────── 𝓔𝐩𝐢́𝐥𝐨𝐠𝐨
5 meses depois — 12 de novembro de 1820
música: story of my life (one direction)
Uma semana depois do aniversário de Karl, Madelaine estava radiante. Já se faziam dois meses desde que suas regras não apareciam e ela não conseguia comer absolutamente nada, mesmo agora, na viagem para o casamento da princesa Norabel, Madelaine precisou parar a carruagem três vezes devido a náuseas.
Quando Karl descobriu a gravidez dela no dia de seu aniversário, ficou eufórico. No dia seguinte, ele já estava reformando seu antigo quarto durante a infância, arrumando um lindo berço para o bebê e até mesmo um cavalinho de madeira ele colocou no quartinho. Enquanto isso, a rainha em pessoa enviou roupas que Karl usava durante a infância para preencher o quarto. Foi tudo muito rápido.
— Eu poderia ter ido ao casamento sozinho, Maddie — falou Karl, ajudando ela a se levantar pela terceira vez. — Você não me parece nada bem.
— Vou tomar um tônico que minha mãe me deu, ela disse que ajudava muito ela durante a gravidez — Madelaine respirou fundo. — Já estamos chegando, logo ficarei bem.
— Assim que terminar a cerimônia, vou achar um médico para lhe receitar remédios — Karl sorriu para a mãe de Madelaine, que estava logo ao lado. — A senhora também ficava assim?
— Sim — comentou Mary, com um sorriso triste que o príncipe não compreendeu. — Eu tinha muitas náuseas, às vezes tontura e me sentia fraca. Esperava que Madelaine não ficasse tão parecida comigo.
— De qualquer forma, já chegamos e quanto mais rápido irmos, mais cedo podemos voltar — falou Madelaine. — Vamos?
Assim, os três desceram da carruagem, todos muito bem vestidos e elegantes. Karl estava um pouco melancólico de ter que se despedir da irmã que ele mais estimava, mas a esposa havia intercedido a favor de Norabel e feito com que ele respeitasse a decisão da irmã, que estar realmente apaixonada pelo príncipe herdeiro dos Países Baixos.
A cerimônia fora muito delicada, assim como a princesa que usava um belo vestido de casamento e o príncipe, dois anos mais velho do que ela, era muito belo e parecia radiante com a esposa. Tudo estava enfeitado com as flores favoritas de Norabel e muito harmonioso.
Na festa de casamento, Karl tentou evitar cumprimentar a irmã e o príncipe, não queria se despedir dela. Ele também aparentava não gostar do garoto, assim como qualquer irmão mais velho muito protetor. Madelaine ficou se questionando como ele seria se tivessem uma filha. A pobre criança ficaria em apuros na puberdade.
— Eu e minha mãe já cumprimentamos Norabel — falou Madelaine, tirando o copo de bebida das mãos de Karl, que parecia entediado. — Eu sei que você a ama e é por amá-la que deve deixá-la ir encontrar a própria felicidade.
— Eu sei, mas... É mais difícil do que parece — Karl suspirou. — Por mim, ela se casaria depois dos trinta anos ou seria uma solteirona para sempre. Pena que ela não quis ir para um convento.
— Meu filho querido, você precisa aceitar que mesmo muito nova, é uma decisão que cabe a ela — comentou a rainha, que estava sentada próxima à mãe de Madelaine. — Se você não se despedir de sua irmã, como acha que ela vai conseguir partir em paz? Norabel também o ama muito.
Finalmente, Karl pareceu se convencer de que precisava parabenizar os recém-casados. Norabel poderia ter dezesseis anos ou mais, mas para ele, seria sempre sua irmãzinha.
— Tudo bem — ele suspirou e deu um sorriso. — Vocês estão certas. Vou deixar Madelaine aqui enquanto cumprimento o casal e me despeço de minha irmã, cuidem bem dela.
— Ela está em boas mãos — afirmou Mary. — Vá se despedir de sua irmã.
Karl se levantou e foi procurar pelos recém-casados, que pareciam entretidos em uma conversa com o príncipe Harald. Ficou pensativo ao analisar como o marido de sua irmã seria ou se a trataria bem. Caso ela se tornasse como seu pai, ele mesmo viajaria para os Países Baixos para matá-lo.
— Karl! — Norabel saiu correndo e se jogou nos braços dele como sempre fazia. — Eu o procurei por todos os cantos, como ousa me ignorar?
Karl retribuiu o abraço e a levantou como sempre fazia, sem se importar com o fato de agora ela ser uma mulher casada.
— Eu não sabia o que dizer. Estou feliz por você ter achado sua felicidade, mas não é fácil deixá-la ir — ele secou uma lágrima que escorria pelo rosto da irmã. — Eu vou sentir sua falta, espero convites para que possamos visitá-la.
— Me venha visitar todo ano, por favor — exigiu ela e ele riu. — Não estou brincando, é muito próximo de Londres, sempre que vocês forem para lá, podem me visitar.
— Espero que você faça o mesmo e me envie uma carta por mês — ele a abraçou novamente e se segurou para não chorar. — Eu te amo muito, irmãzinha e sempre vou protegê-la. Se precisar de mim, sempre estarei aqui.
— Temos um presente para vocês — comentou ela, com um sorriso. — Mandei entregar na sua casa uma cachorrinha semelhante ao seu cachorro. Ela se chama Pequena Madelaine.
— Madelaine vai me matar quando descobrir — comentou ele, rindo. — E também vai te matar.
— Que bom que já estarei bem longe daqui, então — ela sorriu para o irmão quando o marido se aproximou. — Eu amo você, irmão. Você sempre será minha pessoa favorita e quem eu mais admiro.
Karl colocou a mão no ombro dela para que não chorasse novamente e se virou para o marido de dezoito anos, que ainda nem tinha pêlos no rosto.
— Sempre que ela ficar melancólica, coloque a mão sobre o ombro dela e seja carinhoso — avisou Karl, estendendo a mão para cumprimentar o príncipe. — Espero que você cuide bem de minha irmã, Vossa Alteza Real. Eu estarei de olho em você e o matarei se fizer algo que magoe minha irmã.
O garoto pareceu apavorado dentro do enorme terno. Era apenas um pouco mais baixo do que Karl. O infante deu tapinhas no ombro dele, para tranquilizá-lo.
— Fique tranquilo — ele se obrigou a sorrir. — Você agora é da família e eu não o odeio mais.
— Mais? — o marido de Norabel pareceu assustado. — Você me odiava antes?
— Um pouco — interveio Norabel, colocando a mão no braço do esposo. — Agora, se me der licença irmão, preciso procurar nosso outro irmão mais velho que ainda não veio se despedir também.
— Tudo bem — Karl deu tapinhas nas costas do príncipe, que parecia apavorado em sua presença. — Façam uma boa viagem, em seis meses vamos visitá-los. Espero que você cuide bem da minha irmã.
— E-eu vou — gaguejou o príncipe enquanto Norabel o arrastava pelo salão.
Sorrindo, Karl suspirou e se sentiu orgulhoso pela maturidade em que lidou com a situação. Sentiria muita falta da irmã, mas sua esposa estava certa quando disse que ele precisava respeitar as escolhas de Norabel.
Ao chegar até a mesa em que estavam sentados, Karl olhou ao redor, pois nenhuma das damas estava presente. Quando olhou para o assento em que Madelaine estava sentada antes, congelou.
Não, pensou ele. Por favor, meu Deus, não.
Seguindo o rastro de sangue, o príncipe saiu correndo pelos corredores do castelo desesperadamente, com o coração saindo pela boca. Quando finalmente ouviu gritos, ele soube que Madelaine estava no quarto da rainha e entrou sem pensar duas vezes.
— Karl — a mãe dele o chamou, colocando a mão sobre seu braço. — O médico está examinando Madelaine.
Karl imediatamente se ajoelhou ao lado da esposa, que estava deitada na cama com a mãe acariciando seu cabelo. Madelaine chorava muito e aquilo partiu seu coração.
— Maddie — sussurrou ele, segurando sua mão e acariciando seu rosto. — Eu estou aqui.
— Tem algo de errado — respondeu ela, assim que o médico parou de examiná-la. — Doutor, o que está acontecendo? — a cara do médico não era das melhores. — Como está o meu bebê?
— Princesa Madelaine Bernadotte — ele fez uma reverência longa. — Eu sinto muito, mas a senhora sofreu um aborto. O sangue foi parado e agora eu recomendo repouso absoluto. Virei visitá-la até que esteja bem.
Karl sentiu a dor da perda crescer em seu peito, mas soube ao ver o rosto da esposa, que era mil vezes pior para ela. Não conseguiu mensurar seu sofrimento ou o que quer que ela estivesse sentindo, portanto, apenas a abraçou e sussurrou que a amava e estava ali por ela e a deixou desabar sobre seu ombro e gritar até que dormisse.
