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1. 일


──── LISA ────

Desiste, eu não vou te ajudar a roubar um maldito banco! — decreta Rosé, a voz estranhamente brava para alguém que possui apenas duas emoções aparentes: desinteresse constante e felicidade reprimida.

A voz dela saí por um ponto de apoio no meu ouvido esquerdo, mas me permito imaginar como ela está agora: em um restaurante chique em Gangnam, com uma taça de vinho branco em uma mão e um vestido tubinho evidenciando a cintura fina. As pernas cruzadas seria um ato premeditado para uma das coxas saltar aos olhos de quem quiser ver. Ela estaria acomodada em uma poltrona, com os cabelos cinza para fora do encosto enquanto observa com certa consternação os arranhas céus espelhados de Seul, pensando: "O que eu faço com Lalisa Manoban?" Já que perdeu todas as chances de me matar quando teve a oportunidade.

Sorrio ao me lembrar disso, mas preciso manter o foco.

— Não é roubar um banco, vamos roubar o dinheiro antes dele chegar ao banco — explico, redimensionando a mira do meu fuzil.

O meu alvo está a vinte andares abaixo. Fecho um olho para focar nele enquanto ignoro o sol queimando a minha cabeça no terraço vazio.

Faz diferença o dinheiro estar num banco ou não? — pergunta ela.

— Faz toda a diferença, babe — respondo.

Babe? — Rosé ri, incrédula. — Você quer mesmo a minha ajuda.

— É óbvio que eu quero. Estou implorando.

Lá embaixo, a rua está tranquila, é começo do dia e a maioria das pessoas nessa parte da cidade só acordam depois das onze horas. A pouca movimentação da rua é composta de banqueiros e garotas de programa. Através do reflexo espelhado do prédio a minha frente e, claro, da ótima mira do fuzil, vejo o alvo no saguão do hotel vestindo terno azul marinho, calvície acentuada — a cabeça brilhante reflete no sol — e seguranças, cinco deles, usando óculos escuros e ternos pretos. Ele conversa com a atendente do hotel, inclinando-se no balcão, o que obviamente está assustando a garota. Ela estampa uma cara de socorro.

Aperto o tripé do fuzil com mais força.

— Escolha rápida: cabeça ou coração?

Rosé respira fundo, como se fosse uma questão de prova.

Cabeça. No coração há mais chances de errar, mas na cabeça o tiro é certeiro. Se não matar pela perfuração, mata pela concussão... apesar que se você estiver usando um fuzil vai fazer mais bagunça desnecessária, decapita o alvo e, vai por mim, a cabeça vai explodir e... — ela se interrompe. — Do que estávamos falando mesmo?

Solto uma risada anasalada.

— Você continua mórbida... senti falta disso, Rosie.

Se continuar a me tratar assim, vou me apaixonar por você de novo, Lisa.

— Anotado — respondo, sorrindo.

Para o desagrado de Rosé, eu usava um fuzil de precisão, que normalmente pesa 5 quilos, mas o meu em especial é um pouco mais pesado. Os cartuchos são especiais, calibre 5,56 mm, sem pólvora, sem fumaça e sem chama. Alcançam mil metros com facilidade. Uma belezinha dessa derruba helicópteros e carros blindados, e meu alvo devia se sentir lisonjeado se soubesse que seria morto por um desses. Assim que eu acionar o gatilho, ele estará morto antes de cair no chão. Não terá tempo para conjecturar o que o acertou.

Não quero te atrapalhar, continue seu serviço, mas procure outra doida para te ajudar nesse pedido sórdido... — Rosé boceja. — Nos vemos daqui há uns anos, preferencialmente nunca.

Rolo os olhos, impaciente.

— Rosé, você nem está trabalhando, qual é? Custa me dar uma mãozinha...?

Estou afastada — corrige ela, irritadiça. — O Serviço Nacional de Inteligência me deu seis meses para entrar na linha, e se eu fizer merda de novo eles vão me expulsar. Você tem noção disso? Vou perder uma vida inteira de treinamento, Lisa, eu preciso desse emprego.

Meu alvo está na terceira tentativa de assédio e, agora, a recepcionista é só um bichinho encolhido atrás do balcão, pedindo a Deus para que alguém o tire dali.

— Você é a mulher mais inteligente do Serviço Nacional, pode matar o presidente em praça pública e ainda sim, não terão coragem de te expulsar. Vamos, Rosé, é uma chance de um bilhão!

