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Capítulo 18 - Ascendência


– Não entendo para quê um diário. – Aline comentou. – Tão menininha.

Seu tom era brincadeira me tirou uma risada

– É melhor do que um caderno de cálculo. – Me lembrei das primeiras folhas desse caderno. Eram recheadas de fórmulas de física e geometria.

Despedi-me do meu diário, o guardei na segunda gaveta da mesa de cabeceira e me levantei.

– Bora! – Tracy pegou Aline pelo braço e a puxou com brutalidade. – Podemos conversar no shopping, mas eu não consigo ver o gostoso do Ian G. Loryns¹ em uma proporção cinematográfica dentro desta casa. As duas para fora, agora!

Ri enquanto pegava a minha bolsa xadrez para irmos ao cinema. Eu não gostava desses programas adolescentes, mas era melhor do que ficar em casa. Encontramos Luna lá e tivemos um dia de garotas. A melhor coisa sobre Tracy é que eu sempre me sentia uma adolescente comum com ela. Quando desatávamos a conversar aqui na Terra, quase nunca surgia assunto de Rheyk. Éramos apenas garotas.

Voltamos para o restaurante e decidimos jantar por lá. Erick fez questão de nos atender.

– Você e Aline vieram só dar inveja, não é? – Erick fingiu raiva, depositando nossos pratos.

– Ei! Ela é a herdeira do lugar. – Apontei o polegar para Aline, dando um amplo sorriso. – Eu troquei a folga da segunda por hoje. Respeita minha história, zé mané.

Pelas janelas de vidro do local, eu conseguia mirar o beco lateral que dava ao acesso externo para o apartamento de tia Lúcia. Não tinha nada interessante para ver lá, então meu foco era mais as garotas. Contudo, no meio do jantar, vi Nathan passar com o braço nos ombros de uma Jane encolhida. Ela não parecia bem.

Não quis comentar com as meninas sobre isso. Talvez Jane e Nathan só estivessem discutindo a relação. Nada grave podia ter acontecido. Não é?

– Amiga, tá tudo bem? Você ficou pálida. – Tracy segurou na minha mão.

– Estou. Só fiquei enjoada. Acho que comi algo ruim em Rheyk hoje de manhã... Vou subir... Depois eu volto para pagar a conta.

Tomei o atalho interno que dava no corredor da escadaria e elevador. Subi em silêncio. No íntimo, estava dividida. Se eles estivessem juntos, só mostrava que o meu atual ranço por Nathan era justo. Caso contrário, eu podia me permitir a começar a perdoá-lo.

Pessoas apaixonadas fazem coisas idiotas. E só faltava estar estampada a palavra "idiota" na minha testa agora. Tinha que criar vergonha na cara e me manter firme no que disse para ele no dia do baile. Eu merecia mais.

– Eu usei meu poderes nel... – Jane se interrompeu ao ouvir a porta abrir. Ela estava sentada no sofá e Nathan esquentava água no fogão. – Oi, Enny. Onde estão as garotas?

Ela realmente estava mal. Seus olhos vermelhos, usava uma calça de pijamas e um moletom de Nathan. Quase como se ela tivesse saído correndo de casa e o seu ex-namorado tivesse lhe emprestado uma roupa. Por pior que ela tenha sido comigo há exatos 15 dias, eu não consegui não me compadecer frente àquela cena.

– Lá embaixo. A gente ligou para Angel e David tá vindo deixá-la. Se quiser se juntar a nós... Você tá bem, Jane?

O que Luna falou sobre o medo de Jane nunca me fez tanto sentido. Eu o vi na sua face e, logo em seguida, dor. Esses dois sentimentos juntos se transfiguraram para raiva e ela disse entredentes:

– Da pena da garota que me roubou meu namorado, eu quero distância.

Nathan tentou a repreender, mas eu o segurei enquanto ele caminhava até ela.

– Jane tá em seu direito. Erramos ao esconder dela por quase dois meses. – Notei que a face de fúria dela desmontou. – Você merecia ter ouvido de mim ou dele. Achei que ia te magoar menos. Infelizmente, eu fiz um mau julgamento. Saiba que jamais seria minha intenção lhe machucar. Eu só... – Dei uma risada acanhada. – Como você disse: há coisas que só percebemos tarde demais. Foi o que houve. Acha que pode me desculpar?