Tudo o que ele queria era poder tirar aquela dor dela e transferir para ele, não podia suportar vê-la sofrer assim.
1 ano depois — 18 de novembro de 1821
música: young and beautiful (lana del rey)
Após mais dois abortos doloridos, Madelaine começou a perder as esperanças. A cada perda, ela sentia um vazio inexplicável crescer em seu peito. O mês de julho fora especialmente difícil para ela, pois havia acabado de ter seu terceiro aborto e seu cachorrinho, Pequeno Karl, faleceu misteriosamente, deixando sua companheira, Pequena Madelaine, prenha. Aquilo tornou ainda mais insuportável a culpa que consumia a princesa, que não frequentava mais bailes ou lugares como a corte real, pois não aguentava mais ver crianças correndo e sabendo que seu corpo era incapaz de gerar uma.
Karl ainda estava esperançoso, mesmo que não demonstrasse, após Mary contar a ele que tivera abortos e momentos difíceis antes de ter Madelaine e Louis, e a própria rainha confessar que sofrera um aborto uma vez, ele parecia tentar se convencer de que era algo natural. Diferente da esposa, ele era bom em encerar desafios e superar. Às vezes, ela invejava a força do marido.
Madelaine estava começando a se afundar em sofrimento, quando Karl trouxe uma solução para seus problemas que ela achou loucura de início, mas que finalmente fez seu coração bater e voltar ao normal. Uma forma de superar sua dor e seguir em frente.
— Você sempre disse que ama animais — comentou ele, que segurava vários livros estranhos. — Entrei em contato com uma escola de medicina veterinária na França e contratei secretamente quatro tutores, que vão manter total e absoluto sigilo.
— Karl, o que você está dizendo? — ela o encarou. — Você ficou louco por acaso?
— Não, amor. Nós moramos longe de tudo e todos e temos muitos animais em nosso ducado que estão adoecendo constantemente — ele deu de ombros. — Pensei em unir o útil ao agradável. Suas aulas começam em uma semana.
— Acho que você se esqueceu do óbvio — ela respirou fundo, fazia tempo que não se irritava com ele. — Eu sou mulher e princesa, como as pessoas vão reagir a isso? E se alguém descobrir?
— Você não ouviu a parte do sigilo? Eu comprei o silêncio dos quatro, além disso, você é uma princesa, que tipo de louco a difamaria sabendo que pode ser decapitado por isso? — ele sorriu e entregou os livros para ela. — Nós moramos longe daqueles que vivem em nosso ducado e de nossas famílias. Ninguém vai descobrir.
— Você fez isso sem me perguntar se eu queria! — ela ergueu um livro para ele, que se afastou correndo em direção a porta e saiu. — É melhor fugir mesmo.
Madelaine suspirou, amaldiçoando Karl em quatro línguas diferentes e pensando no que faria para dispensar os tutores e resolver o mal-entendido causado pelo marido. Talvez se ela fingisse estar indisposta quando eles chegassem e depois mandá-los embora, conseguiria contornar a situação.
Foi quando ela decidiu abrir um dos livros. Não entendeu muito das palavras técnicas que estavam escritas, mas começou a ler uma página que dizia algo sobre um vírus do gênero Lyssavirus, chamando Raiva. Mal entendia o que significava, mas sentiu uma animação e felicidade que em muito tempo não sentia mais. Queria entender sobre os animais, se entendesse antes, talvez pudesse ter salvo seu cachorro.
Duas semanas depois, tudo parecia perfeitamente em ordem novamente. Suas aulas estavam fluindo maravilhosamente bem e ela não podia estar mais feliz, as coisas pareciam estarem entrando nos eixos, e a dor que a consumia estava sendo suprimida. Ela ainda não conseguia visitar o castelo e ver os irmãos mais novos de Karl, mas estava quase se sentindo preparada para isso.
No entanto, percebeu que suas regras estavam atrasadas, desde final de setembro elas não desciam mais. Já era início de dezembro e nada. Soube imediatamente que estava grávida, no entanto, não se sentia enjoada dessa vez ou até mesmo tonta, o que era muito estranho, pois ela sempre passava mal e às vezes não conseguia nem mesmo olhar para Karl.
— Querida, o que foi? — perguntou Karl, ajudando ela a pegar seus livros. — Você vai se atrasar para a aula e eu tenho uma reunião com alguns barões e condes insatisfeitos hoje.
— Você se lembra do meu aniversário, dia 15 de outubro, quando eu disse que não seria bom dormirmos juntos, pois é nesses dias que a mulher fica mais propensa a engravidar? Você me seduziu com seu sorriso — ela cruzou os braços e arqueou a sobrancelha. — E me disse que era impossível eu engravidar, pois ainda era muito recente.
— Não pode ser — ele deu de ombros enquanto folheava um dos livros de Madelaine. — Você sempre fica muito enjoada e tonta, fica de cama vários dias. Pode ser alguma outra coisa.
— Eu tenho certeza, mas dessa vez está diferente de alguma forma — comentou ela, botando os livros em ordem. — Espero que você vá visitar uma das Igrejas que sempre visita, pois vamos precisar de muita esperança.
Sete meses depois — 23 de junho de 1822
música: sign of the times (harry styles)
Madelaine estava radiante, havia ido muito bem em todos os testes feitos por seus tutores e nem sequer conseguia se abaixar mais, pois a barriga estava enorme. Em três semanas ou talvez um mês, ela finalmente teria o bebê. Já estava tudo pronto, desde as roupinhas ao quartinho montado por Karl. No entanto, apenas uma coisa estava faltando.
— Queria que mamãe estivesse aqui — comentou ela, olhando para a roupinha que a mãe fizera. Era uma roupinha rosa, segundo sua mãe, devido ao formato da barriga dela, certamente era uma menina. — Tomara que ela fique bem a tempo e consiga sair do repouso em que está.
— Nossa mãe é forte, em breve vai se recuperar dessa gripe e certamente estará aqui a tempo para vê-la dar à luz — comentou Louis, a surpreendendo com uma artimanha no xadrez. — Xeque-mate, irmãzinha.
— Obrigado por estar aqui — falou Karl, que lia alguma coisa nas mãos. — Preciso ir ao castelo, minha mãe falou que a situação de meu irmão piorou — ele viu Madelaine querer se levantar. — Nem pense em ir comigo, você vai ficar com Louis.
Há seis meses, Karl havia perdido o pai e isso o afetou mais do que Madelaine pensou ser possível, pois no leito de morte do antigo rei, ele implorou pelo perdão do filho que não concedeu. Logo, isso começou a assombrá-lo. Para piorar, o novo rei, seu irmão mais velho, Henry August Bernadotte, estava terrivelmente doente e não possuía herdeiros. O coitado sempre tivera doenças respiratórias, mas agora, parecia estar em agonia e com muita dificuldade de respirar. Além disso, o segundo irmão, Harald August, não parava de beber após a possibilidade de ser o novo rei.
— Tudo bem — concordou Madelaine, enquanto o marido beijava sua bochecha. — Qualquer coisa, me envie um bilhete. Estou preocupada com o rei também.
— Louis, qualquer coisa me avise imediatamente — Karl colocou a mão no ombro do cunhado. — Cuide dela.
— Pode deixar — Louis sorriu. — Vou incomodá-la bastante.
Depois que Karl saiu, Madelaine aproveitou o tempo com o irmão, que era difícil de ver por ser um duque e ter muitas responsabilidades e ela não fazia ideia de como ele havia ganhado tempo para visitá-la, mas estava muito grata por isso. Todos os dias sentia saudade dele e de sua mãe, Louis especialmente raramente mandava cartas ou respondia às dela.
— Você poderia ter respondido minhas cartas, Louis — ela o repreendeu enquanto eles tomavam o café da tarde. — Eu sinto muitas saudades de você, especialmente agora que estou enorme. Karl está sendo tão atencioso, mas...
— Sente falta de que eu a incomode como sempre fazia? Pois posso fazer isso agora. Você está deplorável, irmã. Deve ser a grávida mais feia e inchada que já vi — ele brincou, a fazendo rir. — E a mais sensível também.
— Eu sei que você está sempre muito ocupado, mas poderia me mandar uma carta uma vez ao mês — ela segurou a mão dele. — Assim que eu melhorar, prometo que vou visitá-lo com Karl e o bebê.
— Falando no pequeno, tomara que não se pareça com você ou Karl estará em apuros — ele sorriu e ela chutou sua canela. — Uma Madelaine já é ruim, imagine duas.
Madelaine gargalhou e tentou se levantar, mas o peso da barriga a atrapalhou. Quando finalmente conseguiu com a ajuda do irmão, sentiu um líquido escorrer no meio de suas pernas, apavorando o irmão e principalmente ela que sabia o que significava.
