Capítulo 12- Amazônia? I
Naquela floresta densa, o barulho dos animais preenchia todo o espaço, e foi com ele que José se acordou. Quarta-feira, o sol já reinava no céu, trazendo luz e o calor que tanto desejaram na noite anterior. O que antes era uma pequena fogueira, não passava de cinzas ainda quentes. A claridade entrava com um pouco de dificuldade ali.
No momento que o jovem se mexeu, sua namorada despertou também.
— Bom dia, flor do dia! — cumprimentou-a esticando os braços para cima.
— Bom dia, amor. — Safira retribuiu bocejando.
— Dormiu bem? — Sentando-se, o bruxo indagou.
— Um pouco, é que não sou tão acostumada a dormir no chão — respondeu e os dois começaram a gargalhar, o que não era tão comum logo pela manhã.
Até que se deram conta de algo muito importante:
— Cadê o Fire? — A senhorita olhava em volta. Levantaram-se para procurar, mas sem se distanciar de onde estavam os resquícios da fogueira. Recordaram de quando Joseph sumiu e voltou para casa, mas não houve tempo de pensar em nada mais.
Repentinamente, começaram a escutar alguns galhos quebrando, outros sendo afastados e, principalmente, perceberam o som de passos pesados que aumentavam a cada segundo. Seja quem fosse ou o que fosse, estava indo na direção deles.
— Fica atrás de mim. — O rapaz mandou aos cochichos, invocou seu cajado, colocando-se de prontidão. Porém Safira apenas revirou os olhos e montou guarda com seus cipós ao redor do corpo, sem dar um passo sequer para trás.
Inesperadamente, o deus surgiu de uma moita alta na frente deles. Quando ele viu os dois prontos para atacar, ficou confuso e depois começou rir. Mas os adolescentes avançaram mesmo assim.
— Onde você estava?! — José esbravejou tacando o bastão sem muita força em seu ombro.
— Estava fazendo o quê?! — A poderosa se exaltou chicoteando-o de leve no outro ombro.
— Ai... — murmurou calmo, deixando clara a insignificância dos ataques desferidos. Pôs o dedo indicador dentro do nariz e começou coçar. — Tinha ido fazer xixi. Aconteceu alguma coisa?
— Ficamos preocupados e com medo! — Safira atirou as palavras, altiva.
— Desculpa, é que não sou acostumado a viajar com outras pessoas. — Fire se redimiu com uma mentira, já que costumava cumprir bastantes missões com Pierre. Os jovens, então, se viraram e foram até suas bolsas. — O que temos para comer?
— Já deve saber que não fizemos planos de estar numa floresta! Não temos nada para comer — respondeu o bruxo, de cócoras, mexendo em sua mochila no chão.
— Isto não é verdade... — Sua namorada retorquiu, pôs-se de pé, pois também estava acocorada e apontou à copa das árvores. Três cocos caíram no chão num baque alto, assustando os outros dois. — É o melhor que temos.
— O que vamos fazer agora? — José questionou voltando-se para Safira, a qual deu de ombros. Os dois jovens então olharam para King. — E aí?
— Bem, obviamente vamos tentar sair dessa mata e descobrir onde estamos... — sanou indo até os frutos verdes caídos. — Não há outra escolha... — Deixou claro que também incluía o coco que tomou em mãos na afirmação.
Realmente não havia muitas alternativas. Usaram a água dos frutos em suas higienes, também beberam e comeram a polpa.
— Vamos logo! — Fire chamou atenção assim que prontos.
— Para qual lado? — indagou a moça de braços cruzados.
— Nós temos que ir para o sul... Se para lá é o leste, para cá deve ser o sul. — O deus usava o sol como referência para saber o caminho certo, indicou a mesma direção da qual apareceu há pouco tempo.
— Então vamos! — José e sua namorada exclamaram com um leve tom de empolgação.
Com isso, saíram por entre a mata, viam vários tipos de plantas e animais ali, principalmente as árvores altas e as aves coloridas. Em uma parte da caminhada eles perceberam que o chão estava mais úmido e entenderam o porquê quando encontram um largo rio de água corrente. O único problema era que esse cruzava exatamente o caminho deles e, assim, se puseram a ponderar o que fariam.
— As opções são: ou você usa seus poderes mágicos para fazer alguma coisa — o pirocinético falava mexendo os dedos no ar em deboche —, ou eu evaporo toda a água...
