CAPÍTULO 3
Os baques dos saltos dos sapatos de Katherine são altos se chocando contra a rua de lajotas do centro.
Aquele som passa o mesmo sentimento que um tambor de guerra.
A moça de cabelos recém aparados na altura da orelha entra belíssima e elegante em um restaurante caro, à procura de seu homem tão desejado.
Ao ver o ministro da guerra, ela cora as bochechas, abaixa o narizinho empinado para o alto e caminha na direção do homem, que rapidamente se levanta e puxa a cadeira da mesa, calculadamente escolhida por ela. Com a bolsinha de mão sobre o colo, Kat se senta.
— Boa noite, Katherine. Com todo respeito, a senhorita está... magistral. — Ele não a chamava mais de Srta. Sagrite. A moça se senta. Usava um vestido justo, longo e preto, de decote ombro-à-ombro com uma bela fenda na perna esquerda e brincos brilhantes.
— Boa noite, Sr. Coulson. Obrigada.
Eles pediram uma entrada, um prato principal, vinho branco (o favorito dela) e uma sobremesa.
Não havia açúcar no distrito da tristeza, era como diamante. Ela nunca perdia a oportunidade de sentir o doce na língua e exagerava o máximo que podia. Aquilo a lembrou pessoas.
— Me desculpe se estou sendo direto demais, mas sobre o que são os assuntos que seu pai gostaria de tratar? Pensei que já estivesse tudo resolvido e também não imaginava que você estava imersa nos negócios da família.
— Isto me chateia. Sou o soldado mais leal. — Katherine dá uma piscadela para o homem.
Pobre papai, foi traído pela própria cria. A filha, mais cedo, havia ludibriado sua mente com os olhinhos brilhantes e feito ele escrever uma carta assinada e selada pelo mesmo, marcando um encontro com Coulson. Se ele descobrir o que Kat fez, escalpelará a garota aos urros.
— Bem, Senhor Coulson... — Ela se interrompe, tensa. O ministro a olha nos olhos.
— Me chame de Gerald. — E assim, ele foi mais uma vez capturado. Que nojo.
— Então, Gerald, se levante da mesa e me conduza para fora daqui, até o primeiro beco, na Rua do Socorro.
O ministro da guerra se levanta e ela abre sua pequena bolsa rapidamente, jogando a sobremesa para dentro. Quem no mundo perderia trufas e tartelenes? Kat certamente não.
Os dois caminham para fora do estabelecimento até o beco mais interessante do distrito, o que algumas almas solitárias gostavam de atormentar. Dizem que se você ouvir com atenção, escuta choro de bebês.
★
A mulher caminha com uma calma fria de braços dados a Gerald Coulson. Se ele estiver preso dentro da própria mente ou se sua consciência permanece viva em algum lugar, está gritando.
Ao adentrarem o beco, caminham até o final e Kat desprende uma de suas facas gêmeas da coxa que não estava a mostra.
— Pegue. — Ela estende uma ao homem, que segura a faca com os olhos vazios como o limbo.
— Enterre esta lâmina em sua garganta. — Hoje, particularmente, ela não queria se tingir de vermelho, então o trabalho era dele.
O ministro segue a ordem e a cobra engole o próprio rabo.
Katherine apenas observa a lâmina pequena, de ferro maciço, perfurando a carne do pescoço em sua frente. Observa o líquido escuro esguichar e sente as gotas quentes espirrarem em seu rosto.
O ministro cai no chão em um som surdo, se engasgando com o próprio sangue. Os olhos recuperam a vida e ficam atônitos de desespero. Momentos depois, ela se vai novamente. A moça queria que o rosto dela fosse a última memória que a alma do homem tivesse, que ele soubesse o que trouxe sua ruína. Ou melhor, quem a trouxe.
Katherine observa a cena por mais um tempo e se agacha, removendo sua faca do cadáver e limpando o sangue que restou nela na barra do vestido. Devolve a lâmina para a bainha presa na perna e parte, sem olhar para trás.
Distrito da Tristeza: Madrugada Anterior | Zona Sudeste | 03:03 AM
Após Katherine explicar passo a passo o plano de ataque que o grupo colocaria em prática, eles deixaram o navio BlackBeard e partiram de volta para o 5° Distrito, mais especificamente para o Submundo.
