Capítulo vinte e dois
Sofia
Timmy obviamente imaginou que eu desejaria saber muito mais sobre eles do que assistir algum filme ou ouvir músicas, por exemplo. Nada disso seria relevante. E para falar a verdade, muita coisa do que eu já ouvi falar sobre especulações de vidas em outros planetas, seriam desmistificados e revelados a mim, uma humana normal, sem nenhum atributo ou razão para estar entre alienígenas! Eu sempre fui curiosa e tentada a enfrentar medos. Eu sabia que um dia esse meu espírito aventureiro iria se dar mal e começava a achar que o dia estaria se aproximando.
E como eu não consigo separar muito bem a razão da emoção, confesso que me imaginei um pouco decepcionada com a possível falta de segundas intenções dele. Ao passo que se ele for respeitoso, também não ficaria chateada, talvez um tanto quanto curiosa. Eu precisava deixar as coisas acontecerem. O que era extremamente difícil para mim, naturalmente ansiosa.
Nós mulheres estamos tão acostumadas com homens só querendo sexo, que quando encontramos alguém que nos respeita e que espera o nosso tempo, pensamos logo que ele não está interessado ou que é gay. Só que não tinha como não pensar até que ponto eles seriam geneticamente semelhantes a nós, seres humanos. Se é que você me entende... Então o assunto sexo era realmente uma incógnita.
Lembrei de um livro que li e que ensina a nós, mulheres, a sermos poderosas e não boazinhas. Realmente não me encaixo no perfil da mulher poderosa, por isso fico pensando o porquê do Timmy ter me convidado para um jantar e me beijado naquela noite. Comecei a pensar que só poderia ser por isso, por ele ser de outro mundo! Não faz sentido para mim.
Lembrei de ter ficado caidinha por ele, instantaneamente. E ele nem era humano! O que poderia acontecer entre nós? E onde eu estava com a cabeça de pensar no Timmy como um homem? Ele me revelou algo tão assustador e eu não me assustei? Ou tão pouco? E ainda fiquei preocupada se iria agradá-lo ou não... Eu tinha consciência que isso não poderia ser saudável.
Mas aí a cena do hotel voltou à minha cabeça com um pouco mais de precisão, no momento em que ele se despediu com aquele beijo. E também sobre o interesse dele quando falei que sentia algo por ele. Eu realmente precisava descobrir sobre esses sentimentos e até que ponto, ou melhor, até quando eu poderia ainda me iludir com isso. E por falar em ilusão, essa palavra soava muito bem para tudo o que eu estava vivendo naquele momento, desde o primeiro segundo que coloquei meus olhos sobre ele e no momento em que ele me viu e falou comigo pela primeira vez.
Enquanto nós estávamos a caminho do quarto dele, ele segurou a minha mão. E caminhamos assim, lado a lado, um olhando para o outro. E quando eu percebi que estava andando quase em câmera lenta, tive um estalo da realidade. Fiquei envergonhada e tratei de baixar um pouco a cabeça e depois continuar olhando para frente, firmando mais o passo.
Por dentro da casa, fomos até a cozinha, já que lá tinha uma porta com acesso aos fundos da casa. Passamos pela garagem, pelo lado de fora da casa principal, e fomos em direção a uma pequena casinha. E era toda na madeira, como um chalé. A casa dele não era tão próxima a casa principal, mas dava para ver que por trás havia discretamente uma outra espécie de construção, quando vista de longe. E ela se aproximava ainda mais do lago. A medida que nos aproximávamos não dava mais para ver o que tinha atrás da casa. Além disso, pelos arredores, as coníferas ficam quase que em volta de tudo. Não sei por que, mas estremeci. E dessa vez não era de frio. Simplesmente pelo aspecto de isolamento que me causava.
Tim era o oposto da irmã. Ele não possuía aparelhos eletrônicos sofisticados. E em uma breve olhada, percebi muitos livros, dentre eles, vários sobre química, genética, histologia, história... E entendi a razão disso, ou pelo menos achei que sim. A casinha, na verdade nem era tão pequena assim, mas comparada com a principal, podia-se dizer que sim. Tinha uma grande cama que estava devidamente forrada, uma lareira que parecia que nunca havia sido usada, uma cozinha americana, alguns armários do tipo guarda roupas e outros que poderiam estar sendo usados para guardar mais livros, já que vi muitos livros espalhados pelo quarto. Haviam mais duas portas. Provavelmente uma delas levaria ao banheiro. A outra, fiquei curiosa, já que daria para os fundos do chalé.
Por sinal, a cama ficava bem centralizada em um plano mais elevado. Além desse detalhe, me chamou atenção que o chão era também de madeira, porém uma madeira com um acabamento e polimento que mais parecia mármore ou um belo porcelanato. Tudo impecavelmente limpo. Asséptico. Organizado, mesmo com tantos livros.
