Capítulo 24- Os Doze Tronos I
00h45min, madrugada de 25 de dezembro. Dia de Natal para aqueles que tinham fé em sua magia; em muitos lugares do planeta Terra, várias pessoas já haviam ganhado um presente de alguém especial, o qual as crianças mais ingênuas acreditavam ser o Papai Noel. Entretanto Noel não exercia sua função dessa forma, presenteava sim, mas não com algo palpável, dava muito mais que isso.
— Você faz isso todos os anos e parece que eu quem fico mais fraca. — Maria comentou dramaticamente, andando com o braço enlaçado no de seu marido, os dois com suas costumeiras roupas vermelhas.
José e Dragon caminhavam atrás. Em contrapartida ao fato de seu cabelo dourado nunca mais ter crescido um único centímetro, algo que sabia que jamais sentiria falta na transformação mística, a saudade de Joseph já havia se tornado rotineira. Se não fossem os conselhos e ajudas psicológicas da chefa dos guardiões, cederia a paranoia de que estava sendo evitado pelo próprio pai.
“Você sabe como essa batalha tem ocupado o tempo de todos...” — Lembrava-se do que ela lhe falava. — Ele esteve ocupado por quase um ano?
O corpo do loiro havia tomado um forma ainda mais musculosa por causa do esforço que a guerra os obrigava a fazer, porém, nada comparado ao físico invejável do fera frio. O telepata conseguiu evoluir bastante sua mente e a capacidade de socialização graças a Maria, mas não tanto quanto ela desejava, pois como sempre dizia ao bruxo: “A guerra ocupa a todos”.
No entanto o dragão guardava um recente segredo, nos últimos dias havia aprendido a pronunciar suas duas primeiras palavras, algo que lhe parecia ser o mais difícil da fazer como humano, mas o faria somente quando chegasse o momento certo daquele dia, como forma de presente.
O destino agia de forma inusitada, mas lhe agradeciam por ter, de certa forma, juntando-os com aqueles que poderiam chamar de família depois de dividirem a mesma mesa de jantar, ou por ficarem lado a lado num combate que se expandia por todo o planeta. Haviam ganhado os pais que não tinham naquele momento e os filhos que jamais poderiam conceber.
Dirigiam-se a uma sala que o rapaz ainda não possuía conhecimento, mas expectava por algo incrível, como em todas as outras na base da Antártida.
— Sabe que isso é seguro. — O guardião tentou acalmá-la, como fazia todos os anos.
— Você que está dizendo...
— Além de que nós temos um bruxo desta vez. — Noel lembrou virando-se para dá uma piscadela para o jovem de traje verde.
— Eu estou curioso e ansioso. — Realmente mostrava-se animado, ainda mais por conta daquela época do ano, a qual amava. — Você gosta do Natal, Dragon?
Isso é de comer? — questionou genuíno após um tempo em que se questionava ao que ele se referia. Todos começaram a gargalhar.
— Depois eu explico. Chegamos. — A senhora abriu uma das portas duplas enquanto a outra era empurrada por seu marido.
Uma câmara idêntica a que permanecia a esfera que Maria usava para monitorar os acontecimentos, todavia, naquela, o globo reluzente brilhava em uma cor cinza fosco, sem outros tons aparentes. Além de haver uma cadeira que se encontrava embaixo do grande orbe que flutuava imponente no recinto de paredes monótonas de cor azul-escuro.
— Vamos fazer isso o mais rápido possível — Noel direcionou-se até a cadeira e sentou da melhor forma como poderia se sentir confortável, entregando o cajado que portava ao fera —, não podemos dormir tarde demais, pois temos compromissos amanhã bem cedo.
— Pra que são essas amarras? — José perguntou enquanto a mulher prendia as mãos dele ao assento de madeira.
— Por precaução e segurança apenas — explicou terminando de enlaçar os pulsos e abaixou-se para amarrar as pernas.
— Vocês fazem isso todos os anos mesmo? — inquiriu o bruxo. Seu interrogatório parecia manter qualquer nervosismo longe dos guardiões, ou dele mesmo.
— Sim. — Noel sanou secamente, tendo seu ânimo começando a ser mudado pela preocupação.
E o que seria “isso”? — Ouviram em suas mentes.
— Aqui na Terra existe a história de um velhinho...
— De um homem com barba branca, não necessariamente velho — refutou a fala de sua esposa, que revirou os olhos castanhos e continuou.
