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Capítulo 14 - O Coração de Rheyk

– Levante-se! Você está muito mole hoje. – Nathan estava de pé ao lado do meu corpo derrotado no chão. O ar ainda achava caminho para meus pulmões após o impacto.

– Me diz quando eu te fiz tanto mal para você nunca aliviar? – Estendi minha mão para ele, tomando o pedaço de madeira na outra.

Estávamos começando o treinamento com armas e, para evitar acidentes, não usávamos objetos afiados. Nathan aceitou que eu não iria lutar para matar, mas me convenceu que saber manusear uma espada também era essencial para me defender e para proteger aos meus, mesmo sem a usar para ferir mortalmente.

O meu protetor me pôs de pé e colocou a mão em meu cabelo, balançando-o para tirar a grama seca aderida, e aproveitando a oportunidade para fazer carinho. Treinávamos sempre em alguma campina ou no meio da mata para evitarmos levar possíveis servos de Victor para a Rebelião, principalmente nos dias que as meninas viriam nos acompanhar. Os poderes delas distraíam muito os rebeldes, que paravam seus treinos para as observar.

Nathan, por fim, acariciou minha bochecha com a ponta de seus dedos e avançou para me dar um singelo selinho. Por mais inocente que aquele toque fosse, ainda fez meu peito palpitar. Sua testa encostou na minha e eu o observei sorrir de olhos fechados.

– Finalmente, os trinta dias acabaram. – Sua voz era quase um suspiro. Ele abriu os olhos, a mão direita encontrando a minha e a colocando sob seu peito. – Chega de esconder.

– O que isso efetivamente quer dizer? – Abri um gigantesco sorriso, podendo enfim perguntar o que queria saber. Nunca estive nessa situação. Seríamos namorados? Ficantes? Ele tinha que pedir ou eu presumiria?

Por uma fração de segundos, os olhos dele ficaram anormalmente vazios. Já tinha o visto assim algumas vezes. Era quando Angel projetava seus sentidos na mente dele. Assim que seus olhos voltaram ao normal, ele tomou um passo de distância de mim, dando-me um último beijo com mais intensidade que antes, seus polegares afagando minha bochecha.

– Angel está chegando com Jane e Aline. Conversamos melhor à noite, protegida?

O barulho anunciava a presença das garotas que conversavam animadamente. Quando elas tiveram a visão da campina, eu e Nathan já estávamos de volta ao treino. As três carregavam envelopes. Sem que eu precisasse dizer uma palavra, Jane se colocou na frente, me entregando o papel branco pérola com letras douradas. O convite de aniversário de Luna.

– Ela guardou os convites com as senhas de vocês. – Aline avisou. – Disse que entregava na troca de turno.

Luna e Tracy estavam na Biblioteca, hoje era o dia delas na busca. Eu, Nathan e Aline iríamos as substituir perto do pôr-do-sol.

– Príncipe, não entendi porque Luninha separou uma senha para ti, sendo que me deu duas. – A mão de Jane acariciou o braço de Nathan, que recuou um passo. – Vamos juntos como combinamos desde maio, não é? 

– Jane... – A mandíbula tensa de Nathan mostrava quão pouca paciência ele tinha para aquela conversa.

– Ah! Enny. – Ela pareceu nem sequer ouvir, virando-se para mim. – Erick me contou que te convidou. Não sabia que estava rolando algo. Como foi isso?

Instantaneamente os olhos de Nathan me encontraram, questionando o porquê eu não lhe contar aquilo. Engoli em seco e acho que todos tiveram a percepção errada. Acabou que, com a visita de Thomas, a qual tia Lúcia me fez prometer que não revelaria para não assustar os demais, eu simplesmente esqueci da conversa que tive com o garoto ruivo.

– Nossa! Acredita que não lembrava? – Apesar de ser verdade, não convenci ninguém dali. – E não está rolando nada, Jane. Somos apenas colegas de trabalho.

– Deveria aceitar. – Jane deu de ombros. Angel parecia conhecer a amiga o suficiente para estar tensa, sabendo exatamente quais seriam suas próximas palavras. – Seriam três casais. Angel e David, eu e o príncipe e você e Erick. Ia ser bacana.

