Capítulo sete
Vamos ver a versão do gato também? Segue lendo que ainda está neste capítulo!
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Sofia
Eu sempre achei que não é interessante encontrar esse tipo de homem por aí, simplesmente para não ter a raiva de pensar porquê Deus coloca no mundo pessoas assim, para esfregarem nas nossas caras que somos tão simples e sem graça se nos compararmos, além de que nem deveríamos existir no mundo em que eles vivem! Era muita perfeição em um homem só!
Talvez eu estivesse exagerando, superestimando, mas para mim ele já era único no universo. Parecia que ele era o lado positivo e eu o negativo. Eu pelo menos me senti assim, atração total!
O que me deixou confusa. Eu nunca olhei para um homem deste jeito.
- Tudo bem, não se preocupe. Você estava olhando para os quadros e eu estava abaixado, fora do seu alcance visual. Eu sou o culpado, eu não deveria ter ficado aqui deste jeito, como um idiota, olhando... Nem sei o que. – Disse ele.
- Não, imagine! Que espécie de maluca anda enquanto olha em direção oposta?
- Uma distraída, talvez? (risos). Mas não fique envergonhada. Eu me distraio com essas coisas do mesmo jeito. Que bom que não sou único neste planeta!
Foi isso mesmo? Ele interagiu falando bobagens comigo? – Pensei.
Eu fiquei desconsertada. Acho que isso foi mais que embaraçoso... Um gato tentando ser simpático, falando bobagem e eu achando engraçado! E senti que talvez ele tivesse se arrependido do que falou porque ficou sem jeito, arrumando o cabelo, dando um sorriso imposto.
- Mas... Espera um pouco. Se você me viu olhando para os quadros, por que não me alertou?
- Foi tudo muito rápido. Quando eu vi, você já estava quase caindo em cima de mim!
Não me restou nada além de rir novamente envergonhada. Comecei a me perguntar sobre o que ele estaria de fato pensando sobre mim naquele momento. Uma completa idiota, no mínimo. Ou ele poderia pensar que eu fiz de propósito? Aí sim, seria embaraçoso!
Pensei que ele provavelmente era um cara gentil, estaria apenas sendo educado, porém, já pensando no que iria dizer para se livrar daquela situação. Ou seja, de mim. E as próximas palavras seriam "Bem, eu tenho que ir. Cuide-se!". Normal, não é?
As coisas que eu pensei em frações de segundos até me deixaram confusas. Tantas informações em tão pouco tempo que nem mesma consegui organizar de forma lógica e cronológica. E era nítido para os outros que eu me perturbava com os meus próprios pensamentos, pois deixava claro nas caretas que fazia sem perceber. Isso era típico da minha pessoa. Provavelmente fiquei com as bochechas coradas de tanta vergonha.
Foi então que ele tomou uma atitude de puxar conversa assim que se pôs em pé:
- Você parece um pouco confusa. O que você está pensando exatamente?
Ele frisou bem a palavra exatamente e eu acabei limpando instantaneamente os meus pensamentos. Era como se eu voltasse para estaca zero. Como se eu nunca tivesse pensado em qualquer coisa milésimos de segundos atrás. E por essa razão, fiquei gaguejando, sem saber o que dizer.
- É... é que... É...
- Não consigo te ler, quer dizer, te entender. - disse ele fazendo uma cara de dúvida ou de curiosidade, certamente por causa das caretas que eu deveria estar fazendo.
"Pense rápido!". E então consegui falar alguma coisa.
- Você tem um sotaque diferente. Não é brasileiro?
- Não. Eu sou do Canadá. Estou aqui a trabalho.
- Ah, então originalmente fala inglês ou fracês?
- Sim, uma das línguas nativas do meu país. Você fala inglês?
- Sim. Se quiser, podemos falar em inglês. – Já fui respondendo em inglês.
- Ah, por favor! Eu sempre me achei estranho falando sua língua.
Ele me acompanhou rindo. No caso, a risada mais gostosa que já vi.
- Meu português ainda não foi configurado. Se é que me entende.
