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Capítulo 16 - Palavras inesperadas


– Que banho demorado esse! Podemos ir? – Luna me chamou da porta.

Fechei meu caderno, peguei minha bolsa e parti atrás dela. Ela hoje saiu mais cedo da aula para irmos provar a roupa de sua festa que seria no dia 25. Tentei todas as desculpas para não vir. Afim de manter meu segredo na escuridão, estava evitando a todos. Apenas os via direito para treinar, falar pontos muito superficiais do trabalho e já me trancava em meu quarto, lendo os livros de Rheyk que consegui com Nathan ou Aline.

Falando em Nathan... Ele não estava com Jane. Em parte, isso me agradava. Talvez eu estivesse errada na minha percepção naquele sábado. Mas, o que importa é que nós estávamos estranhos um com o outro, sendo evasivos. Ele não se abria quando eu perguntava o que tinha feito naqueles dois dias em Rheyk ou porque vinha evitando que eu pisasse na rebelião.

Já eu, quando o encontrava no restaurante ou em casa mesmo, evitava o olhar. Era péssima em mentir e pior ainda sendo ele o receptor da mentira. Eu gostava dele, me parecia inconcebível o dizer inverdades. Só que, meu distanciamento junto com o fato que ia com Erick para o Baile de Máscaras de Luna fizeram Nathan ficar com uma certa raiva de mim. Eu, com toda minha maturidade de 16 anos, não vi razão em me explicar e fiquei com raiva dele também... Então, assim, o clima estava pesado.

– Já alargamos a cintura, como solicitado. Tem que ter muita confiança para usar essa roupa com... esse corpo. Você é uma inspiração. – A vendedora nos entregou o vestido com um sorriso forçado, olhando Luna do pé a cabeça. A babaquice dela me tirou dos meus pensamentos.

– Nada, boba. – Luna tinha entendido a maldade no tom daquela loira oxigenada, mas entregou simpatia. – Confiança quem tem que ter é você, que acha que por usar um... 36, pode estar me julgando.

Luna pegou a sacola e deu um enorme sorriso para a mulher.

– Passar bem e que Deus abençoe seu coração. Quem sabe, se torne alguém melhor.

Saímos daquela loja superfaturada do shopping. Eu sabia que Luna era rica, mas acompanhar toda a produção de sua festa me fez ter certeza que eu não conhecia o que era riqueza de verdade. Céus, como eu era pobre! Não tinha, literalmente, ainda arrumado uma roupa para ir. Zero dinheiro para isso e não ia pedir um presente desses para tia Lúcia.

– Por que você foi simpática com aquela idiota? – Questionei no caminho entre a casa dela e o portão para Rheyk. Iríamos treinar com as garotas.

– Enny, ela deu o que tinha para oferecer. Felizmente, eu não sou tão rasa. E, felizmente, meus pais me ensinaram a me amar bastante. Então, absolutamente nada de ruim que falem sobre mim, exceto que seja verdade, vai me magoar. Simples.

– Eu queria ser um pouquinho como você. – Comentei quando atravessamos para Rheyk.

Luninha me olhou com afeto e piscou com um sorriso travesso.

– Todas querem. Problema que a perfeição é uma exclusividade minha.

Em pouco tempo encontramos as demais meninas. Elas já praticavam com mais afinco. Jane brincou outrora dizendo que o potencial que eu demonstrei quando Alberto nos atacou, fez elas verem o quanto estão para trás e começarem a acelerar. Já eu estava indo no caminho oposto. Sentia meus poderes mais firmemente pelo meu corpo, correndo por veias que eu não sabia se eram reais ou energéticas. Contudo, por medo de sentir dor novamente, vinha pegando leve.

– O que você acha? – Tracy me perguntou sobre o seu campo de força.

– Muito pequeno. – Disse de súbito, retirada dos meus pensamentos.

– Quero ver se você consegue fazer melhor. – Sua provocação me fez rir.

Segurei fortemente o coração com minha mão direita e sussurrei para ele, pedindo para conseguir fazer um bom campo. O soltei, estiquei os meus braços e fechei os meus olhos, tentando me concentrar. Ouvi uns gritinhos surpresos, então abri os olhos. Não tinha nada.

– É, deixa quem sabe fazer. – Tracy zombou.

