Capítulo quarenta e oito
Sofia
No dia seguinte acordei sentindo o meu corpo bem quentinho. E percebi que Tim estava junto a mim, me abraçando. Sorri. Esta foi a primeira noite em que não usamos o edredom em momento algum. Ele já estava acordado, pois estava passando a ponta do nariz na minha nuca e esperando apenas que eu me mexesse, dando sinal de que eu havia acordado também.
Não sei se ele percebeu que eu estava rindo à toa conosco ali, nus e deitados naquela imensa cama. E eu não faria a menor questão de negar isso. Então eu puxei a mão dele ainda mais para mim, nos deixando mais perto um do outro. Ele teve a certeza de que eu estava acordada e me beijou no pescoço falando:
- Eu não vou saber viver sem você.
- Isso é uma despedida? Quem disse que eu vou te deixar livre?
Ele me virou e ficou um pouco em cima de mim dando um sorriso:
- Neste caso, poderíamos ficar aqui nesta cama para sempre? Porque eu não quero me distanciar de você nunca mais!
- Poderíamos. Mas também poderíamos sair dela só um pouquinho.
Ele sorriu baixando a cabeça e apoiando o rosto nos meus seios. Os cabelos dele cobriram todo o meu pescoço. Então ele deu um beijo e voltou a olhar para mim. E sorrindo falou:
- Você leva muito a sério nossa realidade. Tem certeza que não vai aceitar a ideia?
- Hum... digamos que iremos nos amar pra sempre, mas em lugares mais bonitos do que este quarto. Pode ser? Não que este esteja ruim... Mas poderíamos variar um pouco.
- Ah, pensando assim, eu concordo.
Não nos desgrudamos nem por um segundo até o desjejum. Tomamos banho juntos. Claro, com umas safadezas. Acredito que ao abrir a caixa de pandora, saíram dois monstrinhos de dentro. E já estamos agradecidos por isso! Acabei pensando nos cinco dias que passamos ali, um evitando o outro desnecessariamente.
"Como pode? Será possível que foi apenas falta de iniciativa e de comunicação? Inacreditável!". Pensei indignada quando tudo aconteceu.
Nem parecíamos seres evoluídos!
Enquanto Tim estava fechando a conta do hotel, eu o esperava em um dos sofás no lobby, que por sinal era gigantesco! Tinha uns desenhos do tipo rosa dos ventos no chão. E alguns sofás nas laterais, um café em um dos lados, bem como algumas lojinhas. Entre eles uma grande vidraça de dava para um elevador que para baixo levava ao restaurante principal e para cima uma ala de quartos. Do outro lado tinha a entrada de alguns banheiros e uma vidraça que dava para outro elevador que levava hóspedes para um restaurante temático e também outra ala de quartos. Estávamos prontos para voltar para o Alasca, infelizmente.
Eu estava lendo um folheto do hotel e nossas duas malas diante de mim. Então, aquele rapaz da noite anterior, apareceu novamente. Ele parou ao meu lado e sentou-se na poltrona colada ao sofá que eu estava sentada.
- Pronta para viajar?
- Olá! Sim, estou pronta.
- Parece que o ânimo de alguém está melhor hoje...
Não contive o sorriso.
- Parece que sim! E você, o que vai fazer hoje? Esquiar?
- Não sei. Eu também estou querendo sair daqui. Talvez viajar para outro lugar. E parece que as estações de esqui estão fechando por causa de uma tempestade.
- É mesmo? Ainda bem que isso não ocorreu enquanto eu estava de férias.
- E suas férias acabaram?
- Digamos que sim. Preciso voltar para os EUA e ver o que vai ser da minha vida. Estou na verdade de mudança – falei como estava escrito o roteiro na minha mente, exatamente como diria à minha família.
- Então está indo para os EUA? Legal. Eu conheço muita gente lá. Até porque eu estudei nos EUA. Mas agora devo voltar para meu país de origem.
- De onde você vem?
- Da Rússia.
- Nossa, lá é bastante frio. Dependendo de onde você estudou nos EUA, tira de letra o frio, inclusive aqui! Deve estar muito acostumado. Quando passamos boa parte do nosso tempo no frio até fica difícil ficar em lugares tropicais, não é?