— Por favor, me diga que você se mijou — Louis estava muito assustado. — É apenas urina, é apenas urina...
— Ai! — ela levou a mão às costas e se segurou em Louis. — Louis, pelo amor de Deus, chame o médico. Tem algo de errado.
O irmão chamou a criada mais próxima e mandou ela ir atrás do médico. Enquanto isso, ele pegou Madelaine nos braços e subiu correndo as escadas para colocá-la na cama. Arrumou o travesseiro confortavelmente e a tapou enquanto ela dava mais um grunhido. Não sabia o que fazer.
— Louis! — ela se contorceu novamente e ele segurou em sua mão. — Mande o mordomo mandar um bilhete para Karl. Não faz mais de uma hora que ele saiu, Karl não deve estar longe.
— Mordomo! — Louis gritou e saiu no corredor. Achou o homem carregando um chá nas escadas. — Preciso que você envie um bilhete para o príncipe, acho que Madelaine está em trabalho de parto.
— Leve o chá para ela, Vossa Graça — o mordomo entregou a bandeja nas mãos do duque. — Minha esposa sempre tomava esse chá para ajudar com as dores do parto. Vou mandar um bilhete para o mensageiro entregar ao príncipe imediatamente.
Louis agradeceu e saiu correndo. Viu que a irmã já estava de pé, caminhando pelo quarto e sentindo muita dor. Entregou o chá a ela, e com a ajuda da criada, ajudou Maddie a tirar o vestido pesado e ficar apenas com o robe de dormir. Foi quando ele percebeu que sangue começou a escorrer pela perna da irmã.
— Desculpe a demora, Vossa Alteza e Vossa Graça, vim o mais rápido que pude — o médico fez uma reverência. — Senhora, deixe-me examiná-la.
Madelaine se deitou e o médico começou a mexer em sua barriga, fazendo uma expressão confusa. Ele mexeu novamente e se assustou quando ela grunhiu.
— Sem dúvidas, a senhora está em trabalho de parto — ele olhou para Louis. — Mas o bebê não está pronto ainda, é muito arriscado que nasça antes da hora.
— Por favor, faça qualquer coisa! — Madelaine implorou.
— Eu vou tentar, mas... — o médico engoliu em seco, levantando o vestido dela e a examinando. — O bebê não está na posição correta. Vou precisar mexer na sua barriga para ver se consigo ajudá-lo.
— Meu Deus — ela segurou a mão do irmão. — Isso é um pesadelo.
— Vai dar certo — Louis sentiu a mão ser apertada novamente. — Eu também não estava na posição correta quando nasci e estou aqui.
— Nossa mãe quase morreu — acrescentou Madelaine, grunhindo novamente enquanto o médico mexia em sua barriga. — Doutor, a dor está ficando mais insuportável.
— Receio que o parto não vai demorar muito pelo ritmo de seus gritos — ele se levantou e subiu na cama, mexendo na barriga dela. — Não temos muito tempo.
Louis ficou observando, não sabia ao certo o que fazer. Ajudou o doutor em tudo que ele pediu, providenciou ajuda das criadas, bacias e toda água quente que conseguiu, segurou a mão da irmã e tentou confortá-la enquanto ela gritava e chorava, dizendo estar com medo que algo pudesse acontecer. Enquanto isso, o duque corria para a janela a cada quinze minutos esperando o príncipe aparecer.
Mas Karl não apareceu e Louis precisou ser o mais forte possível pela irmã, se ajoelhando ao lado dela e tentando distraí-la enquanto o médico parecia cada vez mais desesperado.
— Está quase na hora — avisou o doutor enquanto Madelaine gritava sem parar e se movia com a ajuda da criada. — Vossa Graça, se importaria de falar comigo a sós?
Louis saiu do cômodo, indo até o corredor mais próximo com o médico, que decidiu lhe explicar todos os riscos que a irmã sofria.
— Não conheço bebês que nasceram aos oito meses e sobreviveram. Às vezes é melhor que nasçam aos sete meses do que oito — explicou ele calmamente, enquanto os gritos de Madelaine pioraram e ela parecia estar batendo em alguma coisa. — O risco é muito grande também para sua irmã. Se tudo der errado, o senhor terá que escolher entre o bebê ou ela, mas saiba que a criança poderá não viver muito tempo. Qual é sua escolha?
— Eu não sei — ele começou a se sentir atordoado, com vontade de chorar. — Como posso escolher algo assim? O que o príncipe faria no meu lugar? Devo escolher minha irmã?
— LOUIS! — Madelaine apareceu na porta, se mantendo em pé com a ajuda da criada. — Como pode pensar nisso? — ela urrou novamente. — Karl nunca pensaria em algo assim, pois ele sabe que quem tem que decidir algo sou eu e minha escolha sempre será o bebê.
— Eu sinto muito, Anne. Me desculpe, eu não sei o que fazer.
Quando ela se contorceu, ele o médico a seguraram e a colocaram na cama, enquanto a criada colocava a bacia perto do médico e Madelaine gritava mais ainda e, ao mesmo tempo, chorava também.
— Louis, se aproxime — ela urrou novamente e apertou a mão dele com mais força. — Se algo acontecer, existe uma carta no meu escritório para cada um de vocês.
— Não fale assim — ele se ajoelhou, olhando para ela. — Não posso perder você, irmã, nem mamãe ou seu marido. Você não deveria ter escrito essa maldita carta.
— Eu imaginei que isso poderia acontecer depois de três abortos que tive. Meu corpo parece incapaz de ter uma gestação saudável — ela apertou a mão dele novamente. — Assim como foi com mamãe. Meu corpo é inútil.
Antes que Louis pudesse retrucar, o médico avisou que ela precisava começar a empurrar. Finalmente o bebê estava na posição correta, ou quase pelo menos.
— Empurre! — gritou ele. — Vossa Alteza, empurre!
Madelaine esmagou a mão do irmão, mas com o grito mais alto que conseguiu, começou a empurrar. Fez de tudo para continuar a empurrar, mesmo sentindo seu corpo começar a falhar e a vontade imensa de fechar os olhos. Se fosse morrer, queria ao menos ver seu bebê antes.
— Vamos Maddie, só mais um pouco — falou Louis. — Você consegue.
Com um último esforço, Madelaine ouviu o choro do bebê. Observou enquanto o médico limpava a criança na bacia para entregar a ela. Quando ele veio até ela, ouviu ele e o irmão sussurrar alguma coisa, mas não ouviu nada. O corpo dela não respondia mais. Sua última lembrança foi o mais lindo choro que ela já ouviu.
música: say something (a great big world)
Quando a irmã desmaiou, Louis ficou sem saber o que fazer. O médico deu a bebê para o duque segurar enquanto Madelaine parecia não responder mais. Ele verificou se o sangramento dela havia parado ou seu pulso.
— Os batimentos dela estão bons e o sangue já está diminuindo. Ela ficará bem, apenas desmaiou de dor — comentou o doutor. — Como está a bebê?
— Ela parou de chorar — Louis mexeu nela. — Está muito quieta — ele colocou o dedo sobre o nariz da bebê. — Por que ela está ficando tão estranha?
O médico imediatamente a colocou na cama. Pegou a pequena menina e a examinou cuidadosamente, quando ela parou de respirar, ele fez massagem cardíaca em seu coração e tentou reanimá-la por dez ou quinze minutos, sem sucesso. Louis se atirou no chão, exausto mentalmente. Não conseguia raciocinar ou pensar.
— Eu sinto muito — murmurou o médico, com a bebê nos braços. — Vou deixá-la enrolada. Onde posso colocá-la?
— O pai dela, logo vai chegar — comentou Louis. — Vou segurá-la enquanto isso, para que não fique fria.
— Vou lhes deixar a sós, enquanto organizo alguns remédios para a princesa — ele fez uma reverência. — Que Deus reconforte o coração de todos vocês. É uma linda menina.
Louis pegou a sobrinha morta nos braços e ficou olhando para ela enquanto o cunhado não chegava e a irmã não acordava. Percebeu que ela tinha o cabelo castanho da mãe, bem como os lábios e possivelmente o formato do rosto. No máximo, o nariz era do pai.
Gostaria que ela tivesse um nome, para que ele não pensasse nela, sempre acompanhada da palavra "morta". Bem, ela havia falecido, não? Meu Deus, como ele contaria para a irmã ou para o cunhado sobre isso? Se sentiu tão inútil e culpado.
Começou a chorar e assim ficou por um bom tempo, desejando que aquele dia nunca tivesse acontecido ou que fosse um pesadelo. Ficou pelo menos uma hora com a pequena nos braços, fazendo o possível para que ela não ficasse fria quando ouviu a porta bater e passos rápidos na escada. Soube que o príncipe havia chegado.
Karl entrou no recinto, sem saber se ia na direção de Madelaine ou da filha. Olhou para o duque, em busca de orientação e com lágrimas nos olhos.