– Pelo visto só sou eficiente quando envolve salvar a pele de vocês. – Retruquei e tentei de novo. Nada. – Ainda não desisti.

Sentei-me em uma pedra e fiquei olhando as técnicas de Tracy. Ela mantinha uma distância curta entre os braços, e suas pernas estavam tão juntas que pareciam uma só. Aquilo me parecia não orgânico, seriam pontos a ajustar. Observei Aline. Ela podia estar séria, mas não prestava atenção no que fazia.

– Por que está olhando tão séria? – Angel me perguntou com um sorriso no rosto.

– Está vendo pelos meus olhos? – Ela assentiu. – Como faz isso? Sua técnica?

– Inicialmente, encare muito a pessoa, a analise e tenta imagine como ela vê as coisas. Depois, você realmente entra na mente dela. Não tem muito mistério. É se entregar ao processo, mesmo.

– Vou tentar. Saia da minha mente para eu não achar que consegui. – Ela o fez.

Olhei para Jane e tentei fazer esse truque com ela. Consegui ver vislumbres, mas nada espetacular. Tentei com Angel e o resultado foi pior ainda. Angel entrou na minha mente novamente. Soube porque ela ainda estava com a mente aberta demais, e eu conseguia ver e ouvir tudo o que ela captava. Parecia um eco em minha mente. Era estranho aquele modo de ver as coisas, assemelhava-se a enxergar uma imagem no reflexo da lâmina d'água.

– Feche a mente, Angel. – Falei, e ela revirou os olhos. Apesar de ser muito boa em ver pelos sentidos dos outros, ela tinha esse defeito de deixar a mente muito aberta. – Tente ao menos.

A líder me usou como cobaia nas suas seguintes tentativas, tendo êxito em algumas. Cheguei perto de Tracy e dei uma tapa em seu campo. Ele estourou com uma bola de sabão.

– Consigo fazer melhor que você. – Ela riu do que eu disse. – Quer apostar? Ou está com medo?

– Sonha que vai ganhar. – Tracy se sentiu provocada. – Eu vou primeiro.

Ela fez o seu campo. Ele era um verde sutilmente transparente e tinha aparência frágil.

– Se eu soprar, ele vai embora. – Zombei. Sentir o calor se espalhar pelo meu corpo. – Deixa eu te mostrar como se faz.

Primeiramente, fiquei na mesma posição de Tracy, contudo, posteriormente, corrigi os erros que ela cometia. Afastei mais os braços e separei as pernas, adquirindo uma boa base. Não fechei os olhos. Uma luz anil translúcida saiu das minhas mãos e cobriu toda a clareira lentamente. Minhas mãos tremiam tamanho o esforço.

– C-como... Como você consegue? – Tracy gaguejava. – É tão extenso.

Parei de fazer força para projetar o campo e ele sumiu rapidamente.

– Braços esticados e pernas separadas. Sinta seu corpo o empurrando. Posição forte, campo forte. – Ela me olhou cética, mas não dei importância. Me virei para Aline. – Você é boa no que faz, mas não presta atenção. Tão focada em tudo, mas quando usa seus poderes sua cabeça vai para outro lugar.

– Quer me ensinar a usar meus poderes? – A garota de cabelos curtos falou, grosseira.

– Não estou entendendo esse tom. Eu estou falando direito contigo. – Não era incomum eu e Aline nos estranharmos por falta de tato em como falávamos uma com a outra. – Já ganhei uma aposta com Tracy. Posso ganhar outra com você também.

A garota bufou, revirando os olhos. Ela estava insuportável hoje. Respirei fundo. Eu era pavio curto e não podia estourar com a sobrinha neta de minha benfeitora. Então resolvi me concentrar em uma flor roxa e com sépalas multicores. Fechei a mão e estiquei o meu braço para a ela – mostrando o anel –, pensando fortemente em ela andando como um porquinho da Índia. Surpreendi-me quando a raiz da flor saiu da terra, e essa começou a marchar.

– Soldado Isir ao seu comando. – A flor disse com força, mas detinha certa delicadeza.

Luna, Jane e Tracy se aproximaram incrédulas, mas muito excitadas com aquela florzinha marrenta. A miss do grupo tentou fazer cosquinha as sépalas, mas a flor reagiu, usando sua raiz para bater na garota.

