Capítulo trinta e seis
Sofia
Quando entrei, corri para o banheiro. Entrei no chuveiro e lavei meus pés, depois sentei no vaso e olhei bem para eles, que estavam muito vermelhos e doloridos, mas já não via nenhum sangramento ou ferida!!
Que diabos de pasta verde era aquela? Meu primeiro pensamento óbvio.
Procurei roupas secas. Peguei todos os travesseiros, lençóis e edredons que vi e joguei tudo no chão do banheiro. Tranquei-me para dormir ali mesmo, na tentativa de ficar mais reservada. Na esperança de que ninguém pudesse me achar ou que eu não cedesse a tentação de procurar outra aventura desnecessária como aquela que eu acabara de vivenciar. Bem, foi alí que achei que estaria mais segura, naquele espaço menor.
Fiz-me prisioneira.
Porém, Gabriel logo recebeu uma visita. Tim sabia que não deveria ter me deixado sozinha e muito menos aos cuidados do irmão, que já não aceitava a minha presença naquela casa.
- Olá Gabriel – Ouvi a voz do Timmy.
- Você já voltou? Já deve estar sabendo que Sofia está pronta para voltar para o País dela, não é?
- Sim, voltei porque algo me dizia que eu deveria retornar. Por que diz isso sobre a Sofia?
- Olha só, o maninho está com o tal "sexto sentido" humano?
- Desembucha Gabriel! Eu não estou com paciência de ver você criticando mais uma vez tudo o que é relacionado à Sofia.
- Ok, vou simplificar: Ela sente mais frio do que calor. E isso não significa que ela possa estar em transformação alguma. Talvez só reaja bem as coisas dos nosso planeta. Mas isso aconteceria em qualquer ser humano.
- Não sei. Acho que ela ainda vai passar por mais acessos longos de calor.
- Não Tim, ela vai passar pela fase do frio apenas, por estar no Alasca, nada mais. Mas se ela realmente estiver em transformação, essa fase do frio vai ficar intensa e demorar no mínimo dois dias. E é por isso que ela deve voltar ao país dela, já que é tropical. Ademais, ela precisa disfarçar. Precisa ver a família dela. E quando ela começar a sentir muito calor, você tem como saber. Use o dispositivo, já que você está longe de ter conexão com ela.
- Você está certo. E se eu ficar por lá com ela? Só para garantir?
- Você sabe que não pode passar mais de vinte quatro horas longe da proteção. Eles vão rastrear você novamente. E você também sabe que eles já te acharam no Brasil uma vez. No mínimo estão de olho nesse país. Você vai arriscar?
- Ao menos ficarei com ela algumas horas... Só para garantir.
- Por quê?
- Porque realmente gosto dela, não quero que ela pense novamente que eu a abandonei.
- Isso é o que você diz. Você indo para lá vai garantir que ela te coloque em encrenca. Essa garota é problema.
- O que houve Gabriel? Por que tanta desconfiança? E por que acha que eu não tenho conexão com ela?
- Em primeiro lugar, você nunca nos explicou o que te fez escolhê-la. Você nem falava em ter alguém, de repente vai fazer a pesquisa no Brasil e volta com ela! Além do mais, sua namorada parece gostar de aventuras. Acabei de salvá-la dos lobos que tomam conta da propriedade e você nem sentiu!
- Ela saiu da casa?
- Claro! E descalça! Ficou em carne viva nos pés, precisei tratar. Agora está lá, no quarto dela. O que ela pensa que está fazendo?
- Não sei, mas com certeza está buscando resposta para tudo o que está acontecendo com ela. Dê mais um tempo para ela. Por isso eu estava louco para voltar... E você falando que eu não tenho conexão.
- Tim, se você vai continuar com isso, não tente meu apoio. Não nisso!
- Um dia você sentiu o mesmo. É uma pena que foi com a pessoa errada. Eu não acredito que isto seja a mesma situação, meu irmão! E eu não tenho culpa do que te aconteceu e nem vou me basear na sua vivência... – Gabriel o cortou prontamente com uma voz de raiva.