Tinha também um sofá em um dos cantos, uma escrivaninha com alguns livros abertos, alguns papéis espalhados sobre a escrivaninha, como se alguém há pouco tivesse lido, e um notebook daqueles caros. Será que eles não tinham aparelhos do planeta deles? Não usavam nada deles próprios? Percebi também duas cadeiras acolchoadas em um veludo de tom verde escuro. O mais interessante foi perceber uma prateleira cheia de discos de vinil e ao lado, uma vitrola. Parecia que eu estava vivendo um filme estilo vintage.
Nenhuma fotografia.
Eu não cheguei perto de nada além da prateleira dos livros. Logo sentei em uma das cadeiras e esperei que ele também se acomodasse. Imaginei que ele sentaria na cama, mas ele perguntou se eu estaria aquecida e começou a preparar a lareira.
- Você não precisa fazer isso...
- Claro que preciso. Vai te aquecer, não vai?
- Você nunca acendeu isso aqui, não é?
- Não. Deu para perceber? – Puxou um leve sorriso, meio torto.
- Não acha que vamos ficar sufocados com a fumaça?
Ele simplesmente começou a rir. Morreu de gargalhar e eu fiquei sem entender nada. Tentei achar engraçado, embora tenha ficado sem graça porque não sabia se ele estava zoando de mim ou se aquilo fosse acontecer mesmo.
- Nossa, você já passou por isso? De acender uma lareira e ficar sufocada com a fumaça? Não usou madeira apropriada ou a coifa?
- Já! Quer dizer, não exatamente sufocada... Em São Paulo, na casa do meu irmão, tem uma lareira. E basicamente tínhamos que sentar no chão, porque a fumaça ocupava metade do ambiente até o teto.
- Já aconteceu comigo. Mas acredito que a chaminé da casa do seu irmão provavelmente estava obstruída de alguma forma.
- Independente disso, não precisa acender lareira. Pode ficar tranquilo – ele concordou e veio mais para perto.
Acabou que a conversa depois disso foi agradável. Ao menos não fiquei lembrando que não éramos iguais. E ele realmente esqueceu a ideia da lareira e ligou o aquecedor. Que por incrível que pareça, aqueceu excessivamente, acho que para ele também. E nesse instante foi a primeira vez que eu pensei na minha família e em quanto tempo eu ficaria no ALASCA?! E por que exatamente eu estava ali... E veio a lembrança que estávamos fugindo de alguém. Mas quem?
- Tim, eu preciso saber. Ou então não existe razão de eu estar aqui.
- Eu sei – Ele deu uma pausa, suspirou e voltou a falar - Sabe aquelas pessoas que estávamos fugindo?
- Como eu poderia esquecer? Afinal, estou aqui por causa deles, não é?
- Sim, está. Eles são como nós. Mas não do mesmo planeta. E eles também estão passando pela mesma situação, o mesmo dilema. Nossos planetas são vizinhos. Como dois países distantes, como o planeta Terra e a Lua, com línguas diferentes e culturas diferentes, mas basicamente a mesma essência e quase o mesmo desenvolvimento tecnológico. Nós somos mais desenvolvidos que eles.
- Ok, até aí, estou entendendo. Até que ponto vocês são parecidos fisicamente? Quer dizer, em seus devidos planetas...
- Eles vivem mais em meios terrestres e igualmente muito gelados. Não possuem habilidades aquáticas. E a pele deles é mais fina que a nossa, eles são menores em tamanho e na cabeça e, a única coisa que eles tem muito semelhante a nós são os olhos. Eles precisam muito da pele para olfato e até mesmo para a nutrição, já que é basicamente com as mãos que retiram os nutrientes.
- Como assim as mãos? A boca é na mão?
- Não há boca. Eles utilizam um sistema do tipo... como agulhas que penetram e sugam o que estiverem em mãos. Pequenas agulhas. Assim que eles tocam no que pretendem "comer", esse sistema sai de dentro da pele e retira tudo o que precisa para as necessidades nutricionais deles. E inclusive servem também de proteção, pois existe em praticamente todo o corpo e quando internos, servem de escudo.
- Isso é muito estranho. Mas acho que consegui visualizar o que você está me falando. Seres com espinhos! Então vocês resolveram se unir, não por terem simplesmente algumas características semelhantes, mas por estarem em situações parecidas.
- Claro, era preciso! E afinal, nunca tivemos preocupações entre nossos planetas. Diferentemente de vocês que não possuem planetas habitados por perto, nós temos. E além disso, com convivência pacífica, porque temos condições de vida diferentes ao ponto de não temos como viver juntos. Assim, nossos representantes se uniram. Encontramos uma maneira de nos comunircarmos e nos adaptarmos à vida terrestre. Viemos tentar encontrar aqui a salvação para os nossos problemas. O que não é muito fácil. Vocês tem uma diversidade biológica enorme. Mesmo sendo atrasados em tantas coisas.
- Então, todo esse processo é como procurar uma agulha no palheiro.
- Por aí.
****
Parece que ela finalmente irá conhecer muito sobre eles... E tem muito mais vindo por aí.
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