- Isso é uma verdade. Mas você não tem um sotaque muito conhecido. Seu inglês é muito bom. É daqui do Canadá?
- Sofia!
Tim me chamou, apontando para a saída do hotel. Então vi que o carro dele já estava a nossa espera. Ele estava um pouco distante e resolveu não se aproximar muito.
- John, desculpe-me, tenho que ir. Espero que dê tudo certo para você de volta à Rússia. Adeus.
- Muito bem, Sofia. Desejo que você seja feliz nos EUA. Boa sorte. Até breve.
Saí correndo puxando em cada mão as malas, direto ao encontro do Tim. Ele segurou firme a minha mão, pegou umas das malas, deu uma olhada para o John, que permanecia sentado e bem relaxado, apoiando os dois braços em cada encosto nos fitando. Juro que achei um sorriso sarcástico. Fomos em direção a saída. Entramos no carro e partimos direto para o lugar onde ele deixa o carro, roupas, eletrônicos etc.
Percebi que ele estava um pouco aflito. E que estava correndo.
- Algum problema Tim?
- Sofia, havia algo errado naquele rapaz.
- Como assim?
- Aquele rapaz que você estava conversando no lobby...
- O John? O que tem ele?
- Ele era o mesmo que você estava conversando na piscina ontem noite, não era?
- Sim, claro. Ele mesmo, você sabe que sim. Por quê?
- Sofia, eu estava observando vocês conversarem e teve um momento em que você baixou a cabeça. Eu não sei a razão, mas quando isso aconteceu, eu estava olhando para o rosto dele e vi os olhos dele mudarem de cor e começaram a brilhar um pouco.
Sentada no banco do carro, me voltei completamente para ele.
- Espera um pouco, você quer dizer que aquele rapaz é...
- Ele não é totalmente humano.
- E você não ficou preocupado ontem a noite? Nós poderíamos ter ido embora...
- Eu sei. Mas eu não tinha certeza. Foi muito rápido o que vi hoje.
- Mas é um de vocês?
- Não. E não sei o que ele é.
- E o que te deu a certeza agora?
- Sofia, nós conhecemos todos os que vieram. E basta algum deles pensar em chegar perto de nós, então já sabemos. Claro, não tão rápido assim, foi só modo de falar. Mas se eles estão perto, nós também sabemos. E é por isso que usamos uma espécie de proteção contra eles, que nos deixa de certa forma, "invisíveis" para eles. E hoje, eu senti uma energia estranha. Querendo bloquear meus sentidos.
- Espera, como assim invisíveis?
- Eles não conseguem nos detectar nunca. Mas nós conseguimos detectá-los, porque eles não possuem esse sistema. E eles não sabem tudo o que nós temos. Por isso que eu te dei esse anel, porque ele te protege. Claramente não desse John. Vamos ter que descobrir quem é ele. E esse garoto não bate com nenhum dos outros.
- Mas achei que servia só para você saber onde eu estou.
- Eu não preciso disso para te achar, já falei que basta eu pensar em você que já consigo chegar até você. Lembra? Como um Google map. Eu te vejo, antes mesmo de chegar até você. Só que se por acaso você estiver em perigo, eu saberei com mais rapidez. Por isso que quando você colocou o anel, eu vi que você estava sofrendo com toda aquela energia e fui te pegar imediatamente. O anel me conecta às suas necessidades, então não precisaria ficar pensando e me preocupando segundo a segundo com você. Ele foi feito especialmente para você, entende?
- Mas se você consegue tudo isso e com toda essa tecnologia, porque você não percebeu nada diferente nele? Você disse que conhece todos eles, não é mesmo? Ademais, eu devo ter passado muito mais necessidades no Brasil e você não percebeu. A acha que há algo errado nesse anel ou no seu "sistema"?