Preparativos precisariam ocorrer para que o plano fluísse como um rio, o que obviamente foi previsto.
Como já havia sido acordado de antemão, Beatrice e Katherine tomariam a dianteira da primeira prioridade requerida: obter transporte e armamentos.
O horário não poderia ser melhor, uma vez que os seguranças das instalações deveriam estar com seus corpos próximos do definhamento; noites e noites em claro acumuladas tinham esse efeito. Porém, no submundo, dormir na maioria das vezes significava cortejar a morte. E seu fim poderia ser decretado a qualquer momento.
E Katherine sabia muito bem disso.
★
Enquanto Eriksen e Malaika aguardavam do lado de fora, Beatrice e Katherine foram em busca dos itens desejados.
Ambas agora estavam próximas aos depósitos selecionados, onde se encontravam todas as encomendas ilegais feitas pelo ministro do governo.
O mínimo de alarde possível era o pretendido, e por isso a decisão das duas foi ideal.
A habilidade especial de Beatrice permitia que ela ficasse invisível para qualquer olho humano ou animal, mas apenas por um curto período, 5 minutos. Então ela passaria totalmente despercebida pelos olhos alheios até o tempo expirar.
Quanto a Katherine, também não seria um problema, ela conhecia o lugar. E caso cruzasse com qualquer indivíduo dali, sua capacidade de controlar a mente mediante contato visual entraria em ação. Portanto, não existia espaço para erros.
A dupla adentrou um dos galpões depois de nocautear um guarda e pegar a chave dele.
Já no interior, elas precisariam procurar os lotes que correspondiam às armas de fogo padrão, sendo que a prioridade número um é os explosivos.
— Ah, que cheiro bom. Eu vou rir demais. — seu poder não era clarividência, mas Katherine podia sentir o gosto da vitória.
— Rir? Acho que é a única coisa que eu não vi você fazendo até agora, Kat.
— São novos tempos, Trice. Nada acontece sem motivos. Primeiro precisa haver um giro de uma engrenagem menor, para só aí a engrenagem maior se mover. Mudanças não ocorrem de um dia para o outro.
— É... tem razão.
— Isso mesmo. Só que eu vou ser a exceção.
— É... boa sorte.
— Brigadinha. — agradeceu fazendo um coração com as mãos. — Agora me ajuda a abrir esse caixote.
— Vi uma barra de ferro ali na frente, espera que eu vou buscar!
— Não, Trice. — negou tentando pará-la, mas Beatrice era muito rápida e em dois passos largos sumiu da vista dela. — Essa mina é maluquinha. Tá bem, só aguardar aqui.
Quando Katherine ia se apoiar na caixa que continha os armamentos, uma voz familiar ecoou atrás de si.
— Está falando sozinha, filha?
Um formigamento percorreu a espinha da dita princesa do submundo, não porque foi pega de surpresa por alguém, mas sim porque era seu pai ali. Simplesmente uma peripécia inacreditável do destino ser logo ele ali.
Entretanto, sendo inacreditável ou não, ela teria que lidar com isso e ainda sair do local com as armas em mãos.
— Pai! — fingiu empolgação ao virar-se. — Não esperava o senhor por aqui. — completou da maneira mais natural possível.
— Nem ouse tentar mentir para mim. Sei que está fora de casa desde a manhã passada.
— E o que tem nisso? Eu tenho que ficar trancafiada naquele quarto igual um animal?
— Sabe que não é por aí. Me preocupo com seu bem-estar. Então preciso ter noção de onde e como você está. Isso me faz ficar tranquilo.
— Bom pai, quero apenas que confie em mim. E me deixe ter meu próprio espaço.
— Não vai querer me contar o que acontece?
— Quando acabar, sim. Se possível. — nada menos do que palavras sinceras saíam da boca de Katherine. Afinal, mesmo um planejamento "perfeito" poderia dar errado.
— Entendo. Irei respeitar. Vá em frente. — no fundo, Rayro compreendia muito bem, e assim como ele, sua filha possuía seus segredos e questões. E era importante que ela mesma os resolvesse. — Estou indo. Te espero para o jantar.
— Certo.
E sem mais empecilhos para atrapalhá-las, Beatrice revelou-se ao lado de Katherine.
— Pow. Finalmente ele foi embora.
— Que isso, menina! Quer me matar de susto? — perguntou apontando as facas no pescoço da ladra.
