Capítulo cinquenta e três
Sofia
E assim, eles fizeram. Desbloquearam o local da proteção, já que não fazia sentido e prestaram bastante atenção nos passos dos três. Não demorou muito para que Peter e Kate encontrassem Gabriel. Os três já estavam em Yakustk. Por sinal, não foi muito difícil descobrir através na internet. Peguei o celular e rapidamente descobri tudo o que precisava.
Nicolle olhou para mim e falou:
- Você ainda não entendeu que aqui dentro você não precisa de internet? Você é a internet aqui!
Eu havia esquecido o que Timmy me falou sobre o local. Bastava eu dar o comando e alguma coisa iria aparecer para mim. Mas eu já estava com o celular em mãos, continuei o que estava fazendo e, não sei por que, imaginei que esse lugar era na Rússia. E sem decepções, vi que fica ali mesmo, porém na região da lacútia na Sibéria. Seja lá onde isso fosse de fato.
A internet ajuda, mas no celular não é fácil visualizar detalhes com tanta precisão e rapidez. A gente vê um básico e tenta entender até onde pode. Nicolle me viu franzindo a testa, balançou a cabeça negativamente. De onde surgiu essa Nicolle irritante mesmo? Mas ao menos ela foi gentil, arqueou as sobrancelhas e ergueu uma mão, imediatamente todas as respostas que eu queria apareceram diante de mim.
De qualquer forma, deu para ver que a grande importância da cidade se deu no governo de Stalin e pela grande quantidade de ouro e diamantes na região. Não é difícil de entender o valor que a cidade teve no século XIX por essa descoberta. Durante a industrialização, essas reservas de ouro com certeza contribuíram para a urbanização do local. Acho que foi a única razão de fato, já que o inverno local é simplesmente muito frio. Ninguém mora em um lugar tão frio daquele sem um propósito, sem uma boa razão.
Diante da situação em que eu estava, não poderia fazer muita coisa além de pesquisar informações sobre o lugar. Tanto Timmy quanto Nicolle estavam atentos aos acontecimentos recentes. E eu não poderia atrapalhar de forma alguma.
Na verdade, ficar enchendo eles de perguntas só iria distraí-los e perturbar a paz deles com questionamentos fora de hora. Mesmo que minhas dúvidas estivessem dentro do contexto, não seria sensato atrapalhar, tirá-los do foco. Era preciso ser paciente, coisa que nunca gostei de ser, mas que teria que me acostumar porque estava sempre cercada de novos acontecimentos e informações. E as coisas exigem rapidez de entendimento, de decisões e ações. Eles possuem essa agilidade em segundos. Eu demoro demais.
Só me restou esperar ou esperar. Ponto.
Timmy ficou em transe. Seus olhos começaram a mudar de cor. Eu já havia visto essa situação antes, justamente no sonho que tive onde um ser me levava no colo para algum lugar. Ele tinha esses olhos que brilhavam e pareciam mostrar uma galáxia dentro deles. Mas Timmy estava apenas começando a ficar daquele jeito. Nicolle também.
Sinceramente eu não gostei da cena. Fiquei na verdade com medo. Não tinha como não ficar. E eles não se mexiam, pareciam nem estar respirando. E estavam com suas peles em uma temperatura mais fria do que a normal, porque só em ficar perto do Timmy senti que a temperatura dele estava mais baixa.
Uma coisa que eu ainda iria perguntar. Depois.
Realmente fiquei assustada e não sabia se eles ficavam conscientes de tudo o que acontecia tanto no lugar em que estavam quanto no lugar em que eles iriam observar. Mas não demorou muito para que Nicolle percebesse o meu incômodo:
- Não se preocupe. Eu já sei o que você está pensando. Timmy está junto deles, mas eles não podem vê-lo. Quer dizer, apenas Gabriel, papai e mamãe. E não ficamos em transe ao ponto de nos desligarmos daqui. Exceto se quisermos. O que não é o caso e nem necessário. Não ainda.
- Ufa! Assim não me sinto tão só.
