenas maneou a cabeça, concordando, se pôs de pé e foi em direção a porta, parando na soleira para me dizer com um sorriso gentil:

- Eu vou fazer a gente dar certo, minha Enny.

Nathan saiu do quarto, apagando a luz para que eu voltasse a dormir.

***

A cantiga continuava ressoando em meus sonhos, porém, dessa vez, uma imagem também brincava na escuridão. Era Aliat colocando o anel na manta. Não! Não era só isso. Não era só o anel. Haviam duas joias. Meu anel e um pulseira que eu logo reconheci. Era o Elo de Sucessão!

Despertei rapidamente e inspirei de forma abrupta, como se estivesse sem respirar até agora. Notei que estava sobre a minha cama e vi o vulto masculino ao meu lado.

- Você acordou. - Sua voz demonstrou preocupação.

Ele colocou sua mão debaixo da minha cabeça e ficou a sustentando enquanto fitava os meus olhos com zelo. Por que estaria aqui? Quem o deixara entrar? Por que suas feições carregavam tanta preocupação?

- Ennyzinha, escute. - Joshua parecia apressado. - Perdão por te deixar doente, mas foi necessário. Você é dura na queda, minha amiga.

- Como assim? - Me remexi na cama, tentando ficar de pé.

- A bebida que te ofereci no seu aniversário, ela tinha uma poção para lhe deixar doente. Precisei fazer isso. Havia na sua festa alguém que interagiu com Victor, não consegui captar quem. Mas fiquei com medo que fosse um perigo para você. Precisava te afastar, te deixar dentro dessa casa para que ficasse protegida até que pudéssemos conversar... porque, minha amiga, não poderemos mais nos ver.

Vê-lo dizer essas palavras me doeu o coração. Foi uma amizade que eu não esperava surgir, mas era exatamente aquela que precisava. Minha boca abria e fechava, tentando pronunciar palavras que meu peito lastimava proferir.

- Você vai partir, Joshua?

- Algo aconteceu através da membrana, preciso voltar para Terra Central. Prometo, cuidarei para que nada atinja sua família. Quer saber? Vem comigo! Daremos um jeito de nos esconder do Sábio e de quem quiser te fazer mal. O que me diz, Ennyzinha?

Há meses, aquela era frase que mais queria ouvir. Agora... Essa era minha guerra, essa era minha coroa, meu povo. Eu precisava estabilizar Rheyk primeiro. Não podia os abandonar. Então, com pesar, fiz uma negativa com a cabeça, mordendo meus lábios com tanta força que pude sentir o gosto metálico do sangue em minha boca. Era excruciante o peso daquela recusa, mas era algo necessário. Joshua me deu um sorriso aconchegante, beijando-me a testa. Senti em seu olhar que ele entendia os meus porquês.

- Cuida da minha família por mim. - Minha voz tremia.

Ele assentiu com um sorriso de admiração.

- Você ainda será uma grande rainha, Ennyzinha. - Ele bagunçou meu cabelo em um ato de camaradagem. - Entregue esta carta para Luna por mim, por favor?

Peguei o envelope que estava com um cheiro adocicado que me tomou como um abraço acolhedor, embalando-me em nuvens de calma. Minha visão tornou a ficar turva e, ao mesmo tempo que Joshua desaparecia, deixando um rastro verde cintilante, eu caía em um novo sono. Dessa vez não havia pesadelos, nem Aliat, nem Victor. Apenas uma escuridão acolhedora após talvez a decisão mais brutal que tomei em minha vida até aquele momento. Eu tinha escolhido Rheyk.

***

Dois dias desde minha despedida de Joshua e decidi não contar a ninguém sobre o convite recusado de voltar para casa. Ele me contou em confidência e era assim que eu deixaria ficar, usando essa informação para entender que perigo era esse ao qual ele quis me proteger. Mas tinha um outro tópico que eu precisava conversar com o sexteto

Coloquei a pantufa preta e fui os ver. Eles passaram a semana treinando todos os dias pós aula enquanto eu ficava em casa. Hoje, quinta, não foi diferente.

- Eu preciso falar com todos. - Passei pela senhora, lhe osculando a bochecha.

Andei até a sala em passos lentos. A dor ainda não sumiu de mim, apesar da nítida melhora. Eles conversavam animados e não perceberam minha chegada. Aquele barulho me doía a cabeça. Sem paciência, gritei um "calem-se" que foi obedecido de imediato.

- E eu que sou a mal-humorada aqui. - Senti a chacota na voz de Jane.

