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Capítulo Quarenta e quatro

Sofia

É claro que eu já estive com um homem. Sei muito bem o que é sexo. Mas a situação era diferente. Tim tinha um componente totalmente diferente de qualquer pessoa. Primeiro, ele não era deste planeta e segundo, a ideia de relação amorosa deles é diferente da nossa, ou ao menos eu acho que seja.

Embora ele me beijasse como um humano, não dava para saber o que ele realmente iria fazer, porque nunca passávamos de um beijo. E nunca falévamos sobre o assunto de verdade. Eu tinha acessos de arrepios ao pensar. Mas não de medo e sim de ansiedade em descobrir. Nos comportávamos como um casal. Ele que tomou a iniciativa de segurar minhas mãos, inclusive. A primeira vez, ele segurou sem me olhar. Ficou olhando para o lado oposto, talvez esperando a minha reação. Mas eu mative. Então ele criou mais coragem, começou a passar as mãos nas minhas costas, segurava a minha cintura... E no teleférico ficou bem encostado em mim, tocou minha face, segurou meu queixo e me deu o primeiro beijo desde que decidimos viajar. Depois disso, estávamos nos tratando como um casal que já parecia ter muita intimidade um com o outro.

Também fiquei pensando se estaríamos prontos para isso. E se ele estivesse querendo já ter um filho? Eu já tinha trinta anos e ele falou que era a idade ideal para o início de "reprodução". Mas será que isso também se aplicaria para mim?

Era certo de que eu havia mudado, que eu já não era cem por cento humana. Mas também estaria longe de ser uma alienígena. Eu apenas me considerava especial. Era como possuir um diferencial, sem necessariamente ser considerada diferente.

E ainda não estava certa se esse passo seria o correto para o momento. Tinha dúvidas sobre o que seria conveniente ou não para um relacionamento como o nosso. Será que o jogo da conquista entre os casais humanos se aplicaria para mim agora? E as dúvidas pairavam no ar. Talvez eu não estivesse só. Acho que não, já que ficou claro que ele já se relacionou com humanas. Provavelmente estava só nas minhas dúvidas.

Nem toda a beleza do hotel e todo o conforto seriam capazes de me distrair quando estivéssemos a sós. O hotel parecia inclusive com um outro que vi em Campos do Jordão, em SP. Era rústico por fora, mas por dentro muito moderno.

Imaginei que iria ficar em um lugar com muita madeira ou pedras, mas isso não aconteceu. E não fiquei decepcionada, pelo contrário. Acho que fiquei aliviada por me sentir mais em casa. Paredes não me afligem tanto quanto pedras e madeira por todos os lados.

E o quarto era enorme. Enormes janelas, uma lareira, paredes em um tom creme claro. Em um outro cômodo as cortinas em cor vermelho escuro, assim como o chão. Moderno, porém com méveis rústicos. Eles colocaram um pequeno centro e dois sofás, além de uma bela mesa com cadeiras acolchoadas.

Havia uma garrafa de champanhe, duas taças e frutas em cima da mesa. Os morangos sempre foram os meus preferidos. Lembrei do filme "uma linda mulher" só por causa da combinação champanhe/morango. E claro, por causa da enorme banheira.

Esse negócio de mais de um ambiente no quarto era bem inusitado para mim, já que o máximo que vi foram quartos de hotéis com apenas dois ambientes e um toalete. Eu suspirei várias vezes. Isso é bem comum de acontecer quando fico sem saber o que fazer. As vezes pensam que estou entediada, cansada, encantada ou até cínica. Mas não é isso. É nervoso mesmo, sem saber o que dizer ou fazer. Muito diferente de bufar.

Quando chegou o momento de irmos para os nossos aposentos pela primeira vez, gelei.

Mas não me intimidei com isso. Talvez ele estivesse sentindo as mesmas coisas que eu. E até o momento eu não sabia nada sobre os relacionamentos que ele teve com qualquer outra humana. Acho que depois da mudança genética ele não iria se relacionar com ninguém da espécie dele, apenas humanos. Também não sei até que ponto essa relação iria...

