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Capítulo doze

Não se assustem. O capítulo é longo porque eu não queria separar o romance do mistério.

                                 ***

                                  Sofia

- Júuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Você não vai acreditar!

- Ele te pediu em casamento? – Falou unindo as palmas da mão e piscando muitas vezes, claramente fazendo gracinha com minha fala empolgada.

- Antes fosse, mas não! Só que me chamou para jantar e aceitei, devo ir?

- Sério? Que bacana! Claro que você deve ir, mas que pergunta! Ele vem te pegar aqui?

- Sim. Ele me deu o cartão de visita dele e disse onde está hospedado, caso eu queira falar com ele...

- Onde ele se hospeda?

- Grand Hotel.

- Uau! É um excelente hotel. Para ser sincera, o melhor hotel do Brasil! Acredito que melhor que o Copacabana Palace...– Fez este comentário e já foi direto ao telefone – Como é o sobrenome dele?

- Ele me deu o cartão dele, olha aqui.

- Hum, perfeito... "Alô, Boa noite, o Sr. Heiselmann se encontra?"

- Você está louca? Ele vai pensar que estou bisbilhotando! – Falei quase conseguindo puxar o telefone, mas ela conseguiu me deixar longe dele com a outra mão esticada me separando dela.

- Shiiii "Ah, muito obrigada, não quero deixar recados. Mais tarde retorno a ligação" - E finalizou rapidinho.

- Sofia, eu tinha que perguntar se ele estava mesmo instalado neste hotel. Afinal, você não conhece o cara e ele poderia mentir. De qualquer forma, ele realmente está no hotel! E falaram que ele havia saído.

- Você tem razão, realmente não conheço nada dele. Fez bem em ligar. Mas e agora?

- E agora? Vamos escolher a sua roupa para hoje a noite! Até porque ele me parece ser rico e se resolver te levar para algum lugar chique você precisa estar muito bem vestida. Concorda?

- Ai, não pretendo ser quem não sou! Tudo bem, não vou com o meu pior... Porém nem o meu melhor eu tenho aqui, para falar a verdade. Você, heim? Que parecia estar com medo dele ser um sequestrador, agora está aí querendo que eu saia com ele...

- Porque agora eu percebi que o cara parece ser bem real. É bonito, educado e pelo visto, não é um qualquer. Você é uma garota simples, ainda fico me perguntando o que ele vai querer com você, sem ofensas, visto que ele pode ficar com quantas mulheres maravilhosas e lindas ele quisesse. Talvez ele não goste dessas mulheres interesseiras e fakes! E ele me pareceu ser realmente um cara legal no restaurante. Tinha um papo agradável, não era desrespeitoso, foi generoso, tem visão boa da vida. Mesmo falando pouco de si, acho que até por medo de descobrirmos que talvez ele seja alguém importante e famoso. Então, não penso que você esteja em risco, mas de qualquer forma você não é boba né? Vai prestar atenção e se notar algo estranho caia fora rapidinho do encontro. Vou deixar uns R$100,00 reais contigo porque sei que você só está usando cartão de crédito. Um empréstimo. Caso precise, pegue um taxi direto para casa! Vou inclusive deixar na sua bolsa um papel com meu telefone e endereço, além de salvo no GPS do seu celular como chegar aqui.

*Fakes: Mentiras.

- Poxa amiga, fico até sem palavras. Ok. Parece justo. Fico feliz em ter amigas como você. Obrigada. Mas você não deixa de ter razão em ficar em alerta. Tantos psicopatas nos tratam bem para nos conquistar. Tenho mesmo que andar prevenida.

No entanto, Júlia não teceu nenhum comentário sobre as informações que estavam no cartão. Mas foi muito legal em me ajudar a procurar algo para eu vestir, afinal, eu não havia levado nenhuma roupa mais arrumada. E grande parte das minhas coisas foram com minha mãe para a casa do meu irmão. Eu basicamente estava com calça jeans, camisetas e jaqueta. E Júlia tem mais bunda e mais busto que eu. Talvez nenhuma roupa dela pudesse caber em mim. Por sorte, as roupas da irmã dela poderiam servir perfeitamente!