— Esse homem seria responsável por entregar um brinquedo a todas as crianças do mundo num único dia. — Terminou de atar as amarras dos pés e pediu o bastão tecnológico ao criocinético. — Chamam esse homem de Papai Noel, mas o verdadeiro Noel não presenteia com algo material, ele dá seu próprio poder às crianças.
E o que você recebe em troca? — Dragon indagou enquanto Maria desacoplava o orbe azul do gorro do senhor de íris azuis, o mesmo orbe que ele usou para guardar a energia de Aurora.
— Não se dá presentes esperando receber algo em troca. — O guardião argumentou sabiamente. A mulher abriu um compartimento do cajado e colocou a esfera dentro. A luz na ponta do bastão, que antes era amarela, naquele momento, reluzia nas mais diversificadas cores.
— Além de que isso tornará do mundo um lugar melhor e isso já é um grande presente — concluiu utópica, aproximou-se de seu marido e o beijou na testa — Pronto? — Ele confirmou com a cabeça. — Afastem-se, meninos.
Ainda os tratava como crianças, por mais que o telepata contasse com uma idade humana de vinte e sete anos e o rapaz já possuísse suas dezoito primaveras.
Recuou um pouco para trás mirando Noel com o cajado, e os outros dois observavam atentos um pouco mais afastados. A ponta do bastão deu início a um brilho ainda mais intenso e o chakra do guardião preso não mais se conteve em seu corpo, excedendo-o. A aura vermelha começou ser sugada pelo cajado, fazendo Noel sentir como se cada resquício de sua vida estivesse sendo arrancada.
— É assim que vocês fazem com feras deficientes? — José questionou, já que ainda não havia visto uma, principalmente por conta da guerra que ainda ocupava os poderosos.
— Na maioria das vezes sim — respondeu Maria, cerrando os olhos por conta da claridade intensa —, mas quando ela não facilita a extração total de seus poderes, deve-se sacrificar o animal.
— É... Eu soube. — Ainda recordava das poucas explicações que havia recebido do pai. — Tem alguma chance do Noel ficar sem as habilidades dele?
— Sim, se tirar todo o chakra dele, sua energia vai se regenerar, mas como o de um humano normal, sem poderes... Ou ela não se regenera, causando a morte — explicou ao mais didática possível e com excessiva serenidade. O guardião já forçava as amarras, pela dor excruciante que o imobilizava. — Por isso preciso parar antes que acabe completamente.
— E é por isso também que eu estou aqui. — Escutaram outra voz feminina ecoar no âmbito. Uma mulher colorida apareceu ao lado da cadeira. Ela era semelhante a Aurora, mas de forma mais etérea, como se fosse feita de pura energia. — Boa madrugada, poderosos.
— Boa, Samira. — Maria percebeu o interesse dos dois observadores. — Garotos, esta é Samira, a personificação do chakra.
— Você parece mais fraco a cada Natal que faz isso, Noel. — A figura multicolor comentou percebendo-o mais cansado que das vezes anteriores.
— E-esse não foi um ano fácil — explicou gemendo, esforçando-se para não gritar.
— Ou você já está ficando velho — descontraiu, fazendo todos gargalharem e apontou a barba marrom. — Olha, já está até ficando grisalho.
Gostei dela. — Dragon afirmou genuinamente por telepatia, tomando atenção.
— Também gosto de você, Dragon, acho fofa sua ingenuidade — devolveu com graça.
— Você é como o Hugo. — José reivindicou a palavra, num tom de questionamento. Sua memória mostrava o ser dourado que lhe apareceu quando faleceu.
— Personificamos coisas diferentes, mas somos parecidos. Aliás, ele me disse algo sobre você...
— AAA! — Noel não mais resistiu a dor sem gritar.
— Só mais um pouco, Maria, dessa vez seremos cautelosas em tomar menos de seu poder. — Samira alertou com precaução em meio à agonia do filantropo.
— Não, eu aguento mais!
— Como se mandasse em alguma coisa aqui. — As duas mulheres refutaram sorrindo.
— Pronto, já chega. — A personificação do chakra advertiu, e Maria descontinuou automaticamente, erguendo o cajado que emitia luminosidade mais que em nenhum outro momento. Com a cessão da extração, o enclausurado teve sua consciência esvaída de forma súbita.
— O desamarrem, meninos. — Assim que a loira pediu, José, com um aceno, desarrochou as amarras.
