Capítulo vinte e três
Sofia
- O que aconteceu exatamente com vocês?
- Ouve uma explosão, provavelmente entre duas estrelas. Essas estrelas não faziam parte do nosso universo. Algo aconteceu para que o planeta deles ficasse um pouco mais próximo do nosso. Parece loucura e impossível de acontecer, mas realmente o planeta deles saiu da órbita. Pensávamos que não iria parar, que íamos colidir, mas finalmente a aproximação cessou. E isso também nos trouxe uma espécie de poeira estelar, na verdade um vento estelar contendo degenerações, ou seja, substâncias que simplesmente se ligavam aos átomos de carbono de maneira irreversível, transformando a molécula em outra coisa. E essas substâncias não possuem aqui na Terra.
E todos nós começamos a adoecer e, tudo o que é feito de carbono começou a enfraquecer. Fazendo uma analogia simples, como o ferro que enferruja, ou seja, oxida e estraga. É como se o carbono sofresse uma oxidação. E não simplesmente uma forma alotrópica.
- E essa poeira estelar permaneceu?
- Sim, o que ficou nos nossos planetas não pode ser consumida. Ela não se mulplica, mas não deixa de existir, entende? De forma que tudo o que entra em contato acaba se deteriorando. E a quantidade dessa substância, infelizmente, foi grande o suficiente para destruir muito do que temos e, um dia, levar até mesmo o nosso planeta à morte total. Na verdade nem sabemos o que pode acontecer ao certo. Eu acredito que será apenas a morte total do planeta, assim como foi das estrelas, que acontece naturalmente, mas assim acelera demais o processo. Do mesmo jeito que os dinossauros aqui na Terra: extinção. Sabe o planeta Marte? Foi exatamente o que aconteceu lá, a diferença é que por sorte, o que acabou lá não trouxe prejuízo para a Terra, mesmo quando os humanos chegaram lá, não trouxeram com eles o problema. Aliás, todos os planetas desse sistema solar passaram pelo o que passamos. O único que conseguiu se recuperar foi a Terra, porque a abundância de água sempre foi maior que todos os outros. A frase "água é vida" é a mais pura verdade.
- Mas isso é muito grave! Você tem certeza do que você está falando?
- Sim, absolutamente. Mas acho que foi ainda menos intenso que o nosso caso. Porque os planetas ainda existem. Agora imagine uma explosão. Ou o inverso? Simplesmente vai deixar de existir.
- Nossa! E não tem como vocês descobrirem a origem para talvez conseguirem um antídoto?
- Não sei se conseguiremos isso. Mas estamos tentando. As estrelas que vemos hoje nada mais são do que a luz emitida há muito tempo, por uma estrela que existiu, certo?
- Isso é fato – constatei e fiquei preocupada dele achar que eu estaria sendo descrente.
- Se você entende isso, também terá noção que essa luz viajou pelo vácuo em uma velocidade enorme. A mesma coisa aconteceu com esse vento estelar. A explosão pode ter acontecido décadas atrás, séculos talvez. Como então descobrir a origem? Ao menos essa é a nossa teoria. Além disso, temos um número impreciso de possibilidades de quantidades de matérias no espaço. O nosso planeta, ou seja, nossa tecnologia está ao alcance do seu, embora vocês ainda não estejam ao alcance do nosso. Não temos uma direção exata de onde veio a poeira, mas temos obviamente uma hipótese muito boa, mas mesmo assim, ainda não conseguimos encontrar a origem. E mais, como isso já aconteceu há tanto tempo, corremos o risco de nem encontrarmos mais nenhum vestígio do que realmente possa ter acontecido.
- E o que levam a vocês a crerem que a resposta está no nosso planeta?
- Apenas o fato de existir vida, de estar próximo a uma estrela potente, que é o Sol e, de sabermos que vai demorar muito para o Sol enfraquecer, embora já esteja notavelmente acabando a energia, visto a quantidade de hidrogênio já convertido em hélio. Outra coisa é podermos permanecer nesse lugar, de nos adaptarmos a ele, embora em um corpo totalmente diferente. Talvez outro lugar não fosse possível. Também não possuímos tanto conhecimento por planetas habitados e com biodiversidade. Na verdade, nós procuramos e achamos a Terra por acaso. Também não sabíamos da existencia dela até percorremos o universo, embora isso tenha acontecido há séculos, quando ainda nem estávamos passando por isso tudo. E depois, porque os planetas próximos a nós, estavam passando pela mesma situação.
- O sol tem muita importância na sua busca?
- Sim, mas não conseguimos chegar até ele. Se vocês não conseguem, imagine a nossa espécie, que vive em baixas temperaturas...
- Entendi. Você me disse que estudou história, administração...
- Química, biologia...
- Isso deu para perceber... – apontei para os livros. Eu nunca fui muito boa nesse assunto, mas achei que esses livros deveriam ser bem mais aprofundados do que normalmente é dado no ensino médio.
Ele esboçou um sorriso.
- Para descobrirmos a cura para nossa "doença", precisávamos de um lugar provido do que nos faz falta e principalmente de um lugar onde pudéssemos fazer nossas experiências.
- Então, pelo que entendi, se vocês são praticamente semelhantes a nós fisiologicamente e estão aqui desde pequenos, o que significa então que essa "doença" não é algo que afeta em uma velocidade tão rápida assim.
- Para nós sim. Porque não é como uma pandemia, entende?
- Sim. Entendo perfeitamente. Nós também estamos passando por um processo destrutivo. Talvez não tão gritante quanto o seu... Mas poluição, ganância, política, devastação das florestas, guerras...
Tive medo dele não entender a analogia. Mas pelo jeito, ele tinha realmente um senso de humor inteligente. E riu. Só que mesmo com estas explicações, eu naturalmente continuaria com mais dúvidas e ainda muito curiosa. Mas não quis forçar. Preferi esperar que ele continuasse o assunto. E ainda bem que ele continuou.
- Os nossos semelhantes, Sofia, seguiram caminhos diferentes aqui no planeta de vocês. Eles resgatam o que precisam, mas não tentam encontrar solução para resolver o problema. Acham que podem vir, pegar o que querem e pronto. Eles não estão muito preocupados com o bem estar de vocês. Portanto, na concepção deles, para que iriam ter todo o trabalho de procurar a cura? E não estavam nos ajudando muito com as pesquisas. Eles vieram mais como garantia que o nosso planeta fizesse o trabalho, evitando assim uma guerra entre nós.
- Sei que temos o carbono em abundância, mas até o CO2 é importante para nós e tem sua função na atmosfera, nos protegendo inclusive dos raios ultravioletas. E de qualquer forma, tudo o que é tirado em abundância, pode acabar um dia.
- Exatamente. Mas o problema, Sofia, é que eles não estão preocupados em tirar daqui e levar para lá. E sim fazer uma modificação genética ao ponto de largarem o planeta deles e se mudarem de vez para cá. Ao menos foi o que um deles comentou.
- Isso pode ser um problema!
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Muitas explicações heim?
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