Voltei a pensar no astro de Hollywood que ele parecia para mim. Eu estava sonhando? Só poderia ser! E comecei a ficar com medo de sair com ele. Não dá para saber o que ele viu em mim nem o que ele pretendia. Talvez um gringo querendo apenas se divertir. Ou sexo sem compromisso e consensual. O tipo de coisa que eu nunca estaria disposta a fazer. Se fosse o caso, jantaríamos e mais nada.

Este era um risco que eu estava disposta a correr, então comecei a me arrumar. Júlia me ajudou com a maquiagem e com o cabelo. Até que eu fiquei muito legal. Mas independente de toda essa agitação e ansiedade, batia um nervosismo. Era tudo demais para mim! Eu estava sem prática. E honestamente, nunca aconteceu algo parecido comigo.

As horas pareciam ter voado. Não trocamos números de celular e nem dei o número da casa da Júlia. No cartão dele havia números de trabalho e não o pessoal. Então fiquei com receio de ele precisar me ligar. E se por acaso ele desistisse? Como ele me avisaria? Fiquei imaginando que talvez ele nem fosse aparecer. E eu ficaria na dúvida de ligar para o hotel ou simplesmente esquecer. Com certeza ficaria toda arrumada por horas até descobrir que ele não iria aparecer.

Para a minha surpresa, às 20h ele estava na porta me esperando como  o combinado. Deu para ver pela janela. Respirei fundo, coloquei o perfume mais cheiroso e o mais caro da Jú e desci.

Ele foi muito educado desde o momento em que me viu. Quando cheguei a portaria do prédio, vi que ele já estava em pé, encostado no carro e me esperando. E estava lindo demais. Eu me perguntei "Como ele pode ficar ainda mais lindo? Não é possível!".

Eu estava com um vestido jeans tomara-que-caia, bem justo, uns quatro dedos acima do joelho. Usava um colar de prata bem bonito e salto alto na cor preta combinando com carteira. Pensei que poderia estar muito "Pretty Woman". Muito vulgar. Por sorte, trouxe um casaquinho preto. Aí consegui compor o look mais discreto. Afinal, apesar de ser magra, quando uso roupa muito colada acaba dando ênfase ao meu bumbum, o que me torna apesar de pequena, com um corpo de violão. Tenho consciência disso, por isso me escondo um pouco. Por isso o casaquinho ajudava a disfarçar  um pouco. Nunca gostei de homens olhando muito para meu corpo.

*Tomara-que-caia: tipo de roupa onde no busto da roupa não possui alças.

*Pretty Woman: um clássico dos filmes de romance de 1990, estrelado por Julia Roberts e Richard Gere.

Ele estava com uma calça azul escura e paletó que não sabia se era cinza ou um marrom claro, uma camisa branca de botão e solta. Muito elegante, mesmo que tentando ser despojado.

            - Olá! – disse ele.

            - Oi! Você é pontual.

            - Sim. E você está linda!

            - Obrigada. Você também. Estou até com medo de onde vai me levar. Não sei se estou bem para o local, já que você está mais bem vestido que eu.

            - Não se preocupe. Eu estava pensando em jantar no restaurante do hotel, já que não conheço muito a cidade, só que você está tão bonita para ficar simplesmente no hotel que merece ir a um restaurante mais interessante ou uma boate.

- Eu não me importo em mudar seu plano original. Podemos ir para lá. E não estou tão bonita assim. Ademais, sei que o restaurante do hotel em que você está é muito bom. Comentei com a Júlia e ela falou que é um dos melhores do Brasil. Com certeza deve ser mais pomposo do que eu possa imaginar. Vou avisá-la onde iremos. Se incomoda?

- De forma alguma. É importante. – E deu um sorriso simpático de reconhecimento - Então, tudo bem! A propósito, você está muito cheirosa! Gosto disso em uma mulher.

