Capítulo vinte e cinco
Sofia
A segunda porta leva a uma espécie de jardim climatizado. Era quase tropical, adentrando entre a floresta de pinheiros. Era simplesmente lindo! Tinham pequenas árvores e algumas com frutos. Diversas orquídeas. Isso me fez lembrar meu pai que era apaixonado por natureza e por essa espécie de flor. O local parecia uma espécie de pequeno parque florestal com bancos e uma balanço de jardim que estava preso em uma estrutura de madeira, em quatro pilares. O mais interessante é que mais parece uma cama do que um balanço. Além disso, ela estava em cima de umas plantas rasteiras lindas e basicamente dentro de um pequeno lago cheios de peixes ornamentais, tendo uma passagem de certa forma estreita, pois não cabem duas pessoas lado a lado nesse caminho. Tinha uma grama bonita também e uma fonte belíssima. E o mais interessante: alguns passarinhos e borboletas! Simplesmente fantástico. Surreal.
Como o Alasca é um lugar frio demais, Tim fez uma espécie de orquidário ou coisa do tipo. E era perfeito. O jardim mais bonito que eu já vi na vida. E nem era tão espaçoso assim. Parecia outro mundo diante de todo aquele cenário frio. E imaginei que não deveria ser fácil manter aquele mimo. Afinal de contas, haviam espécies de plantas e quem sabe animais que não faziam parte daquele ecossistema frio!
E foi então que ele falou:
- É o meu refúgio.
- Super refúgio! Estou simplesmente deslumbrada com isso. É tão lindo! Tão cheio de flores, orquídeas, tão verde! E esses pássaros e borboletas! Como pode? Atrás disso tudo a gente vê uma paisagem tão destoante...
- Não é fácil manter tudo isto, acredite! E eu acabo tratando a estrutura como um filho. Fico preocupado de algo quebrar ou não funcionar direito. Isso pode matar todos os animais aqui, as plantas...
- Mas se você pode sair daqui e ir rapidamente para qualquer lugar no mundo e ver tudo em seu habitat natural, por que ter aqui?
- Nem sempre eu gosto de viajar. As vezes apenas venho aqui e me deito. E isso me ajuda a pensar.
- Eu acredito. E estou vendo! Como vocês fazem para manter tudo isso? Não tem empregados?
- Sim. Não somos monstros e convivemos naturalmente com 100% dos humanos. As pessoas entram aqui, tranquilamente. Não temos nada de secreto aqui na nossa casa. Exceto nosso DNA. E este, a gente toma muito cuidado para não cair em mãos erradas. Quer dizer, temos algo de secreto. Mas é tão secreto que eu até mesmo esqueço!
E rindo ele se apressou em completar com a frase "a curiosidade mata!" e um belo e calmo "você chegará lá". Apenas acenti com a cabeça e continuei nossa conversa sobre aquele lugar tão bonito.
- Acho que vocês não poderiam ser diferentes mesmo... Diga-me, seu planeta é parecido com este jardim?
- Não. Mas eu gostaria que fosse. Deve ter sido um dia. Venha comigo, vou te mostrar algo.
E foi então que voltamos para dentro da casinha. Fiquei esperançosa dele mostrar alguma foto ou algo parecido do planeta dele. E ele realmente pegou algumas fotos para me mostrar. Só que não era do planeta dele e sim da escultura que estava em São Paulo.
- Você se lembra dessa escultura?
- Como poderia esquecer?
- Agora veja esse desenho aqui – apontou.
E foi então que eu pude ver melhor aquele ser, pois na estátua ele estava encolhido e no desenho que Tim estava me mostrando, o ser estava em pé e muito mais exposto. Naquele instante me deu um arrepio nas costas.
O desenho mostrava um ser que parecia ser mais alto que um humano, pois tinha pernas, braços e troncos mais alongados. E também uma cabeça mais esticada, maior. Sem cabelos. Tudo era mais alongado. Bem semelhante ao ser humano.
- Nós somos assim, Sofia. Um pouquinho mais altos que vocês humanos.
- E como aquela escultura estava no meio de uma exposição em São Paulo? Eu li que ela tem mais de 300 anos! E agora que você me mostrou como vocês são quando estão em pé, lembrei de imediato da escultura e da semelhança. Há quanto tempo vocês visitam o nosso planeta, afinal? - Também lembrei dos meus sonhos, mas isso era algo que eu ainda não queria falar. Foi um choque, mas pretendia me fazer de esquecida.
- Há muito tempo. Antes mesmo de termos esses problemas, nós vínhamos aqui. Eu não, mas meu povo. E como te falei, achamos a Terra de forma aleatória. Claro que eu nem era nascido quando isso aconteceu.
- Mas você disse que não conhecia a Terra até estarem doentes...