Eu gosto do meu trabalho — lamúria ela.

Posso imaginá-la balançando a taça de vinho vazia, com a cabeça repousada nas mãos pensando nas possibilidades. Enquanto isso, o meu alvo deixou a recepcionista em paz e os cinco seguranças caminham para perto dele. Estão saindo do hotel.

—  O que o Serviço Nacional de Inteligência te deu além de insônia e alcoolismo? — pergunto.

Ela pensa por alguns segundos e me responde com a voz pastosa:

Treinamento tático e estudos avançados, a insônia e o alcoolismo eu puxei da minha mãe.

— Já que pensa assim... — Passo as mãos enluvadas no pente de balas, checando se está bem posicionado, e com a outra mão seguro o tripé.

Toda a minha concentração se foca no alvo e, pela luneta, acompanho o momento exato que ele sai pela porta do hotel. Miro no fim da rua, em uma placa de metal na fachada de uma boate. Se meus cálculos estiverem certos, a bala irá acertar o osso temporal, na lateral da cabeça.

— Só um minuto, Rosé... — Prendo a respiração, concentrada. — Não vou te ouvir agora.

Aperto o gatilho.

A pressão do fuzil enrijece os meus ombros e provoca um chiado mínimo no silenciador. A bala ricocheteia na placa de metal e vai direto para a lateral do crânio dele. Dois segundos depois, o homem cai no chão, morto, e o que era para ser a sua cabeça se resume a sangue e conteúdo cerebral espalhado pelo terno dos seguranças.

Faço uma careta.

— Rosé tinha razão... — sussurro, desmontando o fuzil do tripé.

Quando ligo o ponto de áudio, a voz dela adota um ar mais interessado.

Está trabalhando? —  Rosé provavelmente se remexe na cadeira enquanto pede ao garçom mais um vinho branco. Ela gosta do vinho como gosta de garotas: amargas. — Eu achava que soldados da guarda do rei só serviam de enfeite, no máximo desfilavam no dia da independência.

Minhas mãos trabalham para recolher tudo rapidamente. Desmonto o fuzil e jogo dentro da bolsa.

— Haha, engraçadinha... — O terraço do prédio permanece ensolarado e vazio. Abaixo, na rua, a multidão já se aglomera ao redor do corpo. — Mas não, não sou mais uma soldado do rei, eu meio que desertei. Achei que tivesse te contado.

Rosé se engasga.

Você... o quê?

Dou de ombros, mesmo sabendo que ela não pode ver.

— Cansei desse lance de proteger príncipes, se eu voltar para a Tailândia vão me levar para a forca, traição e tudo mais...

Ela tosse enlouquecidamente.

Você está... está na Coreia do Sul!?

— Óbvio, porque acha que a ligação está tão boa? — retruco. — E por que eu te ligaria se não estivesse na Coreia do Sul? Mais especificamente em Seul?

Enrolo o pente de munição usando o braço. O sol é tão forte que uma fina camada de suor brota na minha nuca e os fios de cabelos pretos voam graças ao vento.

Você pirou, porra? Qual o seu problema, caralho?! — berra Rosé. — Você simplesmente abandonou tudo porque te deu na telha!? Você é uma...

O celular no meu bolso vibra, mas não é Rosé — ela ainda está ocupada tecendo a maior quantidade de palavrões por minuto — é o pagamento pelo serviço que acabei de fazer caindo na minha conta bancária.

— Okay, Rosie, já entendi, você vai ou não me ajudar? — corto o seu monólogo.

Óbvio que não! — exclama ela. — E não me ligue mais, merda!

A linha fica muda.

Suspiro, olhando as horas pelo relógio de pulso.

Ela vai aceitar a proposta.











Estou na Coreia do Sul há dois meses, seguindo o rastro de uma quantia de dinheiro que saiu da Tailândia com destino a ilha de Jeju. O dinheiro em questão é uma pequena parcela — que ainda sim, é muito dinheiro — em dólares, advinda de lavagem de dinheiro de um dos vários negócios ilícitos da corte real. Mandá-lo para um paraíso fiscal estava fora de questão, ainda mais porque, inevitavelmente, iriam descobrir a origem do dinheiro. Então o rei achou mais fácil negociar com um banqueiro sul-coreano que aceitou o dinheiro sem perguntas e abriria as portas do seu banco para os milhares de dólares vindos da Tailândia.