– Soldado mau. Volte para o seu posto! – Luna ordenou, brincando. Seus olhos brilhavam de animação.

– Sim, senhora! – A flor colocou uma de suas raízes na pétala e caminhou para a terra com seu andar pitoresco.

– Eu disse que era para transformar em um objeto, não dar vida. – Aline disse, zombeteira. – Acho que ganhei!

– Não sei o que aconteceu. – Eu me virei e gritei. – Aline... Seu... S-seu rosto.

– O que houve? – Ela perguntou.

Todas olharam para ela e gritaram, uma cômica surpresa transpassando seus semblantes.

Tracy foi a sua bolsa e pegou o espelho. Quando Aline viu o seu rosto, também gritou. No lugar da cabeça dela, existia a de um porquinho-da-índia. Coloquei minhas mãos sobre meu rosto, em parte pelo choque, e em parte para que ela não visse que eu lutava para não cair na gargalhada.

– O que você fez, Enny?! – Ela berrou.

– Eu só tentei transformar a flor em um porquinho-da-índia. – Expliquei.

– Advinha só? Você transformou meu rosto! – Ela gritava e isso aumentava as ondas de risada.

– Parem de discutir. – Luna interveio, zombeteira. – Nós temos assuntos importantes para discutir... Quanto será que ganharemos se vendermos Aline em um pet shopping?

– É sério, Luna. – Angel repreendeu calma, mas tentava segurar um risinho.

– Exato, Luna! Não vamos vender Aline. Vamos adotá-la. – Jane comentou, sorridente. – Dá até vontade de apertar as bochechas.

– Parem com isso agora! - Aline gritou e começou a chorar, escondendo a face nas mãos. – Eu estou...

Ela se sentou no chão e tapou o rosto com as mãos. Todas foram a consolar, menos eu. Ao contrário das meninas, me afastei dela e olhei, com um pequeno sorriso, o rosto de Aline. A garota se queixava, e Luna a corrigia, dizendo que era um porquinho-da-índia e não um rato. Talvez para desfazer, eu devesse pensar em seguir a mesma via que a levou a essa situação.

– Eu acho que eu sei como fazer seu rosto voltar ao normal. – Ajoelhei-me na frente dela. – Você confia em mim para me permitir testar?

Percebi que a garota não conseguiu responder que confiava, apenas gesticulou para que eu fizesse logo. Bem, pior do que estava, não ficaria. Ao menos, espero isso...

– Se puder melhorar uma parte, tira as olheiras. E dá uma arrebitada no nariz. – Aline ponderou enquanto eu punha minhas mãos em suas peludas e gordas bochechas.

– Amiga, nesse momento, se voltar a ter a cara antiga, já fique feliz. – Tracy brincou, nitidamente verbalizando meus pensamentos.

Fechei os olhos e tentei me lembrar o rosto de Aline. De cada detalhe. Do sinal na bochecha direita, na cicatriz no cantinho da testa, na textura de sua pele, no pequeno espaço entre os dois dentes da frente. Então, senti minha energia fluir de mim para ela, tão lentamente e tão prazerosa ao mesmo tempo.

Ao abrir os olhos, vi que a face de Aline voltara ao normal. As garotas decidiram se colocar de pé para voltar para casa, estava começando a anoitecer. Porém, quando tentei me levantar, minha pressão baixou e eu caí.

– Amiga, você está bem? – Tracy tentou me puxar pelo braço, mas me desvencilhei dela.

Por causa do segredo de Brad, a loirinha era quem eu mais evitava estar perto. Ela falava dele, do quando o jogador vinha ignorando sua existência na última semana, da sua saudade... Me sentia uma péssima amiga por não contar a verdade, mas tinha medo de a perder caso falasse.

– Passei do meu limite. Mas a dor alguma hora vai embora.

– Vamos acelerando, então. – Angel me encarou preocupada. – Se anoitecer com você neste estado, é um perigo.

Jane, entendendo o porquê recusei o carinho de Tracy, me deu seu braço para ser suporte na jornada de volta. Era irônico. Aquela a quem de fato eu tinha me envolvido com o cara que ela gostava ser quem me apoiava com o outro drama. E eu era uma sem vergonha de não abrir o jogo para geral, não é? Mas, já estava tão atolada na mentira e no segredo... Não tinha saída fácil para a situação que eu mesma me meti.

***

Escutava música em meu quarto enquanto confeccionava uma máscara para próxima sexta. Tinha roupa? Não! Amanhã, segunda-feira, iria aproveitar a folga do restaurante e dos treinos –as garotas iam estudar para uma prova – para garimpar em bazares algo que fosse compatível com o nível da festa e coubesse no meu limitado orçamento, o real gargalo. Aline, com seu dom na costura, disse que me ajudaria a corrigir qualquer problema.

Escutei uma batida na porta e logo me pus de pé para abrir.

Engoli em seco com a visão de Nathan. Ele tinha acabado de sair do banho. O cheiro do seu perfume tão familiar tomava o corredor e praticamente me abraçava. Seu cabelo molhado caia de forma despojada sobre sua testa. Tentei não reparar na camisa branca de algodão grudando em alguns pontos molhados no seu tórax. Seus olhos brilharam divertidos vendo o caos no chão do quarto.

– Arte rupestre? – Sua brincadeira me arrancou um traço de um sorriso. – Posso entrar para conversarmos?

Abri passagem para ele. Nathan se sentou na cadeira da escrivaninha e eu me pus em sua frente, sentada na posição de índio sob a cama. Contraindo os lábios, maneei a cabeça, o incentivando a falar.

– Você queria ir com Erick para essa festa? – Neguei a pergunta de Nathan com um movimento de cabeça. – Então, por que incentivou Jane com a ideia de eu ia com ela? Ou também não queria ir comigo?

– Não se faz de inocente. Fazia 30 dias, você disse que iríamos conversar à noite sobre o que quer que nós tivéssemos. Então, Jane aparece e fala que vocês tinham combinado há meses de irem juntos. E você fica calado. Ela se oferece para dormir contigo machucado, você não recusa. Ela te liga, chamando urgente para ir na casa dela, e você vai na hora.

Nathan realmente me escutava. Podia notar, pelo contrair e relaxar de seus lábios, que ele tinha diversas opiniões divergentes. Mas, o rapaz resolveu não falar naquele momento.

– Nesse um mês que combinamos, o que você fez para cortar o vínculo? Jane é apaixonada por ti. Não quero ser sacana com ela. Eu não sou essa pessoa.

– Enny, eu te garanto que não estimulei o afeto de Jane. Antes de ex-namorados, somos amigos e ela viveu muita bosta este ano que ainda não está pronta para falar com as meninas. Ela também merece proteção.

Ele inspirou profundamente e bufou.

– Me desculpe, Enny, acabei falhando. Sabe... Namoramos por quase dois anos e somos do mesmo grupo, lutamos pela mesma causa... Não posso fingir que ela não existe, mas ainda estou aprendendo a lidar com a situação sem ferrar com você ou com o grupo. Só saiba que, se Jane quer reatar, isso é sobre como ela se sente, e eu tenho convicção que não fomento. Para mim, acabou. Não é ela quem eu quero.

– Não é o que parece. – Suspirei pesarosamente. – Eu estou presa neste universo, Nate. Nosso grupo é a coisa mais perto de família que tenho. Não quero arriscar perder isso por uma aventura sua.

O rapaz deixou um sorriso incrédulo lhe tomar a face e guiou, com os pés, a cadeira de rodinhas para perto da cama. Ele segurou minhas mãos e as beijou. Um arrepio transpassou meu corpo, mas me mantive firme no distanciamento.

– Se tem uma coisa que você não é de forma alguma, é uma aventura. – Ele falava solenemente, retirando um fio meu que enroscou no cílio. Porém, olhando firmemente em meus olhos, ele prosseguiu: – Eu gosto de você e te quero comigo, como acompanhante em um baile, como uma parceira de luta e, principalmente, como minha namorada. Claro, se você também quiser. O que acha?

Muitas palavras correram para minha garganta de uma só vez, entalando-se lá e deixando minha boca aberta incapaz de vocalizar qualquer coisa. Minha mente estava caótica, mas a primeira coisa que quis falar era um notório "é claro que quero". Só que, logo após, me veio a ideia que eu estava escondendo um enorme segredo e mentindo na cara dura. Como poderia me envolver com alguém e lhe negar a verdade dessa forma? Mas, como ele reagiria se soubesse?