Jane abriu a boca, tentando encontrar palavras, seus olhos iam de Nathan – igualmente chocado – para mim. Se Tracy me dava a tranquilidade e leveza da vida adolescente, Luna me deu a sabedoria de me por no lugar do outro e de tentar ser minha melhor versão. Era essa lição que estava botando em prática hoje. 

O semblante dela parecia confuso e eu, por um momento, quis entrar em sua mente. Ler seus pensamentos. Então, vi o vislumbre do rosto semelhante ao de Jane, só que masculino e bem mais velho. Estava lendo os pensamentos dela? Antes que eu pudesse me responder essa pergunta, um zumbido se instaurou em minha cabeça e meu corpo foi arremessado contra a parede com brutalidade. 

– Enny! Você tá bem? – Eu não respondia à pergunta de Nathan, estava atônita. 

Com uma visão nebulosa, vi Jane se aproximar. Passei a mão um pouco acima da nuca, de onde a dor vinha, e, quando vi, meus dedos estavam rubros. Agora eu podia sentir que meu cabelo estava encharcado de sangue. 

Desmaiei.

Sabia que estava apenas tendo um sonho – ou visão, já não me preocupava em nomear – enquanto desmaiada. Levantei-me e fiquei olhando o salão em que me encontrava, as cores brancas e amarelas predominavam. 

Saí dali e comecei a andar até o corredor onde vi Aliat com o bebê no meu mundo. Todas as portas do corredor estavam fechadas, exceto uma. Entrei nela. Aliat estava sentada na beira da cama, segurando o pano de aparência cara com a pequena criaturinha que vi outrora.

– Aliat? Quem é esse em seus braços? – Perguntei pacificamente. Não podia a assustar ou ela sumiria. – É seu bebê?

– Minha filha. – Ela falou serena enquanto admirava ao bebê. – Você me deu orgulho hoje, Enny. Mostrou o saber de pedir e dar o perdão. Está amadurecendo. Talvez seja hora de saber como o anel chegou em você, o porquê de ter acesso aos meus poderes confinados nele.

Andei até ela, sentando na sua frente e encarando o bebezinho, acariciando os dedinhos gordos. Peguei Aliat me encarando com a mesma ternura materna de outrora.

– O nome dela é Cristina Garfi. Ela foi enviada com o anel em sua manta para Terra Central, onde cresceu, casou e assumiu o sobrenome do marido. Seu único filho se chama Hugo Peres, pai de Pedro Peres e avô de Júlia e Enny Scott Peres.

– O quê? – Quase gritei, caindo de bunda no chão pelo choque,  e ela fez "psiu". – Como assim?

– Você nunca percebeu nossa semelhança? Nunca achou que seria a aliança entre a vida e a morte por causa de um motivo maior? Que o anel tinha um motivo para chegar em você?

– Claro que passou uma vez ou outra na minha cabeça... Eu sou igual ao meu pai. Só que isso é absurdo! Meu pai é mundano, não um descendente de uma coroa de um reino mágico. Ele nem me considera como uma filha mesmo. Eu não posso ser sua descendente Aliat.

– Mas você é. – Ela riu. – Você, minha pequena, é minha herdeira. Não é nada disso por conta só do anel, mas por seu sangue. Quem você é.

– E quem eu sou? – Perguntei sinceramente, encarando o chão atônita.

– A legítima herdeira ao trono de Rheyk. – Eu me tremi com a seriedade dela. 

– Victor é meu tio... Aquele trono menor... É para mim. – Constatei quase sem voz. – Por que você não me contou antes? – Minha voz estava aflita, quase chorosa.

– Enny, antes você era tão infantil e imatura que não entenderia nem saberia lidar com isso. Poderia te machucar ao contar isso. Ou pior, te corromper. Seus amigos e Rheyk precisam de você, da bondade que habita em ti. A sua jornada está apenas começando, criança. Meu legado é seu.

O peso daquelas palavras me gelou a alma. Se o trono era pra ser meu, então...