Eu apenas dei um sorriso. Avestruz mais uma vez! Eu morro de vergonha dessas coisas. Não lido muito bem com elogios. Nunca acreditei neles e nunca os levei a sério por achar que as pessoas estão apenas sendo educadas comigo.

Depois de alguns minutos em que concordei com o local escolhido, também pensei outra coisa importante: "será que ele está com segundas intenções já que estará no hotel dele?". Não gostei do vacilo que havia dado, me colocando em um lugar ainda mais propício as tais segundas intenções. Que burrice elevada ao quadrado! Eu poderia mudar de ideia, mas depois fiquei pensando que poderia soar estranho se não fosse o caso.

Ao chegarmos, notei que ele era muito bem tratado pelos funcionários.  Todos muito solícitos.

De qualquer forma, o restaurante do hotel era muito organizado, as pessoas eram muito prestativas, educadas e o serviço era impecável. Realmente não havia o que falar de lá. Por sorte, mais uma vez, haviam poucas pessoas e nenhuma estava interessada na minha roupa. O jantar estava fabuloso, perfeito. Eu nem sabia escolher. Ainda bem que ele me deixou despreocupada. Disse que sabia o que era muito bom e perguntou se eu queria que ele escolhesse por mim. Teve o cuidado de perguntar o que eu não gostava de comer e se eu tinha alguma intolerância ou alergia. Dei um pequeno sorriso, mas lembrando novamente do filme Pretty Woman.

BACALHAU. Desculpem-me os portugueses. Detesto bacalhau.

Como não tive muitas experiências em lugares com aquele nível social, não saberia fazer comparações. Achei tudo perfeito e agradável. Tudo muito bonito e requintado. E ele parecia bem à vontade, mas sem demonstrar prepotência.

De qualquer forma, o jantar estava indo tão bem. Meu maior medo era cometer gafes. Porém, nada aconteceu. Eu acho.

Nossa conversa estava muito animada. Ele era realmente divertido. Eu acabei contando a minha vida toda. Inclusive que tinha um problema de saúde e que me fazia ter dores crônicas. O mais engraçado é que ele foi a única pessoa que reagiu completamente diferente a tudo isso.

Normalmente as pessoas falam "que pena que você tem esses problemas e tem que tomar tanto analgésico..." ou o clássico, "mas não desista, Deus vai te ajudar, você vai ficar boa e vai conseguir realizar todos os seus sonhos". E se não falam isso, ficam espantados por eu ser nova demais para estar com esses problemas que as pessoas dizem ser "doença de velhos".

É difícil para alguns entender a minha situação por que aparentemente eu não pareço ter problemas de saúde. E só eu sei, o que é sentir dores todo o tempo nas articulações, músculos e ossos.

E sempre que me perguntam o nome da doença, preciso repetir porque fazem a pergunta "espondilo o que???". E eu pacientemente repito: "Espondiloartropatia enteropática e fibromialgia". E depois escuto outra clássica "Nunca ouvi falar disso". E isso porque eu digo somente duas das doenças crônicas que tenho.

Já Timmy, não fez nenhuma dessas perguntas. Ele simplesmente tocou meu rosto, fez um carinho com os dedos na minha bochecha. Sorriu. Depois tirou meu cabelo do rosto, chegou perto e me deu um beijo na testa. O que me deixou um pouco desconfortável. Seria pena?

Quando ele se afastou, fiquei pensando "Por que eu contei a ele tudo isso? Ele agora deve estar me olhando como uma pessoa problemática." E pela reação, deve ter pensado em tudo o que as pessoas falam. Ficou com pena, com certeza. Homem quer mulher saudável! Reprodutora! Corada! Fitness! Ou não? Sei lá... Tanto tempo sozinha e eu só pensava assim.

Ele quebrou o silêncio.

- De qualquer forma, continua linda para mim. Tudo isso só faz parte de um todo que me agrada.