— Louis, o que aconteceu? — ele passou a mão no cabelo e começou a chorar. — Por que elas estão tão quietas e você todo sujo de sangue?
— Madelaine está bem — contou ele. — Apenas desmaiou de cansaço. Sua filha...
— É uma menina? — o príncipe se aproximou, querendo segurá-la. — Me deixe vê-la, eu quero conhecê-la.
— Ela faleceu. Se parece muito com Madelaine — contou o duque calmamente, a colocando nos braços do príncipe. Sentiu raiva do cunhado por um momento por ter deixado a irmã desamparada. — Por que você demorou tanto, Karl? Madelaine passou o parto todo gritando por você, desesperada.
Karl chorou mais ainda, quase se afogando em lágrimas. O rosto dele já estava muito inchado, aparentando que o príncipe havia chorado muito antes. Foi quando Louis percebeu que o irmão do cunhado havia morrido e colocou a mão sobre o ombro dele. Abraçou ele por alguns instantes, não sabia mais o que fazer.
— Eu sinto muito — murmurou ele, quando o cunhado caiu no chão soluçando. Percebeu que a irmã estava se mexendo, provavelmente acordando. — Madelaine está acordando, vou deixá-los a sós.
Quando Madelaine viu o marido com seu bebê nos braços, ela soube no mesmo instante que a criança havia morrido. Começou a chorar. Quando descobriu que era uma menina, chorou mais ainda. A dor que sentira fora tão forte e dilacerante que nem mesmo gritar parecia o suficiente para externá-la. Cada parte de seu ser sentia a perda. Não havia nada na vida pior do que perder um filho, uma parte sua, ainda mais uma bebê tão inocente, que ela sequer teve a chance de segurar enquanto viva.
Ficou imaginando as coisas que poderia ter feito com sua filhinha. Queria ensiná-la a costurar como a mãe a ensinou, a tocar piano, ser sua melhor amiga e a pessoa que ela poderia confidenciar tudo. Sonhou tanto com a gravidez, com o bebê em seus braços. Ter isso tirado assim, não era justo e Madelaine não conseguia compreender o que podia ter feito de errado para merecer isso. Desejou que tivesse morrido no lugar da filha ou junto a ela.
— Onde você estava? — ela perguntou, com raiva nos olhos após não ter mais lágrimas para largar, seus olhos estavam secos e ela sequer conseguia respirar pelo nariz. Agarrou Karl pela gola enquanto a bebê estava no outro braço. — Por que você demorou tanto, Karl? Eu precisei de você. Nossa filha precisou de você.
— Eu sinto muito, Maddie. Não consigo pedir perdão, pois eu também não me perdoaria — Karl segurou sua mão, com muita dor nos olhos azuis. — Meu irmão morreu. Eu estava com minha mãe, que desmaiou. Assim que a levei para o médico, vim correndo o mais rápido que pude.
— Meu Deus — ela colocou a mão no rosto dele. — Por que você não me falou antes?
— Porque é minha culpa o que aconteceu — ele olhou para a bebê, que já estava ficando gelada. — Nós sequer demos um nome para ela. Não conseguimos chegar a um acordo.
Madelaine se sentiu péssima. Seu coração estava partido. Algo nela pareceu morrer naquele dia, que talvez ela nunca mais recuperasse.
— Seu irmão, após ser coroado, decorou todo o jardim com flores. Você me disse que eram as flores favoritas dele — Madelaine passou a mão na cabeça da bebê, que tinha o mesmo cabelo dela. — Qual era o nome da flor?
— Liljekonvall — respondeu ele, em norueguês. — Lírio-do-vale.
— Lily. Esse é o nome dela — Madelaine passou a mão no rosto da bebê, que tinha traços semelhantes aos dela. — Significa lírios.
— É um lindo nome — Karl comentou, com lágrimas nos olhos. — Obrigada por homenageá-lo.
— Eu vou torcer todos os dias que ela descanse em paz — as lágrimas de Madelaine voltaram. — E que seu irmão cuide de nossa Lily do outro lado.
— Ele vai, Maddie. Eu sei que vai.
Com o coração despedaçado, Madelaine não sabia como iria ser capaz de curar uma dor como aquela ou como uma mãe era capaz de viver sem um filho. Não fazia ideia se como sua mãe havia superado algo assim e sido tão forte. Ela não achava que algum dia seria capaz.
Decidiu naquele dia que desistiria de ter filhos. Seu corpo havia provado ser incapaz de ter uma gestação saudável e ela não podia mais suportar aquela dor novamente, mal estava suportando agora. Madelaine nunca mais engravidaria e o marido concordou com sua escolha.
11 meses depois — 25 de maio de 1823
música: running up that hill (kate bush)
Durante três meses, Karl e Madelaine se afastaram. Ele se culpava muito e ela estava sofrendo demais. Finalmente, ela tomou a iniciativa e eles dormiram juntos depois de muito tempo. Não soube de onde reunira forças, mas nunca havia visto o marido tão mal. Perder duas pessoas importantes no mesmo dia havia acabado com ele e ela decidiu que seria forte pelos dois. Assim, Madelaine se obrigou a comer e o obrigou a comer, voltou a estudar e o obrigou a trabalhar. Aos poucos, eles voltaram a sorrir, mas todo dia 23 choravam. A pior parte foi o quartinho, nenhum deles conseguiu se desfazer de nada, portanto, trancaram a porta e pediram para a criada esconder a chave.
Depois de cinco meses, Madelaine voltou a sangrar e eles começaram a interromper todas às vezes que dormiam juntos.
Dez meses depois, em abril, resolveram viajar por um mês para os Países Baixos, apenas para recuperarem as forças e visitarem Norabel. Entretanto, o casal acabou exagerando no vinho. Quando Madelaine percebeu, nem ela ou Karl se lembravam da noite passada, mas ambos estavam sem roupas, o que significava que dormiram juntos e provavelmente nenhum dos dois estava sóbrio o suficiente para parar o ato como sempre faziam.
Assim, ela ficou desesperada, torcendo todos os dias e às vezes até rezando para que não engravidasse. O médico disse que seria muito difícil, devido ao histórico dela, o que lhe deu esperança.
Aguardou quase todo o mês de maio pelas regras. Com mais de vinte dias de atraso, começou a chorar.
— Karl, eu não sei o que fazer — falou ela, com lágrimas nos olhos. — Não posso nunca mais sentir aquela dor novamente, nem você. O que faremos?
— Talvez suas regras não tenham se regulado normalmente — continuou ele. — O seu enjoo pode ser disso.
— Você sabe o que acontece toda gravidez que eu sinto enjoo — continuou ela. — O médico comentou também que meu corpo não aguentaria mais, que se eu quisesse engravidar novamente, teria que ser daqui a dois anos.
— Podemos arranjar um chá abortivo — sugeriu Karl, mas nem ele gostou da ideia. — Eu posso procurar um, se é o que você deseja.
— Procure um chá de alcaçuz, prímula, salsinha, borragem ou café — avisou ela. — Vá e não conte para ninguém.
No momento em que Karl retornou com o chá nas mãos, ele parecia mais apreensivo do que ela. Estavam em seu quarto, sozinhos e pareciam mais dois adolescentes do que dois adultos.
— Você não acha que vai passar pela dor novamente de certa forma se fizer isso? — perguntou ele, quando Madelaine segurou o chá. — Eu estou me sentindo culpado.
— Eu não sei, Karl — ela suspirou, levando o chá à boca, mas hesitando antes de tomá-lo. — Você consegue passar por aquela dor novamente? Eu não sei se consigo.
Quando Madelaine tomou o primeiro gole, ele tirou o chá de sua mão delicadamente.
— E se dessa vez for diferente? — perguntou ele. — Você está parecendo triste novamente, não acho que vai conseguir lidar com a culpa.
O pior era que o príncipe estava certo, a conhecia mais do que ninguém. O sonho dos dois era ter uma grande família, se casaram desejando isso. Como poderiam fazer algo assim?
— Se voltássemos para o dia de nosso casamento — Madelaine respirou fundo, com lágrimas nos olhos. — O que você acha que a minha antiga versão e a sua nos falariam?
— Para sermos fortes como eles eram — ele entrelaçou sua mão na da esposa e olhou para os olhos de esmeralda que tanto amava. Nada seria capaz de diminuir o amor que sentia por Madelaine. — E para não darmos continuidade a isso. Acho que nossas versões do passado nunca concordariam com algo assim.
— Eu vou tomar uma decisão — comentou ela, pegando o chá na mão. — Preciso achar em algum lugar dentro de mim, a Madelaine destemida pela qual você se apaixonou e me resolver com ela.
— Tudo bem. Eu vou te apoiar seja qual for sua decisão — ele beijou a mão da esposa. — Eu amo você, Maddie. Você sempre será a poesia mais linda que eu já vi.
