Capítulo dezesseis
Sofia
Eu me virei rapidamente porque não acreditei naquela voz! Mesmo que sussurrando, não tinha como eu não reconhecer a voz do Tim. Eu fiquei imaginando todas as possíveis formas de reencontro, mas em nenhuma delas ele apareceria assim, como se ele fosse o vento. Ainda mais aqui, no mesmo lugar que nos vimos pela primeira vez. Não parecia encontro planejado, parecia coisa de outro mundo.
- Mas o que... o que aconteceu? Você está bem? Por que sumiu? Você falou que iria me ligar e...
Ele me interrompeu:
- Eu sei e me desculpe. Escuta, vem comigo que eu te explico tudo.
Então ele me levou para um lugar mais reservado e começou a falar:
- Sofia, eu realmente não pretendia voltar a te ver. Não porque eu não quisesse, mas porque seria complicado te envolver na minha vida agora, principalmente por estar um pouco agitada. Sempre está, mas ultimamente um pouco mais. E nem seria justo com você. Mas o fato de você está se sentindo bem e não estar mais sentindo as dores e ter ficado realmente preocupada comigo, me vez voltar aqui.
- Mas como você sabe tudo isso? E como descobriu que eu estaria aqui?
- É isso o que pretendo te explicar, mas você terá que ter muita calma. O que estou prestes a te contar pode assustar um pouco.
Um pouco? Eu já estava tremendo e não fazia frio! Qualquer um perceberia o bater dos meus dentes. Eu sempre tremo bastante quando estou nervosa. É tão natural quanto respirar. As vezes eu acho que em uma situação bastante incomum e pavorosa, penso que terei convulsões. O meu sistema simpático funciona instantaneamente.
Ele respirou fundo, ignorou ou simplesmente não quis comentar o meu tremor para não me constranger ou não me deixar mais nervosa. Mas segurou minhas duas mãos, provavelmente a fim de me tranquilizar ou até mesmo tentar diminuir meus estado de ansiedade. Então ele continuou:
- Você já utilizou aqueles programas de satélites pela internet para localização?
- Satélites? Aqueles programas que dão zoom e a gente consegue ver as casas das pessoas etc? Tipo Google Earth?
- Exatamente. Agora imagine que posso ver tudo o que eu quiser, utilizando o mesmo sistema. Posso até entrar nas casas das pessoas. Eu imagino onde quero estar e em milésimos de segundos já estou no lugar. Em tempo real.
- Você está me zoando. Não existe essa tecnologia. E essa conversa está estranha demais...
- Ok. Vamos pensar agora em outra possibilidade.
- Certo. Eu realmente quero ver onde isso vai chegar. Tente ser objetivo porque estou prestes a sair correndo. E isso não é uma piada. – Realmente não era. Ou chamar a polícia. Mas isso eu não iria dizê-lo. Se ele fosse um brasileiro talvez eu achasse que ele era simplesmente louco, mas sendo estrangeiro, rico e com toda aquela conversa, provavelmente eu poderia acreditar em alguma conspiração, alguma coisa tipo 007 ou Missão Impossível.
- Imagine agora, que eu posso pensar em um lugar e me movimentar tão rapidamente que nem sinta meu corpo. Como se eu desejasse estar em um lugar e, em um piscar de olhos, eu estaria lá.
- Ah, isso seria ótimo...- Acabei viajando na ideia e desejando poder fazer algo assim... Embora fosse uma coisa irreal, eu ainda não estava entendendo onde ele queria chegar.
- Você não vai divagar agora, né?
- Imagina... E foi você que começou com essa conversa!
- Você não está se concentrando...
Claro que eu não estava me concentrando. Aquilo tudo era muito doido. Eu não estava entendendo onde ele queria chegar. Pensei logo em uma pegadinha ou coisa parecida. Ou que ele estivesse trabalhando em uma máquina do tempo ou algo do tipo. Só que essa hipótese também era remota para mim.