Quase caí de costas! Normalmente os homens me veem como uma pessoa que provavelmente passará mais tempo em cima de uma cama do que vivendo a vida. E ele não fez nenhum comentário do tipo "então você precisa estar sempre fazendo exercícios físicos para ter uma velhice um pouco mais normal...". Porque eu escuto isso das pessoas também. Ele parecia não se importar com nada disso. E eu me senti como qualquer outra pessoa. Normal. Como se não tivesse problema algum.

- Mas de tudo o que você falou, só uma coisa me deixou curioso...

- Minha aparência de saudável?

- Não! Isso eu sei que é. Ter algumas coisinhas... Faz parte da vida. É saber lidar e pronto. Não estou me referindo a essa última parte da conversa. Gostei de saber que toca piano. E isso sim, me deixou bem curioso.

- Ah! Isso. É, eu toco um pouco. Tenho medo da minha doença avançar e ter deformações nos dedos e ter que parar de tocar. Por isso não toco para outras pessoas.

- Não tenha medo. Eu tenho certeza que isso nunca irá acontecer com você. Acredite em mim.

Achei estranha a certeza dele. E ele falou aquilo olhando diretamente nos meus olhos. Calmo. E também fiquei espantada com a naturalidade em dizer que sou saudável, o que fez me sentir normal, como há tempos eu não sentia. Afinal de contas, eu não tinha culpa. Eram doenças autoimunes. E não era algo contagioso ou algo genético que eu pudesse passar aos meus filhos. Tive que aceitar e, pior, me acostumar com a dor. Antes eu vivia reclamando disso. Percebi que eu estava me tornando uma chata e que ninguém gostava de ficar ouvindo lamúrias o tempo todo. Desde então, se tenho dores, tomo remédio e continuo a vida.

Depois de um certo tempo ele disse que iria a toalete. E logo depois que ele saiu, o garçom veio procurá-lo dizendo que havia uma ligação para ele no bar. Eu falei que iria dar o recado, mas nem precisei, pois quando ele saiu,  passou pelo bar alguém o avisou a tempo.

Ele não demorou muito na ligação. Logo retornou à mesa falando que teria que pegar o próximo voo para o Sul do país, já que haviam encontrado os documentos que ele precisava. Desculpou-se e me pediu:

- Sofia, estou muito triste com esta situação, será que você poderia esperar eu arrumar a minha mala e quando eu for ao aeroporto poderei pedir um motorista para te deixar em casa?

- Lógico que pode. Não tem problemas. Mas se quiser posso ir agora, talvez eu te atrapalhe...

- Não!! - Ele falou com muita certeza - Eu quero ficar pelo menos mais um tempinho com você. 

Na verdade, assim que ele sugeriu que eu esperasse, pensei que ficaria ali no restaurante ou na recepção do hotel enquanto ele subiria e arrumaria tudo. Então ele continuou se explicando:

- Desculpe-me, o documento é muito importante e já que o encontraram antes de mim, preciso muito recuperá-lo, pois não quero que alguém que não deva, tenha acesso a ele. Eu te explico no caminho, não se assuste.

- Bem, você não precisa me explicar nada. Não me deve explicações.

- Mesmo assim, faço questão.

E foi então que ele segurou minha mão e subimos até o quarto dele, que por sinal era fantástico. Enorme. Nunca me hospedei em um lugar assim. Acho que esse quarto de hotel era do tamanho do meu apartamento inteiro em Maceió. Eu moraria fácil ali.

- Tim, você quer ajuda? – Ajuda com o que pelo amor de Deus? Dobrar as roupas dele e colocar na mala? Que pergunta tola!!

- Não precisa, nem tenho muita coisa. Sente aqui perto de mim, preciso conversar contigo – Senti um frio na coluna.

Ele estava sentado na cama dele. Então ele segurou minha mão e disse:

- Sofia, estou pesquisando sobre a minha família e não de outras pessoas. Só que no meu caso, preciso apagar qualquer vestígio de onde viemos, de onde estivemos...

- Mas por quê?

- Porque assim como nós... quer dizer, assim como a nossa família, existem outros semelhantes que estão dispostos a nos machucar e prejudicar o mundo.

- Prejudicar o mundo? Como assim? Do que você está falando? – Fiquei pensando no "semelhantes". Como é que é? Minha cabeça ficou tonta. Estava tudo indo tão bem, até a hora de ele sair às pressas. Mas do nada comecei a pensar que o homem não era muito normal.

Minha cabeça rodou com ideias malucas sobre esse homem. Que espécie de distúrbio mental ele teria? A conversa estava indo em um rumo completamente paranoico, mas ele continuou explicando.

- Porque nós trabalhamos com um produto que nas mãos de pessoas erradas, pode se tornar algo, digamos, poluente e destrutivo.

- Como o que? Algo radioativo?

- Não, algo biológico.

- Eu tenho medo dessas coisas.

- Eu imagino. Sabe essas doenças estranhas que começam a aparecer? Vírus, bactérias que nunca haviam existido e que os cientistas tentam achar uma vacina antes que vire uma pandemia? Ou pior...

Estremeci.

- Pois é, somos nós que fornecemos a cura. Temos um laboratório que fornece todas as fórmulas dessas vacinas. E temos isso em segredo.

- Eu acho que não entendi. Você tem os vírus e bactérias mais perigosas do mundo em seu poder? E o que isso tem em comum com os seus ancestrais?

- Sim, tenho alguns vírus e bactérias, precisamos deles para podermos achar a cura ou a vacina, entendeu? E quanto aos nossos ancestrais, a história é outra e ainda mais complexa. Temo não ter tempo de explicar agora. Como trabalhamos com isso, precisamos manter segredo sobre essa ligação entre nosso trabalho e nossa família, para nos protegermos de governos que possuem pretensões destrutivas.

- O que vocês fazem é maravilhoso, não compreendo como isso poderia de fato afetar a sua família e nem a razão de todo esse segredo. Digo, tudo bem alguns de vocês manterem segredos, já vi casos de cientistas serem assassinados... Mas o que tem a ver com ancestrais?

- Eu sei que é complicado, mas espero um dia poder te explicar com detalhes. Temos outras atividades na família. Uma delas é o laboratório. Temos contatos com grandes líderes, embora eles nem imaginem quem somos. Por isso não podemos ter ligação da nossa família com nada relacionado às nossas atividades mais importantes. Parece conspiratória, coisa de cinema, algo grande. E realmente é. Eu não pretendia lhe dizer nada disso assim, mas algo me diz que você merece saber isso. Preciso é saber se você acredita em mim. Acredita?

- Sim, eu na verdade nem teria outra escolha... Quer dizer, você não me parece ser má pessoa ou coisa do gênero. E também não entendo a razão de você pedir para que eu acredite em você. A gente mal se conhece. Eu realmente não preciso saber sobre você ou sobre sua família. Você mora longe, estará de partida em breve, não sabemos se nos veremos novamente. Portanto, estou tranquila. Você deveria estar também.

- Não sou má pessoa, acredite. Mas existe muita conspiração contra tudo isto. E trabalho justamente na defesa da saúde de todos nós. E quero compartilhar isso com você, porque não poderia ficar sem lhe dizer essas verdades se eu não planejasse ver você novamente.

Por essa eu não esperava.

- Acho louvável o que vocês fazem. Eu sei o que é não ter saúde plena e não gosto disso, principalmente quando estamos tratando de doenças contagiosas – preferi não comentar nada sobre o que ele disse em relação a me ver novamente, já que acho improvável que isso aconteça novamente. - Então você é historiador, administrador e cientista?

Fiz a pergunta, mas já me sentia amedrontada. Não era uma situação clara e nem se vive algo assim normalmente. Pelo menos eu não! E me vi em uma cena de algum filme maluco, cheio de conspirações. Em situações assim, normalmente eu finjo normalidade, entendimento, aceitação. Meu medo é sempre contrariar as pessoas e tornar tudo muito mais tenso. É como se eu embarcasse na loucura, porém na expectativa de sair logo da situação. Então, pensei em fazer um comentário desviando um pouco o foco do assunto, buscando amenizar a conversa até poder fugir dali. Vai que alguém entrasse ali atirando?