8 meses depois — 2 de março de 1824
Madelaine e Karl estavam dentro da carruagem em Paris, quando ela sentiu a dor nas costas piorar. Fez o possível para disfarçar a dor, pois Georgina não estava nada bem depois da terrível perda que tivera. Além disso, o médico que viajava com eles havia acabado de ter um infarto. No meio do caminho, Karl enviou uma carta, dinheiro e uma carruagem para levar o corpo do doutor e imediatamente achou um vilarejo que ficava a duas horas de viagem, um dos poucos que tinha um médico. Ficariam lá por um tempo e não poderiam deixar a amiga sozinha.
Obviamente, eles não sabiam se seria uma boa ideia viajar até a França quando Madelaine estava grávida de oito meses, mas não podiam deixar de prestar condolências para a amiga que eles mais estimavam. De qualquer forma, nenhuma das gravidezes de Madelaine fora pacífica. Nessa, ela tentava fingir que estava tudo bem e que estava feliz, mas, no fundo ainda sentia muito medo, mesmo que já estivesse com nove meses.
— Madelaine, está tudo? — perguntou Georgina após uma hora. — Por que você está fazendo tantas caretas? — ela se olhou no espelho inocentemente. — Tem algo em meu rosto?
Karl que estava quase cochilando, olhou para a esposa e não compreendeu também.
— Querida, o que foi? — indagou ele. — Está com vontade de urinar novamente?
Madelaine apenas negou com a cabeça, a dor estava piorando tanto que ela não conseguia mais falar, temia que fosse gritar. Na verdade, a primeira cólica começara de manhã, mas em meio a descoberta que fizera, ela apenas ignorou o indício de que seu bebê estava vindo. A princesa botou a mão na barriga e desejou mentalmente que a criança conseguisse esperar até chegarem no vilarejo.
— Você está com sede? — perguntou Georgina oferecendo água a ela. — É isso?
— Uhum — foi tudo o que ela conseguiu dizer antes de se contorcer no banco e assustar os dois. — Acho que temos um pequeno problema — Karl arqueou a sobrancelha, desesperado. — Talvez enorme?
— Quanto tempo você acredita que o bebê consegue aguentar? — perguntou Georgina. — De quanto em quanto tempo está a dor?
— Começou hoje pela manhã, pensei que fosse cólica. Tenho bastante — falou Madelaine, urrando. — Mas piorou quando entramos na carruagem. Quando decidi falar com o médico, ele morreu e....
— Maddie, quanto tempo temos? — perguntou Karl, aflito. — Me diga que aguenta uma hora e meia.
— Não mais que meia hora, tenho certeza disso.
— Pare a carruagem! — gritou Georgina para o cocheiro, que prontamente obedeceu. — Karl, busque a criada de Madelaine, que está na outra carruagem, consiga um balde, uma tesoura, toalhas limpas e reúna toda a água que temos.
Karl saiu correndo e em menos de cinco minutos já estava com tudo. Por sorte, a carruagem dele era enorme. Madelaine ficou no chão, escorada em um travesseiro, enquanto Karl estava no banco com as pernas para cima e segurando a mão dela. A criada ficou na porta, segurando uma bacia de água e panos limpos.
— Você já fez algum parto? — perguntou Karl para Georgina, que parecia a única capaz de saber o que fazer. Ela negou com a cabeça. — Que Deus nos proteja.
— Meu tio é médico do rei da França. Eu ajudei ele em vários partos e observei tudo o que ele fazia. Ele sempre me explicou também — ela levantou o vestido de Madelaine, apavorada. — Acho que está quase na hora de empurrar, Madelaine.
— Ele está encaixado? — perguntou Madelaine, sem acreditar. — Georgina, não ouse mentir para mim.
— Sim, tenho certeza de que ele está. Mas você precisa começar a empurrar agora.
Madelaine gritou e fez toda a força que conseguiu. Karl e Georgina continuaram incentivando ela a empurrar e ela apertou a mão dele com força quando empurrou novamente. Reunindo toda a força que conseguiu, ela empurrou pela última vez. Não ouviu choro algum, apenas a cara de Georgina apavorada.
— O que houve? — perguntou ela, quando a criada começou a limpar o sangue e pressionar. — Georgina!
A garota não respondeu, virou o bebê e fez coisas que Madelaine não compreendeu. Quando ele chorou, ela não acreditou. A amiga passou água nele rapidamente e o enrolou no pano que eles haviam escolhido.
— É um menino — comentou Georgina, quando Madelaine estendeu os braços para segurá-lo. — Ele é lindo e me parece tão saudável quanto qualquer outro bebê — ela se virou para a criada. — Como está o sangramento dela?
— Está parando. A princesa está bem — falou a criada timidamente.
Karl se aproximou dela, se espremendo no chão da carruagem. O bebê chorava muito e isso os deixou extremamente felizes. Com lágrimas nos olhos, os dois sorriram de orelha a orelha, acariciando o pequeno.
— Ele é lindo — comentou Karl, olhando para Madelaine e depois para Georgina. — Obrigada, você é a melhor amiga que poderíamos ter. Certamente será uma madrinha maravilhosa para o bebê também.
— Qual é o nome de meu afilhado? — indagou a loira, tentando ver ele pela porta.
— Não conseguimos escolher um, mas... — Karl sorriu e pareceu ter uma ideia, que sussurrou no ouvido de Madelaine. — O que você acha, esposa?
— É lindo, mas eu gostaria de acrescentar algo nele — ela olhou para Georgina, que estava quase infartando de tanta curiosidade. — Gostaria de saber?
A garota assentiu rapidamente. Madelaine entregou o bebê a Karl, que se aproximou de Georgina com o bebê, que não entendeu o motivo, mas ficou admirando o afilhado, que ainda chorava.
— O nome dele é George, em sua homenagem — Madelaine sorriu, com lágrimas nos olhos. — George August Bernadotte.
2 anos depois — 5 de abril de 1826
Madelaine estava segurando o pequeno George no colo e admirando o pequeno, feliz por ter um filho saudável e esperto. De cabelo preto e olhos verdes, ele era a mistura perfeita dos dois, Madelaine o achava mais parecido com ela, principalmente o nariz e formato do rosto.
George começou a chorar quando a mãe fez uma careta de dor. Desesperada para acalmá-lo, ela o entregou para sua avó, que imediatamente soube o que estava acontecendo e o entregou para Imogen, que estava de visita.
— Por favor, fique um pouco com meu neto — pediu ela. — Acho que Madelaine está em trabalho de parto.
— Mamãe! — gritou ela, se contorcendo. — Chame Karl, por favor.
Não importa quantos cálculos ela fizesse, sabia que poderia estar com trinta e quatro ou no máximo trinta e seis semanas. O médico disse que o ideal seria chegar a trinta e nove semanas, como ocorreu com George. Isso a desesperou. Assim que o marido chegou e a carregou para o quarto, percebeu que ele também estava muito nervoso.
— Karl, está cedo demais — murmurou ela, quando a mãe saiu para chamar o médico. — Estou com medo, traga George.
— Se você prometer não gritar ou fazer caretas — argumentou ele, a fazendo sorrir. — Ou o coitadinho vai ter pesadelos.
Quando ela se sentiu segura, pois as contrações estavam demorando, o marido trouxe o filho e ela o deitou ao seu lado, o abraçando e o enchendo de beijos, que reclamou e chamou "papapai". O tempo com ele, mesmo que curto, foi o suficiente para tranquilizá-la. Havia conseguido ter um bebê lindo e perfeitamente saudável, precisava acreditar que conseguiria novamente e ficaria bem para criar o filho. Não podia deixar o pequeno George sem mãe.
— Tem algo estranho — comentou o doutor depois de examiná-la. — Está muito difícil de ver se o bebê está encaixado, sua barriga está diferente também. Já vi casos semelhantes.
— O que está acontecendo? — perguntou Madelaine, entregando o filho adormecido para Imogen. — Doutor, por favor, nos conte a verdade.
— Um ano atrás, fiz o parto de uma mulher que estava com a barriga semelhante à sua. O bebê que ela teve pareceu nascer com três meses de tão grande e gordo — ele suspirou. — Foi um parto muito difícil e a mãe morreu de tanto sangrar. O corpo dela não suportou o tamanho da criança.
Madelaine sentiu uma contração forte e olhou para Karl. Diferente de George que nasceu após nove horas da primeira cólica, esse bebê parecia muito mais impaciente. Não fazia nem uma hora e Madelaine não teve dúvidas de que ele nasceria antes.
— Vai ficar tudo bem — Karl segurou a mão dela. — Você é a mulher mais forte que eu já conheci. Desacreditamos de George e olhe como ele está, correndo e pulando por todo lado.
