Capítulo vinte e seis
Sofia
- Olá queridos! Sei que estou interrompendo alguma coisa... – Kate já entrou sendo direta.
- Imagina! Fique a vontade! – Rapidamente respondi, mas com a certeza na minha testa: "culpada". Depois pensei "é claro que ela não desconfiou, tinha certeza que sim!". Vergonha instalada e registrada no meio da cara de pau e cheia de óleo de peroba!
- Tim, sei que Sofia precisa se acostumar com o frio e que talvez demore um tempinho. E já que não vamos sair hoje, pensei que seria interessante que ela ficasse conosco na casa. Nós tivemos uma ideia. E acho que se tudo ocorrer como eu estou imaginando, ela irá rapidamente se acostumar com essas mudanças de temperatura.
- Mamãe, o que você está aprontando?
- Nada demais querido! Mas você lembra como os nossos mentores fizeram conosco no nosso planeta para que nos acostumássemos com a temperatura daqui?
- Excelente ideia mamãe! Ela poderá ir acostumando-se com o frio e não precisará passar por um impacto tão grande.
- Exatamente o que pensei querido. E você Sofia? Concorda?
- Bem, eu não entendi como vocês irão fazer, já que não sei o que a senhora passou no seu planeta para se acostumar com o nosso.
As vezes pareço ríspida com minha honestidade, só que ao invés de ficarem sérios, riram na minha cara. Isso estava virando uma constante: eu ser a única a não entender o que eles falam. De qualquer forma, seja lá o que eles estavam planejando, eu não poderia fazer nada além de aceitar e esperar. Eu queria mesmo era que eles explicassem tudo ao invés de fazer segredinho.
- Desculpe-nos querida! Mas acho melhor você não ficar sabendo. Você poderá influenciar o resultado. Não se preocupe que você nem irá sentir. Literalmente! – Kate tentou aliviar a minha tensão.
- Ok. Eu acho!? – o que mais eu poderia responder?
É claro que eu não tinha outra saída a não ser ficar com toda a família do Timmy na casa principal, sem a menor privacidade. Não que fosse ruim ou um problema. Tudo o que eu estava ouvindo eram informações de outro mundo, literalmente. Mas não me abalava. Era estranho, mas eu os via como estrangeiros. Claro, se eu fosse explicar isso ninguém iria entender, mas é fato e isso eu não posso mudar. Para não enlouquecer eu os visualizava como gringos.
Confesso que também não seria nenhum esforço da minha parte ser uma experiência para a mãe dele. Afinal, eu sairia ganhando. E isso era realmente interessante. E como eu tinha muita pressa para sair da propriedade deles e de poder conhecer tudo por ali, não hesitei em nenhum segundo a tal proposta!
Talvez seja futilidade para alguns ou uma super carência, tudo o que comecei a depositar no que estou vivendo. Muitas mulheres tem esse pensamento fixo de apenas encontrar seu par ideal. O futuro marido. O emprego dos sonhos. E filhos, evidentemente. Não fujo a regra. Não sou a exceção. Tanto que fiquei caidinha pelo Tim. Arriou os meus quatro pneus desde o minuto em que o vi e principalmente depois do nosso primeiro beijo. Para mim ele tem tudo de um príncipe encantado. Eu posso ser independente e ter meu príncipe, por que não? Mas apenas se eu considerar que posso ser feliz sem depositar minha felicidade no príncipe. Porque minha definição de príncipe é diferente. É simplesmente um companheiro leal, que esteja meu cúmplice, meu parceiro. Niguém pode sobrepor o outro.
Penso no amante, nunca no marido. Penso em viver loucamente a paixão. Em inúmeras viagens. Penso nas possibilidades de viver intensamente e em liberdade a dois. Penso na companhia. Mas onde cada um tem também sua liberdade e independência.
Sempre pensei que para ter filhos, só quando programados. E continuo com esse pensamento. Penso que a idade está avançando. Mas e daí? Eu quero é ser muito responsável no assunto filhos e nem um pouco responsável para aproveitar a vida! Posso parecer volúvel e estar mudando todo um discurso, mas não quero mais me lamentar. Eu caí de paraquedas em tudo isso. Os beijos falam por si só. Não falam?
Achei engraçado pensar sobre isso. Logo que fiquei sozinha com Tim na casa, ele fez uma pergunta para mim. Queria saber porquê eu não era muito de namorar e se eu pensava em casar e ter filhos. Expliquei que eu cheguei em um momento da vida que ninguém me definia. Nem emprego, nem pessoas. E não me importava mais se eu estava solteira ou com alguém. A gente precisa desatar muitos nós para ser feliz e a maioria deles é imposta pela sociedade. São rótulos que as pessoas chegam a acreditar e se tornam uma regra!