– Vamos parar de conversinha fiada e bora treinar? – Angel interveio ao notar que eu estava a beira de dar uma resposta mais afiada. – Um tirano não se derruba com papo besta.

A líder chamou Jane e Aline para treinarem um pouco mais afastadas seus dons. Desde que cheguei aqui notei o quão pouco as garotas avançavam com seus poderes, pareciam ter medo de testarem seus limites e verem as falhas para as suprimir. Não que eu estivesse em posição de julgar. Nem sabia ativar meus poderes – melhor, os poderes do anel –, sejam eles quais fossem. 

– Por que não me contou do convite? – Nathan questionou em baixa voz quando se aproximou para corrigir minha pegada no cabo do sai. – Ficou tentada a aceitar?

– É sério? – O deboche permeava meu sussurro. – Já que você acreditou tanto nos três casais formados na cabeça de Jane, eu deveria acreditar também, príncipe?

Puxei minhas mãos com brutalidade e me afastei dele, assumindo uma posição para lutar. O general contava apenas com um bastão de madeira. Com poucos movimentos, ele me desarmou. Quando o assunto era treino, Nathan nunca pegava leve comigo e, honestamente, eu gostava. Usualmente, essas aulas de luta eram um momento que não brigávamos nem falávamos sobre "nós". Nosso foco era exclusivo para o treino.

Porém, neste exato segundo, eu estava furiosa demais por ele não ter dispensado imediatamente Jane que não conseguia ser sensata. Desviei do movimento do bastão, que iria me derrubar, e lhe chutei o peito com uma força desnecessária. Nathan recuou, ficando debaixo do galho de uma árvore.

Tinha consciência que não ganharia dele na força, mas se aquele galho caísse em sua cabeça ia me sentir de alma lavada. Ah, se eu tivesse poderes. Subitamente o barulho de madeira quebrando se fez presente, chamando a atenção do rapaz que pulou para o lado enquanto o galho caía sobre ele. Infelizmente, ainda ficou com as pernas presas por debaixo.

Eu paralisei, presa na ideia que isso tinha sido obra minha. O sutil formigar ao redor do anel parecia me confirmar isso. As três garotas correram na direção dele, checando seus sinais vitais e começando um trabalho em conjunto para levantar o galho e o soltar.

Instintivamente, levantei as mãos e foquei naquele pedaço de madeira da mesma forma que antes. O formigamento cresceu, tomando todos os meus braços e se tornando algo prazeroso, mesmo que levantar sozinha aquele galho – a apenas 30 centímetros do chão – fosse algo exaustivo. Assim que Nathan saiu debaixo dele, deixei o galho cair e caí, tal qual, de joelhos.

– Seus poderes despertaram! – Angel estava extasiada, vindo em minha direção me ajudar a ficar de pé.

– Pelo visto... Ou foi um bom golpe de sorte. – Ofegava como se tivesse corrido uma maratona. – Desculpa, Nate.

– Não se preocupa. – Mesmo com dor e sem conseguir por o pé no chão, ele me deu uma piscadela e sorriu. – Todas as outras já fizeram disso para pior comigo quando os dons surgiram. Estou bem.

– Bem coisíssima nenhuma! – Aline puxou o pé dele e o rapaz gemeu. – Se apoia em mim, vamos agora em Honesh.

Seguimos rumo à Rebelião. Lá, Aline dispensou a mim, Jane e Angel, indo sozinha com Nathan visitar o médico curandeiro. Jane informou que ia visitar a neta do General Herquio enquanto Angel decidiu falar com o próprio e General Alberto.

Sozinha no meio da Rebelião, decidi caminhar a esmo. Encontrei uma barraca de frutas e lá, bem escondidas, tinha uma cestinha com poucas frutas roxas enrugadas que eu sabia que tinha um odor forte. Arcux. Pedi à mulher de olhos duros e feição impaciente que me desse as frutinhas. Iria a dar a Nate como um pedido de desculpas.

– E como você pretende pagar? Com esse rostinho sonso?

– Senhora Freito, tenha modos. É a protegida do nosso grande General Monteiro. – A voz de Alberto demonstrava todo o ranço que sentia pelo seu colega de patente. – Deixe por minha conta.

O homem barbudo de odor fétido se debruçou por sobre meu ombro e colocou duas moedas de prata na banca, pegando uma fruta de cheiro cítrico que lembrava uma laranja.

– Acrescente a Najalar. A menininha merece conhecer nossas iguarias. – O homem me acompanhou quando me virei com as frutas em uma caixinha feita de papel. – Enny, não é? Soube que conheceu Victor. A primeira opositora que viu a face dele de perto e sobreviveu. Ao menos neste século. Como ele é? Dizem que é ruivo e tem olhos vermelhos, verdade?

Empalideci ao perceber algo que era óbvio e me passou despercebido. Ninguém nunca reparou minha semelhança com Victor porque absolutamente ninguém vivo e não marcado o via. Por um momento senti alívio, afinal, isso evitava conjecturas errôneas sobre mim.

O homem ainda esperava minha resposta, parecendo analisar meu comportamento.

– Um metro e noventa, cabelo como o fogo, olhos verdes e solta raios vermelhos pelas pontas dos dedos quando está com raiva. – Fui sucinta. Puxei um cordão, retirando uma bolsinha de tecido de dentro da blusa e peguei 20 moedas de cobre. – Tome, não quis desfazer de sua gentileza na frente da comerciante. Mas não posso aceitar presentes.

– Aceita um conselho? – Seriamente concordei com ele. – Tenha cuidado com o Monteiro. Você me parece ser uma boa menina. Boas meninas sempre viram alvos de maus homens.

– Vejo que tem boas intenções, Alberto. Mas confio piamente nele. – A tensão entre nós era palpável. 

– A última que depositou tanta confiança nele não terminou nada bem. – O homem adquiriu uma postura debochada. – Não lhe tenho qualquer apreço, criança. Mas odiaria ver o seu fim igual ao da outra.

Na minha mente uma pergunta ganhava vez. Que outra? Contudo, sabia que se deixasse Alberto notar meu vacilar, estaria pondo a força tátil de Nathan na Rebelião em perigo. Assim, contive-me a inspirar profundamente, ofertar meu melhor sorriso e acenar com um movimento de cabeça.

– Obrigada pela preocupação. Mas não há qualquer fundamento. Passar bem. 

Então me dirigi novamente até a enfermaria, tentando controlar o sutil tremer de minhas mãos no trajeto. Entrei e encontrei, em um colchonete no chão, Nathan deitado com o pé que estava quase o triplo do tamanho normal. Aline pareceu insatisfeita ao notar minha aproximação. Tirei a najalar do  saco de papel, ajoelhei-me ao lado do rapaz e entreguei o pacote.

– Ainda vai demorar aqui. – Aline suspirou. – Nate teve uma luxação e vai passar umas duas noites na Rebelião. Honesh vai enfaixar e dar uns remédios para acelerar a cicatrização. Assim que terminar por aqui, nós vamos embora para casa. Não é bom ficar muita gente por aqui...

– Tranquilo, espero lá fora. Vim só deixar um pedido de desculpa pelo pé e por ter jogado fora o arcux na minha primeira semana aqui. Lembra? Abre. – Notei que ele ficou sem jeito, abrindo velozmente a embalagem tal qual uma criança desembrulha um presente de natal.

Nathan agradeceu, tomando minha mão e a beijando com a boca cheia daquela frutinha roxa de cheiro duvidoso. Pelo canto dos olhos, vi Aline nos encarar estupefata. Constrangi-me ao notar que ela captou o que estava realmente acontecendo e, gaguejando, avisei que estaria os esperando do lado de fora.

Alguns minutos depois, sentada nos degraus de pedra, me entretinha jogando a najalar para cima e tentando a fazer levitar. Foi um fracasso sobre sobre outro fracasso e estava começando a questionar se de fato tinha sido eu a realizar a proeza com o galho na campina.

Mas, ora, quem mais teria levitado um galho?

Talvez pelas minhas vestes, eu chamava muita atenção daquele povo. Aqui, mulheres usavam saias longas ou calças saruel com uma bata composta por cima. Nada parecido com a legging e blusão folgado que eu trajava. Quando com as garotas, os olhares críticos não me incomodavam tanto. Mas, sozinha como agora, me sentia perfurada por balas de julgamentos.

Foco, Enny.

Aquela voz de Aliat me trouxe de volta para onde eu precisava manter minha atenção. Joguei a fruta novamente e ela adquiriu um sutil brilho anil. Vi Jane se aproximar da enfermaria com uma menina de cabelo cacheado e uma senhora bem idosa. Estavam distantes, teria um tempo ainda para praticar.

Joguei a najalar mais uma vez. Só que, agora, ela não caiu, mas sim adquiriu um brilho rosa e se manteve no ar. Encarando firmemente fonte luminosa, pude constatar que uma sucessão de imagens se formava em seu interior.

Vi um livro negro. Mãos masculinas branquíssimas o tomaram e, ao abrir o ângulo daquela visão, notei que era dentro da biblioteca em um corretor muito específico. Então, enxerguei o corpo sem vida de Tracy no chão e Petrik esmagando o de Luna com suas próprias mãos. A imagem mudou para Thomas entregando, ajoelhado, o livro para Victor, que extraía dele o Coração de Rheyk. Por fim, vi a Rebelião queimar, gritos e choros, mortos e feridos...

– Enny! – Jane sacudiu meus ombros, trazendo-me para a realidade. – Não força seus dons sozinha, pode dar errado. Tá sentindo dor? Está chorando.

– Jane, temos que voltar. Eu tive outra visão. Victor vai achar o Colar agora. – Senti o ranho escorrer, misturando-se as minhas lágrimas que caiam aos montes. – As vidas das meninas estão em risco.

Os olhos azuis da garota se arregalaram e ela assentiu freneticamente.

– Tudo bem. Vou procurar Angel. Fala com Aline. Nos encontramos na entrada da Rebelião.

Concordei e Jane correu em direção ao Salão de Reuniões. Ao vê-la partir, meus olhos encontraram os da senhora senil que acompanhava à distância toda a movimentação de forma fixa. Ela parecia me culpar por toda a tragédia que vi na visão, como se soubesse que a condenação da Rebelião habitava na minha inércia, no medo que me paralisava, na minha dependência da ajuda daquelas meninas.

Se alguém vir a movimentação do grupo, vão suspeitar e serão seguidas. Você tem que ir só.

Inspirei profundamente, sabendo que havia um quê de verdade. E se fôssemos seguidas, seria uma chance a mais de minha visão com Petrik e Thomas se tornar realidade. Não iria deixar isso acontecer. Droga, Aliat, espero que você esteja disposta a liberar esses poderes caso seja necessário. Literalmente, estou me jogando em uma situação de possível morte aqui.

Um sutil sorriso tomou a face da senhora quando eu me afastei para ir embora sozinha da Rebelião. No trajeto, não me preocupei com os possíveis significados daquilo. Minha prioridade era chegar o mais rápido possível na Biblioteca. 

Assim que cheguei ao meu destino, constatei que Luna e Tracy estavam em sua busca sem qualquer sinal de perigo aparente. Suspirei aliviada e me permiti ofegar de cansaço da corrida que significativa que dei. Elas vieram preocupadas até mim, mas se acalmaram após ouvir minha explicação.

– Pelo visto minha visão estava errada, mas não vamos dar chance ao acaso. Vamos pegar esse livro e sair daqui.

Ouvi um grasnar e, olhando para o teto, captei um corvo nos encarando curioso. Seria o mesmo do dia com Nathan? Foco, Enny! Se algum servo de Victor estivesse por aqui, provavelmente estaria nos espionando para que eu revelasse qual era o livro e ele pudesse roubar. Teria que, de alguma forma, despistar.

– Você saber onde o livro está? – Luna puxou meu braço, exigindo minha minha atenção.

Mudamente assenti, tomando caminho pela escadaria até o segundo andar. Fechei a porta que dava acesso àquele setor de chave. Coloquei o dedo cruzando os lábios, pedindo silêncio as duas garotas. Pus minha cabeça para fora da janela quebrada, ninguém por perto aparentemente e apenas as árvores poderiam ver o plano que eu elaborei. Virei-me para as duas e sussurrei:

– O livro está no corredor de botânica no térreo. Vim pra cá para disfarçar. Luna, consegue levitar a mim e Tracy até a área externa? Depois eu te levito. Sim, meus dons estão despertando.

Mudamente, elas acataram a ideia. A primeira foi Tracy, que assumiu uma posição de combate assim que atingiu o chão. Eu fui logo em seguida e, enquanto Luna colocava as pernas para fora da janela, chamei a atenção de Tracy:

– Se eu falhar, pega ela com teu escudo. – A loirinha me olhou abismada. – Bom ter um plano B. A magia vem quando quer em mim.