— Prático — proferiu sorrindo com atenção naquele que permanecia desnorteado no assento.
— Pois bem, já vou indo — despediu-se Samira, acenando sem fazer cerimônia.
— Espera! Me fala o que Hugo te disse sobre mim — exclamou mais alto do que desejava.
— Ele disse... que... Eu não me lembro bem. — O adolescente suspirou decepcionado. — Não foi algo importante na minha extensa e eterna vida, mas tem alguma coisa a ver com “linha tênue”. Agora tenham um feliz Natal e adeusinho. — Sumiu repentinamente, deixando-o ainda mais curioso.
Devíamos levá-lo ao quarto dele. — Dragon sugeriu indicando Noel, o qual deixava escorrer saliva pela boca aberta, uma vez que sua cabeça pendia para trás.
— Vamos sim, querido, amanhã bem cedo temos mais coisas para tratar...
Cada um dirigiu-se ao seu aposento na base ártica; o guardião precisou da ajuda do fera para ser levado até o seu, por estar desacordado... Depois de uma boa noite de sono, suas forças já se mostravam revigoradas, além do café da manhã especial que Maria preparou devido ao Natal, o qual renovou seus ânimos. Às nove horas da manhã, já se viam outra vez na mesma câmara da madrugada anterior.
— Agora resta o último passo. — Noel cravou seu cajado em uma perfeita abertura do alicerce metálico, bem abaixo da esfera de cristal flutuante, dessa forma, todo o chakra sugado se manifestou pela ponta do bastão. José e Dragon observavam fascinados, a energia se elevava dançando e adentrava no globo que servia como bateria. — Todo este chakra será transferido à outra câmara, para aquela onde os brinquedos recebem minha criatividade.
— Já vamos? — José inquiriu, ansioso para o evento que os esperava em algumas horas.
— Até parece que o mundo vai acabar... — O guardião revirou os olhos rindo, dirigindo-se a saída. — Nós iremos pelos portais fixos dessa vez. — Pôs-se a andar por um corredor, pelo qual nenhum dos dois em seu encalço já havia transitado.
— O que houve com os portais de bolso?
— Às vezes você deveria ser como o Dragon, não fazer tantas interrogações. — Gargalhou junto de seu guardião frio, o qual ria somente lançando um suspiro gélido pelas narinas sob a máscara.
Também estou curioso, mas já sabia que ele iria perguntar, então...
— Não podemos nos apegar ao passado, estamos em clima natalino, é dia de vida nova — declarou com suspense, entrando num âmbito repleto de grandes arcos tecnológicos, portais.
Como os da Área 50... — José se lembrou de seu primeiro teleporte, foi uma sensação inexplicável.
Tropical, árido, frio... Não me lembro de Maria falando sobre nenhum clima natalino. — O dragão buscava na memória algum momento de suas poucas aulas em lhe foi falado sobre climas terrestres. — Deve ter algo a ver com esse Natal...
— O que você quer dizer com isso? — O loiro de chapéu pontudo esverdeado não cessava seus questionamentos.
— Nada muito importante. — A dama interviu surgindo de repente, já esperava na área de teletransporte. — Amor, eu não consegui ativar o portal, acho que esqueci alguma senha.
— Pode deixar comigo. — Noel, então, dirigiu-se ao painel de controle do lado de um dos arcos e começou manipular os botões. A mulher olhou-o distraído e em seguida voltou-se àqueles próximos a ela.
— Alguns anos atrás, nos Jogos Egrégios, um jogo para poderosos — explicou para Dragon —, o evento terminou em empate e Noel foi escolhido para representar um dos times participantes. Só que ele se empolgou demais e usou o sino mágico, fazendo com que todos na arena dormissem — contava tudo aos dois, cochichando.
— Nos anos seguintes, ele foi proibido de assistir aos jogos e por isso desligou os portais fixos, desejando não interagir mais com os poderosos que nos visitavam, para pedir por suas criações tecnológicas. Por exemplo, a sala dos poderosos Power-Men, ou toda a arena da Área 50, que ele mesmo projetou.
Para que não espantasse o alegre clima natalino, não contaria que foi depois do desligamento dos portais que seu marido perdeu boa parte de seu encanto que carregava consigo a todo o momento. Após tal evento, nunca mais foi o mesmo, até que encontrou a felicidade do bruxo e a ingenuidade do dragão, que o lembravam das crianças, pelas quais ele dava sua vida literalmente.