- Obrigado por me fazer lembrar tudo novamente! E a escolha é sua mesmo! Cabe a você! Porém, repito, não me envolva...
- Você ainda encontrará uma pessoa...
- Nunca mais! Já desisti de ficar junto aos meus no meu planeta para poder salvar todos por lá, então seguirei a minha missão e não tentarei mais aumentar nossa espécie aqui. Minha missão acaba com o meu fim. Se não conseguirmos a cura até lá, que nosso planteta mande mais reforços. E se você quiser perpetuar, isso é com você. Se a Nicolle quiser perpetuar quando ela estiver na idade fértil, também será um problema dela. Não vou me meter nem para ajudar e nem para atrapalhar.
- Mas, Gabriel, precisamos continuar aqui! Você sabe que nossos pais não podem mais procriar! Eles já alcançaram o máximo de filhos que poderiam aqui. Você não quer ter família, já que estamos presos neste planeta? Não quer tentar enquanto pode? E se não conseguirmos salvar nosso planeta, quem sabe nossos filhos? Não seria mais prático?
- Já disse, nossos semelhantes precisarão fazer novos "modificados" por lá e enviar a terra assim como iniciaram com nossos pais, porque se depender de mim, não teremos descendentes aqui! E se não deu certo com ela, não vou tentar com humana nenhuma.
- Você sabe que não é tão fácil. Já foi um grande desafio fazer quatro casais, desperdiçando espécies nos outros. E se fosse fácil, acha que teríamos apenas nossos pais aqui?
- Irmão, por favor, me deixe sozinho, não quero mais discutir, vá ver sua Sofia!
- Está bem, deixarei você sim. Irei dar uma olhada na Sofia mesmo, porque afinal, estou mais preocupado em como você a tratou do que com tudo o que aconteceu a ela antes de você aparecer para salvá-la!
- Está vendo? Chega a ser um absurdo o que você está me dizendo!
- Pode ser, mas não deixa de ser verdade a sua ignorância! Agora eu vou indo, porque preciso voltar logo ao trabalho. Ainda quero fazer mais alguma coisa antes de levá-la ao Brasil. Porém, antes quero lembrar uma coisinha, Sofia está reagindo muito bem a tudo o que damos a ela, isto significa algo, não é?
- Infelizmente... Agora vá! Deixe-me descansar.
Timmy rapidamente sumiu do quarto do Gabriel e apareceu no meu quarto. Viu a porta do banheiro fechada e logo já estava dentro. Na verdade. Ele se assustou ao ver-me toda enrolada entre lençóis e edredons no chão do banheiro, toda encolhida. Mas não quis me acordar. Abaixou-se, procurou tocar naqueles poucos cabelos que estavam a amostra e depois sumiu novamente.
Eu não queria conversar com ele. Estava acordada e consegui ouvir pelas paredes parte da conversa entre eles, pois o banheiro era justamente no lado do quarto do Gabriel. Eu não tinha os super poderes que eles tinham e nem precisava de tanto esforço para ouvi-los. Fiz de conta que estava dormindo.
Naquele momento, imaginei que eles esqueceram que a casa deles não era extraterrestre. E pelo pouco que tinha ouvido, entendi o porquê do Timmy estar me mantendo perto deles. E não era nenhum sentimento de amor. Era pura necessidade de procriação! Não gostei de ter pensado essas coisas.
Idiota, como sou, talvez por estar tão carente, pensei que existia sentimento entre nós. E qualquer delicadeza para mim significaria interesse dele. Na verdade, nesse caso, tudo calculado. Achei que ele era diferente por não ser um pouco humano, mas talvez por não se importar com beleza exterior, posição social ou coisa do tipo. Nem estou me desmerecendo ao pensar nisso, mas preciso ser honesta, o que eu tinha a ofecerer a não ser um útero?