O bruxo conseguiria flutuar a si mesmo, mas não se garantia quanto aos outros dois poderosos. Não lhe era tão simples quanto fazer um tapete flutuar.
— Mas não vão mesmo! — Safira se exaltou tomando a frente. — Não vão fazer nada. Iremos procurar outra passagem mais rasa.
Assim fizeram, iniciaram uma caminhada pela margem do rio. Contudo, logo perceberam que não encontrariam o que buscavam, havia muita água correndo. José transparecia um pouco de desânimo por aquilo estar acontecendo.
— É... Amor, no duelo, como você fez aquela grama crescer? — Tentou ocupar a mente do namorado que caminhava ao seu lado. King andava um pouco mais atrás.
— No começo, eu tinha achado que era obra sua, mas depois percebi que os Runks me ajudaram — respondeu um pouco mais distraído. Fire acelerou o passo, ficando próximo aos dois.
— Eu soube que os bruxos precisam do cajado para usar seus poderes até que estejam muito fortes. Pelo visto, você já evoluiu bastante. — Tocando no ombro do loiro, o deus buscou animá-lo.
— Vocês tão dizendo essas coisas só pra me ajudar..., obrigado. — O rapaz agradeceu, sorrindo um pouco forçado. Usava o chapéu verde pontudo para que a luz do sol não chagasse em seus olhos, por mais que a copa das árvores altas negligenciasse boa parte dela.
— Verdade, é só para te animar mesmo. — O homem de capa preta fez todos rirem com sua sinceridade. — Mas também não deixa de ser verdade. Eu realmente me admirei quando você criou aquele furacão e ainda por cima, sem usar seu cajado.
— Obrigado! — José sorriu genuinamente. Quem diria que o mesmo que me ignorou lá na fábrica de tecidos iria me apoiar emocionalmente agora? A vida é cheia de reviravoltas verdadeiramente...
Estava realmente difícil manter o ânimo, até desistiram de andar mais, depois de horas a fio o fazendo. Já devia ser quase meio-dia, o cansaço e a fome os venceram, então resolveram procurar algo para comer e um lugar para descansar as pernas desgastadas.
Avistaram, um pouco distante da margem do rio, um enorme cajueiro, uma árvore tão grande que impedia de outras crescerem perto, tendo apenas arbustos e plantas baixas ao seu redor. Seguiram rapidamente para lá, Safira usou seu poder para derrubar cajus e castanhas.
Sentaram-se perto das raízes do cajueiro com o alívio percorrendo cada célula de seus corpos. O rapaz comia aquelas frutas, assim como sua namorada. Já Fire, torrava algumas castanhas, até perceber que o adolescente estava pensativo demais.
Pelo pouco que conheço, ele não costuma ficar calado assim. — O analisava à medida que sacolejava os frutos no fogo controlado que manipulava. — Alguma coisa está errada...
— Fala aí! Por que você estava tão para baixo e está tão quieto? — inquiriu informalmente.
— É uma coisa meio boba... — Engoliu o pedaço de caju que mastigava e continuou. — É só que... Hoje é dia doze, é aniversário do meu pai. Sempre fazia um bolo para Joseph e agora nem estou ao lado dele.
— Hum... — King realmente não sabia o que falar naquela situação.
— Ele deve estar muito orgulhoso de você e vai estar ainda mais quando salvar o mundo. — Safira o motivou sorridente. Suas íris verdes mirando as azuis do namorado.
Mas que bom que eles têm um ao outro. — O deus de capa escura observava os adolescentes com ânimo e certa inveja. — Tudo parece mais fácil assim...
O loiro de trança longa apenas sorriu, um pouco mais animado. Mexeu e remexeu na bolsa que estava do seu lado e encontrou a pedra brilhante que seu pai havia lhe dado. Lembrou-se dos momentos felizes, das broncas, dos sorrisos e recordou-se de Joseph dizendo que sempre estaria com ele. Sorriu cativado, por fim.
Ele é ainda mais legal do que achei que fosse quando o conheci... — A vestida em pétalas formou sua opinião mirando as pequenas correntes que marcavam a pele escura do fera pensativo. — Tentando ajudar de qualquer forma os que ele considera seus próximos.