- Por falar nisso...

O telefone tocou na hora em que parecia que ele iria me dizer mais alguma coisa importante. E eu estava ao lado da cama próximo ao aparelho gritante.

- Provavelmente o pessoal do hotel para me informar o voo que solicitei. Estarei partindo daqui mesmo, de helicóptero, e pedi um motorista para te deixar em casa. Pode atender enquanto pego uma coisa no outro aposento?

Eu não pestanejei para atender assim que ele me autorizou.

- Alô? Sim, ele está e pediu que eu tomasse o recado... Sim, ok, vou avisa-lo. Obrigada.

Assim que ele retornou fui logo informando o conteúdo da ligação.

- Eles avisaram que a minha carona já está a minha disposição e que o helicóptero chegará ao heliporto do hotel em 15 minutos. Você vai para o aeroporto de helicóptero?

- Sim, é mais rápido. E Obrigado. Obrigado por ser tão compreensiva e de não ficar me questionando sobre tudo isso... quer dizer, você está me entendendo, certo? Outras pessoas poderiam agir completamente diferente de você. Ou me chamar de maluco, ou sair correndo. Você ficou.

- Está tudo bem, espero que você resolva tudo. – Mas não, eu não estava entendendo NADA x NADA = NADA elevada a enésima potência. Mas de fato, estava bem calma, mais do que imaginaria estar.

Eu não tinha nem a opção de questioná-lo. Já não estava entendendo muito bem o que ele dizia e nem tinha tempo para fazê-lo, visto que nossa noite havia sido interrompida bruscamente com essa viagem. A minha única opção seria assentir com a cabeça e esperar tudo terminar.

- Posso te ligar? Eu gostaria de te encontrar novamente antes de deixar o Brasil, pode ser?

- Sim, claro!

Não pensei duas vezes. O fato de ele falar isso me vez voltar ao princípio de tudo. Romantizei. Voltei a achar possível tudo o que ele falou só pelo fato de querer ter meu contato e falar comigo novamente. Afinal, ele deveria ser realmente importante, já que aquela cena de Missão Impossível ou de 007 estava de fato acontecendo comigo. Peguei um bloquinho de anotações que estava na cabeceira da cama e escrevi todos os números em que ele poderia me encontrar. E até meu endereço de e-mail.

*Missão impossível: Filme estrelado por Tom Cruise, de ação.

*007: Vários filmes de ação de um famoso agente inglês, estrelado por vários atores diferentes.

Foi então que ele disse:

- Sofia, eu trabalho com medicamentos. Na busca da cura de algumas doenças. Como a minha família trabalha também com laboratórios e faço parte disso, ou seja, eu também entendo de biologia e de farmacologia, por isso acho que tenho algo aqui que poderá te ajudar...

- Como assim? Você está falando de algum remédio relacionado ao meu problema de saúde?

- Exatamente. Eu prestei muita atenção no que você me contou. Espere, deixe-me pegar. Na verdade, acho que apenas uma colher deste xarope deva ser suficiente para você se sentir melhor.

Na hora eu pensei "não precisa, sou acompanhada pelo melhor reumatologista da cidade e meu tratamento é universal, além de já ter tentado de TUDO". Mas educada como sou, ou seria medrosa como sou, resolvi ouvir.

E ele trouxe uma colher e abriu aquele frasco que tinha um rótulo com umas coisas escritas em uma língua que eu não conhecia.  Colocou aquele líquido escuro e grosso como chocolate derretido em uma colher e me ofereceu.

- Tome uma colher apenas. Talvez você tenha alguma reação durante a madrugada, mas não estranhe. Isso é o remédio fazendo efeito, retirando as impurezas e doenças do seu corpo. Amanhã de manhã estarei ligando logo cedo para saber como você está. Não se preocupe, não tem gosto ruim como a maioria desses remédios que você está acostumada e é totalmente natural.

