Capítulo quatro
Sofia
Passado esse momento filosófico, tinha que voltar à realidade.
Eu estava morando em outro Estado. Arrumei um emprego na cidade em que tentava fazer um mestrado, portanto, aluguei um apartamento, comprei algumas coisas básicas e fiquei por lá. Em um determinado momento, estava de volta, apenas passeando na minha cidade natal.
O problema era que as inscrições para o mestrado iriam acontecer apenas cinco meses depois que decidi aceitar o tal emprego. Só fiquei três meses trabalhando. Tive problemas de relacionamento com meu supervisor. Nem vale a pena explicar tudo ou ficaria uma eternidade tentando explicar o quanto ele fazia da incompetência dele a minha urgência. Foi um sofrimento. Fiquei feliz em sair. O chato sempre são as contas para pagar e a falta de dinheiro que isso iria me causar em alguns meses. Toda mudança exige um custo.
De qualquer forma, sempre foi um terror voltar para a casa da minha mãe. Sempre as mesmas brigas, os mesmos problemas e as mesmas angústias e revoltas. E o pior era estar sem saída. Sem opções. Ter que me sujeitar a tudo isso novamente. Mas, pelo visto, era exatamente o que iria acontecer em breve. Eu teria que prepará-la e, principalmente, preparar meu espírito para o retorno.
Sem ter dinheiro, sem ter trabalho, poucos amigos a quem contar... Essa era a minha vida. Minhas tias até gostariam de ajudar, mas elas também tiveram grandes problemas financeiros.
Como as pessoas não entendem o fato de eu querer buscar algo bom na minha vida, mesmo que em outra cidade? Estranho para mim é ficar na cidade que não está legal na minha área de atuação, esperando cair do céu o emprego dos sonhos, o salário dos sonhos, o marido dos sonhos...
Ruim era recomeçar assim, brigada com a família, de cabeça baixa, me sentindo o cocô do cavalo do bandido. Pior era ter que deixar todas as dívidas nas mãos da minha mãe, sabendo que ela tem as dela, sabendo que tenho um irmão da mesma forma, desempregado, desencorajado.
Minha família não era das mais abastadas.
Não havia me casado, nem tive filhos, nem estava namorando há anos, sem emprego e nunca havia saído do país.
A maior tristeza era uma doença autoimune que sempre me deixou com dores nas articulações. E nesse meio tempo a doença se apresentava ainda mais frequente. As dores parecem imediatas frente às perturbações. Mesmo sem esforços elas se fazem presente. Eu nasci com essa falha na regulação da dor.
Assim, o tempo passou. Já era época das avaliações do mestrado. Tinha que voltar para lá e esperar o dia da prova. Além disso, levar documentos para um hospital que recebi proposta de emprego. Eu estava apenas passando uma semana com minha família.
Pensei que se eu passasse no mestrado, teria que trabalhar para me sustentar. Por isso, procurei emprego e consegui. Agora, se eu não passasse, naturalmente retornaria para a casa da minha mãe. Emprego por emprego, seria melhor na cidade onde eu tinha lugar para ficar sem custos de moradia. O trabalho na minha área rendeu um pouco. E basicamente só dava para pagar aluguel e supermercado.
Às vezes, eu ficava olhando a janela, vendo o movimento da rua. Observava as pessoas viverem a vida delas. Cada um no seu caminhar, indo para o seu destino. E pensei que essas pessoas estariam retornando aos seus lares depois de um dia de trabalho. E invejava. Comecei a refletir sobre meus últimos empregos: "o que deu errado?".
O mestrado não saiu. E eu queria sair logo daquela cidade onde deu tudo errado.
Voltei para a casa da minha mãe e fiquei sujeita a todas as regras dela. E quem não tem dinheiro, não se mexe.
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