— Calma, calma. É que a gente tem que ir logo.
— Nossa, é mesmo. Pegou a barra de ferro?
— Yes! Aqui. — disse levantando a mão com ela.
— Maravilha. — e pegando a barra, elas terminaram de abrir o caixote. — As armas já foram. Vamos!
Colocando tudo que precisavam em um saco de pano, as duas se encaminhavam para fora do depósito quando foram paradas por um homem.
— Droga, um dos guardas...
— Eu lido com ele, Kat. Vai na frente. — Beatrice nem sequer hesitou.
— Cuidado. — Katherine deu o conselho e seguiu.
— Já passou da minha hora de brilhar. Por mais que minha habilidade seja de ficar invisível. Enfim, deu pra entender né. — seus punhos já estavam na altura do queixo, a famosa postura de luta na maioria dos esportes de combate.
— Se vi bem, aquela era a filha do chefão. Muito curioso. — o guarda refletiu em voz alta.
— Ei, recomendo focar na minha pessoa aqui, ok?
— Por que eu teria que me importar com você?
— Porque meus chutes doem. E muito! Lá vou eu!
E em um piscar de olhos do homem, a intrusa havia sumido de sua visão, como um fantasma.
— Hã? Cadê ela?
— Psiu.
O guarda sentiu um toque no ombro direito, e ao direcionar a visão nele, um impacto forte atingiu seu maxilar, era o chute prometido por Beatrice, e assim o homem veio ao nocaute.
Quando o corpo dele caiu no chão, ela voltou a ficar visível.
— Nuuuh! Por um segundo. Ufa. — Beatrice passou a mão no cabelo. — Jurava que tinha mais tempo. Errei na conta de novo. Preciso de um relógio pra isso... Ah sim! a Kat!
Minutos depois, já na beira da estrada principal do submundo, Eriksen e Malaika se mantinham deitados na grama olhando para o céu, quase adormecendo.
BIIIIII!!! BIIIII!!!! BIIIII!!!!
A dupla Beatrice e Katherine chegou buzinando em um carro.
— Bora dorminhocos! Todos a bordo!
— Errou aí, Kat. Ou não, né, mais ou menos na verdade. — disse Mal.
— Sobe logo, caramba.
— Vai descansar um pouco. Eu dirijo. — Erik ficou ao lado da porta do motorista.
— Fique à vontade. Não podemos parar muito. Temos que chegar na capital o mais rápido possível. — diz Katherine.
— Difícil vai ser não pegar trânsito.
— Eu guio a gente. Vamos pegar as melhores rotas. — afirma Mal.
— Quer ir levando então?
— Só depois, Eriksen. Agora mete o pé no acelerador.
— É pra já!
Distrito da Tristeza: Via Principal | Zona Central, Capital |19:10 PM
Chegara a hora de mover as peças no jogo de xadrez proposto por Katherine, um jogo com riscos muito maiores do que o comum, onde perder um único peão seria um golpe devastador.
Mas havia uma vantagem interessante nesse jogo para o lado do quarteto: o adversário não estaria preparado para o primeiro movimento e seria pego totalmente de surpresa.
Malaika e Beatrice iniciariam as investidas nesse momento, porque Eriksen e Katherine estavam do outro lado da cidade para resolver algo com um certo ministro.
— Tem vários prédios aqui. Em qual deles está o laboratório? — indagou Beatrice enquanto se alongava.
— Kat falou que era o residencial. No caso, o mais chamativo deles — explicou Malaika.
— Ela disse um monte de coisa e eu não sei como você e o Erik entenderam tudo.
— Deixa que eu explico de novo então. Presta atenção. — Mal elevou a mão fechada e a colocou na frente de Trice, erguendo três dedos um a um durante a explicação. — Primeiro: nós duas temos que entrar no prédio sem sermos vistas pelos seguranças e chegar à escadaria. Segundo: descemos até o último andar do laboratório, que fica no subterrâneo, e verificamos a sala do Dormitório para saber se já há gente sendo vítima de experimentos. Terceiro: escrevemos uma mensagem e mandamos o corvo da Kat avisar a ela e ao Erik da situação.
— Caramba, você entendeu mesmo. Mas e os explosivos? — Beatrice apontou para o saco de pano atrás delas, mexendo a cabeça.
— Eu ia chegar lá.