Como se tudo o que é natural fosse sinal de coisa boa! E até parece que eu vou tomar isso. Vai que tem um vírus ou bactéria mortal e eu sou a hospedeira primária?

Eu estaria louca em cogitar tomar aquilo? Fiquei com mais vergonha e medo de dizer não, que acabei repensando. De qualquer forma, tenho noção de farmacologia. Nada que eu tomasse iria me fazer mal instantaneamente. Isso era coisa de filme. Daria tempo suficiente para sair do quarto dele antes de passar mal. E ele ganharia o que me drogando? Dando-me veneno? Eu não era ninguém. Nem meus órgãos deveriam prestar para alguma coisa caso ele fosse traficante de órgãos. E eu tinha os dados dele com a Júlia. E ela sabia onde ele estava hospedado. Pensei em muita coisa antes de decidir tomar aquele remédio.

- Depois que eu tomar isso vou precisar mudar os meus hábitos alimentares de alguma forma? - Isso foi o que saiu da minha boca, ao invés de perguntar de que era feito aquele xarope.

- Não. Coma e beba normalmente. Nada muda. Na verdade, eu não sei se você terá alguma reação. Minha família faz uso disso e nos sentimos um pouco mal nas primeiras vezes, mas é por algumas horas. Depois, nunca mais tivemos nada.

- Estou com medo. A gente se conheceu agora e espero que você entenda que não é normal sair oferecendo coisas assim para alguém que você acabou de conhecer. Da mesma forma que não é aconselhável aceitar qualquer coisa desse tipo vindo de estranhos... Não me leve a mal – Chamei o homem de estranho! E não medi palavras. E se eu fervi por dentro, com certeza fiquei vermelha por fora.

- Sei que isso tudo é maluco, não precisa se não quiser. Mas eu vou tomar uma colher para você não ficar com medo. Se fosse veneno ou qualquer outra coisa eu jamais tomaria, certo?

E ele realmente tomou aquela dose na colher que seria para mim. Se ele tomou, com certeza coisa ruim não era. Nem droga e nem veneno, como ele falou. Quer dizer, poderia ser droga... Fiquei olhando para ele, esperando as reações do corpo dele, tentando ver se as expressões faciais dele iriam me dizer alguma coisa, alguma pista de que ele poderia realmente estar falando a verdade. Comecei a pensar que já tentei tanta coisa para ficar boa. Tomei todos os tipos de medicamentos para ao menos reduzir minhas dores, mas tudo sem sucesso. Até me consultar com médium que dizia receber espírito de médico alemão eu fui. Nada resolvia. Então, por que não? E ele estava ali, paciente. Sem falar nada. Olhava para mim, tranquilo. Deu apenas um leve sorriso e segurou uma das minhas mãos e falou:

- Estou com pressa, mas posso reservar um pouco de tempo para você pensar. E garanto que não ficarei triste se você recusar. Inclusive, gostaria de te ver novamente. Quem sabe assim estreitamos mais os laços de confiança? E quando eu retornar você decide. Ok? Quando eu voltar do Sul você me dá a resposta final. - E sorriu.

Lembrei de uma espécie de chá que tomei com uma amiga certa vez, em um tipo de culto religioso. Dizem que o chá é alucinógeno. Mas essa denominação de chá não é a verdadeira para eles e sim um vinho. As pessoas passam muito mal após tomá-lo. Depois de duas pequenas doses e após uma ou duas horas as pessoas tendem a vomitar e até terem diarreias. Era uma limpeza no trato gastrointestinal com certeza. Se o a bebida é alucinógena ou não, não posso afirmar. Eles dizem que não. Só que não paguei para ver, não consegui tomar a segunda dose porque detestei o gosto do tal vinho. Já uma amiga provou duas vezes. Ela passou muito mal. Fiquei com medo da experiência. E não, não tive sensações estranhas. Acho que não fez efeito em mim.

Após lembrar dessa situação, não pensei mais em nada. Simplesmente aceitei, ele colocou um pouco na mesma colher e tomei. Até que não era tão ruim. E ele como sempre educado, me trouxe um copo de água em seguida. Nesse instante, uma pessoa bateu na porta.