Eu dei uma risadinha e concordei. Mas não esqueci o que estávamos falando e mal o deixei respirar, logo questionando:
- Seu trabalho é aqui no museu?
- Não no museu, mas faz parta do trabalho as visitas. Estou fazendo uma pesquisa no mundo todo sobre uma civilização.
- Ah, então, pelo jeito você é... como se diz em inglês a pessoa que estuda pessoas, civilizações... antropolo...
- Sim, antropologista. Pode-se dizer que sim. Bem óbvio? Eu sou um pouco de tudo. Faço também outros tipos de pesquisas.
- Você está atento em um museu e disse que o português ainda não havia sido configurado, como se fosse um instrumento de trabalho. Apenas imagino que seja algum estudioso na área, já que está fazendo pesquisas sobre uma civilização. Não é tão difícil deduzir isso.
- Na verdade, estou procurando uma família que se esconde em todo o mundo. Então, em todos os lugares que eles se estabeleceram ou simplesmente passaram, estou visitando, para a busca de informações sobre o que fizeram, quem eles visitaram, o que conquistaram etc.
- Mas o que essa família tem de especial?
Antes mesmo que ele respondesse, a minha amiga apareceu. Cumprimentou o rapaz acenando com a cabeça e dizendo "oi". Então se voltou para mim e perguntou:
- Amiga, desculpe interrupção, mas você tem planos para o almoço? – Ela não pareceu afetada pela beleza do rapaz. O que me deixou intrigada. Ou será que eu estou supervalorizando a beleza dele?
- Não, não pensei em nada.
- Quer ir agora? – E novamente ignorou totalmente a presença do gringo.
- Você conhece algum lugar aqui por perto ou perto da sua casa?
- Sim, tem um lugar legal aqui perto.
E antes que eu pudesse dizer mais uma palavra, a minha amiga já foi logo convidando o estranho. Acho que subestimei minha amiga, porque ela parecia nem se importar com ele, mas foi super gentil fazendo o convite.
- Deseja ir conosco?
- Sim, seria um prazer! - Respondeu em português, rapidamente, sem hesitar. Que coisa estranha!
- Ah, desculpe a falta de educação da minha amiga. Sou a Júlia. Como você se chama mesmo?
E ainda virei mal educada!
Timmy
A minha vida era algo que não pretendia expor. Jamais. Só que algo estava dizendo que isso iria mudar. O máximo que eu pudesse esconder, eu o faria.
É um risco falar da minha história de vida, as pessoas podem sair pesquisando, juntando os pontos e criando hipóteses. Tentei não ceder, já que muitas outras vidas dependem das minhas ações. E isso foi suficiente para que eu me mantivesse em segredo, sem me sentir mal por isso.
Só que na vida, nada é previsível.
Eu havia acabado de chegar ao Brasil. Foi a primeira vez que pisei em solos tão quentes. Apesar de todos os contatos que temos aqui, meu pai que vinha pessoalmente resolver tudo. São Paulo é a maior capital do país. Cidade movimentada. Bem diferente da nossa escolha de vida para moradia. Embora já tenha conhecido praticamente o mundo inteiro, ainda assim me senti deslocado nesse mundo de terras brasileiras.
Sou acostumado aos países gelados. O Brasil era uma aventura, justamente por ser tão diferenciado de tudo o que eu estava acostumado.
Eu sabia que não seria uma viagem fácil, já que, ultimamente, as informações que vinha recebendo dos meus contatos no Brasil sempre foram tão escassas. Por ser um país tropical, não era uma escolha interessante aos meus ancestrais para moradia. O que me intrigava, já que os rastros de possibilidades que aqui estavam se apresentando eram tão descarados.
Quando eu conversava com alguém sobre as razões pelas quais estava em determinado lugar, sempre dizia que estava pesquisando sobre pessoas. Mas nunca falei que essas pessoas eram da minha família, evitando assim o maior interesse de quem perguntava. Eu jamais poderia ser o foco de nada.
Essa era a forma mais fácil de evitar falar de mim e de controlar a curiosidade de todos.