- Na verdade, conhecíamos, como te falei, mas não explorávamos. E raramente saíamos das nossas naves. Quando saíamos, tínhamos que usar uma membrana protetora, pois tínhamos medo de ficarmos doentes. Vínhamos apenas como pesquisadores, sem más intenções.
- Mas há quanto tempo que este problema acontece no seu planeta?
- Na sua contagem de tempo, uns 100 anos.
- Nossa então faz tempo!
- Na sua contagem de anos, sim. Mas antes vínhamos só para conhecer, como falei, visitar sem pretenções. No entanto, de 100 anos pra cá, buscando ajuda.
Sentei na cama e depois deitei. Mas deixei meus pés ainda tocando o chão. Tim fez o mesmo, ficando ao meu lado, bem pertinho de mim. E foi então que me virei, encolhi as pernas e ficando de lado, olhando para ele. Ele fez o mesmo, voltando-se para mim.
Pela segunda vez estávamos perto um do outro. E novamente o mundo tinha parado para nós. Só existiam duas pessoas respirando na Terra, Tim e eu. Estremeci quando ele tocou meu rosto e tirou um pouco de cabelo que havia caído no rosto. Ele deslizou a mão por trás no meu ombro e me puxou para perto. E foi aí que nos beijamos.
Novamente. Loucamente. Intensamente.
Engraçado... Nunca acreditei em borboletinhas na barriga ou até ver fogos de artifício... Já beijei vários rapazes e a maioria no fim a adolescência. Acredito que já me emocionei ao beijo. E até posso dizer que senti um friozinho na barriga. E com certeza essa sensação acontecia pelo meu nervosismo. Mas nunca como um sinal de que justamente aquele rapaz seria uma verdadeira paixão. Que dirá amor!
Sempre fui pé no chão. Nunca fui uma menina bobinha e sim extremamente racional. Não no sentido de pensar que aqueles garotos eram os únicos no mundo. É claro que eu me empolgava, ficava rindo à toa. Mas por viver aquela sensação agradável da paquera. E só e somente a paquera. Sem perspectivas futuras. Ninguém pensa em viver com uma pessoa para todo o sempre aos 16 anos, pensa? Eu definitivamente não pensava. Depois que se envelhece a gente procura conseguir manter um relacionamento e nem se importa com as borboletinhas.
Só que na primeira vez que beijei o Timmy, senti essa mesma sensação. E eu tenho certeza que estava nervosa. Afinal, tinha todo um contexto, onde a cena parecia coisa de cinema. Como um herói ou um amado que vai para a guerra e deixa a namoradinha para trás, mas sempre prometendo amor eterno, muitas cartas e um regresso são e salvo para o então casamento prometido. Três filhos e um cachorro. Blé. Eu procuro não fazer do meu nervosismo um romance.
A situação é realmente dramática e romântica. Dignas de um romance. Quem sabe até de um Oscar. Sou racional. De qualquer forma, nunca acreditei nisso. Acho que por nunca ter sentido tanto amor por alguém. Então se aos trinta anos eu nunca havia passado por tal experiência, não seria agora que iria sentir. Não é? O problema é que eu senti!
E nem estava em pé para poder elevar uma das pernas na altura do joelho! E se tivesse provavelmente o faria! E se a cena é ridícula ou romântica, deixo a discussão para outras pessoas.
O importante é que senti todas essas sensações e foi a experiência mais nova e mais interessante dos meus últimos tempos! Eu estava, com certeza, nas nuvens. E só assim eu pude entender porque é que tantas pessoas se expressam dessa maneira: "estou nas nuvens".
Não existe descrição para a sensação de que toda sua vida está perfeitamente encaixada em um simples ato de beijar. Parece que você é a única pessoa que está vivendo o momento mais gostoso que um ser humano poderia vivenciar. Eu me senti como um elétron, energeticamente excitada, indo para camadas mais e mais energizadas. É por isso que há tantos fogos de artifícios nas nossas mentes. Fui linda em direção a ele! Não me esforcei nem um pouco para tanto, não houve barreiras ou medo. Simplesmente pulei.
E o melhor? Eu me senti tão bem que até imaginei que em todo o mundo eu era a única pessoa a estar vivendo aquele momento lindo. E mesmo que pareça cafona ou ridículo, eu nem me importava. Só dava para pensar que aquele instante não deveria ter fim. Aposto que eles também sentem algo parecido.
Porém, sempre existe alguma coisa para atrapalhar. Sabe quando estamos assistindo um filme romântico e nas cenas mais esperadas pelo telespectador, algo perturbador acontece mudando tudo? E mais uma vez o casal romântico tem que adiar seja lá o que eles começaram a fazer?
Para não contrariar a expectativa entre nós dois, alguém nos interrompeu. Bateram na porta. E infelizmente não dava para fingir que não estávamos lá. Sendo assim, Tim foi atender e a mãe dele educadamente entrou. Nesse instante eu já estava a postos, em pé!
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Eita!!!! Hahahahaha
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