Assim que a ruivinha estava em pé no parapeito, ergui minhas mãos e foquei no formigar em meus dedos, imaginando-o expandindo pelos meus membros, ganhando espaço e força em mim. Luna deu um passo para a queda com confiança. Os primeiros três metros, foi queda-livre, mas fazendo uma força colossal, eu consegui controlar a velocidade de sua descida a um nível que ela não se machucou sério. Ralando suas mãos e joelhos no chão.

– É cada humilhação que a gente passa nessa vida. – Luninha murmurou para si enquanto tentava tirar a terra molhada de seus machucados.

Invadimos por outra janela o térreo da biblioteca, nos esgueirando entre as estantes até nosso destino final. Mesmo sendo apenas uma única sessão, conseguia contar dez estantes de 6 prateleiras longas e repletas de exemplares diferentes. Desde que reprimi a queda de Luna, meu corpo estava exausto e, com a adrenalina reduzindo ao passar do tempo, conseguia resistir menos ao impulso de cair.

Até que finalmente, essa vontade me ganhou e me vi de joelhos, lutando com todas as minhas forças para não deitar naquele chão imundo. Tracy foi a primeira a perceber e veio, em silêncio, me acolher, tirando o casaco e o pondo no chão para que eu repousasse.

Minha visão estava estranha, como se estivesse tentando enxergar debaixo d'água. Procurava desesperadamente foco, migrando meu ponto focal de lugar constantemente. Só que, então, meus olhos vislumbraram um livro de capa preta de couro na prateleira mais baixa. Com o máximo de resiliência que havia em mim, girei sobre meu braço esquerdo e me arrastei até meu alvo.

Assim que meu dedo médio – onde estava o anel – tocou na lombada, senti como se um choque percorresse meu corpo. Encontrei! Em um pulso de excitação, pus-me de joelhos e o tomei em minhas mãos. As garotas assumiram lugar ao meu lado, olhando abismadas o livro de couro desbotado que tinha no círculo central uma frase na língua Rheykfordiana.

– "Pole rysle capon arb peli son capon galir sasson lasma".

– O que é isso? – Tracy me perguntou, confusa.

As poucas lições que tive com tia Lúcia nesse mês tomaram minha mente. Lembrei que "pole" era o artigo tanto masculino quanto feminino; "capon" indicava que a palavra depois era um verbo no tempo presente; "lasma" significava "alma"; "peli", por sua vez, era "o que". Aos poucos a frase tomou forma em minha frente e, em sussuro, a pronunciei.

– O amor é o que nos liga a nossa alma. 

Assim que pronunciei aquelas palavras, o círculo central do livro brilhou em um tom rosa tal qual a najalar em Rheyk. Olhei para o anel, sua pedra também ganhou a mesma cor. Segui meus instintos e inseri minha mão dentro daquele círculo. Gelo. Era frio tanto quando uma nevasca, mas, lá dentro, senti o cordão do colar e o puxei.

Assim que meu olhos repousaram sobre o pingente de ouro branco, um sorriso tomou vez na minha face e de minhas amigas. Conseguimos.

– Enny, coloque o colar. – Luna sussurrou e eu obedeci. – Olhe! A cor da pedra dele e do anel estão mudando.

E era verdade. Como se um fluido multicolorido se movimentassem dentro do que outrora fora uma ônix. O rosa tomou frente, com traços de azul e uma pitada de cinza. Com certeza teria um significado. Contudo, um barulho de porta sendo aberta me fez não pensar nisso. 

Eu, Tracy e Luna trocamos um olhar e, sorrateiramente, nos esgueiramos para fora daquele lugar. Antes de sair da Biblioteca, avistei a presença opressora e demoníaca de Petrik se vangloriando de quase tirar a vida de Aline e Nathan outrora neste mesmo lugar. Por uma diferença de poucas horas, minha visão não estaria correta. Uma gratidão me tomou o peito. Eu protegi meu grupo.

***

Nós três pegamos o portão para Rheyk. Assim que atravessamos, demos de cara com Angel, Jane e Aline. Não revelei que encontrei o Coração de Rheyk, queria falar uma única vez para o grupo, então envolvi o pingente em meu punho e me contive em apenas mostrar o livro onde, teoricamente, a joia estava escondida por agora.