– Não há como eu voltar para Terra Central, não é?

– Acorde, Enny. Da próxima vez, conversaremos sobre isso. – Aliat falou deprimida. Talvez esperasse que eu ficasse em jubilo com essa notícia, o que não poderia ser mais destoante da realidade.

Acordei na mesma rapidez com que desmaiei e, quando abri os olhos, vi que Nathan estava ao pé da cama, me olhando com afeto e preocupação. Coibi o desejo de o abraçar, procurando consolo da minha recente descoberta. Sentei-me e notei que todo mundo estava lá: as garotas, Erick, Nathan e Tia Lúcia. Olhei para Erick, confusa.

– Que cabeça dura você tem! Literalmente! Quebrou a parede. – Luna comentou sorridente.

– O que aconteceu? – Fingi não saber.

– Estávamos no restaurante e escutamos um forte barulho. Subimos às pressas. – Erick tentava conter um sorriso.

Nathan me abraçou fortemente e falou alguma coisa que envolvia uma promessa. Mas que promessa? Depois ele se afastou de mim e deu alguns beijos na minha bochecha, indo em direção à minha boca. Por fim, apesar das objeções, ele encostou os lábios dele nos meus por um ou dois segundos antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo e o empurrasse com violência.

– Que droga foi essa?! 

Olhei ao redor e vi que Erick não estava mais no ambiente. Droga! Eu me levantei da cama e, mesmo estando tonta demais, corri atrás dele. A porta da sala estava entreaberta e, quando saí do apartamento, vi que ele esperava o elevador chegar. Suspirei aliviada e andei mais devagar em sua direção.

– Erick, me desculpa. – Vi o quanto ele estava magoado.

– Você é muito cínica. Não queria se envolver com ninguém? – Ele falou irônico.

– E acha que eu tive alguma coisa a ver com aquilo? – Apontei para a porta.

– Você queria e está feliz sendo a garota que Nathan pega quando enjoa de Jane. – Ele estava decepcionado.

– Erick, por favor, me diga que eu não perdi um amigo. – Supliquei e ele riu.

– O amigo que você deixa de reserva quando não está sendo usada pelo outro? Eu tenho pena de você.– Sua resposta foi fria. – Vou voltar pra o trabalho, é o melhor que faço.

O elevador chegou. Mordi meu lábio inferior com o máximo de força que pude – tentava conter o choro – enquanto ele entrava no elevador. Virei o rosto e vi Jane se aproximando, seu cabelo dançava como fogo negro enquanto andava. Ela me deu um leve empurrão, ao bater seu ombro no meu, e entrou no elevador, indo embora os dois juntos. Escutei os passos de alguém vindo.

– Enny, vá descansar. Você levou uma pancada forte. Melhor repousar. – Aline falou nas minhas costas.

Passei a mão onde a dor vinha e percebi uma ferida considerável próximo à nuca. Virei-me e vi Nathan saindo da casa de tia Lúcia, o lado direito do seu rosto tinha a marca vermelha de uma mão. Certeza que um feito de Jane.

– Satisfeito?! – Empurrei ele da minha frente e andei até a porta que daria na escadaria. – Eu te odeio!

Desci as escadas às pressas, queria encontrar e me justificar com Erick e Jane. Pelo canto do olho vi Angel, Tracy e Luna me seguirem. Peguei pela saída lateral – que dava em um beco ao lado do prédio –, procurando primeiro Jane. Erick devia estar no salão do restaurante. Então percebi que...

– Olá, Enny! – Uma voz profunda e maligna me chamava, gelando meu sangue.

Saindo das sombras, a besta que era a mistura de um lobo com um lagarto emergiu. Seu semblante de maligno contentamento estava estampado em sua cara feia. 

– Petrik. – Tracy arfou temerosa ao passar pela porta.

– Ele não deveria estar aqui, com tantas pessoas podendo o ver. – Angel não tinha medo, pelo contrário, ela parecia confiante.

– Que tal devolvermos ele para o lugar dele, Ang? – Luna falava sorrindo.