- É isso o que eu preciso descobrir. Eu só percebi quem ele era quando senti uma energia me bloqueando, ontem eu não senti nada dele, hoje comecei a sentir e depois que vi os olhos dele, não tive mais dúvidas. E confesso que tive medo do desconhecido. Mais uma vez você se distraiu e ele tentou algo no momento em que você não estava olhando para ele. Acho que ele estava te escaneando ou algo parecido. Dessa vez eu tive a certeza que ele era diferente. Sofia, nós temos a capacidade de usar nossas habilidades quando sentimos que ninguém está nos observando. Ele fez aquilo porque ninguém mais olhava para ele. Só que ele não contava comigo. Pelo contrario, pois assim que senti que tinha alguma tentativa de bloqueio, virei logo para você preocupado. E o pior, eu não podia ir até vocês e causar uma situação de atrito logo ali! Por isso tive medo, por estar sozinho com você e meus familiares não poderem chegar do nada!
- E por que ele estava fazendo aquilo? Se eu estava diante dele, o que ele estava procurando? Outra pessoa?
- Acho que ele estava tentando enxergar de onde você veio ou para onde iria. Você falou alguma coisa para ele Sofia?
Neste momento vi o quanto ele estava preocupado, pois ele praticamente gritou ao me perguntar.
- Não disse de onde vinha, mas meu sotaque não é dos melhores. E quando eu disse que estaria voltando para casa, respondi apenas que era nos EUA.
- Ele perguntou mais alguma coisa? O que você faz? Com quem estava?
- Ontem quando ele falou da minha mão não estar fria, também comentei que a dele estaria quente do mesmo jeito. E ele viu que você me observava antes de chegar perto de mim, porque quando eu estava me despedindo dele, perguntou se eu estaria com alguém, então eu disse que estava com meu namorado. E foi nesse momento que ele olhou para mim, perguntando se seria você o meu namorado. E ele fez isso apontando para que eu pudesse te ver na porta. Foi nessa hora que te vi. Eu juro que ainda não tinha lhe visto. Fazia um tempo que você estava lá, talvez ele tivesse visto você me observando. E hoje só falei que era dos EUA. Não quis dizer de onde eu era para um estranho. E claro, ele sabe meu nome.
- Mas quando você foi até a piscina eu estava na recepção. E esperei alguns minutos até ir lá. Hoje você falou só EUA? Mencionou o Alasca?
- De forma alguma. Não falei nada comprometedor. Conversamos sobre o frio desses países. O Canadá e Rússia.
- E o que ele falou sobre ele?
- Que havia estudado a vida toda nos EUA, mas que estava retornando para o país natal dele, a Rússia.
- Rússia? Certeza, né? Ele falou onde na Rússia?
- Absoluta certeza! Até comentei que lá também fazia muito frio. E ele não foi específico sobre o país também.
- Droga! Ele faz parte de um deles, estranhamente eu não consegui sentir a energia e não sei como esse novo ser entrou no circuito. Preciso avisar aos nossos. Agora só não entendi o que ele queria com você. Ele deveria me procurar ou até mesmo outra pessoa da minha família, mas não procurar você. Isso é estranho. Provavelmente ele te descobriu no museu, naquele dia, no rastro com o Gabriel. Outra coisa que me intriga é de onde exatamente ele veio, como ele foi plantado na Terra... – Ficou uns segundos pensativo e depois continuou o raciocínio – Eles não tem a ciência em favor deles para fazer outro humano aqui na terra e nem no planeta deles. Será que agora eles estão em sete? Ou até mais? Como ninguém de nós sabe sobre isso?
Eu me senti como uma burra. Como eu pude falar tanto sobre mim para um estranho? E agora eu poderia estar colocando todos nós em perigo. Tim estacionou o carro quase que batendo em tudo o que estava dentro do pequeno galpão.
Ele estava naturalmente nervoso. Deixou todas as malas fora do carro e fez uma ligação para um dos empregados dele, avisando que ele poderia vir pegar as malas e repor tudo o que estivesse precisando. Pediu que comprasse mais um carro e mais um veículo de neve. E também mais roupas femininas para frio.
- Tudo o que precisar, avise que farei as transferências necessárias.
Essas foram as últimas palavras dele ao empregado, digo, parceiro... Fez a ligação para a família. Disse que estaria voltando o mais rapidamente. E que havia detectado um ser diferenciado. Depois pisou em um pequeno botão atrás de uma instante. Imediatamente ouvi um barulho e uma espécie de porta no chão foi aberta.
Era uma enorme pedra no chão.