— Ah, tá. Desculpa a intromissão... — ela abriu um sorriso. — Continua, por favorzinho... hi.
Malaika, por um breve instante, se viu em Beatrice, breves lapsos de memórias de como ela era, ou melhor, de uma parte que aprendeu a deixar de lado. Não só ser mais alegre, mas ser ela mesma.
Só que seu autocontrole assumiu novamente, o que era necessário, afinal, ela tinha uma missão a cumprir.
— Bom, os explosivos. Essa parte não tem segredo, o laboratório possui três andares, e cada um deles possui duas salas principais. A gente tem que colocar explosivos em todas elas.
— Lembro da Kat falando disso.
— Pois é. Mas nós não vamos fazer isso de primeira.
— Uhum... QUÊ? — Trice deu aquela exagerada. — Ué, por que não!? O plano não era sempre sobre isso? Explodir tudo?
— Sim. Porém, o Erik falou comigo enquanto esperávamos você e a Kat conseguirem as armas.
— Sempre ele... que cara complicado.
— Mas ele tá certo. Lembra que eu falei da gente primeiro verificar o último andar? Onde fica o Dormitório?
— Claro. Foi agorinha.
— Então. Isso já é coisa do Erik. A Kat esqueceu dessa parte, pode haver gente lá embaixo sendo vítima dos experimentos.
— Uma coisa... por que ele não falou com todo mundo logo?
— Disse ele que só pensou direito nisso quando estávamos vindo para o distrito. “A vingança nos cegou”, foi isso que ele me falou.
— Isso explica bem. Mas por que ele não quis ficar aqui no meu lugar? E preferiu ir com a Kat? Será que...
— Ele confiava em nós. Foi o que ele me disse. Além do que, a sua habilidade ajuda demais.
— Ok — Trice levanta os ombros e os abaixa rapidamente.
— Já chega de conversa, Trice. Lá dentro eu te conto como vai funcionar. — Mal se levantou, pegando uma bolsa com os explosivos. — Toma, você fica com eles.
— Deixa comigo! — concordou, pegando-a.
E assim, as duas deram início ao plano, indo rumo ao objetivo principal, o prédio residencial atravessando a rua, que parecia um edifício normal visto de fora, assim como seu interior também aparentava. No entanto, o subterrâneo abaixo dele era um verdadeiro paralelo ao inferno.
A porta central aparentava precisar de uma certa autorização, algo do tipo, mas isso não barraria ou atrasaria o andamento da dupla.
Foi necessário apenas que Beatrice ficasse indetectável aos olhos humanos, esperasse alguém de fora chegar e passar pela porta, para ela ir ao mesmo tempo. Quando isso aconteceu, ela aproveitou a oportunidade e entrou, facilitando a entrada de Malaika.
E desse modo, ambas não gastaram tempo e foram direto para o acesso que dava nas escadas.
Descendo e percorrendo os degraus que pareciam intermináveis, elas avistaram a numeração pintada na parede, que indicava em qual andar estavam, sendo o primeiro do laboratório escondido no subterrâneo.
— Faltam mais dois! — contou Mal, que já tinha gotas de suor caindo pelo rosto devido ao ambiente quente do lugar, além do esforço físico feito.
— Não há atleta no mundo que aguente uma escadaria dessas. Ai minhas juntas. — reclamou Beatrice, limpando a testa suada.
— Vamos dar uma pausa no segundo andar.
— Yes!
Degraus depois, elas enfim chegaram e pararam para descansar, recuperando um pouco das forças.
Elas já iam colocar o pé para fora dali, mas Malaika acabou escutando passos indo na direção em que elas estavam.
Sem abrir a boca, ela fez um gesto com as mãos para Beatrice, que no mesmo instante ficou invisível.
Quando a pessoa girou o trinco da porta e abriu, deu de cara com Malaika encostada na parede.
— Ei, você, o que está fazendo aqui? — se tratava de um guarda.
— Aí, me desculpe, senhor guarda, eu só estava procurando o banheiro! Sou nova aqui! — ela usou todos os seus talentos de atuação da época em que fez teatro na escola. O único infortúnio nisso é que ela não sabia formular boas improvisações fora do roteiro, então o plano caiu por terra. Além do que, havia mais um problema.