Ele tão bonito, não iria achar uma brasileira interessante simplesmente por achar. Na certa, trazer-me aqui para tão longe fosse uma facilidade para me prender sem chances de fuga. E claro que todos estavam juntos nessa. É claro que a irmã dele, apesar de ter sido muito prestativa e legal comigo, não iria dizer as reais intenções do irmão.
Talvez o único que realmente não estivesse participando da ideia fosse o Gabriel. E eu sempre tão insegura com relação a ele. Achando que Gabriel não se importava comigo. E o tempo todo, era o único que estava se importando de fato. Não necessariamente com a minha pessoa, mas com o contexto. Poderia ser qualquer uma e ele estaria discordando do mesmo jeito.
Depois de tanto pensar, percebi que precisava arrumar algum plano para voltar para casa. Embora eles tivessem falado que iriam me levar de volta... Talvez fosse demorar. Eu precisava adiantar essa minha ida. Eu realmente não saberia nem o que dizer, porque simplesmente, saudade da família não iria ajudar, já que fazia pouco tempo que eu estava lá. Precisava ser algo mais consistente. Plausível.
Eu não conseguia parar de pensar e estava começando a ficar com dor de cabeça por isso. Já não sabia se estava com insônia por estar preocupada ou porque era natural não ter sono. E apesar de estar no banheiro, não me sentia desconfortável. O chão não era um incômodo diante de todos os meus dilemas.
Apenas eu e Gabriel naquela casa enorme. Fiquei imaginando se ele estava conseguindo dormir. Pensei em ir conversar com ele, mas logo abandonei a ideia com medo de represálias. Resolvi relaxar até cair no sono.
***
Gabriel
Não conseguia dormir. Com tantos problemas que vivenciei até esse dia, pela primeira vez em muito tempo eu voltei a ter problemas com o sono. Estava cansado. Parei diversas vezes meus afazeres para ficar junto à família, por casa da Sofia. Achei que fosse ideal tentar falar com alguém no meu planeta para saber como agir, quem sabe eu acalmasse as minhas ideias. Fiquei receoso de estar passando por cima do chefe da família, meu pai, e de deixar todo o nosso povo descontente e até preocupados com isso. Afinal, nunca precisei tomar uma decisão alheia ao do meu pai e poderia ter deixado nossos superiores desconfiados de que estávamos em discordância por aqui. Esse tipo de coisa nunca será bem visto.
O problema é que eu deveria ser maleável com as escolhas do meu irmão. Mas como? Eu não conseguia achar correto o que ele estava fazendo com a moça. Claro que eu sabia que ele poderia mesmo estar amando, afinal, o meu discurso hoje era exatamente o dele antes. Ele que dizia que era loucura se envolver com alguém na Terra, pior ainda sendo quem eu havia escolhido. Mas eu não tive escolhas, simplesmente aconteceu. Milla se tornou o ar que eu respirava. Hoje eu vivo me sentindo sufocado com a falta que ela me faz. Mesmo ela tendo me dito aquelas palavras na última vez que nos vimos, não consigo esquecê-la. E essa dor eu não quero que o Timmy sofra. E se ele está insistindo, com certeza sente algo real pela Sofia. Ele nunca se envolveu com nenhuma mulher antes!
De qualquer forma, decidi tentar ficar um pouco longe da Sofia. Eu tinha consciência que estava sendo um babaca com ela. E que fazia de tudo para não conhecê-la. E isso era apenas um plano para tentar convencer a todos quão má ideia aquilo tudo era. Quem sabe eles acordassem para a nossa realidade. Somos extraterrestres! Não era certo viver como humanos e até mesmo querer a vida deles. Eu me envolvi com Milla porque querendo ou não ela era uma de nós. Mesmo achando que, ao menos Tim, não teria a mesma chance que eu. Nicolle poderia, quem sabe, se envolver com um dos irmãos da Milla, mas já sabendo que não poderia ter filhos, visto que eles todos eram inférteis. Mas ao menos não estaria só nesse planeta.
Esgotado, com tantos pensamentos diversos, finalmente consegui dormir. Que dia!
****
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro