Capítulo 11- O Poder Das Chamas I
O holograma sumiu em meio aos aplausos e gritos. Com isso, a atenção de todos se voltou para Patrick, o qual chegou despercebido ao meio-campo, levando consigo uma máquina estranha.
— Para escolher os duelistas, foi criado um aparato de contagem. — Usava um amplificador de som preso perto da boca, o qual sobreponha sua voz a gritaria das torcidas. — Fazendo uma leitura de retina, ele permite que cada eleitor vote em apenas uma pessoa por time. Como todos sabem, os votos começaram a ser feitos ontem e hoje descobriremos o resultado.
Mais uma vez, a arena vibrou em emoção. O poderoso apertou um botão do aparelho e todos silenciaram instantaneamente de expectativa.
— Primeiro, com 78% dos votos, quem defenderá e lutará pela taça em nome do Asas Douradas é... — Do pequeno aparato foi projetada uma luz que iluminou o ar criando um holograma ainda desfocado. Num instante, tudo ganhou nitidez. — O Bruxo da Natureza! — Muitos ovacionaram, exceto aqueles que não entenderam o resultado.
Repentinamente, entre a gritaria, cochichos exclamavam o fato de José ter que lutar a favor do time que ele torceu contra dois dias antes. O próprio também ficou sem reação, apenas pasmo.
— Você tem que ir para o campo. — Pierre deu um toque nele aos cochichos.
O rapaz sabia o que devia fazer, porém, quando chegou a hora, paralisou, já que não aconteceu como queria. Imaginava que defenderia o Meteoro Ardente. Todavia não poderia recusar, queria mostrar que conseguia vencer, ou que, pelo menos, tentaria.
Seus amigos desejaram boa sorte e Safira deu-lhe um beijo rápido para incentivá-lo. Girou os dedos e o cajado apareceu em sua mão. Foi só começar a voar em direção ao campo, bem próximo para quem já estava na arquibancada pública, que as pessoas se agitaram outra vez.
O bruxo logo se pôs no centro da arena, cumprimentou Patrick, o qual retribuiu e se voltou para a máquina, como todos naquele momento.
— Muito bem... Agora, com 61% dos votos, o poderoso que disputará contra o Bruxo da Natureza pela taça do Jogo Egrégio da Área 50 é... — As pessoas mais uma vez mergulharam no silêncio e a máquina iluminou o ar. — Fire... King?
Igualmente a primeira vez, muitas pessoas ovacionaram enquanto outras somente exclamaram confusas com a escolha do público.
— É... Nós não podemos controlar os votos, mas o capitão, infelizmente, não poderá duelar, então... — Patrick foi interrompido por uma nova exaltação unânime das torcidas.
Miravam a abertura da arena, pela qual os jogadores entravam em campo e os dois que já estavam nele seguiram os olhares curiosos, constatando, assim como todo mundo, o deus do fogo caminhando em imponência. Ele marchou rapidamente até eles.
— Eu vou duelar. — O homem de capa preta estava sério e convicto de suas ações.
— Tem certeza? — Patrick transparecia preocupação ouvindo os gritos histéricos.
— Absoluta — concluiu e voltou-se para José.
— Boa sorte. — Amigável, o loiro desejou.
— Você vai precisar mais do que eu. — Fire retrucou e sorriu genuinamente. O jovem notou que ele apenas encenava um oponente rude, mas conhecia a parte amigável do novo adversário. Entretanto também sabia que ele faria de tudo para se sair vitorioso por seu time. — Boa sorte.
Quando devolveu a gentileza, José sorriu em resposta. Apertaram as mãos em sinal de respeito e honra.
— Muito bem, agora vão para a área do time que representam, respectivamente... — O poderoso elétrico indicou e os inimigos se separaram, os dois indo para um lado diferente do campo.
Cada um ainda permaneceu a uns trinta metros da trave correspondente e encararam-se entre os gritos das torcidas delirantes. Patrick saiu de cena com sua máquina, mas sua voz foi escutada novamente.
— Vence aquele que, no final, ainda tiver força para continuar. Estão prontos?! — explicou e indagou retoricamente direcionado a pergunta mais ao público. — Que o duelo do Jogo Egrégio comece!
Os corredores da Área 50 se encontravam absolutamente vazios, pois todos seus habitantes presenciavam a arena, a qual vibrava de emoção. José e Fire se afrontavam com o olhar, separados por uma distância de sessenta metros. As torcidas do Meteoro Ardente e do Asas Douradas não cessavam a agitação nem por um segundo sequer.
Fire apontou com a palma e uma bola de fogo voou em direção ao seu oponente, que desviou facilmente por causa da distância que os apartava. José, então, mirou-o com seu cajado, atacou com o raio de luz e seu rival o evitou agilmente.
O público mostrou que esperava mais daquele embate, não mais gritavam exaltados como antes. Até que os duelistas constataram tal fato e decidiram avançar de uma vez por todas.
Os dois dispararam como uma projétil para cima do rival. Enquanto corriam, o homem com correntes escuras atirava bolas de fogo imprecisas. O bruxo apenas desviava percorrendo em ziguezague e atacava com flashes de luz desferidos sem precisão, dos quais King escapava também com facilidade.
O público se agitou novamente, até que os combatentes estacionaram ainda separados por uma distância de dez metros um do outro. Analisavam o inimigo para formar a melhor estratégia.
— Vamos ver como desvia disso! — Fire bradou, respirou fundo enchendo os pulmões ao máximo e soprou uma onda de fogo devastadora.
Num instante, as chamas alcançaram José, o qual criou uma barreira feita de várias plantas que saíram do chão repentinamente e consegui se proteger. O ataque ardente continuava, assim como a defesa persistente, mas nenhum cedia.
— Suas plantinhas não vão aguentar mais tempo que isso, bruxo! — Usando as mãos para controlar o fogo, o deus gritou.
— Elas sustentarão o suficiente — retorquiu transmitindo confiança pelos olhos azuis galácticos. Girou o bastão e as plantas começaram a mudar de local, substituíam-se por outras, revezando a defesa em uma velocidade incrível.
Em seguida, rodopiou o cajado no ar e sua simples barreira se tornou um domo completo de cipós emaranhados que o cobriu inteiramente. King não cessou a ofensiva, por outro lado, intensificou ainda mais a potência das chamas, fazendo-as girar em torno da cúpula protetora.
— Vamos! Reaja! — incitou com um semblante ardente.
— Pode deixar comigo. — José sussurrou dentro da semiesfera. A escuridão no interior da redoma deu espaço para um brilho amarelo que emanava do rubi na ponta do bastão que carregava. Ergueu o cajado e os cipós se desprenderam dos outros, como cobras que chicoteavam o ar. As vinhas apagavam o fogo com batidas velozes.
O garoto apontou para seu oponente e as plantas obedeceram a seu comando. Os chicotes investiram como serpentes rastejantes e ferozes. As torcidas gritaram ainda mais que o normal. Um duelo entre bruxo e deus era, totalmente, inédito. Ainda mais para os próprios duelistas vigorados.
— Não vai ser tão fácil assim! — O poderoso exclamou e deu início a uma metralhadora de bolas de fogo contra os cipós que avançavam.
O rapaz de chapéu pontudo apenas direcionou o bastão ao chão e fez as vinhas se enfiaram no solo, protegendo-as das labaredas iminentes. Num instante, bem na frente de Fire, raízes brotaram da terra e amarraram suas mãos, forçando-o a cessar a ofensiva. Todavia ele as segurou firmemente, fazendo-as queimar e pulverizar quase de imediato.
— Já disse que suas plantas não suportam o calor das minhas chamas! — debochou com um sorriso convencido.
— Veremos! — José retrucou reajustando sua respiração.
O campo regressou ao início e os dois tomaram fôlego. De súbito, um cipó certeiro avançou na direção de Fire, o qual segurou sua corrente, presa em seu pulso direito e lanço-a em contrapartida ao assalto inimigo.
A corrente contava com pouco tamanho, mas estendeu-se, inesperadamente, assim que novos elos, feitos de um fogo controlado, formaram-se. A ponta da corrente de chamas se enrolou no chicote verde, dando início a um cabo de guerra.
O deus reivindicava seus anéis de metal empurrando o solo com as pernas fortes, e os elos de fogo reagiam como iguais. O bruxo, com insistência, tentava fazer o grande cipó retornar por meio da telecinesia, mas era impedido pelo poder das chamas.
— Não é tão forte assim! Não mesmo? — zombou do rapaz segurando a corrente decididamente.