Como ele parecia ser sossegado e pouco namorador, fiquei pensando que ele seria bem respeitador e paciente comigo. Mas uma coisa era certa, eu jamais iria questioná-lo sobre sexo. E nem tomaria passo algum.  Aguardaria. Estava tensa porque... iríamos dormir mesmo na mesma cama?

Decidi relaxar. Fiz de conta que estava tudo bem, agindo normalmente e me iludindo com isso. Então entrei no quarto comentando sobre os passeios que iríamos fazer por lá, enquanto organizava minhas roupas nos armários e gavetas. Trocamos de roupa e saímos para o primeiro passeio. Já a  noite, repeti os mesmos passos, tomei meu banho e ele ficou me aguardando para depois fazer o mesmo. Enquanto ele estava no banho, tirei o roupão, coloquei um vestido de seda para dormir e deitei com o edredon me cobrindo, mas fiquei meia sentada na cama, apoiada nos travesseiros. Fingir que estava dormindo seria ridículo demais. E por falar em cama: que cama! Era uma cama enorme, bem alta e extremamente confortável. Os tecidos dos lençóis, edredons e travesseiros eram de uma maciez e conforto absurdo!

Com certeza ele notou que eu gostei daquilo, pois logo tratou de comentar:

- Sempre escolho este hotel porque muito confortáveis os quartos daqui. Temos casa em Vancouver, mas nesta região de estações de ski, gostamos de nos hospedar nas redes de hotéis que possuímos parceria.

- Mas na sua casa tudo é tão confortável quanto este lugar. Só não tem uma cama tão grande quanto essa – Fiquei com medo de soar reclamona, como se eu tiesse isso em casa.

- E de onde você acha que veio a ideia de comprar tudo tão parecido?

- Ah, entendi... Eu também faço coisinhas parecidas.

E mesmo com toda essa conversa, ele demorou para deitar.

Pensei até que ele iria sugerir dormir no sofá. Mas não. Quando ele terminou de se arrumar e mexer no computador dele, simplesmente tirou o roupão, ficou de camiseta e short e deitou-se ao meu lado. Sim, reparei no volume. Mas disfarcei o olhar.

Estávamos os dois, deitados, lado a lado, cobertos com o mesmo edredom e calados. Apenas olhando o teto do quarto. Eu decidi quebrar o gelo e conversar, já que eu não sabia o que fazer. Enquanto estávamos na casa dos pais dele, existiam outras pessoas, mas no hotel ninguém poderia ficar entre nós.

- Tim?

- Sim...

- Por que não viajamos como qualquer outra pessoa? Ou seja, de carro ou de avião, por exemplo? Você procurou a forma mais rápida e quando chegamos aqui, já estávamos nessa espécie de garagem com roupas, carro, dinheiro e qualquer outra coisa necessária nos aguardando – Sim, nos teletransportamos e chegamos nesse local com tudo o que precisaríamos para chegar na região dos hotéis. Lá tinham carros e tudo o que poderíamos usar. Antes de eu chegar, Nicolle havia providenciado tudo o que eu iria usar.

- Antes de te explicar eu quero te fazer uma pergunta.

- Tudo bem.

- Você está perguntando isto apenas no fim do dia, já que poderia ter perguntado assim que chegamos. Por quê?

- Eu não sei. Acho que não sou tão curiosa assim. Ou talvez eu estivesse esperando que você falasse alguma coisa, mas você também não disse nada.

- Mas é bem simples, você não imaginou nada?

- Que talvez você tivesse este lugar apenas para facilitar sua chegada aqui? Já que sempre chegamos como viemos e não trazemos nada conosco...

Ele deu um breve sorriso e me explicou o motivo de não viajarmos como qualquer outra pessoa:

- Sofia, nós temos umas espécies de dispositivos que colocamos em pontos estratégicos dos lugares que queremos ir. Eles enviam uma ligação de um para o outro, tornando protegida toda a área que desejamos. Geralmente usamos quatro para cada lugar que vamos. Os aviões levam muito tempo e não temos tanta proteção dentro deles. Podemos nos deslocar do nosso jeitinho se for de forma segura.