- Tim, eu não preciso de rodeios. Vá direto ao ponto. Assim eu vou conseguir te entender. – Eu estava começando a ficar mais calma, porque quando algo é tão surreal, acabo desacreditada e fico irônica.
- Está certa. Então eu vou começar a te dizer o porquê de eu não poder falar muito sobre mim e minha família.
- Ok, estou te ouvindo e também respirando!
Só com esse início de sinceridade da parte dele, comecei a hiperventilar. E antes mesmo que ele continuasse a falar, um rapaz apareceu atrás dele. Tim que estava um pouco inclinado na minha direção, ficou ereto e lentamente se virou encarando-o.
- O que você faz aqui?
- O que acha?
- Quem é ele Tim?
- Eu sou o irmão do Tim, Sofia.
- Olá. E já percebi que você sabe mais de mim do que eu de você – Minha ironia estava começando a se transformar em raiva. E o irmão dele era assustadoramente bonito mas com cara de bravo.
- Não o culpe por essa falta de informação da parte do Tim. Prefiro assim, para falar a verdade. – E ainda era grosso!
Ok. Já percebi que o irmão não quer saber de mim e muito menos que eu saiba dele, pois já chegou sendo absurdamente direto.
- Não se preocupe Gabriel...
- Como não? Você está prestes a contar algo que pode comprometer tudo o que estamos fazendo aqui. Sem contar que você já deve ter feito algo pior...
Nesse momento Gabriel abriu os braços e deu um giro de 360°, como se quisesse dizer que Tim estaria comprometendo não aquele ambiente em que estávamos, mas algo maior. Ao menos foi o que entendi no momento.
- Você sabe o que está acontecendo com ela, não sabe Gabriel?
- Não interessa. Não sabemos ainda se isso vai mudar alguma coisa. Por enquanto, ela apenas se sente bem.
- Acontece a mesma coisa com a gente.
- Mesmo assim! Você ainda não pode saber o que vai acontecer de fato. E você sabe que não deveria ter dado nossa cura para ela!
- Claro que sei! E você sabe disso!
- Será? Só porque uma pessoa nunca fez algo assim, não significa que nunca o fará na vida. E isso não te torna mais confiável. Pior ainda, depois que faz pela primeira vez, não saberemos se fará uma segunda ou terceira vez! Você não é mais confiável.
Eu não entendi nada! O irmão dele falava em inglês, mas parecia japonês para mim, pois falava muito rápido e eu não conseguia entender tudo com clareza. Eles estavam discutindo algo sério e eu estava no meio daquilo tudo, sem nem ao menos poder dar qualquer opinião ou até mesmo questionar, pois eles estavam furiosos um com o outro. E simplesmente do nada, calaram-se, pararam de discutir. Ficaram em silêncio por uns dois segundos olhando um para o outro. Ambos estavam sérios e em posição de alerta, esticados e duros. E fiquei espantada em vê-los parar de gritar, silenciando totalmente, olhando um para o outro. Foi super estranho.
- O que está acontecendo? – Perguntei aflita.
E eles continuaram calados, se olhando. Achei que os dois iam começar a bater um no outro, que iam se machucar e eu não poderia fazer nada, pois os dois eram bem mais fortes que eu. Mas as feições deles não eram mais de briga um com o outro, parecia de alerta. Pensei que no momento que o Timmy soltasse a minha mão eu iria aproveitar para sair correndo dali. Estava claro que eu deveria fugir porque aquilo tudo iria sobrar para mim. Não era uma cena normal. E eu estava em uma situação tão maluca, que não conseguia raciocinar nada lógico.
- Tim, o que está acontecendo? O que eu não posso saber?
Tim então saiu do transe e perguntou ao irmão:
- Gabriel, e agora o que faremos?
- Eles já nos captaram, mas não conseguem nos ver. Porém sabem onde estamos. Eles conseguem vê-la. Ela corre perigo e eles vão querer saber a ligação que ela tem conosco agora, tudo porque você a visitou fora da nossa zona de proteção, droga!!! - Disse Gabriel ao irmão.