— Esse bebê é diferente de George. Ele chuta muito, nem sequer consigo dormir e é muito mais pesado também — falou ela. — Nenhum dos vestidos que eu usei na gravidez de George parecem me caber mais.
Antes que o médico pudesse argumentar, ela urrou novamente e chamou pela mãe, que veio correndo.
Uma hora depois, o médico avisou que estava chegando a hora.
— Querida — a mãe fez carinho em seu cabelo. — Vejo o medo no seu olhar, mas não tenho dúvidas de que vai dar tudo certo. Se esse bebê chutou tanto como você relatou nas cartas e está tão apressado, é por sentir vontade de viver. Quando você nasceu, também foi muito rápido — ela fez a filha sorrir. — Certamente terá sua personalidade.
Madelaine amava o marido com todo coração e o achava a pessoa mais incrível do mundo, mas não havia nada no mundo capaz de substituir o carinho de uma mãe ou de um pai. Mary Louise conseguiu acalmá-la e na hora de começar a empurrar, Madelaine se sentiu pronta.
Segurando a mão de sua mãe e de seu marido, o bebê que nasceu chorou ainda mais forte do que George, o que a fez rir. Observou a assistente do médico lavar a criança e se aproximar para entregar a ela.
— É uma linda bebê, muito forte e grande — avisou a garota. — Nunca vi uma criança chorar tão alto.
Madelaine segurou a pequena no colo. Foi a primeira vez que viu um bebê nascer de olhos abertos, até mesmo sua mãe que tinha mais idade e experiência se assustou. A bebê parecia muito brava.
— Não tenho dúvidas de que ela terá sua personalidade. Ela nos olha como se estivesse nos julgando — comentou Karl, fazendo a esposa rir.
— Ainda está cedo para decidir, mas acho que ela vai ter seus olhos. O de George não tinha o mesmo tom antes — comentou Madelaine para Karl. — Acho que eles vão se parecer também. Mas o cabelo dela é mais ralo, como o meu.
— Qual será o nome dela? — perguntou Mary. — Estou ansiosa para saber o nome de minha linda netinha.
— Karl e eu decidimos que se tivéssemos uma filha, o nome seria Elouise, em homenagem a Louis — comentou Madelaine. — Acho que o traumatizei no meu primeiro parto. Ele nunca mais veio me visitar.
— Querida, você sabe o que aconteceu com ele. Louis está sofrendo — Mary segurou a mão da filha. — Mas tenho certeza que logo ele virá conhecer Elouise.
Madelaine deu a bebê para Karl segurar. Ela estava sorrindo até perceber que havia algo de errado. Já se faziam mais de cinco minutos que Elouise havia nascido quando ela sentiu uma terrível dor e gritou, chamando pelo médico que veio correndo.
— Querida, o que foi? — perguntou a mãe, enquanto Karl parecia desesperado com Elouise nos braços. — O que está doendo?
— Doutor, tem algo de errado — explicou Madelaine enquanto ele a examinava. — Estou sentindo a maldita dor de novo.
O médico levantou o vestido dela novamente e pareceu assustado com o que estava vendo.
— Vossa Alteza, você precisa empurrar! — gritou ele, a deixando confusa. — Tem outro bebê.
— Maddie, são gêmeos — Karl sorriu para ela, enquanto tentava embalar Elouise que ainda chorava muito. — Empurre, você consegue.
Gritando, ela empurrou novamente segurando a mão de sua mãe. Não teve certeza se a criança nasceu, pois foi tudo muito rápido. Parou de ouvir a voz de todos, ouviu o marido gritar e a mãe murmurar alguma coisa quando apagou.
Karl olhou desesperado para o médico, que estava com mais um bebê nos braços, que mal chorava. Quando o doutor terminou de passar uma água no pequeno ser, foi até Madelaine, que desmaiou antes de conseguir ver a criança.
— É uma menina — avisou o médico, sem obter respostas. — Vossa Alteza?
— Doutor! — gritou a ajudante. — Tem algo de errado, o sangue não está parando.
O doutor largou o bebê com a ajudante e correu para tentar controlar o sangue, enquanto Karl ficou em choque e a sogra começou a chorar. Ainda, para piorar, a ajudante começou a gritar quando a criança em seus braços parou de chorar.
— Doutor, tem algo de errado com a bebê! — avisou ela.
Sem saber o que fazer, o médico que estava todo sujo de sangue, olhou para Karl, que estava parado observando tudo, com Elouise ainda chorando em seus braços.
— Vossa Alteza! — gritou ele. — Eu só posso salvar uma delas, você precisa escolher.
Karl não soube o que dizer. Como poderia escolher entre a esposa e a filha? Mas por um momento, olhando para Elouise em seus braços, ele cogitou escolher Madelaine. Já tinha uma filha. Estava se sentindo horrível e desesperado, mas sentiu vontade de salvar a esposa.
Mary Louise, percebendo o que o genro falaria, empurrou o médico para o lado e ficou no seu lugar estancando o sangue da filha.
— Doutor, eu salvo minha filha e o senhor minha neta. VÁ! — gritou a mulher baixinha, que havia parado de chorar. — Karl, bote Elouise em um braço e verifique o pulso de Madelaine com o outro. Não sei dizer se ela ainda está viva.
Karl olhou para o médico, que estava fazendo com a bebê o mesmo que Georgina fizera com George em seu nascimento e tentou focar na esposa. Se abaixou e colocou a mão no pulso de Madelaine. De início, não sentiu nada, mas depois, percebeu que os batimentos dela estavam fracos.
— Os batimentos estão fracos — avisou ele, vendo a sogra tirar as mãos do lugar em que estava estancando o sangue. Ficou desesperado. — O que houve?
— O sangramento diminuiu — avisou ela sorrindo e no mesmo instante a bebê chorou. — Doutor, você conseguiu?
— Sim — ele sorriu, entregando a pequena para a antiga duquesa de Norfolk. — Acho que ela se parece com você, Lady Hanworth.
— Certamente não se parece quase com os pais — observou ela. — Ela nem sequer tem cabelo.
Karl se aproximou, entregando Elouise para Mary e segurando a pequena bebê careca, ainda sem nome. Olhou para a esposa desacordada e sorriu.
— Madelaine, já pode acordar. Ela é menor que Elouise, mas é igualmente bela e forte — comentou ele. — Madelaine?
O médico se aproximou, o sorriso desaparecendo de seu rosto.
— A princesa perdeu muito sangue — avisou ele. — Eu sinto muito, de verdade.
— Como assim sente muito? — perguntou ele. — Quando ela vai acordar?
— Eu não sei — respondeu ele, abaixando a cabeça. — Talvez em uma semana, um mês... Ou nunca. Tudo vai depender de Madelaine.
Mesmo nervosa, Mary Louise tentou parecer confiante enquanto embalava a pequena Elouise.
— Não se preocupe, meu filho, Anne é muito teimosa para não acordar. Tenho certeza de que logo ela estará aqui.
Uma semana depois, Karl saiu correndo com a pequena Mary Ann nos braços e George agarrado em sua perna quando soube que a esposa havia acordado e estava perguntando pelos filhos. Não conseguiu raciocinar muito, apenas subiu as escadas e chegou até ela, que estava sentada com a prima Birgitta ao seu lado, tranquilizando ela. Parecia muito fraca e frágil.
— George! — Madelaine sorriu, quando ele pulou nela. Ela tentou lhe fazer carinho, mesmo com dor. — Karl, deixe-me vê-la — Karl lhe deu um selinho e entregou Mary Ann em seus braços. — Ela é linda, mas essa não é Elouise, certo? Ela me olha com muita doçura para ser.
Karl percebeu que havia se esquecido de Elouise. Ele se sentia muito mal pela pequena Mary, que era tão frágil e pequena, que passava o maior tempo possível cuidando dela. Principalmente depois do que o médico falou. Como contaria para a esposa?
— Fiquem aqui — avisou Birgitta. — Ela deve estar com a avó, eu vou buscá-la.
Madelaine sorriu, tranquila, com o filho deitado ao seu lado e a pequena em seu braço.
— Ela é sempre calma assim? — perguntou Madelaine. — Por favor, me diga que ela tem um nome.
— Mary Ann, em homenagem às nossas mães. Sua mãe salvou a vida de vocês duas — contou ele, se sentando na ponta da cama. — Ela quase não chora, é o bebê mais tranquilo que já vi.
— Eu amei o nome — comentou ela, acariciando a pequena. Mesmo fraca, estava radiante. — E como é Elouise? — indagou ela e ele não soube responder.
Quando a antiga duquesa chegou com a neta, Madelaine abriu um enorme sorriso. Elouise já estava chorando, ela era muito agitada e acordava todos na casa durante a noite. Com um braço livre, Madelaine a segurou delicadamente enquanto sua mãe lhe dava um beijo na cabeça.