Por exemplo, quem disse que você precisa estar acompanhada? Ter filhos? A mulher não vai ser feliz se ela não quiser. Então eu decidi que nada disso iria dominar minha vida. Se eu estiver com alguém compatível, ótimo. Se não aparecer alguém, vou fazer o que? Não poderia deixar que a opinião de outrem fosse mais importante do que o que eu estava pensando. No fim, viver tanto tempo sem ter tantas experiências amorosas não poderiam ser consideradas como culpa minha. E no fim eu me libertei. Estar sozinha deixou de ser algo que me fazia mal. Hoje também consigo olhar minhas falhas e não sofrer tanto com elas. Vejo o rumo da sociedade, quais as coisas são mais importantes, quais as futilidades aparecem todos os dias no mundo e aceito o fato de não me enquadrar nelas.
- Estou impressionado. – Timmy respondeu, mas não falou mais nada sobre o assunto. E isso me deixou curiosa. Eu não sabia o que de fato ele havia se impressionado e nem se isso era algo positivo. Não que eu dependesse da opinião dele, mas naquele momento a curiosidade bateu.
Assim que terminamos de falar, a irmã do Tim foi me chamando para a cozinha. Começou a abrir todas as portas de armários de alimentos e me perguntando quais eu tinha maior familiaridade.
- Sofia, estamos muito curiosos por alguma comida brasileira. Não sei se temos temperos semelhantes e se podemos fazer alguma coisa. É que nós não vamos muito para lugares tropicais e morremos de curiosidade.
- Ah, acho que eu posso tentar.
- Por favor! Por favor! – Respondeu entusiasmada Nicolle.
Nicolle nem parecia ser adulta. E sinceramente? Muito menos uma extraterrestre. Para mim era tudo tão Steven Spielberg que não era possível conceber a ideia deles não se comportando como terráqueos! Como assim querer comer uma comida tropical? Como assim querer comer o que comemos? Esse interesse parecia genuíno e bastante simpático da parte deles.
Na verdade era tudo tão normal que eu que me sentia a extraterrestre. Parecia que eu era a estranha no ninho. De certa forma eu era. Estava convivendo com "pessoas" tão diferentes e ao mesmo tempo tão comuns que eu acabava me sentindo estranha e sem saber como agir ou me comportar. Se realmente eu tive a sensação de algum medo ou ameaça, já não existia mais. Estava completamente à vontade com a ideia de óvnis. Mas não como hóspede.
Foi nesse momento que eu me deixei levar. Se fossem raptores não estariam me tratanto tão bem. E eu nem era tão especial assim para isso. Se fossem assassinos, bem, deveriam ser psicopatas bem legais... até aquele momento. Pareciam pessoas ricas. Claro, teve o lance de eu parar no Alasca? Mas como? E essa era a única coisa que me deixava de fato incomodada.
Então, eu continuava me sentindo estranha. E esse sentimento é comum, já que sempre fiquei envergonhada na casa de pessoas pouco conhecidas, imagine ainda de estranhos completos. De extraterrestres! Se bem que isso é só uma observação momentânea e não representava o que eu sentia de verdade.
De qualquer forma, eu já estava consciente que aquilo era real e que eu precisava me concentrar. Eu tinha que ficar tranqüila para poder pensar com racionalidade, pois eu havia me deixado levar por sensações que, talvez em condições "normais", nunca pudessem acontecer.
O príncipe encantado ainda não havia virado sapo, mesmo ele sendo de outro planeta e eu de ter me envolvido em uma trama gigantesca, do tamanho do planeta, ou melhor, do universo! Trama essa que eu ainda não tinha muita certeza do que era exatamente, mas que sentia ser de proporção muito maior do que eles estavam me contando. Quando a racionalidade batia, meu coração gelava.
Como eu estava disposta a ficar calma, procurar entender e saber tudo sobre eles, eu precisava agir com sabedoria e inclusive esperar o tempo deles para me contarem tudo o que eu precisava saber. Eles não estavam interessados em me machucar. Pelo menos era o que eu acreditava. E pra ser honesta, eu nem sabia ao certo tudo o que eu queria saber, já que aquilo era tão fora do normal, que nem conseguia colocar as ideias alinhadas. E teria que ter em algum momento a conversa séria onde eles teriam que me dizer quando eu poderia retornar para meu lar.
Pensar com essa "calmaria" me fez sentir uma sensação estranha, como se eu estivesse tramando algo. Mesmo eles se comportando tão educadamente comigo, não era possível ser cem por cento honesta sobre tudo o que estava sentindo. Até porque era tudo tão complexo que não havia uma certeza de sentimentos dentro dessas sensações descontínuas, cheias de altos e baixos.
A razão deles não me explicarem tudo com detalhes talvez fosse até uma forma de me proteger, pois notavelmente havia algo muito maior do que eles estavam me contando. E talvez eu esteja fora do foco dos "outros" por saber pouco, consequentemente, fora de risco de morte.
****
E ele também está conhecendo um pouco mais da Sofia. Ela se entrega mas ao mesmo tempo fica com o pé atrás... acho que isso se chama: prudência.
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