- Senhor, o helicóptero já está à sua disposição. Vim acompanhá-lo até o local.

- Ah, obrigado - E virou-se para mim - Podemos ir?

- Claro, podemos sim. – Eu iria com ele até o helicóptero? Era isso mesmo?

Já no local ele solicitou que ficássemos a sós por um minuto e falou:

- Beautiful, fique com o seu celular ligado. Em duas horas estarei te ligando para saber como você está, ok?

 - Ok.

*Beautiful: Bonita.

- Eu... Assim que tudo se resolver, ligarei novamente para te dizer quando poderei te ver... Se é que eu posso te ver porque depois dessa confusão toda você deve estar louca para se livrar de mim...

- Claro que não, quer dizer, claro que vou te ver! E eu ficaria até preocupada se você não me ligasse. Ia achar que você colocou algo ruim naquele remédio – Falei isso sem nem ao menos perceber que poderia estar reagindo como uma desesperada.

Ele deu uma risadinha, porém negando com a cabeça.

- Jamais! Não sou esse tipo de pessoa. Então... É isso. Eu vou...

Ele ficou paralisado, me olhando. Eu fiquei ali parada, esperando o que iria acontecer já que eu não poderia fazer mais nada além de esperar. Eu já estava louca de paixão. Quem não ficaria? Meus cabelos já estavam voando por causa do vento que o helicóptero levantava, deixando meu pescoço livre, mas eu nem me importava com isso.

Ele olhou para meu pescoço rapidamente e então soltou a mala que segurava no chão, segurou com uma mão minha nuca e a outra envolveu minha cintura, me puxando um pouco mais para perto dele. Em seguida me deu um beijo. Mas não foi qualquer beijo. Parecia coisa de cinema. Eu não me contive. Fiquei sem reação. Estática, mas retribuindo o beijo. Eu não sabia o que fazer com minhas mãos. Quase soltei a carteira no chão também. Aí ele soltou minha nuca e me envolveu num abraço, me puxando mais para perto dele enquanto nos beijávamos.

            Abri os olhos e vi que ele estava com os dele fechados, realmente sentindo aquilo tudo. Então me entreguei. Enfim o abracei de volta e quis que ele entendesse que eu estaria retribuindo aquele beijo. Eu estava desejando que ele não tivesse que partir. Queria que o momento não acabasse. Eu não sei a razão pelo qual eu fiz aquilo. Simplesmente senti a necessidade de dar um abraço. Eu nunca fui uma pessoa tão óbvia, demonstrando carência ou até mesmo afeto. Com ninguém além dos meus sobrinhos. Não sei o que deu em mim!

Aquilo iria acabar em um minuto, mas aqueles sessenta segundos foram eternos. E nesse pouco tempo, antes de me largar, ele me deu um leve beijo nos lábios. E depois ele teve que correr até o local onde estava o helicóptero e eu fiquei ali, um pouco mais afastada, perto da escada. Depois que ele já estava no ar, ouvi alguém praticamente gritando por causa de todo aquele barulho:

- Senhora? Pode vir comigo que eu a levarei até a saída, onde o carro está à sua espera.

Uns quarenta minutos depois eu já estava na casa da Júlia, entrando no banheiro para trocar de roupa e ir dormir. Mas não consegui sair do banheiro tão rapidamente porque depois que me arrumei, comecei a me sentir mal, enjoada, tonta. Comecei a vomitar.

Não demorou muito para que eu associasse aquele mal-estar com aquele xarope, aquele líquido viscoso e escuro que Timmy havia me dado há menos de uma hora. Mas mesmo assim, não fiquei preocupada de imediato. Ele disse que eu me sentiria mal. Certo?

                                      ***


Acho que agora as coisas vão começar a ficar estranhíssimas. O Timmy é cheio de conversas. Ele é louco? Fala a verdade ou metade da verdade? E Sofia hein?  Confiou demaisssss!! O que será que vai acontecer com ela?

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