Elas ralharam horrores comigo até voltamos para a Rebelião. Já era noite quando ultrapassamos a passagem secreta que dava no desfiladeiro. Fomos diretamente para uma casa pequena, mas bem estruturada, que era próxima do Salão de Armas. A casa que Nathan recebeu pela sua posição como General.

A porta de madeira rangeu, anunciando nossa chegada. Como eu disse, era um local pequeno, composto por um espaço que deveria ser a sala e duas extensões que eram um projeto mal elaborado de banheiro e o quarto dele. Tal qual seu quarto na casa de tia Lúcia, aquele lugar carecia de elementos que revelassem a personalidade do dono, quase como se o dono sempre estivesse pronto para abandonar seu abrigo sem deixar rastros para trás. 

Para não mentir, havia aqui uma coisa que destoava, uma cadeira da mesma madeira da bancada da cozinha de tia Lúcia. O objeto era tão bem trabalhado e detalhado na arte entalhada que só poderia ter sido feito sobre encomendo, ou melhor, pelas mãos habilidosas de Nathan.

Assim que os olhos do rapaz acamado repousaram em mim, seu semblante assumiu uma curva severa, mas aliviada. Escutei novamente  o barulho arrepiante da porta, avisando que estávamos isolados do resto de Rheyk.

– Reclamem dos meus métodos, mas não dos meus resultados. – Suavemente abri meu punho, revelando o pingente. Tirei o colar e o segurei pelo cordão, suspendendo-o à vista de todos. – Apresento a vocês o Coração de Rheyk.

Luna e Tracy trocaram um olhar cúmplice encarnado as outras três praticamente pulares de felicidade. Enquanto a celebração imperava no ambiente, recoloquei o colar e senti o formigar em minha mão se tornar em um satisfatório aquecimento que traçou caminho entre as duas joias, depositando-se por fim em uma região abaixo no meu esterno, no mesmo lugar onde eu tinha minha marca de nascença. Suspirei em êxtase, notando que tinha captado a atenção de todos.

– E ai? Vai sair chamas dos seus olhos? Ou consegue derrubar o castelo de Victor com um sopro? – A animação descabida de Luna trouxe risada ao recinto. 

Brincando, abri as mãos como se tentasse conjurar uma magia antiga, porém nada aconteceu. A decepção tomou a face da ruivinha e eu estalei a língua em uma triste constatação:

– Pelo visto, continuo a mesma Enny sem poderes de sempre.

– Não tão sem dom assim, senhorita Scott. Ela salvou nossa vida, gente! – Tracy brincou e desatou a contar toda a saga na Biblioteca, inclusive falando da presença de Petrik.

Passamos umas duas horas conversando até que o estômago de Angel roncando alto nos avisou que já tinha passado da hora de voltar para casa. Enquanto nos encaminhávamos para a porta, Jane fez rota inversa e se sentou na cama, ao lado de Nathan.

– Estava pensando aqui que não é bom Nate ficar sozinho. – Ela o encarava com um sorriso. – Enny, pode levar meu celular e avisar a mamãe que vou dormir na casa de tia Lúcia com ele?

O silêncio imperou de forma constrangedora. Engoli em seco, esperando alguma atitude do rapaz. Mas ele apenas me encarava, aparentemente nervoso. Em questões de segundos, fui tomada por uma conclusão.

Jane era sim inconveniente e forçava uma relação que nitidamente deixava o ex desconfortável. Porém, ela só ia até onde ele permitia. Só crescia frente à falta de limite imposta. Eu acreditava que Nathan não queria mais namorar Jane. Porém, tudo que ele me mostrou nesse último mês, é que não estava pronto para romper de fato os elos com a garota de olhos de oceano.

E, persistindo nessa história, quem sairia machucada era eu.

Então coloquei o maior sorriso de lábios cerrados que pude dar, estendi minha mão para ela e peguei o seu celular. A cara do rapaz ficou confusa, procurando meu olhar para tirar uma explicação. Busca essa em vão.