- É porque você era assim a todo hora. Mas tá melhorando, Jane. - Tracy retrucou, brincando. - Fala, amiga.

Olhei para o grupo que me encarava com estranhamento. Queria trazer uma solução, porém infelizmente não a possuía. Será que haveria uma forma de Joshua me mandar da Terra Central o que eu precisava?

- Adivinhem só? Sonho revelador. - Dei um sorriso amarelo. - Existe outra joia, mas... Igual ao anel, eu acho que ela está no meu mundo.

- Bem, então já era. - Luna se esparramou no sofá. - Era muito importante?

- O suficiente para Aliat a mandar com sua filha, junto ao anel. Pelo que entendi, era a joia dos reis de Rhyek. - Com ajuda de Tracy, me sentei no sofá. - Eu fico pensando na música... Mas...

- Que música, Enny? - Tia Lúcia parecia estar tensa.

- Ela cantava uma cantiga. - Olhando para o nada, a repeti. - "Rheyk é o destino, nada irá se esconder. A coroa e o trono, onde hão de viver? Por trás dos olhos, a sua visão vai crescer. Até mesmo os reis precisarão ceder."

- O que isso significa? - Tracy estava intrigada.

- Eu não sei. - Bufei, erguendo os braços. - Tentei chamá-la desde terça, mas tive zero respostas. Essa cantiga fica repetindo constantemente na minha mente.

- Ótimo! Agora vamos ficar resolvendo mistério porque um fantasma está de pirraça e não quer falar com a única pessoa que pode a ver. - Jane externalizou minha própria frustração.

- Talvez não. - Tia Lúcia encarava o nada. - Eu estava lendo o livro esses dias e achei um feitiço... Talvez Enny e vocês possam juntos a invocar. Mas só podem fazer isso em Rheyk e em um lugar com água salgada à noite.

- Maravilha! Pena não ter praia lá, só rio. Acho que vamos precisar de uma piscina plástica e umas centenas de quilos de sal. - Angel acabou sendo sarcástica.

- Sorte a nossa tia Lúcia ter umas sacas do restaurante. Eu levo a piscina de lona! - Luna tentava amenizar o clima com seu humor.

Olhei para Nathan de imediato. Ele encarava o chão. Não iria falar do local que ele ia com o pai. Era uma escolha dele. O seu lugar sagrado. Notei que Jane reparou meu olhar e, quando ele abriu a boca, ela constatou que havia sim um segredo entre nós, parecendo estar incomodada. Aline também percebeu e, pelo visto, sabia do peso que aquela informação tinha para seu melhor amigo.

- Há praias sim. Eu conheço uma que Victor nunca teve acesso. - Nate ignorou o questionamento de Luna de como ele conhecia. - Podemos fazer isso amanhã.

Angel concordou com o calendário proposto e decidimos seguir com a invocação de Aliat. Tia Lúcia nos levou para o quarto secreto e mostrou o feitiço que habilitaria os outros a entrarem na minha mente e chamarem pela minha ancestral. Os riscos eram poucos e tivemos adesão de todo o grupo para acamparmos na próxima noite em Rheyk, com o acréscimo de David, que vinha se dedicando bastante. Pedi para acrescentar também a lista Felipe. Seria bom termos mais alguém que soubesse andar por aquela mata tão bem quanto Nathan.

- Enny tem um bom ponto. - Aline ponderou. - Se Nate precisar se afastar de nós em uma emboscada, seria bom termos alguém mais preparado para andar nas matas noturnas de Rheyk. O seguro morreu de velho.

- Tudo bem, então. - Angel espalmou uma mão contra a outra. - Felipe tá dentro. Amanhã saímos no final da tarde. Vamos bater um papo com Aliat.

Uma hora depois, todos foram embora, e eu fui me deitar. Tomei meu banho antes de me cobrir com o confortável e aquecido edredom. Estava à beira do sono quando uma batida leve na porta me fez despertar.

Abri-a e lá estava Nathan, só de pijama. Aquela blusa de algodão caindo sobre seu corpo marcava seus músculos. Uma imagem que acelerava meu coração. Tentei desfocar disso e reparei que uma mão sua estava atrás das costas, de modo que escondia algo.

- Se isso não for uma barra de chocolate, pode ir embora. - Uma falsa raiva tomou minha voz e tirou um sorriso dele. - O que você quer, jovem Nate?

Encostei a cabeça na soleira da porta, dei um sorriso e ergui as sobrancelhas, como se pedisse para ele responder minha pergunta.

- Te entregar seu presente de aniversário. Ia dar lá na praia. Mas com a conversa... Acabei esquecendo. Espero que goste. Fui eu quem fiz.