Que iriam para o meu bolso, se tudo der certo.

O primeiro passo foi fugir da Tailândia durante a madrugada, sem despertar suspeita, nos fundos de um navio cargueiro. Agora, preciso me manter no país sul-coreano enquanto o plano está em ação. Eu necessito de dinheiro para comprar o armamento e os equipamentos fundamentais para se assaltar um carro forte e não ser pega. Os serviços de assassina de aluguel são bons por esse motivo: o dinheiro caí na hora. O terceiro passo é contatar pessoas de confiança. Eu sou boa em situações práticas e sei das minhas limitações.

Rosé é a minha única opção e ela sabe disso.

Com tudo desmontado e a mala a tiracolo, guardo as luvas táticas no bolso da jaqueta. No elevador do prédio, encaro o meu reflexo no espelho: um par de olheiras debaixo dos olhos, lábios rachados, cabelos recém cortados, pretos, e uma franja cheia. Meu primeiro salário como assassina de aluguel foi para uma loja de departamento, já que pela primeira vez na vida posso ter o estilo que quiser, apesar de Rosé, desde sempre, me classificar como "algo entre Nicolas Cage em Motoqueiro Fantasma e uma protagonista grosseira de qualquer filme de ação barato da Netflix."

Fecho os botões da minha jaqueta de couro, saindo do elevador.

A Recepção do Hotel DuMont é um salão oval com uma fonte inesgotável de pessoas e interesses obscuros. O hotel fica em uma parte abandonada de Seul, mas tem uma fachada espelhada atrativa o bastante para encobrir o que acontece aqui dentro. Ele se tornou o lugar perfeito para negociar mortes, roubos, lavagem de dinheiro, sequestros e tudo, claro, vindo de pessoas dispostas a pagar bem, vestindo ternos caros e tomando bourbon em taças de cristal. A polícia não tem autoridade nenhuma dentro do DuMont, é uma terra sem lei.

Consegui me hospedar aqui por indicação, o que me ajudou no emprego de assassina de aluguel. No entanto, o que me espera no salão de recepção não sabe da fama do DuMont.

Sorn me reconhece assim que as portas do elevador abrem e o hall dourado se apresenta à minha frente. Se tratando de recepção, o DuMont sabe muito bem como entreter os seus hóspedes. As mesas estão em distâncias seguras onde reuniões podem ser feitas sem maiores problemas e os garçons passam com bandejas e cadernetas para cima e para baixo, orientados a se fazer de surdos a menos que fossem chamados. Em outra área mais a frente, jogos de cartas enchem o salão de uma conversa animada.

Coloco a bolsa com o fuzil embaixo da mesa e me jogo na cadeira.

— Espero não ter demorado muito. — Lembro-me de sorrir.

Sorn dá um tapinha no ar.

— Bobagem!

Ela usa um vestido perolado de "gola v" e os cabelos loiros estão presos em um rabo de cavalo. Os brincos são tão longos que alcançam os seios, pressionados por um decote bastante generoso, diga-se de passagem.

Sorn se remexe na cadeira.

— Estava aproveitando os drinks oferecidos pelo hotel, obrigada por pagá-los para mim. — Ela suspira, olhando tudo ao redor. — Eu estou surpresa por nunca ter vindo a esse lugar antes, e estou em Seul há mais de cinco anos...

— Fico feliz que esteja aproveitando. — Interrompo o papo furado, mas sem tirar o sorriso do rosto. — Vamos para os negócios?

Tratar de assuntos delicados no DuMont é seguro, mas eu não me sinto segura. Sou naturalmente desconfiada, o que me faz suspeitar dos garçons à minha volta e de Sorn, a coisa mais próxima de casa que eu vejo em dois meses.

Ela bebe um longo gole do seu vinho, deixando o gloss borrar a borda da taça.

— Claro! Como eu falei na ligação, eu trabalho com ex soldados, introduzindo eles novamente na sociedade. A maioria passou tanto tempo servindo ao exército que perdeu muitas habilidades sociais, além dos problemas de confiança e o estresse pós-traumático. Mas não tem com o que se preocupar, é tudo discreto, sem alardes e todos os seus dados estão bem resguardados comigo... resumindo, estou aqui para ajudá-la no que você desejar. Posso conseguir uma casa sem barulhos externos, empregos, hobbies...

Repouso os cotovelos na mesa, enquanto Sorn manda para dentro o resto do vinho. Bastante profissional.