Será que ele sugeriria um namoro se soubesse que eu era a Senhora da Luz? Que, tecnicamente, eu quem lutaria com Victor pelo fim desta guerra? Que poderia morrer em pouco tempo?

E pior, se eu falasse sim, teria mais um motivo que me prenderia a esse mundo de uma forma que eu tinha consciência que não quereria abdicar no futuro. Isso ia totalmente contra meu desejo de voltar para casa. E, outra: se desse errado entre nós, eu perderia todo meu grupo e estaria realmente sozinha, sem casa ou apoio. E, se desse certo, Jane poderia nunca mais querer olhar na minha cara. Nessas últimas semanas, vinha a conhecendo mais e aquele ranço finalmente estava se transformando em algo bom... Seria uma pena estragar isso.

– Você já combinou com Jane. – A voz era tão grave e baixa que nem parecia minha. – Nós dois sempre funcionamos como bons amigos. Talvez devêssemos nos contentar só com isso.

No mesmo momento, Nathan recuou, recostando-se na cadeira com um semblante machucado e encarando o nada, como se fizesse um esforço para absorver minhas palavras. Sabia que só essas frases pareciam ser uma insegurança minha com relação à garota, mas eu não conseguia verbalizar mais que isso, não conseguia expor meus pensamentos e medos.

– Desculpe o incômodo pela proposta idiota. – Nathan engoliu em seco e, tendo absorvido o que eu disse, se pôs de pé, já saindo do quarto. – Boa noite, Enny.

A porta foi fechada com demasiada delicadeza, uma tão intensa que ficava claro que ele se controlava para não bater a mesma com força. Bufei com ódio da minha cabeça confusa e me joguei deitada na cama, cobrindo minha cara com o travesseiro para abafar o grito. Eu, genuinamente, queria ter aceitado.

***

Acordei cedo na segunda-feira, cortei algumas frutas, fiz um café forte como Nate gostava e um sanduíche vegetariano porque ele sempre roubava o meu. Pus tudo em uma bandeja e fui até seu quarto. Tinha decidido que iria contar sobre o que eu era, meus medos e, se ele ainda quisesse, aceitaria de bom grado ser sua namorada.

Porém, meus planos foram para o ralo quando vi sua cama perfeitamente arrumada, indicando que ele não dormiu em casa. Tia Lúcia quando acordou e, viu o que eu fiz, olhou-me curiosa.

– Devo colocar um cadeado na porta de vocês dois? – Ela brincou, beijando-me a cabeça.

– Na dele, com certeza. Quem sabe assim, Nate pare de fugir de casa toda vez que fica com raiva de mim.

– Boa sorte, pequena. – Ela sorriu. – Desde pequeno é assim. Quando eu brigava com ele, fugia. Já pulou até a janela. Consegue imaginar? Mas, não se preocupe, quando se acalmar, volta.

A senhora me ofereceu carona para um bairro mais afastado, onde tinha uma rua repleta de lojinhas de roupas usadas. Ela não poderia ficar comigo porque tinha combinado de ver um amigo. Será que tia Lúcia tinha um namorado secreto? A ideia disso me fez rir encabulada. Se fosse, a vida amorosa dela estava melhor que a minha.

Cinco horas andando de um lado para o outro e não encontrei nada inteiro ou bonito que coubesse no pouco dinheiro que tinha. Cada vez mais se tornava factível a minha desistência. Meu celular vibrou, indicando uma mensagem de Tracy, perguntando se queria ir na sua casa. Neguei. Com o pedido de namoro de Nathan e os outros segredos que mantinha, não conseguia encarar as meninas hoje.

– Pode passando o celular ai. – Senti a ponta de uma lâmina sendo pressionada em minha cintura.

Lentamente, virei-me para encarar o pivete mais velho que eu. Olhando para a faca de cozinha, deixei minha energia correr por mim e transformei aquele objeto em um hashi. O garoto ficou petrificado com o que viu e, chamando-me de bruxa, saiu correndo. Um sorriso travesso ganhou a ponta de meus lábios.

Mas então fui atraída por um par de olhos vermelhos. A garota de cabelos negros bagunçados suavemente batia palmas, sentada em um banco público. Katerine. Seu colo expunha a cicatriz de uma queimadura do meu ataque. O sangue congelou por um momento, mas já assumi minha posição defensiva. Será que ela teria coragem de me atacar aqui?