Ele retirou a mão direita de trás das costas e nela tinha uma caixinha. Ela era belíssima. Feita de madeira escura e entalhada com diversos desenhos, o da tampa era uma garota com cabelos voando e olhando para uma praia. Percebi de súbito que era eu no local que ele me levou. Não pude me conter e o abracei fortemente.

- Muito obrigada, Nathan. É lindo! - Dei um beijinho em sua bochecha.

- Eu achei que você poderia usar para guardar essas joias. Sabe como é... Para poder tirar elas por um minuto. Nunca te vi sem além daquele dia do resgate. - Ele tentou segurar minha mão, mas desviei. Nate fingiu que nada aconteceu. - Vai ser um segredo só nosso.

- Hum... Acho que ela vai acabar não servindo pra isso. - Fui até a cama, sentando-me, e ele me seguiu. - Não tenho poderes sem elas e preciso as proteger... Não me parece prudente.

Com um suspiro, o rapaz entrou no quarto e se sentou na minha cama e eu o acompanhei, assumindo lugar ao seu lado. Nathan carregava um sorriso carinhoso, como se me motivasse.

- Sabe... Nenhuma das meninas nasceu com poderes, elas desenvolveram com o tempo. Pode ser que depois de tudo que aconteceu, os seus tenham acordado. Quer tentar?

Seu olhar era penetrante enquanto ele movia seus dedos e agilmente tirava meu colar e anel, guardando-os na caixa. De imediato, foi como se a brasa em minhas veias tivesse esfriado. Nathan pediu para que eu tentasse algo. Levantei minha mão esquerda e me concentrei em fazer meus dons surgirem. Fechei meus olhos para focar melhor. Alguns segundos depois, Nathan pediu que eu abrisse os olhos. Uma luz amarelada estava sobre minha palma, circulando entre meus dedos conforme eu os mexia. Fechei o punho e a luz desapareceu.

Por pura emoção, virei-me para ele e o abracei, forçando repentinamente meu corpo contra o seu, fazendo-o deitar na cama. Ao erguer um pouco o rosto, notei o quão próximos estavam meus lábios dos seus. Por isso paralisei, dando-me conta que podia sentir seu coração batendo contra meu peito, em um ritmo familiarmente confortável. Ele ajeitou meu cabelo e, segurando no meu queixo, me trouxe para o beijar. Contudo, um barulho forte de porta batendo nos parou e voltamos a ficar sentados, um ao lado do outro.

- Vão dormir vocês dois. - Tia Lúcia passou alguns segundos após nos ajeitarmos. Ela se demorou frente à porta, nos analisando.

Dando-me um beijo na testa, ele se foi, fechando a porta atrás de si. Demorou um tempo para minha respiração se estabilizar e mais tempo ainda para eu guardar a caixinha e ir dormir. Como o queria aqui e agora. Eu o queria na minha vida, seja em Rheyk ou na Terra, a fictícia ou a Central. Eu simplesmente e inteiramente o queria comigo. Céus! Deveria estar tentando o esquecer e não fomentando essa insanidade!

***

Acordei na sexta-feira, animada e recuperada. Pronta para tirar o atraso da semana das atividades. Pus as joias de volta após o banho. Durante o café da manhã, tia Lúcia me entregou o livro dela e perguntou se eu podia a ajudar no inventário do restaurante, pois ela faria compras amanhã logo cedo. Antes de descermos, ela bateu na porta de Nathan e avisou que eu voltaria perto da hora de irmos para Rheyk. O rapaz nunca ia para escola se eu não fosse.

Incrivelmente nós duas fizemos o serviço antes do tempo previsto. Então, no início da tarde, subi para colocar as roupas na máquina e separar o que secou. Enquanto eu tirava o amontoado da secadora, a campainha tocou. Vi de relance que Nathan estava indo atender e decidi continuar meu serviço. Contudo, ao ouvir ele cumprimentando Jane, admito que reduzi o ritmo para escutar a conversa.

- Já almoçou? - O tom de voz tenso dele aumentou minha curiosidade. Usei meus dons para ver através dos olhos de ambos.

- Por favor, príncipe? Não me chamou aqui para jogar conversa fora. - Jane observava um rapaz com a expressão rígida. - Está acabando comigo?

- Não. - Nathan viu um brilho de esperança passar pelos olhos dela, que ele logo destruiu. - Nós acabamos há meses. Te chamei para enterrarmos esse assunto.