Normalmente, quando se inicia uma conversa, logo me perguntam o local de nascimento. Sempre digo que nasci no último local em que estive ou simplesmente invento na hora. Poderia também ser algum lugar onde as pessoas normalmente me conhecessem ou já ouviram falar de mim, quando preciso de veracidade para os negócios.
O Canadá era um desses lugares.
Na verdade, moro em Fairbanks, uma cidade do Estado do Alasca, que é tão popular quanto o Estado em si. Aqui no Brasil, se alguém ouve falar do Alasca, logo pensa no Círculo Polar Ártico. De qualquer forma, uma coisa é certa: todos pensam em gelo. Só que não gosto muito de dizer que sou do Alasca, para evitar qualquer investigação sobre o lugar e sobre mim. Minha família precisa de proteção.
O Alasca foi considerado como o 49° Estado dos EUA. É o mais extenso, porém o menos populoso. E se juntarmos essas informações somadas ao fato de ser um dos lugares mais frios do planeta, a pessoa estranha o motivo pelo qual vivo mais lá do que em qualquer outro lugar.
A cidade de Fairbanks recebe pouco calor o ano todo. Chega a invernos de até 40°C negativos e o verão não passa de 15°C nos meses de junho, julho e agosto.
Outra razão desse lugar não ser tão interessante ao resto do mundo, além do fato de ser frio, é que, por exemplo, não traz muitas oportunidades de emprego. E mesmo sendo um Estado importante para os EUA pela sua produção de petróleo, uma "fuga dos cérebros" existe em larga escala. Gente estudiosa não permanece lá.
Mais um motivo para a minha família gostar tanto do Alasca.
Para mim, falar que trabalho como pesquisador é fácil, existem numerosos pesquisadores no mundo. E no fim das contas, eu sou realmente um pesquisador. Mas uma verdadeira fonte de renda da minha família para a sociedade, vinha da pesca. Ao menos era o que as pessoas que trabalhavam para a nossa família espalhavam por aí. Talvez porque tenhamos conseguido obter as melhores técnicas de pesca do Estado.
Inclusive a empresa de pesca sempre foi alvo de investigações, pois sempre fomos os únicos a conseguir sucesso de quase 100% em nossos trabalhos. Estamos sempre nos melhores lugares para a pesca. Ultrapassamos os limites do Alasca, chegando ao Canadá e também da Rússia.
O governo, por meio de seus institutos de proteção ao meio ambiente, fica preocupado, pois muitas histórias envolvem nossas indústrias de exportação de peixe no Alasca. Salmão selvagem e polaca, por exemplo.
Algumas dessas histórias envolvem supostos explosivos como forma de pesca, uso de substâncias químicas nocivas ao meio ambiente, tecnologia de ponta para identificar a localização de cardumes etc.
A hipótese das substâncias químicas existia porque todos sabem que também temos um laboratório. Ninguém sabia que tipo de pesquisa realizávamos ali. Era tudo muito secreto e só nós, os Heiselmann, tínhamos acesso. O governo, de certa forma também, porque era necessário que eles fossem informados, até porque algumas vistorias são obrigatórias. O que se sabe por alto é que o laboratório trabalha em doenças de animais marinhos por fungos e bactérias. Mas todos duvidavam que era só isso. Os rumores eram cada vez maiores. E o governo nunca encontrou nada fora do lugar. Até porque fizemos um trabalho excelente em favor da população.
Alguns acreditam que fazemos criadouros para modificar os peixes. Existem empresas que fazem isso de fato, injetam vacinas contra doenças nos peixes. Mas infelizmente, a sociedade sofre com essas substâncias ao serem ingeridas. Não fazemos isso. Nada que prejudique o ser humano. Nossas pesquisas são exatamente o oposto.
E por falar com Heiselmann, este era o meu sobrenome. Somos considerados sempre como pessoas tranquilas, que não se metem em confusões, sempre muito discretos. Ou tentando ser. Nunca imaginei que isso tudo poderia mudar drasticamente só porque resolvi ir almoçar com duas brasileiras.
Eita! Acho que para ele a coisa também vai mudar um pouquinho... E que segredo é esse que ele tem hein????
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