— Ela também é linda, mas muito agitada — comentou ela, radiante ao ver a filha. — E um pouco pesada também — olhou para o marido. — Se parece com você, mas Mary Ann não se parece muito conosco. Ela não tem cabelo algum também.
— A não ser que você tenha me traído com algum vizinho, ela pode ter puxado minha família. Todos são loiros, com exceção de minha mãe e eu.
— Nós não temos vizinhos, Karl — retrucou ela, olhando para a mãe de cabelo cacheado e ruivo. — Acho que ela se parece com minha mãe, talvez o cabelo seja igual também. Mas o nariz definitivamente é meu.
— Quando ela está séria, ela lembra mais a mãe. Suponho que vai ter o formato do rosto e lábios de Karl, mas o resto será dos Hanworth — acrescentou a avó. — Mas ainda acredito que quando crescer, vai se parecer um pouco mais com Elouise.
Todos ficaram muito felizes, mas infelizmente o momento de alegria acabou quando o doutor chegou e avisou para Madelaine, olhando para baixo, que Mary Ann havia nascido muito fraca e provavelmente com alguns órgãos ainda não bem desenvolvidos. A pequena provavelmente não viveria mais do que um ano.
4 anos depois — 5 de junho de 1830
A cada carta que chegava, Madelaine corria até o mensageiro e abria antes mesmo de chegar em casa. Todos os dias ficava decepcionada e aflita. Queria ter tempo para chorar, mas além de animais para visitar e tratar, ela tinha três filhos, um ducado e um condado para administrar. Não sabia também quem poderia chamar ou pedir ajuda, o rei já tinha seus próprios problemas para lidar e o irmão raramente respondia suas cartas.
Seis meses depois do nascimento das gêmeas, Karl decidiu abdicar de seu título de príncipe, bem como Madelaine, para conceder aos filhos. Ele continuaria sendo um duque e ela uma duquesa, com as mesmas responsabilidades, mas agora seus filhos teriam proteção da família real, bem como o direito de crescer no castelo se precisassem algum dia, e Mary Ann poderia ser atendida pelo médico do rei, considerado um dos melhores na Europa. O duque de Vestland tomou a decisão após ser comunicado de conflitos internos entre a Suécia e a Noruega, muitos queriam a separação dessa união.
No entanto, mesmo sendo duque de Vestland, Karl era um dos militares de mais alta patente e quando um conflito na Suécia se intensificou, o comandante que controlava as forças armadas foi assassinado e o duque convocado a ficar em seu lugar temporariamente até que o rei achasse um substituto adequado. Mesmo agora sendo um bom marido e pai, ele cometera erros no passado se deitando com mulheres de políticos poderosos que ainda guardavam rancor dele. Obviamente, uma das pessoas que ele irritou no passado foi quem sugeriu sua convocação. Karl aceitou e tranquilizou a esposa, visto que ele iria apenas fazer negociações que não demorariam mais do que duas semanas, o tempo previsto pelo rei para achar um novo comandante. Assim que o rei Harald achou, enviou um pedido para que o irmão voltasse. No entanto, a vanguarda de Karl desaparecera e última carta dele para Madelaine já fazia dois meses.
A duquesa cuidava das propriedades sozinha, dos animais que tratava, e de noite, botava os filhos para dormir. Entretanto, Elouise chorava todos os dias, chamando o pai. A pequena, que tinha os olhos dele, só dormia se Karl a colocasse para dormir e só obedecia a ele. Elouise era muito temperamental, odiava as aulas de etiqueta que fazia com a irmã. Certo dia, quando deveria aprender a forma correta de segurar talheres, ela se irritou e jogou um prato e um copo no chão. Mesmo com o castigo, ela não obedecia à mãe de jeito nenhum. Quando Karl a repreendeu, ela pediu desculpa imediatamente e ele achou uma solução. Começou a levá-la para pescar com ele e George e fazer coisas que eles faziam juntos e, ao mesmo tempo, ela deveria fazer aulas de etiqueta pelo menos uma vez na semana. Assim, ele conseguiu acalmar a pequena fera, que odiava usar vestidos, brincar de bonecas e preferia sempre brincar na lama com George.
Mary Ann sobrevivera, superando a expectativa dos médicos, mas era surda de um ouvido e ficava doente em todas as trocas de temperatura. Por ser muito frágil, Madelaine acabava passando mais tempo com ela e com George, que começou a tocar piano com a ajuda da mãe. Karl que passara os dois primeiros anos das gêmeas apenas com Mary Ann, ignorando completamente a pequena Elouise, percebeu seu equívoco como pai quando a filha de olhos azuis chorou para tentar chamar a atenção do pai e a única palavra que falou por um bom tempo foi "pai". Desde então, ele começou a dividir a atenção e a pequena nunca mais desgrudou dele.
— Quando papai vai voltar? — perguntou Mary Ann, que bateu na porta educadamente antes de entrar no escritório da mãe. Ela parecia muito madura e tranquila para uma menina de quatro anos. — Elouise está chorando novamente.
Mary Ann tinha olhos diferentes dos irmãos. Seu olho era um azul esverdeado, que variava dependendo da iluminação, parecia a cor de um mar de águas cristalinas. O cabelo era ondulado e ruivo como o da avó e estava sempre impecável. Tinha traços tão delicados que Madelaine às vezes não acreditava que havia a gerado.
— Chame George — pediu Madelaine e Mary a olhou com olhos acusadores. — Ele tem mais facilidade com ela do que eu. A mamãe está muito ocupada e cheia de coisas para fazer.
— George está brincando com o Pequeno George — explicou Mary Ann. — Eu já o chamei.
Madelaine saiu do escritório, com a filha logo atrás e viu as criadas correndo sem parar. Algumas, repreendiam George, que havia se sujado rolando na grama com seu cachorro, que era tão agitado quanto ele. George só parecia ficar tranquilo na frente de um piano.
Mary Ann pegou a Pequena Mary no colo e apontou para as escadas. Madelaine viu algo rolar e percebeu que Elouise deveria estar jogado alguma coisa em alguém.
— Elouise! — ela gritou. — Não me faça ter que subir as escadas, eu já disse para você parar de jogar coisas quando está irritada! — Elouise jogou uma boneca. — Eu vou contar até três — Madelaine respirou fundo para se acalmar. — UM...
De repente, George apareceu todo sujo de lama, enlouquecendo sua cuidadora e a mãe, que estava cansada de pedir para ele não brincar na sujeira.
— Vocês não têm aula hoje? — perguntou ela a Mary, sua única filha tranquila.
— Hoje é domingo — lembrou ela. — Deveríamos estar na Igreja com papai.
Madelaine percebeu que era por isso que Elouise estava surtando agora, ela sentia falta do pai. Todos sentiam, principalmente ela que nem tinha tempo para chorar ou surtar. Quando Maddie decidiu subir às escadas para parar a filha, um mensageiro chegou em sua porta e ela correu desesperada ao ver que era o mensageiro real.
— Vossa Graça, vim imediatamente trazer sua correspondência — comentou ele. — É confidencial.
Madelaine murmurou alguma coisa para Mary Ann ir achar alguém para parar Elouise e saiu correndo para o escritório com a carta em mãos. Fechou a porta, tentando conter as lágrimas e se sentou, abrindo o conteúdo.
"Vossa Graça, sou o detetive que a senhora contratou. Receio que seu marido foi capturado em uma emboscada. Acho que vão tentar negociar a vida dele com o rei, mas meu informante avisou que ele está sendo ferido para confessar segredos da corte.
Ainda não tenho o local, mas entrarei em contato dentro de uma semana com mais informações. Eles falaram que se o rei descobrir sobre Karl ser prisioneiro antes que eles possam arrancar informações dele, eles vão matá-lo."
Madelaine ficou ainda mais nervosa. A primeira pessoa que ela pensou em pedir ajuda fora o rei e ele não poderia ajudá-la. Provavelmente havia alguém na corte que estava financiando essa rebelião. Ela suspeitava desde o início que poderia ser até mesmo uma das amantes do antigo rei ou algum bastardo. Se eles matassem o rei e Karl, e fizessem parecer que foi fruto de um ato rebelde, o próximo seria George e os bastardos estariam livres para subir ao trono. O rei Harald havia tido quatro filhas e a esposa estava grávida novamente, todos seus apoiadores o achavam fraco por ele não ter um herdeiro ainda. Isso estava enfraquecendo os Bernadotte.
Com uma ideia em mente, Madelaine fora surpreendida com a voz da criada desesperada, entrando em seu escritório sem avisar. Ela rapidamente escondeu a carta na gaveta e se levantou.
— Vossa Graça, me perdoe. Mas fui avisada que a carruagem do rei se aproxima — disse ela. — Já encontrei alguém para acalmar Elouise, a cuidadora de George está limpando ele e Mary... Bem, ela é Mary.