- Eles quem? Por que eu corro perigo? Tim? – Comecei a ficar em pânico e tentei me livrar do Timmy, mas ele segurou a minha mão e me olhou com desespero.
- Precisamos levá-la conosco, ela precisa entrar no processo. – Disse Tim.
- Mas não sabemos ainda se isso irá funcionar e você sabe que o que ela tomou é diferente do que nós tomamos. – Respondeu Gabriel.
- Você está errado Gabriel. Não temos mais tempo! – Timmy virou-se para mim e falou: - Sofia, confie em mim. Vamos fazer algo com você e... Tentaremos algo.
Na minha cabeça eu já estava pronta para dizer que não iria para lugar nenhum, que precisava ir embora, que eles eram malucos e que eu não ia entrar na loucura deles. Por mais que as minhas células estivessem atraídas pelo Tim, a minha razão permanecia intacta.
- Tim, eles estão apenas deliberando qual deles virá...
- O que? Como assim? – Eu ainda não estava entendendo nada e comecei a me desesperar.
Eles seguraram meus braços, comecei a me debater tentando me soltar. Foi então que Gabriel soltou um dos meus braços e Tim ficou na minha frente e disse:
- Confie em mim. Não vou te machucar. Não somos os vilões, acredite. Só que preciso que você relaxe, feche os olhos e imagine que poderá se encontrar em outro lugar ao abrir os olhos novamente.
- O que vai acontecer? – Perguntei quase chorando e prestes a gritar. Como eu poderia relaxar, fechar os olhos e imaginar coisas se eu estava me sentindo encurralada?
- Apenas faça o que eu disser. Pode deixar o resto comigo.
Tim então se virou para o Gabriel e disse:
- Vá! Talvez isto demore um minuto. Prepare algo para aquecê-la.
E Gabriel concordou.
Então Tim ficou muito próximo a mim, com o rosto tão perto que eu poderia lembrar aquele beijo e esquecer tudo o que havia ouvido segundos atrás. Ele olhou nos meus olhos, segurou meu rosto novamente com as suas mãos e disse:
- Sofia, eu não sei por que, mas fiz coisas que um dia você entenderá. E eu estou ligado a você de várias maneiras e não poderei mais mudar isso. Nem quero. De alguma forma, você veio a mim. Não sei a razão.
E então encostou seus lábios aos meus, porém bem mais delicadamente. Ele foi muito gentil. Eu já nem sabia mais quem eu era naquele momento. Era como se fôssemos um. Parecia que eu havia sido tomada por um entorpecente, porque eu não conseguia mais pensar em nada racionalmente. Eu só pensava que estava em uma situação que não teria opções.
- Agora! Vamos precisar sair daqui, agora.
Foi quando eu me dei conta que Gabriel já não estava ali, então me desconcentrei e disse:
- Mas para onde ele foi? – Estavamos em um espaço isolado, não tinha como o Gabriel ter sumido, porque era como um grande salão e estávamos no canto de uma parede, próximos a um pilar enorme e não havia mais ninguém além de nós naquele momento. Não dava para ele ter cruzado todo o salão em direção a saída com tanta velocidade e sem fazer qualquer barulho.
- Iremos ao encontro dele, concentre-se em mim agora!
- Ok, ok!
Foi então que fechei meus olhos enquanto Tim segurava minhas mãos. Apenas ouvi quando ele disse:
- Você vai sentir muito frio... E me beijou novamente.
O meu corpo relaxou e eu senti como se eu fosse dormir ou coisa parecida. Sabe quando ao dormir, sonhamos que estamos caindo e acabamos nos mexendo com espasmos, como se estivéssemos nos protegendo da queda, e acordamos na mesma hora? Senti essa sensação. Porém foi mais intensa, porque ela veio somada a uma pressão, como se eu estivesse sendo sugada para frente. E não abri os olhos em desespero, pois estava sem ar. E quando finalmente consegui respirar, também consegui abrir meus olhos, a primeira coisa que vi foram os meus pés.
Só que ao fitá-los, percebi que estava pisando em um solo branco. Era gelo!
****Heimmm? Que coisa mais doida!
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