Capítulo dois
Sofia
Eu sempre me senti rejeitada por todos e ficava indignada com isso. Às vezes, achava que as pessoas se aproximavam de mim por pena, mesmo não apreciando a minha existência. É complexo ter conhecimento de certas coisas e ter que aceitar ao mesmo tempo. Fazer de conta que não percebo nada, fingir que estar tudo bem. Mas a sensação de não pertencimento é horrível.
Essa mistura de situações e sentimentos me deixava sempre tão confusa. O que eu queria afinal? Talvez eu precisasse da piedade das pessoas para fingir ser amada. Mas era sempre uma pancada na alma ouvir algum comentário do tipo: "você não tem juízo!". Porque era praticamente um "você é louca". Fora isso, algumas piadinhas que incomodavam bastante.
Fisicamente, e, apesar de tudo, considero-me uma pessoa completamente normal. Nunca fui aquela mulher que chama atenção das pessoas na rua pela beleza. Poderiam até me enxergar, mas depois esqueceriam em segundos. Pele clara, olhos castanhos, cabelos da mesma cor, compridos com algumas ondulações. Nunca fui gorda, na verdade sempre magra demais. Estatura mediana. Nariz e orelhas de tamanhos médios, boca grande. Acho até que minha cabeça era desproporcional comparada ao meu corpo magro.
Simplesmente normal, longe de ser mulherão, apenas delicada. E isso combinava com meu piano. Talvez me escondia um pouco mais porque nunca fui vaidosa. Nunca exagerei em roupas e nem na maquiagem. Nunca acompanhei tendências.
Apesar da idade não pesar em minha aparência, entendo que o tempo está passando para mim. Eu tinha certeza de que cada vez mais iriam diminuir as chances de algo interessante acontecer na minha vida.
Mas que chances? Qualquer uma!
Honestamente, vivo em um loop.
Gostaria de poder contar com alguém... e até andar de mãos dadas.
E por falar mais uma vez em sucesso, isso me lembra trabalho. Penso nos empregos que já tive e no quesito profissão, formada em farmácia, mas sem exercer por um bom tempo. Eu até descobri que sou uma boa administradora. Ou ao menos penso que sou. Trabalhar na indústria farmacêutica era algo interessante. Mas o Brasil é famoso por liberar todo o tipo de medicamentos sem receita nas farmácias. Qualquer um consegue o que quiser se conhecer a pessoa certa. Emprego como farmacêutica em farmácias não era tão difícil, até porque a cada dia que passa o número cresce absurdamente. Mas eu sempre me sentia apenas uma vendedora de remédios e não fazia a diferença com os conhecimentos que adquiri durante a faculdade.
Morei sozinha umas três vezes. Viajei pelo país, nunca fora dele. Fiz amigos. Amigos?
É... talvez alguns. Mas cada um foi tomando rumos diferentes. As que casaram mudaram a rotina e nunca consegui acompanhar os mesmos assuntos: filhos e esposos. O distanciamento acabou sendo inevitável.
Deprimente é comparar a minha vida com a delas.
Não tem como não se questionar sobre o que seria suficiente para ser feliz. Ter muito dinheiro? Definitivamente, não. Ser um profissional bem sucedido? Relativo. O lance as vezes é ter mais poder...
O que eu sei é que só depende de mim o que vai ser da minha vida. O problema é que sempre fui muito covarde para assumir as minhas fraquezas e recuperar o que havia de errado em minha vida. Na verdade, nem sabia exatamente como fazer para reclamar os erros já que não sei quais eram de fato. Talvez uma terapia resolva alguma coisa.
Acho que vou abrir mais um vinho!
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