- É por causa de Enny, não é? - Ela estava possessa. Avançou em Nathan, pousando as mãos no seu pescoço, tentando o puxar inutilmente para um beijo. - Você dizia que me amava, Nathan. Era mentira?

- Jane, pare. Não é mentira. Eu te amo, mas só como uma grande amiga. - Nathan a segurava distante de si enquanto ela protestava. - Eu morreria para te proteger. Mas passaria a vida na miséria, sem títulos ou nada mais do que a roupa do corpo, se fosse pra ver Enny bem. Não há disputa, Jane. Você me conhece bem o suficiente para saber que nunca houve qualquer disputa.

- Com você, sempre há. Antes era Katerine. Depois eu. Ela é só a atual escolhida. - Ele a sentou no sofá e se pôs na frente da menina chorosa.

- Serei brutalmente honesto contigo. - Nathan riu, desconcertado, e voltou logo a falar: - Você e eu surgimos porque fomos apoio um do outro. Entre a traição de Katerine e o câncer de seu pai, foi cômodo acharmos conforto um no outro. Mas somos péssimos juntos. Disfuncionais. Eu nunca fui o que você queria, sem romance, não cortava as cantadas que recebia, era babaca por faltar a todos os seus concurso, menosprezava as coisas que você amava... E por tudo isso, eu peço desculpas.

- Ótimo. Você tem noção dos seus erros, eu tenho noção dos meus. Podemos recomeçar. Admita que você sentiu algo quando tentei te beijar.

- Senti sim. Senti que, para mim, a nossa história se limita ao passado.

- Foi por isso que me parou? Por favor, sabe que iria ser bom. Lembro que química não era algo que faltava na gente.

- Pelos visto, nós mudamos. - Os dois trocaram um olhar confidencial. - Posso fazer uma pergunta íntima? Por que você insiste tanto na gente? Mesmo depois de tudo?

Ela engoliu em seco, nitidamente desconfortável, contudo, não podendo conter a verdade de ser dita.

- Porque nenhum outro vai ter a aprovação do meu pai. - Jane se encolheu, mas sem cortar a conexão visual.

- Jane... Você é uma das pessoas mais sagazes que eu conheci e sabe muito bem o que Ethan desejava para você. Em cinco minutos de conversa com qualquer um, você vai saber se seu pai aprova ou não. Mas... Se tiver dúvidas, saímos nós três e eu coloco o cara contra parede.

Os dois deram uma risada sem graça, sendo essa seguida por um silêncio constrangedor.

- Vocês estão juntos? - Jane indagou, parcialmente apática.

- Não. - A resposta de Nathan foi seca. - Depois daquele dia que a beijei na sua frente, não houve nada mais entre nós. Não físico. Prometi a mim que jamais a beijaria de surpresa de novo. Você sabe que cumpro minhas promessas. E, por isso, porque me prometi que me tornaria o homem que Enny merece, que te peço para parar de insistir.

Ele segurou ambas as mãos dela, mantendo firme seu olhar enquanto continuava a falar lentamente:

- Porque alguma hora, serei grosso e isso vai impactar nossa amizade. Vai impactar o grupo. Realmente, eu não queria que nossa história acabasse tão mal. Não quando eu tenho tanto carinho por você.

Jane abaixou a cabeça, chorando fortemente. Nathan acariciou seus cabelos em um ato de carinho e proteção. Era perceptível que ele estava triste por a deixar assim.

- Você a ama? - Podia ouvir a súplica na sua voz por um "não".

- Como nunca amei ninguém. - Senti uma ênfase proposital em seu timbre, como se reforçasse que não adiantava ela persistir. - E você, Jane, merece alguém que te ame tanto quanto. É uma das pessoas mais lindas que conheço, tem um coração gigante. Só posso ser grato por um dia você ter me amado.

Ela apenas concordou. Era notório que aquela conversa estava encerrada. Jane pegou sua bolsa, beijou Nathan na bochecha e se levantou para sair. O rapaz abriu a porta para ela, que parou e o encarou, observando cada mínimo detalhe de seu rosto.

- Eu sei que estou te pedindo muito. - Nathan estava desconfortável. - Mas não desconte nela. Enny não sabe de nada, nem pediu para falar com você.

- Quem diria? Logo você, que sempre quis toda a admiração, renome e glória, correndo atrás da atenção de uma garota. - Jane acariciou o rosto dele. - Meu príncip... Nathan. E se, depois de toda essa guerra, ela não te quiser? Se ela não te amar como você acha?

- É um risco que estou disposto a correr. - Ele a ofertou um sorriso duro. - Até mais tarde, Jane. Fica bem.