- Aham, não que eu esteja reclamando desse tal jeitinho! – dou um sorriso.

- Infelizmente não temos tanta proteção assim em todos os lugares. Não existe uma tecnologia tão expansiva e disponível para nós aqui. Mas uma vez dentro desses locais de proteção, temos que andar como qualquer outra pessoa. De carro, a pé, usando quilos de roupas desnecessárias para nós...

- Para disfarçar.

- Exato.

- E como funcionam esses tais dispositivos que formam um quadrado? Enviam um laser ou algo parecido?

- Não é laser, mas a ideia é essa. Há uma comunicação entre os pontos.

- E se algo ficar entre eles, pode atrapalhar a transmissão de um para o outro?

- Não – Ele deu uma risadinha, acho que me achando tonta pela pergunta - Esse dispositivo atravessa qualquer barreira. Mas temos que ficar sempre observando se eles estão funcionando.

- Ah, entendi. Ficam monitorando... E vocês tem muitos deles no mundo?

- Não. Geralmente apenas nos lugares que mais frequentamos, como falei. Dá muito trabalho manter essa nossa proteção. Temos medo que os outros descubram nossa tecnologia. E é por isso que eles não sabem onde realmente estamos fixados. E isso nos dá mais tempo para agirmos sem interrupções.

- Então essa proteção é basicamente deixá-los "invisíveis"?

- Pois é, eles acabam acahando que estamos sempre assim e que talvez, quando eles conseguem nos detectar, talvez seja por que houve alguma falha nossa. É por isso que no Brasil, eu não podia ficar muito tempo. Apesar deles não conseguirem "viajar" com tanta presteza...

- Mas, espere... Eles podem achar vocês do mesmo jeito que você pode me achar?

- Não. Eles são mais lentos. Nem sempre precisos. E também não possuem essa conexão que temos uns com os outros. Mas a ideia é parecida. Seguem a nossa energia. Nós sabemos onde eles estão, mas eles não sabem de nós.

- Eu fico confusa porque eu não fazia parte de vocês quando te conheci.

- Não, mas assim que te encontrei senti uma ligação inexplicável. E isso até hoje ainda é um segredo para mim. Por isso que fiquei tão conectado a você e tive toda a certeza que eu já não poderia ficar mais distante. E eu estava fazendo as pesquisas no Brasil justamente para descobrir de onde vem essa conexão. Tenho impressão que a cúpula do meu povo sabe, mas eles não querem me informar. E isso me deixa mais confuso, porque eu não entendo a razão deles se for isso mesmo.

Por essa, eu realmente não esperava. Mas lembrei dos sonhos que tive antes mesmo de conhecê-lo. Eu ainda não havia contado para Tim sobre isso. Na verdade, antes eu estava com medo. Só que agora não havia mais razão para isso.

- Tim, antes de te conhecer eu já sonhava com umas coisas malucas.

- Que tipo de coisas? – ele pareceu ficar atento.

- Eu sempre sonhava estar acordada e podendo ver o ambiente em que eu estava dormindo. Era como se eu estivesse flutuando ou algo parecido. E eu realmente conseguia ouvir todos os sons.

- Mas esse tipo de coisa é normal. Várias pessoas sonham com isso.

- Mas as pessoas sonham com algo que realmente aconteceu? Ou que está acontecendo? Porque eu vejo e escuto tudo o que acontece e depois eu me certifico das coisas que aconteceram durante a noite. Por exemplo, se eu escuto e vejo meu irmão falar alguma coisa enquanto estou nesse "estado", no dia seguinte eu pergunto se ele realmente falou o que eu ouvi. E acredite, realmente aconteceu.

- Se formos pensar no âmbito religioso, isso quer dizer que seu "espírito" saiu do seu corpo. E na ciência, catalepsia.

- Eu diria que sim. Se eu conto isso para alguém que é espírita, naturalmente essa seria a explicação. Inclusive minha mãe tende para este lado espírita e, óbvio, essa seria a resposta para ela. Mas como você explica sonhar com outros seres? Não acredito que este plano espiritual tenha tanto conhecimento ao ponto de ultrapassar o limite do universo, ou tem?

- Outros seres?

- Sim. Sabe aquela estátua do museu?

- Claro.

- Um daqueles.

- Como assim? Você sonhou conosco? O que você sonhou exatamente?

- Enquanto eu estava "fora" do meu corpo, vi quando ele chegou e me olhou na cama. Depois me levou nos braços. Eu não conseguia voltar para o meu corpo. Eu não sei onde ele me levou. Só sei que depois de um tempo eu consegui despertar.

- Mas isso não é possível.

- Como assim?

- Conte-me mais do sonho.

- Não tem muito o que contar. Tem muitos anos isso. E se repete vez ou outra, mas um pouco diferente. Por exemplo, eu ficava olhando aquela cena acontecer e não conseguia sair do lugar que eu estava, com aquele ser me olhando deitada na cama. Era como se eu estivesse flutuando, presa ao teto, vendo meu corpo deitado na cama. E nunca tinha alguém por perto. A sensação que eu tinha era que queria que ele fosse embora, porque não sabia o que ele pretendia comigo. Então em um momento de desespero, ele simplesmente me olhou, digo, olhou para meu espírito ou para meu lado consciente que ali estava observando tudo. E depois disso ele voltou a olhar meu corpo que dormia. E foi embora comigo nos braços. Até que eu acordei. Então, não sei se isso se trata de espírito saindo do corpo... Eu não lembrava mais nada. Simplesmente eu acordava com essa lembrança.

- Sobre espírito eu não sei, Sofia. Em tantos anos de evolução, nunca vi nenhuma alma vagando pelo universo. Se isso existe, fica apenas neste planeta. Ou sou que eu não seja tão evoluído quanto pareço. Incrivelmente não é uma "ciência" que quis me aprofundar aqui na Terra. Mas quanto ao ser que você vê nos sonhos, isso sim é muito estranho e me assusta. Porque não faz sentido você lembrar de algo que nunca viu.

- Eu não sei o que acontece. Mas o pior não é isso. O pior é sentir que há mais alguém comigo. Na maioria das vezes eu não consigo ver quem é. Mas pouco antes de nos conhecermos eu sonhei novamente com um de vocês. E só entendi a estátua bem depois. Demorei a fazer o link entre as duas imagens. E isso deve significar alguma coisa, não é?

- Sofia, lembra que eu disse que tinha uma ligação inexplicável com você?

- Claro que lembro.

- Eu também sonhava com você. Eu sempre sonho comigo como se estivesse na forma física que eu deveria ter se não tivesse escolhido vir ao planeta Terra. E eu tive exatamente este sonho, várias vezes. Por isso eu disse que te visitava.

- Isso é estranho. Mas... espere um pouco! Você fez a escolha? Mas você não disse que nasceu aqui e...

- Fui formado lá. Meus pais foram totalmente feitos lá. Não é fácil manter a mesma atmosfera de vocês no nosso planeta. Exige muitos esforços e com esse nosso problema, complicado manter tudo bem. A verdade é que aqui, sou parte de um "eu" que já existiu lá.

- Já existiu? Não estou entendendo...

- Deixe-me explicar. Eu tive uma vida no meu planeta antes desta. Todos nós tivemos. Exceto Nicolle. Não sei se percebeu, mas ela é a única que aparentemente se parece mais com humanos do que como alienígenas, ou seja, como nós.

- Só o quarto dela e as roupas que ela usa, já são suficientes.

- Pois é. Ela não sabe exatamente como é a vida no nosso planeta. Nós vivemos lá. Tanto eu quanto meus pais e irmão, estávamos morrendo lá. Tínhamos os dias contados porque estávamos muito doentes. Então, retiraram toda a nossa memória e implantaram neste novo corpo que iria habitar este planeta.

- Mas vocês escolheram ou foram escolhidos.

- Na verdade, os dois.

- Eles perguntaram e vocês concordaram então?

- Sim, claro. Mas entenda, mesmo sendo uma escolha nossa, tínhamos que fazer isso pelos nossos. E não é algo ruim, assustador, talvez, mas nada ruim. Tem muita coisa maravilhosa aqui. Vivemos e sentimos coisas magníficas. É claro que presenciamos coisas atrasadas, como a tecnologia de vocês e algumas formas de pensar e agir. Cada conquista que vocês alcançam, cada avanço que fazem, significa o nosso engatinhar de séculos atrás. Mas isso em tecnologia. Maneira de pensar é algo mais além. Tanto que eu entendo muito dos costumes de vocês, que inclusive variam muito de lugar para lugar e incrivelmente até me adapto.

- E vocês não pretendem mudar nossa história, com o tanto de conhecimento de vocês?

- De forma alguma.

- Por egoísmo?

- Não! Nunca, Sofia. Nem pense assim. Mas porque é necessário para a evolução de vocês. Mudar isso pode ser até catastrófico. Como acha que chegamos nesse nível intelectual de preservação e sensibilização no nosso planeta? Passando por tudo o que vocês estão passando. É claro que em ambientes e formas de vida diferentes... Mas passamos por tudo isso. E ainda estamos mudando constantemente. Perdemos muitas coisas, ganhamos outras. E também precisamos resgatar algumas, porque no fim das contas, tudo é um engatinhar. Isso tudo faz parte da evolução de qualquer espécie. Entende?

- É claro que sim. E respeito e admiro isso. Mas tem muita coisa que eu ainda não entendo.

- Eu sei. Aos poucos você vai entender. É muita informação. São tantos anos, séculos de história, que realmente é preciso ir falando as coisas na medida em que tudo acontece, ou você se perde.

- Eu sei. Vocês tiveram uma vida toda para se adaptar e eu não poderia aprender em poucas horas. Agora mesmo, com todo esse tempo e com toda a evolução que vocês já alcançaram, ainda não encontraram a resposta para salvar o planeta de vocês.

- É. As vezes eu tenho medo de não conseguirmos. O meu povo vem a este planeta há tanto tempo... Antes mesmo de conseguirmos encontrar uma saída de podermos ficar aqui, nesta forma permanente, vínhamos na forma original, mas nunca resistíamos por muito tempo. Aguentávamos apenas uns dois meses no máximo.

- E então vocês retornavam?

- Não.

- Como assim "não"?

- Não existia a possibilidade de retornarmos. Na verdade, ainda não existe. Todos os que vieram, ficaram. E por isso perdemos muitos de nós. Como somos maiores em tamanho, não teria como nos colocar dentro de um corpo humano de mentira, como um disfarce. Então, retirávamos a nossa memória e adaptávamos a um humano. E até conseguirmos tudo o que nós temos hoje, não foi fácil. O nosso planeta é muito diferente do seu, Sofia.

- Então, vocês usavam os nossos corpos com suas mentes?

- Basicamente.

- E quem eram os humanos escolhidos? E essa "adaptação" que vocês faziam era a causa da morte desses humanos?

- Na verdade, usávamos humanos previamente selecionados. Justamente os que estavam doentes e com pouco tempo de vida. Ou no leito de morte. Dávamos a eles uma qualidade de vida um pouco melhor. Todos estavam conscientes do que estavam fazendo. Era uma troca.

- Mais que troca era essa? Trocar uma semana por mais dois meses de vida apenas?

- Não eram apenas dois meses de vida. Era o tempo que essas pessoas precisavam para organizar a vida delas. Muitas vezes uma doença pega uma pessoa de surpresa e ela fica tanto tempo focada na cura que esquece justamente do que mais importa na vida: as pessoas que estão em volta dela e o que realmente importa.

- Como assim?

- Enquanto essas pessoas trabalhavam para nós, elas também cuidavam da família. Organizavam seus bens, deixavam a vida de todos em ordem, para quando elas partissem, todos estivessem em uma situação definida e organizada.

- É um pouco calculista e frio...

- Pode ser. Mas é um dos maiores sofrimentos do ser humano deixar a vida sem poder ter a chance de dizer "adeus" da maneira mais correta e distinta. Sem poder deixar a família estruturada e organizada. E não falo somente financeiramente. Estou falando em todos os aspectos que você pode imaginar. Nós ajudávamos em tudo como retribuição.

- Mas dois meses é muito pouco tempo. Não dá pra resolver tanta coisa em apenas dois meses.

- Dois meses era o menor tempo que cada um poderia ter. Na verdade alguns conseguiram um pouco mais. Só que nós também ajudávamos sempre de alguma forma, como já disse. Acho que era uma troca justa. Ninguém saía perdendo. E nunca tivemos problemas com isso. Infelizmente não conseguíamos curar o sistema nervoso central da pessoa. Era inevitável a morte cerebral. O corpo ficava bem, mas os comandos não. Uma coisa levava a outra, até que nada mais funcionava.

- E tem pessoas que trabalham para vocês e que sabem que vocês não são deste planeta? Qual a história deles? Por que eles são fiéis a vocês?

- Eles são justamente alguns dos familiares dessas pessoas que nos ajudaram em algum momento. São pessoas que perderam seus avós e pais. E são gratos até hoje. De certa forma, estamos ligados, formando uma família.

- Uma família bem diferente. Cada um de um planeta. Que louco! E com muita confiança, inclusive...

- Somos loucos, não é mesmo? E sim, com muita confiança. E é a prova que nós não estamos aqui para fazer mal a nenhum ser humano, pelo contrário. Até porque nós somos seres humanos também! Esses humanos são justamente pessoas evoluídas, como você é. Ou não estaríamos aqui hoje.

Ele falou isso dando uma cutucada no meu braço e rindo. Obviamente estava se referindo a nós dois também de outra forma. Resolvi continuar a conversa perguntando mais coisas sobre eles. Estávamos afinal, deitados, relaxados e sozinhos. Não havia motivos para não sermos honestos naquele momento.

- Como é o seu planeta?

- Aqui vocês chamam o planeta de vocês de planeta água, não é? Mas o nosso tem muito mais água que o de vocês. Só que temos mais água viável. Vocês possuem oceanos, mas de um líquido que não aproveitam para beber. Embora isso possa ser mudado. O nosso planeta é também bem mais frio, por isso que temos mais resistência ao frio, pois geramos muita energia e o calor seria mais uma fonte de energia, precisamos de equilíbrio. Inclusive, nós mudamos o nosso aspecto físico dependendo da temperatura. Mudamos bastante. E acho que você percebeu.

- Ah! Por isso que vocês estavam com a cor dos olhos e dos cabelos mais escuros quando estavam no Brasil.

- Isso mesmo. E o nosso planeta tem muito mais gelo do que você imagina. Além do mais, estamos pensando seriamente em encontrar uma forma de transporte de água portável para cá, caso vocês tomem um caminho muito feio na existência de vocês.

- E você nem precisa explicar o motivo. Não preciso ser tão inteligente para entender o que você quer dizer com "tomar um caminho feio na nossa existência".

- Vocês não sabem aproveitar o ciclo da água adequadamente. Perdem muita água boa que escorre para o mar ou para esgotos, poluindo-a. Pior, transformam as chuvas em chuvas ácidas etc. Possuem reservas subterrâneas muito extensas e preferem transpor rios, como se isso fosse resolver o problema da falta de água. Não cuidam das margens dos rios, etc.

- No meu país, estamos passando por um caso desses e o pior que isso só vai favorecer os grandes latifundiários. Estamos matando os rios. Eles já estão morrendo naturalmente porque são notáveis os assoreamentos. Não reflorestamos as encostas, jogamos esgoto, enfim, problemas criando mais problemas...