Nossa! — Ambos que a ouviram, exclamaram em suas mentes, mas o rapaz ainda precisou segurar o riso depois de imaginar milhares de pessoas dormindo numa arena.
— Então vamos? — O homem chamou atenção dos que avistaram o portal ativado, cores giratórias quase como uma ilusão de ótica desnorteante no centro do anel metálico.
Aproximaram-se do vórtice junto de Noel e escutaram uma “boa sorte” antes de seguirem para dentro. Maria não iria por ter muito que vigiar, já que a guerra mundial ainda era uma preocupação...
Inglaterra, em um dos arcos formados pelas grandes pedras da famosa Stonehenge, eles apareceram e o portal se fechou atrás deles. Os raios do sol banhavam o gramado vívido na manhã daquele local. José e Dragon se atentavam a cada detalhe das rochas enquanto o terceiro caçava por mais pessoas.
— Que sorte, fomos os primeiros a che...
— Finalmente. — A voz era emitida de trás de um dos pedregulhos e Kongjian se mostrou indo até eles com um sorriso debochado.
— Bom dia, Yin-yang. — O rapaz cumprimentou indo até ele, porém, estacionou assim que viu Safira e Meredyth se aproximando entre as outras pedras do círculo de rochas. — Feliz Natal, amor!
Enquanto o casal juvenil se abraçava aos beijos, Dragon beijava a mão da guardiã de cabelos brancos com cavalheirismo, como Maria havia ensinado a fazer com as damas.
— Onde está a Oráculo? — interrogou Noel, direcionado ao indiano careca.
— Feliz Natal para você também — respondeu desfazendo o sorriso que mantinha, desviando o olhar aos pombinhos apaixonados. — Indisposta, venho representá-la neste conselho.
— Indisposta?! — A exaltação do guardião escarlate foi interrompida por uma fenda que surgiu no solo bem abaixo deles, e um homem surgiu de dentro, com o tom de pele semelhante ao de Safira.
Seus músculos eram revestidos por trajes de antigas civilizações que provavelmente viviam da caça, por ser uma roupa de pele felpuda marrom.
— Raphaello. — Os dois enunciaram em uníssono dando espaço ao poderoso.
— Entrada triunfal, como sempre? — indagou convencido, com sua voz grossa e sedutora.
— Um coelho saindo da toca não é nada triunfal — comentou o loiro de pele alva como aquele de túnica branca, aproximando-se deles junto da namorada.
— Eu não sou um coelho! — Na verdade, ele realmente lembrava tal mamífero, principalmente por causa do cabelo em rastafári que lembrava duas grandes orelhas. Sua forma agitada de andar ajudava ainda mais na comparação.
— José, este é o guardião da Ilha de Páscoa, Raphaello. — Noel apresentou-o e cumprimentou Safira com um abraço afetuoso.
— Ele parece sim um coelho. — A senhorita coroada por flores vermelhas disse no abraço e os dois começaram a rir.
— Prazer, eu sou o...
— Bruxo da Natureza — concluiu apertando vigorosamente a mão do adolescente encantado, enquanto a sacolejava.
Por que ninguém me deixa terminar essa frase? — perguntou-se, contudo, achava incrível o fato de ser tão conhecido, como nunca imaginou que seria em sua antiga vida excessivamente normal.
Enquanto Dragon cumprimentava a senhorita de cabelos esverdeados e Meredyth ao homem de gorro, três portais surgiram nos arcos de pedra distintos, aparecendo mais poderosos deles.
— Feliz Natal! — Aurora cumprimentou a todos.
— Chegamos tarde? — Do outro saíram os parceiros Pierre e Arya.
— Não começaram sem mim, não é? — A guardiã dos oceanos apareceu do terceiro. O som dos cumprimentos e das conversas que transitavam paralelas se elevou rapidamente, muito mais a respeito da guerra que tanto os preocupava.
— De guardião, só está faltando o... — Um piado alto interrompeu as conversas e a fala de Noel que não mais aguentava esperar. José estaria mais ansioso se não estivesse entretido em meio aos assuntos.
Uma águia do tamanho de um homem pousou ali perto e transfigurou-se no Curupira, que sacudia seu cabelo ruivo enquanto esse ainda se formava das penas avermelhadas.
— Isso sim é uma entrada triunfal — declarou o jovem, certificando-se de que Raphaello o escutasse, mas esse fingia não escutar enquanto reservava seu olhar apenas às íris acinzentadas de Meredyth.
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