Ambos estavam com olhos marejados. A porta foi fechada e o rapaz voltou para seu quarto, trancando-se lá. Terminei de dobrar as roupas secas e coloquei as sujas na máquina, repassando a conversa dos dois em minha cabeça.

Achei de bom tom dar uns trinte minutos de espera antes de ir ao seu quarto, levando as roupas enxutas comigo. Bati e, em pouco tempo, ele abriu, deixando que eu entrasse. Nathan percebeu que havia algo estranho. Acho que foi porque engoli em seco quando o vi. Deixei a pilha sobre seu armário e tentei puxar assunto, a fim de evitar que entendesse que eu usei meu dom para bisbilhotar sua privacidade.

- Nate, está tudo bem com tanta gente indo à praia? Notei que não queria contar ontem quando Angel...

- É por você. Eu sobrevivo. - Ele se escorou na parede com um olhar malicioso. - Impressão minha ou ontem você voou pra cima de mim? Queria me roubar um beijo, era? Só pedir. Não sou tão difícil assim.

Com um grande esforço, engoli meu desejo de avançar nele e o beijar com o máximo de intensidade que meu pequeno corpo conseguia. Inspirei profundamente e me sentei em sua cama na posição de índio, maneando a cabeça para o convidar a se sentar comigo.

- Olha só. Eu estava falando de um beijo e você já me chama para ficar contigo na cama. - O seu sorriso infame me tirou uma risada.

Assim que se sentou ao meu lado, eu peguei sua mão, entrelaçando à minha e utilizando a outra para afagar seu antebraço.

- Enny Scott Peres, você está com cara de culpada. - Uma faísca transpassou seu olhar quando a resposta lhe alcançou. - Estava bisbilhotando?

Arqueei as sobrancelhas, sentindo-me corar como a culpada que eu era. Dei de ombros e ele, após uma gargalhada, me beijou a testa. Aquele simples toque me arrepiou a espinha.

- Nunca mais você pode dizer que não dei um basta. - Ele apertou minha mão sutilmente. - Não era bem assim que planejei te dizer pela primeira vez. Mas, já que você deu uma de Tracy, vou falar logo... Eu te amo, Enny.

A intensidade de sua voz reverberou pelo meu corpo. A surpresa me tomou e eu perdi a capacidade de conseguir criar uma linha de raciocínio lógico.

- Nate, eu... - Eu travei, sem saber como continuar.

- Não precisa dizer o mesmo. - O rebelde me interrompeu. - Estou vendo o quanto você está nervosa com o acampamento de hoje e a última coisa que eu quero é piorar isso. Mas, se me permite perguntar, acha que ainda há alguma possibilidade de tentarmos no futuro? Eu juro que estou tentando melhorar cada dia mais. Sou longe de perfeito, mas...

Meu olhar caiu sobre ele, que mirava para frente, parecendo mais uma vez querer fugir de encontrar uma resposta desagradável na minha face antes que fosse proferida. Com a mão direita, apertei a sua, e com a esquerda, puxei sua face em minha direção, acariciando seu rosto com a ponta de meus dedos.

- Com esse cara incrível à minha frente? Com toda certeza.

Nathan projetou seu corpo em minha direção, parando alguns centímetros seu rosto do meu. Mais uma vez, controlei meus instintos de consumar o ato e me restringi a segurar seu queixo, rotacionar um pouco sua cabeça para esquerda e beijar o canto de seu lábio. Ele pareceu nitidamente confuso.

- "Sempre cumpro minhas promessas". - O imitei da forma mais jocosa que pude. - Você prometeu que não ia me beijar de surpresa. Ou seja... - Segurei-o pelas bochechas e osculei a ponta de seu nariz e mantive meus lábios relativamente próximos do dele. - Sou eu quem decide quando, certo? Talvez agora não seja o momento mais adequado.

Entreabri minha boca, deixando meu hálito o atingir. Sua face franziu tal qual quem implora por algo e o menor triscar de meu lábio com o seu parecia o desestabilizar.

- Você está testando um homem de pouquíssimo autocontrole. - O chiado em sua respiração transmitia o desejo que ele tentava conter.

Sua mão tentou segurar minha nuca, para me envolver em seu domínio. Porém, desviei dela, levantei-me e ajustei a postura para ficar ereta.

- Claro! Mas, ainda assim um homem de palavra, não é? E essa é a graça de ficar provocando. - Abri o sorriso mais traquina que pude, saindo do quarto. - Eu vou terminar as tarefas que tia Lúcia passou. Te deixarei em paz por agora. Bom descanso, Nate.

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