Lá dentro havia uma placa com vários pontos luminosos, como uma tela de computador. Então o último ponto luminoso que ele tocou fez com que a tampa que protege este dispositivo fechasse. Eu não precisei perguntar nada para ele. Apenas fiz aquele olhar de curiosa.
- Sofia, eu sei que estamos com pouco tempo, mas mesmo assim vou te ensinar. Antes disso, quero te pedir desculpas se te assustei com as minhas perguntas. É a primeira vez que estou me sentindo em uma situação que foge ao nosso controle e você apareceu na minha vida me deixando tão feliz, mas ao mesmo tempo sinto que você pode estar em perigo e isso me deixa assustado. Tentarei não parecer alguém que te deixa preocupada, eu tenho a obrigação de te proteger de tudo e é a primeira vez que existe alguém na minha vida em que tenho responsabiliade. Isso não é ruim, mas no momento em que você está em risco, eu fico desesperado. Mas prometo que tentarei ficar mais centrado.
- Tudo bem. Acredite, eu compreendi tudo isso. E fique tranquilo, eu não me desesperei e consigo ficar em paz com tudo isso. Estamos juntos e isso que importa.
Ele acenou positivamente e voltou a falar sobre todo aquele painel.
- Veja. Esses pontos são referentes a todos os nossos dispositivos no Canadá. Veja que eles estão agrupados formando quadrados. Cada um desses quadrados representa um determinado lugar onde podemos nos proteger. Nenhum deles deve ficar desligado. Este aqui, por exemplo, é de toda esta região em que estamos. Inclusive Vancouver. Esses outros são de outras cidades no Canadá e este, em especial, é de uma grande área não habitada por humanos. Só tem pinheiros, ursos, neve...
- E por que vocês mantêm este espaço?
- Porque é lá que nós "hibernamos".
- Como é que é? – Como não ficar assustada? Agora eu me senti estranha...
- De tempos em tempos nós vamos para lá apenas para equilibrar toda a energia no frio. E também para nos comunicarmos com os nossos. Como tem muitos pinheiros e até grandes animais, isso nos ajuda a disfarçar a presença das nossas espaçonaves. Mesmo elas tendo uma espécie de campo invisível, temos que ser cautelos. As tecnologias dos terráqueos sempre avançam.
- E elas ficam expostas?
- Na verdade não. Nós temos uma caverna. Eles ficam exatamente abaixo de muito gelo. Em locais que nós mesmos somos donos. Conseguirmos legalmente comprar algumas grandes áreas no Canadá e Alasca, por exemplo. Aí não há exploração de humanos, pois se trata de terras privadas.
- Então essa área precisa de muita proteção. Além de outros países...
- Exato. Se você olhar bem, vai perceber que existem muitos pontos, formando vários quadrados em um só. Este é um dos lugares que precisamos de mais proteção. A nossa casa em Fairbanks também. E alguns outros lugares onde precisamos visitar com mais frequência.
- E vocês controlam tudo apenas daqui?
- Temos este dispositivo em todos os lugares em que precisamos de proteção. Quando chegarmos a Fairbanks, irei pegar suas digitais e voz, além escanear sua íris, na verdade, você inteira, para que você também tenha acesso. Tudo em você é registrado. Até mesmo uma simples ruga.
- Mas isto é certo? Por que eu deveria...
- Ele falou com você, Sofia! Eu não sei o que ele viu. E não posso deixar que algo aconteça com você. Não quero que você entre em perigo. Agora que é parte de mim, seria muito risco.
- Vamos conversar primeiro com a sua família.
- Sim, mas eles não poderão opor-se a isso. Pelo contrário, todos sentirão a mesma necessidade.
Depois que ele que explicou tudo, fechamos o local e partimos. Assim que chegamos, Gabriel parecia já estar sabendo de tudo, pois já nos aguardava com muita seriedade. E novamente fiquei um pouco apavorada com o que estava por vir a partir de agora.
****
Eita... parece que o suspense vai começar e também alguma ação. Aguardem.
Galera, lembrem que sou nova escritora e não tenho edição, portanto se encontrarem algum errinho, podem falar. Será ótimo corrigir o que passou despercebido. E não esqueçam da estrelinha.
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