Eu permanecia imóvel. Petrik estava muito autoconfiante, então devia ter uma carta na manga. Não viria aqui – à vista das pessoas normais –, se arriscando a ser atacado por armas terrestres sem ter algo muito importante para falar ou ameaçar.

Minhas hipóteses se mostraram verdadeiras quando ele chamou Thomas, que trazia acorrentada uma Jane vendada e amordaçada, que se debatia. Ele tinha novas manchas pretas no rosto em forma de prisma.

– Se vocês me atacarem, sua amiguinha já era. – A mistura de lobo e réptil era presunçosa.

– Pequena, sentimos uma grande energia sendo liberada e só quem pode ter esse potencial é você. Então, chegamos à conclusão de que está na hora de se juntar a Victor. – Thomas deu um leve sorriso. – Cansamos de sermos bonzinho contigo.

– Você não encosta um dedo nela. – Tracy vociferou.

Acabei tomando a frente do grupo, erguendo a palma das mãos para os dois lados, pedindo calma. Meus olhos fixos nos de Thomas. Não podia ser impulsiva agora. Talvez Aline e Nathan, que ainda não tinham aparecido, tenham visto o perigo e estavam bolando um plano. Ou talvez não. Porém, precisava ganhar tempo para uma distração que garantisse a saída de Jane em segurança.

– Foi a Senhora da Luz que liberou a energia.

Sabia que era uma outra forma de dizer que tinha sido eu. Contudo, os demais não e tais palavras eram suficientes para os paralisar. Até Petrik recuou sutilmente. Precisava blefar.

– Eu conversei com Aliat. – Notei Thomas semicerrar os olhos. – Se vocês a machucarem, eu destruo essas joias e Victor pode dar adeus ao plano dele de reequilibrar Rheyk.

Um vislumbre de sorriso rompeu nos lábios de Thomas, mesmo que seu olhar ainda transmitisse maldade. Aquele homem definitivamente me era uma incógnita.

– Não acredito em você. – Petrik quem falou, rindo zombeteiro. – Vamos, Thomas, acabe com essa garota.

O rastreador de Victor apertou o pescoço de Jane, erguendo-a do chão e Petrik se lançou em nossa direção tal qual um dragão-de-komodo. Tracy criou seu escudo, mas não antes do monstro lançar uma corrente que se enrolou em Luna, a derrubando e lhe privando do seu dom. Angel teve que auxiliar Tracy a desestabilizar Petrik.

A visão dos pés de Jane balançando em desespero e sua boca aberta em busca de ar me desesperou. Não podia a puxar como fiz com a adaga de Alberto porque Thomas mantinha com sua outra mão uma lâmina rente às costelas dela.

Não sabia se o que eu queria era possível, mas ia tentar. Ergui ambas as mãos e imaginei Jane sendo teletransportada em minha direção. A magia que tanto tentei conter dentro das minhas veias energéticas – como Honesh falou – se expandiu tão intensamente que meu corpo inteiro ardeu em brasa à medida que o que eu queria se tornava realidade.

Em um segundo, Jane estava lá e, no outro, ela sumia, transformando-se em um brilho que veio até o meu lado e regressando a ser de carne e osso. Pude escutar Angel falando um grande palavrão. Jane estremeceu e eu a segurei. 

Só que logo em seguida, fui tomada pela pior dor que já senti na minha vida, alastrando-se pela minha cabeça. Então, fui ao chão, trazendo uma Jane catatônica comigo. Pressionei os olhos com uma das mãos enquanto a outra segurava a outra. Ela precisava ficar bem. Meu corpo tremia e suava e eu desejei a morte, implorando a plenos pulmões que me matassem.

– Jane! Enny! – Aline gritou, começando a nos puxar.

Ouvi alguns barulhos, como se uma mini batalha estivesse acontecendo. Não tive coragem de abrir os meus olhos por medo da dor aumentar – se é que era possível isso. Respondi ao puxar de Aline, me arrastando em sua direção. Para evitar gritar, mordi meus lábios com tamanha força que não tardou em o gosto de sangue me atingir, junto com o sal das lágrimas. Não soltei Jane em nenhum momento. Ela não ia morrer com raiva de mim, não.