— Todos os funcionários daqui possuem crachá. E quando entra gente nova, é feito um comunicado geral. Nem queira dar uma de espertinha pra cima de mim. — disse o guarda, já apontando uma arma de fogo para ela.
Malaika saiu do modo de atuação e ficou encostada de forma normal na parede.
— É verdade... depois que saímos da escola tudo é mais difícil, que sociedade desgraçada...
— Pare de falar asneiras. Vamos, identifique-se! Não haverá uma segunda chance! — o guarda segurou ainda mais firme na arma, removendo a trava de segurança, indicando que poderia efetuar um disparo em resposta a qualquer movimento brusco.
— Até pensei em fazer novela, acredita? Adolescente é osso mesmo viu... — Mal estava ignorando-o propositalmente.
— Cale-se! Apenas obedeça!
— Tá... — Mal lentamente se afastou da parede, levantando as mãos em sinal de rendição. — Calma, eu estou cooperando.
— Agora vire-se para a parede! — ordenou o guarda.
— Que chato... — Ela começou a se virar lentamente. E então esboçou um sorrisinho para o lado antes de completar o giro.
— Ótimo. Mantenha-se assim. — O guarda recolheu a arma para pegar uma algema em sua cintura.
Mas foi aí que ele sentiu um forte impacto nas pernas, dobrando-se involuntariamente. Aproveitando a oportunidade, Malaika desferiu um chute preciso no rosto do guarda, lançando-o contra a parede. Ele bateu com força e caiu escada abaixo, já desfalecido.
Olhando de onde estava, Beatrice ficou visível.
— Que demora foi essa, Mal? Restavam apenas seis segundos quando você deu o sinal. Sabe que eu sou ansiosa, né?
— Desculpa, eu não estou acostumada com isso. Acho que o nervosismo me pegou.
— É... tá bem. E, inclusive, que chutaço, hein. Quase tão bom quanto o meu.
— Ah, sai pra lá!
Grunidos vindos das escadas acima são ouvidos pelas duas, e não demora muito para elas verem que se tratava de Ronan, o corvo leal de Katherine.
— Nuuuh! Tava esquecida desse bicho! — disse Beatrice, surpresa.
— Esqueceu, menina? Ele estava no plano que eu expliquei lá fora.
— Ah, é? Foi mesmo?
— Foi, ué.
— Tava lembrada não.
— Chega, chega. Vamos embora. Falta um andar ainda.
E após avançarem mais alguns degraus para baixo, elas finalmente chegaram ao terceiro e último andar.
O carro que Eriksen dirige está parado a duas quadras da Rua do Socorro. Ele aguardava a assassina pacientemente, procurando com os olhos espertos qualquer sinal fora do comum. Ele não dormia há algumas noites, deveria sentir sono com o silêncio e a noite calma. Mas era impossível.
Um longo tempo se passa e ele avista Katherine virando a rua, com seus passos firmes na direção do carro. Ela parece bem, mais do que bem.
O ar é liberado dos pulmões dele em alívio.
A porta do carro se abre e ela se senta no banco do carona de forma impaciente.
— Você conseguiu?
— Você duvidou? Trouxe algo para você. — Kat dá de ombros, de forma natural, mas a aura dos sentimentos dela está negra como o corvo. Há sangue respingado na bochecha da garota, se não fosse por isto e o cabelo despenteado, ele nunca teria sequer imaginado que aquela pessoa acabará de cometer um homicídio.
O Ministro da Guerra está morto.
Katherine abre uma bolsa pequena, pega algo de dentro sem que ele consiga ver e coloca em suas mãos duas bolas marrons meladas.
— O que é isto? — Erik diz observando as mãos imóvel.
— Doce. — Da forma que ela diz, parece ser um míssel.
— “Doce”?
— Sim. DOCE. Açúcar. De primeira linha.
— É sério? — As sobrancelhas dele estão erguidas.
— SIM! — Kat exclama e joga uma das bolinhas de dentro da bolsa na boca, comendo como se fosse um pedaço do céu. Ela ficou rapidamente amarela, como mágica.
Erick imita os movimentos dela.
— Gostou? É bom?
— Tem mais? — Ela quase não entende as palavras ditas pela boca cheia de chocolate.
— Tem, mas não para você. Trice vai adorar isto aqui. As meninas vão.
O homem come a outra e dá partida no carro, marcando as ruas com desenhos de pneus.
A noite não havia acabado, seria longa.
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