Permaneceram em silêncio por um momento e a floresta pareceu os imitar, mas eles não perceberam o sossego, pois seus pensamentos eram barulhentos. King já havia terminado de torrar as castanhas e comer muitas delas. Preparava-se para começar outra caminhada árdua, quando ouviram uma agitação suspeita nos galhos das árvores próximas.
— O que é isso?! — José questionou extasiado, levantando da raiz grossa.
— Fire? — A moça interrogou acusativa, já de pé.
— Que é? Pensei que tinha sido você — contrapôs. Os três olhavam para as copas dos arvoredos.
Um arbusto ali próximo se agitou da mesma forma, chamando a atenção do trio que montava guarda. Ficaram exaltados e ligeiramente apavorados, suas expressões não poderiam mentir. Enquanto o deus mantinha frieza, Safira se agachou e pôs a mão trêmula no gramado.
— Vou tentar sentir o que é! — alegou fechando os olhos na tentativa de focar sua técnica.
Contudo logo se desconcentrou, pois os galhos do cajueiro acima deles se agitaram como os das outras árvores indicando a aproximação iminente.
— Bem, pode ser um protetor da floresta querendo nos expulsar — o guia tentou raciocinar e explicar a situação descontrolada —, ou nativos canibais que vivem na mata — concluiu muito pleno.
— Canibais?!
Outro arbusto florido, um pouco mais próximo, mexeu-se. O trio observava atentamente e de prontidão a ameaça. Até que um coelho branco apareceu dele, pulando com energia em direção a eles.
— Ou um coelho! — A poderosa aliviada repreendeu o que King havia dito anteriormente.
— Tá aí, um almoço descente... — O deus proferiu e dirigiu-se em direção do animalzinho, porém, foi detido por um cipó de Safira, que o amarrou pela cintura.
— Nem pense nisso! — A menina de cabelo verde exclamou ameaçadora. Tentou mostrar força, puxando o fera com seu chicote, mas constatou que não a tinha em suficiência.
O animalzinho lívido continuou a saltitar, ignorou Fire, que o fitava com desejo; passou ao lado da moça, a qual sorriu carinhosamente; e parou na frente de José, que o olhou confuso, por fim.
— Espera, você é o mesmo do... — O bruxo lembrou-se do coelho que salvou no dia de sua morte.
O pequenino não deu atenção e voltou a pular em seguida, passando também pelo rapaz. Os três o seguiram com o olhar enquanto rodeava a grande árvore, até que ele sumiu atrás do tronco.
— Bom, era só um coelho, agora vamos seguir... — King chamou atenção, entretanto, antes que perdessem o cajueiro de vista, de trás dele apareceu uma figura masculina.
— Bom dia, viajantes. — O estranho cumprimentou-os com uma reverência de cabeça. Em algumas partes de sua pele bronzeada, um lodo verde se formava. Na cintura jaziam presas várias folhas grandes que iam até seu joelho. O mais chamativo nele era o cabelo vermelho intenso.
— Q-quem é você? — Os dois jovens indagaram em uníssono, imitando até o balbuciar. Os três mantiveram distância do sujeito.
— Ah, é mesmo! Eu sou o guardião das florestas — respondeu abrindo os braços. Depois logo se apoiou em seu cajado. Transparecia certo cansaço, por mais que aparentasse ter apenas uns 40 anos.
— E nós somos... — O garoto de verde foi interrompido.
— Sei quem são, bruxo! — retrucou prestativamente, alguma coisa lhe fez adotar um repentino mal humor.
— Então você é aquele coelho branco que eu salvei! — José arregalou os olhos, desfazendo sua guarda cautelosa, assim como o bastão que se desintegrou no ar.
O guardião bateu a bengala no chão e o animalzinho alvo saiu de trás do cajueiro. O homem, então, pegou o pequeno no colo com afeto evidente.
— Na verdade, aquele foi um teste para que eu tivesse certeza que seria um bom Bruxo da Natureza... Obrigado por ajudá-lo. — Fez uma nova reverência cansada enquanto alisava a cabeça do coelho.
— Pode nos informar onde estamos? — Fire interrogou gentilmente e atraiu um olhar julgador por parte do estranho ruivo.
— Estão na floresta amazônica, no Brasil, lar dos milhares espécimes diferentes de fauna e flora — sanou deixando a rispidez e abraçando o encanto que era estar ali.
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