Pude escutar o eco distante que era a voz de Nathan e logo depois um estalido seco, que lembrava vagamente o som de fogos de artifício. Uma. Duas. Três. Quatro vezes. A arma de tia Lúcia. Não consegui captar mais do que isso pela dor que me consumia. A única coisa que me fazia lutar para manter a consciência era garantir que Jane ficaria bem.

Apesar de qualquer movimento ser penoso, eu, Jane e Aline chegamos ao elevador. Por alguns segundos, senti que a minha mente estava entre a dor e a escuridão completa. Satisfatoriamente, me entreguei à segunda opção.

***

Em algum momento, infelizmente, eu regressei a consciência. Senti que estava deitada em algum lugar confortável e, cansada de esconder minha dor, permiti-me gritar e me debater, arranhando minha pele como se tentasse arrancar aquela tormenta de mim. Durante horas a fio, senti as mãos calosas de Nathan me segurar, tentando me resguardar das lesões que eu mesma me infringia. 

– Por favor, fica bem. – Escutei a voz dele murmurada em meu ouvido. – Confio que você vai achar uma forma de controlar essa magia. Você é única, minha Enny.

Controlar... Não era controlar, não era forte o suficiente para isso ainda. Mas eu podia direcionar. A pedra que Honesh me dera devia estar sobre meu esterno, sentia um formigar frio lá que me informava de sua presença. Em meu ser, comecei a guiar os rios energéticos na direção dela, em direção ao meu reservatório particular. 

Depois de um tempo considerável, a dor diminuiu o suficiente para eu parar de gritar, dando lugar as lágrimas que escorriam silenciosamente. Finalmente conseguia escutar o que os outros diziam.

– Nate, querido, você precisa descansar. – Tia Lúcia soava preocupada. 

– Não até ela acordar. – Notei que ele segurava minha mão, pressionando contra seus lábios.

– Vá com tia Lúcia, Nathan. – Angel, apesar de cansada, usava sua voz de líder. – Você não dormiu nem comeu desde ontem. Enny se sentiria péssima em saber que você passou mal.

– Não, não vai. Vocês ouviram. Ela disse que me odeia. Que merda que eu fiz! E se ela não acordar? Se ela não me perdoar? – A voz dele tremia sutilmente. 

– Ela parou de gritar. Já, já deve despertar. O pior já passou, Nate. – Senti os dedos finos de Tracy desvincularem a minha mão da do rapaz. – Ela falou no calor do momento. Vai te perdoar.

Escutei os passos pesados dele saindo do quarto. O pior passou. Essa constatação indicava que eu deveria ser a em pior estado. Ou seja, Jane deveria estar bem, certo? Angel não estaria aqui se a melhor amiga dela estivesse mal. Ou será que o teletransporte lhe prejudicou de forma irreparável? Tinha medo de perguntar e a dor piorar.

– Toda vez que algo está indo bem tudo, tudo desmorona. – Aline reclamou.

– Vamos resolver isso. Montar guarda, talvez, eu não sei. – A tensão em Angel era palpável.

Do que elas estavam falando? A dor foi a única resposta que tive. Tudo desmorona... Será que o pior aconteceu a Jane por minha culpa?

– Angel, minha tia está correndo perigo e espero que você entenda que não vou deixar nada acontecer a ela, mesmo que para isso eu tenha que lhe desobedecer.

– Calem a boca! – Tracy murmurou, mas com a força de quem gritava. – Nada vai acontecer a ninguém. Mas... por favor, parem de discutir. Não veem Enny? Isso pode piorar o estado dela.

– É por causa dela que é perigoso. O portão está perto demais e ela aqui significa perigo.

– Não vai acontecer nada, Aline. – Luna mediou. – Ouviu o que Nate e tia Lúcia disseram. Thomas já veio aqui. A casa tem proteção mágica. Vai ficar tudo bem.

– Ninguém nunca tinha sido atacado assim, até agora. Eles podem não atravessar essa porta, mas não significa que não possam derrubar o prédio. – Aline foi fria e saiu do quarto, batendo a porta atrás de si com brutalidade. O barulho me fez encolher de dor.

– Precisamos tomar uma atitude urgente ou ela vai fazer besteira. – Luna falou de modo sensato.

Eu gemi e deixei a minha mão no ar por uns dois segundos. Depois, apoiei uma mão na cama e me levantei um pouco. Se não fosse por Tracy me segurando, eu teria caído. A loirinha sempre me apoiava, ela tinha assumido a posição de minha irmã substituta neste mundo e eu amava muito ela. Sabia o quanto estava preocupada comigo.

– Como está? – A loira perguntou suavemente.

– Garota, para de tentar se matar tirando um poder da manga toda vez. – Luna deu uma risada anasalada, acariciando minha cabeça.

– Gente. – Falei com os dentes trincados. – O que aconteceu... lá fora?

– Nós lutamos, mas na Terra nosso poder é mais fraco. – Angel franziu o cenho. – Ainda bem que Nate chegou... A-Ainda bem que você salvou Jane.

Forcei minha mente, tentando me lembrar de cada detalhe antes da dor aparecer. O ataque foi brutal, as garotas mostraram uma boa melhora nos seus desempenhos. Mas elas só ganharam porque Nathan usou a arma que tia Lúcia me mostrou outrora.

– Por que Petrik se arriscou a ser visto? Por que Thomas estava com aquelas...?

– Marcas no rosto? – Tracy terminou. – Ele deve ter aceitado novas marcas para provar fidelidade.

O que isso queria dizer? Que antes Thomas não era fiel a Victor e agora ele era? Seria aquela gratidão que ele me demonstrou com Angel no passado um indício que não era tão mal assim? 

– Bem... Enny, não fique preocupada, mas... Nós vamos proteger você.

– Diga logo, Angel. – Por mais força que colocasse, minha voz não passava de um sussurrar.

– Petrik só apareceu porque o portão está no beco aqui ao lado. – Ela disse acariciando minha perna.

Senti como se uma muralha tivesse caído sobre mim. Já era ruim ter "pessoas" lhe procurando, mas eles nunca sabiam quando eu entrava ou saía de casa e sempre tinha tempo das meninas me socorrerem se algo acontecesse. Agora, eles estavam na porta de casa, monitorando cada passo meu. Sendo um perigo para aqueles que moravam comigo.

– Enny, nós achamos melhor você ir para a casa de uma de nós, por enquanto. Só o tempo desse portão sumir. Entenda, se você não estiver morando aqui, os guardas de Victor não vão atacar esse apartamento com tanta força, mas... – Angel parou.

– Mas... se eu ficar aqui, vou arriscar a vida de Tia Lúcia e... Nathan. – O nome dele saiu com certo esforço pela minha boca.

– Ele vai ficar mais tempo em Rheyk também. Aline ficará de guarda majoritariamente neste prédio durante o dia e tia Lúcia vai dormir na casa da família pelos próximos dias. Não se pode fechar o restaurante do nada, é o ganha-pão dela.

– E, Jane? Está bem?

As meninas pediram para eu esperar e saíram do quarto, deixando-me só com Tracy. Poucos minutos depois, entrou o grupo completo pela porta. A priori meu olhar encontrou Nathan que suspirou aliviado, mas não tardei em encarar aquela que o bem-estar mais me preocupava no momento. Jane estava muito pálida, porém aparentava estar melhor do que eu supusera.

– Dá próxima vez que você tentar me teletransportar, juro que não luto pra sobreviver só pra te deixar com peso de consciência. – Ela tinha um sorriso grato para mim.

– Prometo não tentar salvar sua vida da próxima vez que te enforcarem. – Brinquei.

Naquele momento descobri que ela passou horas vomitando e com dificuldade respiratória. Ainda estava desidratada, mas vinha se recuperando com sucesso. Por um segundo, pensei em trazer a conversa de Aliat sobre eu ser sua herdeira. Contudo, minha cabeça latejava demais para adentrar neste assunto.

– Enny. – Jane, que se sentara ao meu lado na cama, chamou minha atenção. – Eu estava pensando. Sou a que mora mais afastada desse portão e meio que estou te devendo uma. Aceita passar uma temporada lá em casa?

– Ela aceita sim. – Tracy e Luna disseram em uníssono. 

– Amanhã eu deixo ela na sua casa. – Tia Lúcia bateu palmas suavemente, transparecendo sua animação. – Agora para casa. Já não dormiram ontem com suas famílias. Não quero Karla ou qualquer pai de vocês batendo aqui. Venham, eu levo vocês.

Todas saíram, ficando apenas eu e Nathan no quarto. Ele me entregou uma bandeja com uma lasanha bolonhesa e um chá gelado horrível. Só notei naquele momento a fome gigante que estava. Ele ficou sentado na cadeira ao lado da cama, observando o nada.

– Eu errei feio com você. – Nathan constatou encarando o copo vazio na bandeja. – Principalmente no baile... Sabe, nunca fui de inveja. Mas fiquei com inveja de Erick por estar dançando contigo. Algumas pessoas fizeram piada sobre vocês dois juntos... E pode ter sido efeito do álcool ou as máscaras que ficaram muito próximas, mas juro que vi vocês se beijando... Então, agi como um idiota e fiz merda. Não tem justificativa bonitinha. Foi isso, fui um puta escroto. Eu errei e te magoei. Só me resta pedir perdão...

– Pessoas apaixonadas tendem a tomar atitudes idiotas. Eu também não devia ter dito que te odiava só para te magoar. Especialmente, quando a verdade vai para o caminho oposto. Desculpa por isso. – Dei um sorriso duro. – Que tal pararmos de sermos idiotas um com o outro?

– Se eu tivesse o poder de decisão aqui, diria que ia preferir descobrir contigo a sermos idiotas comedidos juntos do que uma versão mais sábia separados. – Ele riu pelo nariz com tristeza. – Mas você não vai ceder, não é? – Neguei com a cabeça. – Há alguma posição que eu possa ficar na sua vida? A opção "bons amigos" ainda está disponível?

– Para você? – Franzi as sobrancelhas como se sentisse raiva e o vi sutilmente encolher com medo de uma negativa. Então abri um grande sorriso. – Com certeza, protetor.

Ele se levantou desgostoso, pegou a bandeja e começou a sair do quarto. Contudo, parou no batente da porta e se virou para me olhar.

– Enny, não conte a Jane que te disse isso. Mas... Na casa dela não caia na simpatia de JP.

– JP?

Nathan não me respondeu, apenas disse que estava indo para Rheyk para cuidar de um projeto especial e saiu do meu quarto.

***

No outro dia, fui para casa de Jane no finalzinho da tarde. Tia Lúcia me deixou, desejando boa sorte antes que eu saísse do carro. A casa de garota era enorme, bem decorada num estilo romântico. Deixei minhas malas no quarto dela e ficamos lá conversando sobre como íamos tentar deixar o passado para trás.

– Dara Jane e Enny, não quero bagunça aqui. – A senhora Lopes era bem metódica.

– Dara Jane²? – Perguntei depois que a sua mãe saiu do quarto.

– Meus pais colocaram os nomes das minhas avós, Dara e Jane. – Ela revirou os olhos, sorrindo.

– Parece que eu realmente não sei quase nada sobre você.

– Só o meu pior. – Ela franziu o cenho, empurrando-me sutilmente. – Está na hora de conhecer o outro lado. Sem garotos idiotas interferindo aqui.

Aquela menina tinha uma leveza que eu não estava habituada a ver. Parecia que uma luz tinha caído sobre ela. Jane já era linda de uma maneira fora da realidade, mas sem aquele peso do ciúme pelo ex-namorado, bem... Ela era uma deusa.

– Essa vai ser uma versão interessante de conhecer. – Contente, admiti.

***

¹ É um anagrama para Ryan Gosling porque ele não existe na Terra que Enny está, apenas na Terra Central. Porééém, a autora que vos fala precisava colocar Tracy apaixonada por um  ator muito bonito que eu amo em comédia romântica. Foi o primeiro que apareceu na cabeça (Diário de uma paixão, em especial).

² Porque o nome de Jane é Dara Jane que a letra que corresponde a ela no código entre Angel e Nathan é D. Tem relevância? Não! Mas fica a curiosidade.

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