— É exatamente o que eu estou procurando — retruco, mas com outro tipo de sorriso tomando conta do meu rosto. — Espero que saiba que, quando diz que irá me ajudar com todos os meus desejos, quero que os faça.

Sorn deixa a taça em cima da mesa e enrola uma mecha dos cabelos loiros. O sorriso brinca em seus lábios quando, por debaixo da mesa, as coxas se abrem e uma das minhas pernas se encaixa no meio delas.

— E o que seria seu desejo? — pergunta ela, baixinho.

Abro o zíper da mala e pego uma pasta entre os cartuchos do fuzil, jogando-a em cima da mesa.

— Quero que me coloque para trabalhar em um carro forte.

Sorn pisca algumas vezes, surpresa.

— Ah, bom... claro! Podemos... — ela pigarreia. — Eu posso olhar quais empresas trabalham com carro forte e mandar os seus dados, eu...

Inclino-me até ela. Sorn se cala no mesmo momento.

— Você não está entendendo, amor, eu quero que você me coloque para trabalhar em um carro forte de uma empresa específica. — Abro a pasta, mostrando-a tudo que achei sobre a Kanji Seguranças.

Sorn pega a pasta com as mãos trêmulas.

— Senhorita Manoban... acho que me entendeu errado, o meu trabalho, eu não... não compactuo com possíveis planos. Seja eles quais forem. Preciso dos seus dados, seu documento de dispensa do exército e paciência, para que eu ache o emprego ideal para você...

Fito-a intensamente e Sorn acaba entendendo através da quase embriaguez, que deixá-la esperando em um salão com bebidas disponíveis não foi por acaso. É outro ensinamento que aprendi com Rosé: as pessoas ficam mais adeptas a aceitarem tudo depois de uma boa taça de vinho branco.

— Eu era uma soldado da corte do rei Maha Vajiralongkorn, sabia? — falo.

Sorn balança a cabeça em negação, mas eu continuo:

— Nos desfiles, eu andava com aquele capacete branco idiota e um fuzil no ombro. Sempre disposta a acatar os interesses do rei e seus príncipes, sejam eles quais fossem. Servi a corte real por dez anos da minha vida, e olha que eu só tenho 25 anos — concluo.

Sorn arqueia as sobrancelhas, surpresa.

— Eu não sabia que esses soldados tinham dispensa, para mim eles...

— Eles juravam lealdade ao rei até o dia de sua morte? É, pois é, é exatamente isso. — Repouso uma mão em cima da sua coxa, que ainda pressiona a minha perna. — Então, Sorn, eu não posso te passar os meus dados, meus documentos de dispensa do exército e nem vou te dar um pouco da minha paciência. Você vai entrar em contato com a Kanji Seguranças e vai me colocar para trabalhar na ilha de Jeju. Você vai fazer isso porque sabe que a comissão que eu vou te dar será maior do que você receberá em toda a sua vida, mas, acima de tudo, você compreende que eu sei mais de você e da sua família do que você sabe sobre mim. — Sorrio largo. —  Caso ainda esteja receosa com a proposta, podemos conversar melhor no meu quarto, o que acha?

Os olhos de Sorn pairam sobre mim, as pupilas inquietas e o lábio inferior preso entre os dentes.

— Peça ao garçom para fechar a conta — diz ela.


───「$」───



Meus cabelos estão molhados e meus pés descalços roçam de lá para cá no tapete felpudo. Seul projeta à minha frente, as luzes dos prédios clareando a noite através da janela panorâmica.

Encosto a cabeça no vidro.

O quarto está naquela escuridão pacífica enquanto Sorn dorme nua em meio aos lençóis de cetim. As coxas douradas estão embebidas em suor.

Nas noites em que eu não consigo dormir — e são muitas delas —, uma garota como Sorn em meus lençóis resolve o problema. Quando eu não tenho essa opção, um banho bem longo e um copo de whisky ajuda. A garrafa que eu tinha acabou ontem. Portanto, só me resta encarar os arranha céus da cidade, tentando não pedir algo alcoólico pelo serviço de quarto, porque outra coisa que aprendi com Rosé é que maus hábitos são impossíveis de serem extintos. Se eu pedir whiskey ao hotel, começarei a pedir todo fim de dia.

No silêncio do quarto, cortado pelo tic-tac do relógio digital e o remexer inquieto de Sorn na cama, meu celular toca.

Senhorita Manoban? Park Rosé deseja vê-la, posso deixá-la subir? — A moça da recepção diz, do outro lado da linha.

Ela não deve ter entendido porque ri em resposta.

— Deixe-a subir.

Amarro a alça do roupão e saio do quarto. Os cômodos do hotel DuMont são um pequeno kitnet, sala e cozinha juntas, e um banheiro dentro do closet. Acendo a luz da sala e destranco a porta, esperando Rosé. Em menos de cinco minutos, ela entra sem um pedido de licença ou um cumprimento — o que é de se esperar de alguém que você não vê há mais de dois anos —. Porém, Rosé nunca foi agradável e o máximo de carinho que ela se permite dar para alguém é na cama. Ela tira o sobretudo cinza, colocando-o nas costas da cadeira, e deixa os pacotes com a logo do McDonalds em cima do balcão da cozinha.

— Você continua comendo essas porcarias? — pergunto, bisbilhotando dentro do pacote.

Rosé me olha sobre os ombros, lavando a mão na pia.

— É o que me mantém viva atualmente, algum problema?

Os cabelos dela ainda estão em um violeta claro, talvez cinza, presos em um coque que deixa alguns fios ao redor do rosto. Nos lábios, o batom vermelho de sempre, no corpo, uma camisa de seda com as mangas levantadas até os cotovelos e a saia lápis emoldurando perfeitamente a curva do quadril. Rosé seca as mãos e vem até mim, o barulho irritante dos seus saltos tilintam no piso da cozinha.

— Quanto de dinheiro está sendo levado para esse banco?

Sorrio, puxando uma mecha do seu cabelo cinza. A respiração dela está quentinha em contato com a minha.

— Está interessada?

Rosé se afasta, sentando-se na bancada.

— Talvez. Mas não aja desse jeito prepotente, não era isso que você queria? Ajuda?

Sento-me ao lado dela.

— Não se irrite, eu preciso da sua ajuda. Sem você o plano não vai sair do papel.

Rosé pega um dos hambúrgueres do pacote.

— Quanto? — pergunta ela, novamente.

— Duzentos milhões de dólares — falo.

Rosé larga o hambúrguer na bancada, lambendo os lábios sujos. Ela aceitou fazer parte do plano desde a nossa ligação e só demorou para aparecer porque gosta de um drama, mas vê-la processar a informação que acabo de dar, percebendo que não tem como recusar uma oferta dessas, é glorioso.

— Okay... Tô dentro... e, ei! — Ela me empurra. — Nem pense em me abraçar!

Paro com os braços abertos no ar.

— É um abraço de comemoração! — protesto.

— Pense bem antes de comemorar. O dinheiro precisa ser dividido em três — ela diz.

Deixo os meus braços caírem, em choque.

— Espera... porquê? Como assim três?

Rosé se levanta, parando na minha frente com os braços cruzados.

— Pense, Lisa, por favor. Você é boa na parte física, certo? No corpo-a-corpo...

Dou um tapinha no ar.

— Own, eu sei disso, Rosé...

— Sem gracinhas — repreende ela. — Já eu, posso planejar passo-a-passo do que vamos fazer...

Interrompo a sua fala, lembrando da nossa conversa mais cedo.

— Espera, e o Serviço Nacional? — quero saber. — Não era você que hoje de manhã disse que gostava do seu emprego?

— Se eu tiver milhões de dólares ao meu alcance acha mesmo que eu vou voltar para o Serviço Nacional? — responde ela, simplista. — A questão é que precisamos de uma pessoa boa para ser responsável pela parte tecnológica da coisa. Não sei nada sobre esse dinheiro, mas sei que precisamos montar uma operação, isso requer aparato tecnológico, requer documentos falsos e comunicação sem rastros.

Massageio as têmporas, sempre tive uma leve insegurança que isso fosse acontecer: que Rosé fosse
colocar mais alguém na jogada. Ela tem uma predileção em adotar casos perdidos, e é um dos motivos pelos quais ainda é minha melhor amiga. Mas eu não estou convencida a dividir o meu dinheiro com uma pessoa nova, apesar de aceitar o fato que sim, em algum momento vamos precisar de alguém bom em tecnologia.

— E você já tem alguém em mente — suponho.

Ela maneia a cabeça em concordância. É óbvio que Rosé já pensava em alguém, a sua mente nunca para de trabalhar. Ela pega o celular da bolsa, relaxada o suficiente para tirar os saltos e deixá-los aos pés da cadeira.