— Não teria tanta certeza! — retorquiu e bateu o cajado no chão. Pedras, maiores um pouco que uma bola de futebol, começaram a orbitar ao redor de José e, com seu comando, dispararam na direção de King.
O deus empunhava a corrente com a mão direita, então, decidiu defender-se com a esquerda. Uma chama controlada, que assumiu a forma de uma lâmina flamejante, cobriu sua palma desocupada e enluvada. E, à medida que as rochas se aproximavam dele, elas eram estilhaçadas em pedaços pequenos pela defesa afiada.
— É tudo o que tem?! — Fire provocou com um riso maldoso.
— Não mesmo! — Já irritado, devolveu rispidamente o adolescente.
Os dois intensificaram suas habilidades. Mais pedras eram arremessadas, mas logo partidas ao meio consecutivamente. Enquanto ainda mantinham a disputa de força acirrada entre o cipó e a corrente de chamas.
— Como é que aquelas plantas não estão queimando?! — Ruby perguntou a Safira, inclinando-se para ver melhor o embate. — Meu irmão já deveria ter queimado tudo!
— José aprendeu a concentrar água nelas e escolher as plantas certas para usos diferentes. — A senhorita de cabelos verdes respondeu sorrindo, sem tirar o olho da ação. Bem que eu disse que precisaria quando insisti em ensiná-lo...
Repentinamente, o bruxo colidiu o bastão no terreno arenoso uma vez mais, e as rochas que King já havia partido voltaram a se elevar, porém, dessa vez orbitando o deus.
— Segunda rodada — pronunciou José. O cipó que controlava retornou para dentro do solo e as pedras iniciaram um processo giratório ao redor do seu oponente. Os pedregulhos se partiam, fazendo com que centenas desses girassem em volta de Fire.
— Não vai me prender com essas pedrinhas — contrapôs com acidez.
O rapaz fazia as rochas voarem, bastando girar o bastão, mas cessou num momento e apontou o alvo. No segundo seguinte, as pedras começaram avançar para cima do deus, o qual se defendia com a corrente de fogo que chicoteava no ar e sua lâmina ardente. Ficaram naquela peleja por um tempo, até que King resolveu contra-atacar com toda potência.
Então, acertou um soco no chão e, do solo que estremeceu, uma explosão de labaredas rebateu os pedregulhos para todos os lados. Mas as chamas não cessaram, apenas se instalaram ao seu redor, sob seus pés descalços, como uma relva de fogo. Logo, as flamas puseram-se a espalhar, com objetivo de ocupar todo o terreno do campo.
— Não pense que vou deixar você queimar meus pés! — José gritou, iniciando um ataque continuo de pedras voadoras.
O pirocinético revirou os olhos dourados e desferiu outro soco na terra, uma imediata detonação de chamas partiu do solo abaixo do mesmo e todas as rochas foram rebatidas, assim como antes. Entretanto com o fim do estouro, as labaredas se acumulavam sobre Fire, tomando a forma de um...
— Dragão?! — O bruxo exclamou surpreso, vendo as chamas moldarem um monstro abrasador, era inegável seu medo diante de tanto poder destrutivo. As torcidas se viam perplexas com aquilo e bastante felizes no caso dos torcedores do Meteoro Ardente.
— Ora essa! O grande Joseph não te ensinou isso? — King interrogou debochado. — Nos antigos duelos, os poderosos usavam suas habilidades para criar monstros para lutarem por eles, claro que isso não passa de um poder controlado com maestria! — Parecia enaltecer sua capacidade, enquanto um dragão de chamas permanecia de guarda à suas costas.
— Estou pronto pra isso aí! — O garoto de dezessete retrucou confiante, apertando com firmeza o cajado de madeira.
— Você não vai invocar seu monstro?! — questionou retoricamente, apenas para humilhá-lo ainda mais.
— Posso vencê-lo sem precisar que um monstro lute por mim! — contrapôs fazendo raízes surgirem do chão e mais pedras voarem. Naquele momento, punia-se mentalmente por não conseguir usar sua telecinesia com eficácia. Nem, ao menos, podia usá-la sem a ajuda do bastão.
Atacou com tudo que possuía dentro de si, porém, como afirmou o rei britânico, não foi o suficiente. Controlado por Fire, o dragão tomou a frente da ofensiva e queimou as plantas ao simples toque. Já as rochas passaram direto por ele, uma vez feito tão-somente de fogo.
— Se você diz que pode, então mostre! — bradou o deus pirocinético e apontou o bruxo.
A monstruosidade bateu asas alçando voo, abriu a boca e lançou chamas sobre seu oponente. José, para defender-se, conseguiu criar apenas uma barreira de plantas. Entretanto, daquela vez não estava sendo tão eficaz como antes, o fogo queimava a vegetação mais rápido do que ela era renovada.
Minutos de delírio e peleja depois, a proteção verde caiu e o mais novo percebeu-se sem energia. No entanto ainda não era hora de desistir do embate, não naquele momento, precisava mostrar que era capaz.
— Está sem forças, bruxo? — Fire zombou mais uma vez. — Você desiste?
— Nunca! — Tentou gritar em resposta, mas não lhe restava muito vigor, apoiava-se no cajado, pois suas pernas não aguentavam mais o peso do seu próprio corpo. Bruxos usavam a energia vital como meio de poder, exceder seus limites poderia ser fatal. — Não é todo dia que estamos de frente ao fogo de um dragão, mas não será hoje que desistirei.
— Se insiste... — As pessoas gritavam agitadas. Os torcedores do MA já comemoravam a vitória e os AD reclamavam, todos eles precipitadamente. — Vou tirar seu poder de uma vez, antes que se machuque ainda mais neste duelo.
O controlador das chamas apontou para José. O monstruoso avançou em sua direção e desferiu um ataque com sua pata, jogando o cajado a vários metros de seu portador. O bruxo quase caiu no impacto, todavia, ainda arranjou forças para suas pernas treinadas. A comemoração chegou a seu ápice e King não desperdiçaria aquele momento de glória.
— Agora você não tem mais como... — Todos se calaram, assim como o deus de capa, quando todo o terreno se encheu de uma alta grama verde viva.
Safira... — O jovem de botas marrons chutou mentalmente, mas só compreendeu a situação quando ouviu outra voz em sua mente.
Bruxo da Natureza, José! Vejo que evoluiu muito, entretanto, sempre há o que aprender. Lembre-se que estarei com você em todo momento e... Orgulhe-me! — A fala na consciência do adolescente cessou, a qual ele reconheceu ser a voz de Hugo. Todos ainda buscavam entender o que havia acontecido com o campo.
Obrigado...
Da grande abertura do teto surgiu um Runk reluzente em forma de pássaro que vagava sozinho, apenas uma ave dourada que voava sem rumo. Todos se voltaram para ele, intrigados com sua beleza. Fire olhava desconfiado, com seu dragão de guarda. O alado começou descer em direção a José e logo chegou perto suficiente para que pousasse em sua mão estirada.
Observavam atentamente, não era uma coisa que se via todos os dias. O Runk voou da mão do bruxo, e precipitou-se ao chão, mas, antes que tocasse no gramado, o pássaro dourado foi absorvido para dentro da grama rasteira bem na frente do loiro.
As arquibancadas exclamavam quase em uníssono seu assombro perplexo. Calaram-se novamente quando um pouco da grama perto de José aglomerou e ganhou a forma de uma ave verde, a qual voou e pousou no ombro do protetor.
— Parece que ganhou forças e um novo amiguinho. — Fire comentou em tom risonho. — Mas esse pobre passarinho não será páreo para meu dragão!
— Sim, eu ganhei mais forças, mas não um novo amiguinho. — O rapaz estendeu sua palma para frente, com o pássaro acomodado em seu ombro. Em toda a extensão da arena apareceram Runks sobrevoando cada parte possível do campo.
Mais um aceno de mão, porém, o moço apontou para baixo. Automaticamente, toda aquela energia vital precipitou-se ao chão, sendo cada Runk absorvido rapidamente pelo gramado. O bruxo levantou os braços e o pássaro de planta em seu ombro decolou com o impulso. Em seguida, toda relva começou a se agitar e ser arrancada, as folhas se juntaram em pequenos grupos. Num instante, milhares de aves verdes sobrevoavam o campo.
— Nossa! Vários passarinhos? O que vai fazer com isso? Tentar bicar meu dragão de chamas? — O deus questionou sorrindo.
— Não! Vou fazer melhor! — devolveu convicto.
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