— Prepare o melhor chá e pratos que tiver, sirva tudo na sala de visitas — pediu ela.
Sem tempo para chorar, Madelaine correu para arrumar o cabelo e parecer apresentável. Estava com uma agonia sem fim crescendo em seu tempo e sequer tinha tempo para chorar. Ajudou as criadas a organizarem o local. Quando o rei chegou, ela estava sentada, tudo perfeitamente pronto e organizado para sua chegada. Tentou fingir o máximo de tranquilidade possível quando a entrada dele foi anunciada. Se levantou e fez a melhor reverência que pode.
— Somos da mesma família, Madelaine — lembrou ele, se sentando na cadeira designada. — Se puder dispensar o mordomo e as criadas, o que tenho para tratar com você é delicado.
Com um gesto, todos saíram e as portas foram fechadas. Ela observou o rei tomar um gole de chá. Queria gritar, chorar e implorar por sua ajuda. Mas não sabia mais se podia confiar nas próprias criadas. Não havia ninguém na Noruega além do marido e da rainha, que vivia no castelo, que ela confiasse. Nunca se sentiu tão sozinha e desamparada.
— Minha esposa deu à luz ontem de noite. Não contamos para ninguém ainda, mas de alguma forma um dos meus irmãos bastardos descobriu — começou ele. — Nós tivemos mais uma princesa. Não me entenda mal, eu estou muito feliz, mas...
— Vocês podem ter outros filhos, Majestade — começou Madelaine. — A rainha ainda é nova.
— Deixe-me terminar — ele respirou fundo e colocou um documento da família real lacrado em sua frente. — Não sei onde está meu irmão e sinto muito por isso, mas toda essa desordem está acontecendo por eu não conseguir gerar um filho — continuou ele. — Depois de ontem, minha esposa sangrou muito, semelhante ao que aconteceu com você. O médico disse que se ela engravidar novamente, vai falecer. E eu amo a rainha mais do que tudo, você sabe disso — ele apontou para o documento. — Preciso eleger um príncipe herdeiro e só existe uma opção aceitável para contornar essa situação e trazer meu irmão de onde quer que ele esteja.
Madelaine soube imediatamente o que ele queria dizer. Ela abriu o papel para confirmar seu pensamento e se desesperou.
— Por favor, não diga o que você vai dizer — implorou ela. — Meu marido nunca concordaria.
— Mas ele não está aqui e é por amar meu irmão, meu reino, e respeitar a senhora, que estou aqui hoje — ele respirou fundo novamente, mesmo com a coroa na cabeça, não parecia um rei confiante. — Seu filho e meu sobrinho, George August Bernadotte, a partir de hoje, é o príncipe herdeiro e futuro rei da Suécia e da Noruega.
Madelaine finalmente sentiu as lágrimas escorrerem, sabendo que Karl nunca aceitaria isso para o filho, uma responsabilidade tão grande em um país que estava prestes a iniciar uma guerra civil ou algum golpe de Estado promovido pelos bastardos. Por Deus, o que ela faria?
Decidiu que era hora de pedir ajuda, buscar por alguém que pudesse resolver essa situação, fosse neutro para guardar segredos e salvar Karl. Ela confiava apenas em sua família nesse momento.
Madelaine precisava da ajuda do irmão, o duque de Norfolk. E sabia que Louis Hanworth era o único capaz de ajudá-la.
Continua em Cartas para Louis Hanworth.
— ÁRVORE GENEALÓGICA —
— CURIOSIDADES GEORGE, MARY ANN E ELOUISE —
George August Bernadotte
– Gosta de ler, é bastante inteligente
– Toca piano muito bem
– Ficou noivo aos 18 anos de Catrina Nygaard, melhor amiga de Elouise, filha do conselheiro do rei
– O noivado foi arranjado, mas eles se apaixonaram
– Perdeu sua noiva para a tuberculose
– Desde então, mora longe da família e se isolou completamente
– Com a perda, virou uma pessoa amargurada, que bebe muito e vive em brigas
– Embora beba muito e tenha ar de cafajeste, nunca dormiu com mulher alguma e não é um libertino como todos pensam
– Aos vinte e dois anos, o rei Harald anuncia que ele precisa se casar e convida princesas e nobres de vários lugares e países para escolher, mas George não tem interesse em nenhuma
– Em uma noite chuvosa, salva uma menina de alguns bandidos e é obrigado a se refugiar ao lado dela em um local. Ele e a garota passam a noite discutindo. Acabam se odiando
– No dia seguinte, descobre que a garota em questão é a princesa Amália da Espanha, uma das escolhidas do rei e favorita para que ele se case. Mas ele e ela decidem fazer de tudo para que isso não aconteça
– Elouise fica determinada em fazê-lo se casar com a garota que ele odeia
– Passa a sentir atração enquanto ele e Amália encontram uma pretendente para ele e outro para ela, apesar de se odiarem
– Amália se apaixona primeiro
– Se casam e eventualmente ele se apaixona por ela
– Tem oito filhos
Mary Ann Bernadotte
– É a garota perfeita, considerada uma joia rara
– Sua flor favorita é lírio dos vales, mas ela não sabe sobre Lily
– Muito próxima da mãe
– Tem uma personalidade doce, mas é muito astuta
– Sabe de todas as fofocas da Noruega e da Inglaterra, pois adora observar
– Muito realista
– Surda de um ouvido
– Fica doente com muita frequência
– Artista nata
– Acredita que apenas se casando pode vender seus quadros, pois infelizmente depende de um homem para ter sua própria renda
– Quer se casar e ter filhos, pois ama crianças
– Passa muito tempo em Londres, pintando com o tio Louis, que possui o mesmo amor pela arte
– Decide procurar um marido em Londres e faz sua estreia como debutante lá
– Seu amigo de infância, o novo visconde Bunwell, filho de Bellamy Bunwell, um libertino nato, é apaixonado por ela e tem medo de estragar a amizade
– Recusa mil vezes o melhor amigo quando descobre os seus sentimentos
– Percebe que o ama quando ele pede outra em casamento
– Invade o jantar de noivado dele para se declarar e causa um dos maiores escândalos da temporada
– Ficam juntos e ela se muda para Londres
– Tem problemas de infertilidade também, tem quatro abortos
– Tem gêmeos após cinco anos de casamento, uma menina e um menino
Elouise Bernadotte
– Tem uma personalidade pior do que a de Madelaine, mas controla bem quando cresce
– Tem uma relação difícil com a mãe, vivem discutindo
– Diferente da mãe que tinha autoestima baixa, ela é confiante demais
– Joga xadrez muito bem, assim como o pai
– É a mais apegada ao pai, que é o único da família que sabe de seu segredo
– Gosta de provocar as pessoas, puxou um certo alguém
– Ama esgrima, caçar e atirar. Aprendeu tudo isso com Karl, que a criou com liberdade
– Adora ouvir por detrás das portas
– Decide que nunca vai se casar, pois gosta de mulheres e na época isso não era bem visto ou aceito
– Pediu para George se apaixonar por qualquer uma, menos Catrina
– Era apaixonada pela melhor amiga, Catrina, e depois que George virou noivo dela, ela sofreu muito
– Quando Catrina morreu, ficou devastada e ressentida demais com o irmão
– Conhece uma princesa que é viúva durante a 'seleção' feita pelo tio para achar uma esposa para George, se apaixona perdidamente por ela, mas não podem ficar juntas
– George dá em cima da princesa que Elouise gosta e Elouise se dedica a fazê-lo se casar com Amália, a quem ele diz odiar
– Depois de muito sofrimento, a princesa sugere que ela se case com o irmão dela, que é um príncipe que ama uma mulher de classe baixa. Assim, ela pode ir para o país dela para ficarem juntas.
– De início, não aceita a proposta, mas acaba compreendendo que é a única forma de ficarem juntas e se casa com o irmão da princesa
– O marido dela sabe de tudo e eles viram amigos, ela o ajuda com a criada que ele é apaixonado e ele a ajuda com a irmã dele
– Tem um filho, pois sua amada pede para ela
– Assim, vai para uma residência isolada junto da princesa e elas criam o filho de Elouise juntas
Notas da autora: esse é o fim oficial de Madelaine e Karl, mas eles vão aparecer na metade da história de Louis e vão fazer outras aparições. Algum dia, talvez após a história de Louis, eu possa fazer algum conto da história de amor de George, Elouise e Mary Ann. Lembrando também que cada curtida e comentário feito me inspira e me ajuda a dar continuação para esse universo. Não esqueçam de comentar ou me seguir, para que eu possa avisar quando o segundo livro sair. Obrigada por tudo, foi um prazer escrever e terminar essa história.
Att: ganhei 1º lugar na categoria romance no concurso ProjetoSakura , gostaria de agradecer por todos que sempre me apoiaram. Estou muito feliz.
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