- Você tem uma noção muito boa sobre preservação, Sofia. Estou feliz com isso.

            Inevitavelmente, dei um bocejo. Tentei até disfarçar, na tentativa dele não desistir de falar mais um pouco sobre a história dele. Finalmente eu estaria conseguindo visualizar um pouco mais sobre o que faz parte dele. E de certa forma, a minha também.

            - E vocês possuem casas com paredes, instalações como as nossas? Ou aviões, transportes diversos? Escolas? Como é a alimentação de vocês?

            - (risos) São muitas perguntas ao mesmo tempo! Vai ser difícil para você conseguir visualizar o meu planeta. Mas digamos que sim! Temos tudo isso, mas com estruturas e concepções bem diferentes. Basicamente nosso planeta tem três ambientes. O externo, que é como nós vivemos aqui. E dois internos, sendo um dentro de um nível subterrâneo e completamente congelado e outro, igualmente frio, mas aquático. E nossa alimentação não é nada igual a de vocês. Por isso nós gostamos tanto do que vocês comem, mas só porque é tudo muito diferente. A nossa alimentação é basicamente a mesma e sem excessos. E não é preciso cozimento ou qualquer preparo com condimentos ou coisa do tipo.

            - Sobre a comida, vejo que é realmente intrigante, prático e nada entusiástico nisso – Ambos rimos.

            Ao falar isso, fui virando de lado, ficando de frente para ele, colocando um dos braços para fora do edredom e apoiando a cabeça na outra mão com o auxílio do cotovelo apoiado no colchão. Para mim, foi uma ação automática, buscando uma posição confortável para conversarmos.

            Porém, percebi pela reação dele, que deixei meu colo um pouco a amostra.

            Eu estava vestindo um vestido de dormir de seda branca. Era de alças finas, estreito ao corpo e até mais ou menos metade da minha coxa. Depois o vestido ia ficando mais solto até os pés. Era muito bonito. Fiquei inclusive impressionada com as lojas locais. Ainda bem que roupas de dormir eram vendidas aqui, já que foi a única coisa que as mulheres da família dele não se incomodaram em deixar que eu mesma escolhesse. Kate e Nicolle até acharam engraçado eu estar envergonhada com isso. Mas, pelo menos esse detalhe, eu precisava fazer sozinha. Enquanto Timmy resolvia tudo da estadia, entrei em uma loja dentro do próprio hotel.

            Tim ainda não tinha visto o que eu estava vestindo, pois ao sair do banheiro eu vestia um roupão e troquei pelo vestido quando ele entrou no banheiro. Depois de vestida, prontamente deitei na cama e me cobri.

            Parecíamos dois adolescentes envergonhados. Um evitando olhar para o outro.

            Só que quando eu fiz esse movimento de virar-me para ele, acabei deixando o edredom na altura no meu tórax. E isso acabou causando o mesmo efeito para ele. Mas nada do que eu já não tivesse visto.  Fiquei olhando os braços dele. É simplesmente maravilhoso ver os braços de um homem, torneados, pele sem manchas, veias marcantes, alguns sinais... E o fato dos pêlos dele serem loirinhos, assim como os cabelos, criava uma sintonia perfeita para ele.

            Ele olhou para mim e ficou em silêncio por um instante. Apenas me olhando. Depois percebi que aos poucos a respiração dele começou a ficar mais rápida. Ele também se virou ficando completamente de frente para mim, não apenas o rosto.

            Então ele tocou minha bochecha e se aproximou. Agora era a minha vez de mudar a respiração, só que parando de vez. Então ele falou:

            - Você é realmente linda. E suas bochechas ficam coradas, o que te deixa ainda mais bonita.

            E me beijou docemente. Cada vez que ele encostava os lábios dele nos meus, ele dava uma pequena pausa para olhar bem nos meus olhos enquanto acariciava meus cabelos.

****
O próximo capítulo vai começar com ele... como será a visão do Timmy?

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