– Admito, pelo seu meio metro, não dava nada por você. – Katerine zombou, mas ficou séria ao perceber minha postura rígida. Sua mão encontrou uma bolsa grande ao seu lado que só agora eu vi. – Vim em nome do meu senhor lhe entregar uma prova de boa fé dele. Sente-se.

Em silêncio, a obedeci, assumindo lugar do outro lado da bolsa.

– Juro, me impressiona que Li ainda não tenha levantado milhões de teorias do porquê você é tão parecida com o meu senhor. – Katerine parecia sondar terreno, então tentei me manter impassível. – Ou talvez, simplesmente, você não tenha contado da semelhança. Convenhamos, é mais provável isso. A pergunta é: por que você esconderia tal detalhe?

– Parece que você conhece bem o grupo. – Tentei mudar o foco da conversa. – O que é engraçado já que nenhum fala seu nome. Você deve ser bem insignificante para eles, não é?

– Garanto que não para todos. – Ela riu, encarando suas unhas. – Vamos ao que interessa. Thomas contou do baile para meu senhor, disse que você ia com um terráqueo.

Ergui as sobrancelhas em estranhamento. O que isso teria de relevante?

– Estão com falta do que fazer em Rheyk para se preocuparem com uma festa adolescente?

– Meu senhor disse que alguém do seu nível não pode ir como uma qualquer para um baile. O que quer que isso signifique. Pediu que eu selecionasse um vestido e lhe trouxesse, sem lhe machucar.

Katerine deu duas tapinhas na bolsa e a empurrou suavemente para mim, se pondo de pé logo em seguida. Abri o zíper sutilmente e contemplei o tecido macio dourado de dentro. Encarei-a em nítido choque, o semblante dela era de inveja.

– Eu tenho um excelente gosto, não escolheria um vestido feio. Aproveite a festa, pirralha. – A garota deu de ombros. – Ah! Ele também disse que a proposta dele continua de pé.

***

Assim que cheguei em casa, retirei o vestido da bolsa e o admirei. Era como um dos primeiros raios de sol da manhã, sutil e majestoso. O estilo ombro a ombro trazia o quê de feminilidade que me encantava. A renda que ia desde o corpete, estendendo-se pela vasta saia de tule, era de uma delicadeza ímpar. A magia de Rheyk tomava forma similar a de uma floresta encantada naquele bordado. Magnífico.

Assustei-me com o vibrar do meu celular. Era um chat com o quinteto. Aline perguntava se eu tinha encontrado algo e Jane mandava uma foto antiga com Nathan, questionando se ficaria chato postar na rede sociais porque sentia que eles voltariam até o baile. Respondi Aline e desliguei o celular, em fúria.

– Tô começando a me arrepender de gostar de você, Jane. – Murmurei para mim enquanto guardava o vestido.

Tia Lúcia, algumas horas depois, bateu à porta, chamando para jantar. Nathan estava já à mesa, se servindo. Consegui sondar que ele tinha passado a noite na casa de David e o dia em Rheyk, acompanhando o treinamento de suas tropas.

– Nate, podemos conversar? – Perguntei quando tia Lúcia se retirou.

– Claro, boa amiga. – A frieza em sua voz me fez encolher. – Vou só lavar a louça e tomar um banho. Pode ser depois?

Concordei e, avisando que esperaria em meu quarto, me retirei. Deitada na cama, em algum momento, o cansaço me ganhou e eu adormeci. Novamente, o sonho andando pelos corredores do castelo. Estava enfadada disso, dessa busca inútil.

Contudo, ao virar em um corredor, dei de cara com uma porta gigante de madeira escura de fundo avermelhado. A maçaneta tinha detalhes do mesmo material do Olho de Rheyk. Em um manear de minha mão, abri a porta e adentrei em um ambiente escuro, destruído e caótico. O cheiro de enxofre era tão intenso que me fazia vomitar.

No meio daquele ambiente, estava Aliat, usando o vestido que eu ganhara de Victor hoje. Ela era tão linda quanto a própria peça, mas seu olhar pesaroso ia em contradição ao esplendor de seu traje. Tomando coragem, adentrei no cômodo, assustando-me quando uma brisa forte fechou a porta bruscamente.

– Você sobreviveu. – Havia um grato contentamento em seu sorriso. – Pelo visto, você é mais do que capaz de honrar o legado que recebeu.

– Senhora da Luz... Então é verdade? Sou eu? – Minha voz aguda de pânico entreteve Aliat. – Quando eu assumi esse cargo? Não me lembro de ter me candidatado. Achei que era o anel!

– E era. Você desmaiava quando tinha seus "surtos de poderes", como costumava chamar, porque eu e meus poderes no anel assumíamos o controle do receptáculo. Porém, no ataque a Katerine, você conseguiu me frear e foi assim que acabou sendo machucada.

Ela apontou sutilmente para meu braço. A cicatriz estava quase desaparecida, com exceção de um lugar perto do pulso.

– A sua escolha de poupar uma inimiga, mesmo que custasse sua vida, fez com que o anel te escolhesse como a sucessora. Você é a única portadora digna das minhas joias.

Ri incrédula, as lágrimas corriam ferozes pelo meu rosto e uma água me ganhava a boca, como uma maldita crise de refluxo nervoso.

– Nada disso faz menor sentido! Eu estou em um desenho animado, me apaixonei por alguém que não é real e herdei, de uma joia, poderes centenários para lutar contra um tirano que governa há 200 anos. – Pus as mãos nos joelhos, arfando e tentando suprimir a crise de pânico que tomava meu peito. – Como pode? O programa Rheyk existe há apenas 7 anos. Como?

– Este universo em que estamos foi criado quando a Terra Central estava no ano de 1549. Rheyk e esta Terra que estamos são tão reais quanto a Terra Central, separados apenas por um véu. Alguns humanos têm certas "habilidades" e conseguem enxergar, como uma fotografia, outros mundos e atribuem essa visão à criatividade... Foi isso que aconteceu com o criador do desenho de Rheyk, ele enxergou uma imagem que, tal qual uma fotografia, é incompleta.

Incompleta... Isso era a mais pura verdade. Não conhecia a complexidade da Rebelião, da marca, Katerine... O desenho que eu via era uma foto retocada para agradar o público infanto-juvenil.

– Então o desenho ter sido cancelado não impacta nada? – Lembrei da pergunta que Angel me pediu para fazer outrora.

– Existíamos antes e assim continuaremos. Seus amigos ficarão bem. – Aliat entendeu minha real preocupação. – Pequena, seu avanço nos últimos meses foi surpreendente. Fico orgulhosa.

Assenti, dando um sorriso rígido de agradecimento. Precisava de um momento para absorver tudo aquilo, para me contentar com o alívio da segurança do sexteto. Uma conclusão então chegou a minha mente e eu ri.

– Ao menos eu ser a Senhora da Luz explica uma coisa. – Seu olhar interrogativo me fez continuar. – Nós três sermos parecidos. A aparência vem junto com o cargo, não é? Vou começar a caçar ruivos até achar o Sábio.

– Não, pequena. – Houve uma pausa dramática, Aliat pesava suas próximas que me acertaram como uma bala. – Sou parecida com ele porque Victor Garfi, meu assassino, é também meu irmão.

Imediatamente, acordei exasperada. Notei minha porta aberta e todas as luzes da casa desligadas. Em agonia, caminhei até o quarto de Nathan, mas, ao entrar, o vi dormindo.

Sentei-me no chão, encostada na parede, o encarando. Nate se remexia bastante, indicando que seus sonhos não eram assim tão tranquilos. Quis fazer um cafuné, o acalentar, mas sabia que poderia o acordar. Encarando suas pálpebras, imaginei que via a sua íris de um verde tão cativante que me prendia constantemente.

Então, as memórias do sonho vieram a mim, as palavras de Aliat me pesando o coração. Eu precisava dizer, necessitava verbalizar para tornar toda aquela loucura real.

– Sou a Senhora da Luz. – Mal pude acreditar que finalmente consegui proferir isso. – Sou eu quem tem que enfrentar Victor. Ele matou Aliat, a própria irmã...

Uma risada anasaladas acabou me escapando junto com umas lágrimas de medo. A constatação óbvia tomando forma em palavras que tive que proferir:

– Acho que isso quer dizer que não resta muita chance pra mim.

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