Aproximo-me dela, olhando para a tela do celular sobre os seus ombros, até que Rosé me entrega o aparelho. Vejo a foto da menina na tela enquanto Rosé me fita, buscando aprovação.

A menina tem cabelos castanhos premeditadamente desleixados e um pouco abaixo dos ombros, mas é as duas mechas platinadas ornando o rosto oval que chamam atenção. Tento notar outros detalhes, mas só consigo me sentir intimidada pelos olhos felinos. É como se ela me desafiasse para uma briga. Os lábios estão repuxados para o lado em um sorriso presunçoso, o que me faz chegar a conclusão que ela é uma garota que cresceu nas ruas, envolvida em pequenas gangues e furtos que talvez tenha se tornando um latrocínio. Parece não ter modos e possui uma grande lista de garotos problemáticos como ex-namorados, como também algum vício ilícito.

— Jennie Kim — diz Rosé. — Ela é a garota que precisamos.

Devolvo o celular para Rosé, sem esconder a minha cara de descontentamento.

— Ela parece ser chave de cadeia.

— Literalmente — Rosé confirma.

O quê...? — Engasgo com a saliva. —  Ela tá presa?

Rosé ri, na rápida demonstração da felicidade reprimida da qual falei mais cedo.

— Três anos na penitenciária feminina de Busan após hackear a conta bancária de 10 dos 50 bilionários da Ásia e doar o dinheiro para uma instituição de cachorrinhos abandonados. Ela vai ser liberada amanhã.

Levanto uma sobrancelha, interessada, mas ainda temerosa. Jennie Kim pode ser boa, mas eu não quero dividir o meu dinheiro com alguém que pode colocar tudo a perder.

— Como tem certeza que ela é de confiança? — pergunto.

Rosé recomeça a comer o hambúrguer.

— Porque eu coloquei ela na cadeia.

Sem me deixar perguntar, Rosé já emenda com a explicação do que aconteceu:

— Há três anos, participei de uma ação conjunta com a inteligência japonesa para capturá-lá. No começo, pensávamos que era uma equipe como os Anonymous, mas no fim era uma só uma garota com um notebook. Imaginei que ela pegaria mais de vinte anos de prisão, mas Jennie foi esperta. Ela hackeou o sistema do governo japonês e apagou todas as provas que tínhamos, só conseguimos comprovar que ela acessou o computador por um sistema remoto, e foi acusada por isso. — Rosé lambe os dedos sujos de cheddar. — Ela provocou uma mudança no sistema policial do Japão, agora todas as acusações precisam ter uma versão impressa.

Demoro um tempo para processar a informação enquanto Rosé termina de comer o hambúrguer.

— E acha mesmo que ela vai, de bom grado, aceitar uma proposta vinda de você? — pergunto o óbvio. — Se estiver na porta da penitenciária amanhã, quando ela sair, você vai ganhar um soco, Rosé, na melhor das hipóteses.

Rosé joga o papel do hambúrguer no balcão, passando a língua pelos lábios ainda intactos com o batom vermelho. Nunca vi Rosé sem os malditos lábios pintados de vermelho.

— É por isso que você vai comigo — ela diz, fechando o meu roupão com força. —  Seja uma boa soldado e me proteja da fúria vingativa de Jennie Kim e, quem sabe, trazemos ela pro nosso lado. — Rosé me interrompe mais uma vez, antes que eu possa despejar uma série de perguntas. — Pelo que eu conheço dela ou conhecia, há três anos atrás, Jennie não tem muito o que perder. Ela não pode mais voltar ao Japão e está na lista de monitoramento de vinte países. Vão prendê-la de novo se ela encostar em qualquer aparelho com acesso à internet por dez anos, mas a chance dela cometer os mesmos crimes assim que for solta, é alta. Jennie vai aceitar a proposta.

— E vai querer te matar — lembro.

— É, vai sim. — confirma Rosé, quase como se estivesse ansiosa para isso. Ela tomba a cabeça para o lado, bisbilhotando algo atrás de mim e, quando acompanho o olhar, vejo Sorn ainda dormindo no quarto. Rosé faz uma careta. — Se fosse em outro momento, eu até me juntaria a vocês, mas agora preciso que expulse a garota da sua cama e me fale mais sobre o dinheiro. Precisamos criar um esboço inicial.

Respiro aliviada, enfim o plano sairá do papel.

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