– Pode deixar. – Fingi me lembrar subitamente de algo. – Ah! Sobre a festa de Luna... Ouvi Angel falando que vai combinar a cor da gravata de David com o vestido dela. Vocês dois deviam fazer o mesmo, vão ficar ótimos. Um perfeito casal.

Girei sobre meus pés, tomando rumo para porta, portando uma postura mais ereta do que normalmente usava. Abri a porta para as meninas e dei passagem para elas. Angel me deu um olhar assustado de quem praticamente exigia que eu me explicasse por essa cena. A líder estava a par que até hoje mais cedo, eu contava ansiosa os 30 dias, então tudo aquilo tinha sido confuso para ela. Na minha vez de sair, escutei uma pergunta:

– Então você vai aceitar ir com Erick? – Jane tinha bastante excitação na voz.

Deixei escapar uma risada de escárnio e respondi apenas um adeus. Durante o trajeto de volta ao portão para a Terra, fiquei em silêncio, abraçando meu próprio corpo, controlando uma raiva não de alguém, mas de toda aquela situação que eu fui alertada a não me meter e, como a idiota que sou, insisti na droga do erro.

– Enny, te acompanho até em casa. – Angel usou sua voz de líder.

– Não. – As outras três garotas olharam espantadas. Ninguém desobedecia quando a líder instruía. Só que eu não estava com paciência para falar sobre meus sentimentos agora. – É desvio de rota. Preciso de um tempo só com as joias. Tenho que pensar no meu próximo passo para voltar para casa.

– Você sabe que a gente tá juntas nessa, não é? – Tracy captou a sutil tristeza que transpareceu em minha voz e atribuiu a causas erradas.

Mas, ainda assim, agradeci. Tomei de imediato meu caminho solitário. Chegando na casa de tia Lúcia, a primeira coisa que fiz foi mandar a mensagem para a mãe de Jane, me passando por ela. Deixei o celular da garota sobre  a cama de Nathan e, em um misto de ódio e tristeza, resolvi esfriar a cabeça no banho.

Com a mente a mil, decidi reiniciar a leitura de O Vale do Medo. As páginas de investigação que tanto me cativavam, agora me pareciam confusas e desconexas. Céus! Era para eu estar radiante pelo meu sucesso, mas cá estava, sofrendo por algo que nunca efetivamente existiu. Meu celular quase descarregado brilhou mais uma vez. Mensagem de Angel cobrando que lhe dissesse como estava me sentido sobre Jane e Nathan. Apenas respondi que não tinha o que opinar, eu era o elemento extra naquilo.

Logo abaixo, tinha uma outra notificação. Era uma mensagem de Erick. Ele me cobrava resposta pelo seu pedido para ir ao baile. A priori, decidi me desculpar, pois, de fato, o vinha ignorando em meio à busca pelo Coração de Rheyk.

Tudo em mim me dizia para não ir com ele porque simplesmente o via como amigo e, se não fosse a pressão de todos nossos amigos em comum, sabia que talvez ele estivesse satisfeito com só isso. Todavia, Carol, Jane e Tracy estavam decididas a criarem um casal e o garoto comprou essa ideia. Aceitar esse convite teria um peso diferente para ele.

Então, imediatamente me lembrei de Tayane. A maldita trocava de paquera mais do que eu trocava de roupa. Nunca a vi chorando por ninguém, mesmo quando via o menino ou a menina beijar outra na frente dela. Sua metodologia era a seguinte:

"Esqueço de um conhecendo outro e nada me abalará."

Bem... Por que não? Nathan já iria acompanhado... Ir sozinha só me faria sentir pior.

Desbloqueei a tela mais uma vez e, mordendo o lábio em nervosismo, escrevi  uma segunda mensagem, tentando soar o mais amigável e desinteressada possível. Quase que de imediato o rapaz me respondeu, como se tivesse já na conversa apenas me esperando falar.

– Tayane, se seu conselho der errado e eu voltar para a Terra Central um dia, te dou um murro. – Ameacei o nada.

***

(Enny tendo aquela maturidade adolescente que a gente ama *contém ironia* para movimentar a vida porque, aparentemente, uma guerra e um louco como Victor a perseguindo tá pouco)

Abaixo segue a prova da ideia estapafúrdia da pequena prota. Acham que ela tá usando o pobre de Erick para fazer ciúmes em Nathan? Ou teremos um casal surgindo por aqui?

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