E pensei em como eles conseguem adivinhar tanto as coisas... E meus pensamentos foram interrompidos novamente.
- Nicolle! Eles chegaram!
Imediatamente Nicolle voltou a observá-los. Ergueu a mão para mim como se estivesse pedindo que eu aguardasse um momento. Eles são muito rápidos com essa conexão entre eles!
Nicolle começou a narrar tudo o que estava vendo. Ela disse que eles se aproximaram com certa timidez. Apenas os patriarcas chegaram bem mais próximos um do outro.
Mas Timmy resolveu fazer algo diferente. Segurou a minha mão e pediu para que eu fechasse os olhos e me concentrasse no escuro. Simplesmente prestasse atenção no escuro após fechar os olhos, assim ele poderia passar a energia dele para mim e eu poderia estar com eles nesse momento.
Concentrei no escuro, tentei limpar minha mente. E assim que eu consegui, em um pequeno milésimo de segundo, não pensar em nada, consegui captar esta conexão entre eles. A partir do momento que eu consigi entrar nessa espécie de portal, fiquei tão impressionada que naturalmente consegui permanecer cem por cento conectada a eles.
Jack agradeceu ao Peter o encontro. Apesar de parecer que nada de grave fosse acontecer, todos estavam tensos. Ryan não tirava os olhos de Gabriel. Mia vigiava o filho Ryan. No entanto, o outro filho estava concentrado.
- Ele está tentando fazer o mesmo que nós, Sofia. Disse Timmy. Mas não consegue.
Gabriel visivelmente nervoso e ansioso não se conteve e perguntou por Milla. Eles olharam-se entre si e foi então que o silêncio foi quebrado.
- Gabriel, eu juro que se eu soubesse, não estaria há mais de cinco anos tentando insistentemente entrar em contato com vocês - Respondeu Jack.
- Como assim? Do que você está falando? – Gabriel pareceu finalmente consternado.
- Está na hora de você saber que vocês dois tiveram um filho... – Jack falou passivamente, mas não conseguiu finalizar o pensamento, pois Gabriel o interrompeu em um rompante.
- Um filho??? Você só pode está brincando comigo! Milla não seria capaz de ficar grávida e não me contar! E você só pode estar mentindo, ela não poderia...
- Exatamente! - Respondeu Mia - Ela não foi capaz. Mas vocês se afastaram espontaneamente de nós. Tiraram suas conclusões e a gente deixou vocês em paz por um tempo. Milla se sentiu traída, imaginou que você nunca a amou de fato. O que era de se estranhar, já que vocês estão sempre com este discurso de amar apenas um ser...
- Espere um pouco! Meus sentimentos não estão em questão agora! E nós nos afastamos por causa das teorias que tanto vocês se orgulhavam e as quais nós sempre criticamos.
- Eu sei querido. E posso garantir que esse tempo passou. Nós enfim compreendemos isso. Quando tentamos nos aproximar de vocês para dizer que vocês tinham razão, Milla descobriu que estava grávida. Ela não quis mais aproximação entre vocês dois. Ela se sentiu só e fez a decisão, pois não queria que vocês descobrissem, com medo do que poderiam fazer com a criança. E a evolução da gestação dela foi rápida. Quando ela estava em um estágio avançado, arrependeu-se, mas quando tentamos entrar em contato com vocês, não conseguimos mais. Ainda não descobrimos como foi possível essa gravidez. Não poderíamos saber até onde vocês teriam nos modificado e nem como nós nos comportaríamos como híbridos humanos em uma gestação com outros híbridos humanos.
- Nós realmente evitávamos vocês, como podíamos - Respondeu Kate – Inclusive era a orientação dos nossos! E se isso for verdade, estamos com sérios problemas a resolver. E inclusive entender o que saiu errado desde o princípio.
- Mas então por que vocês não entraram em contato com o seu planeta para então eles transmitirem isso ao nosso? - Perguntou Gabriel.
- Nós entramos – Disse Jack.
- Entraram? – perguntou Peter incrédulo.
- Sim. Eles sabem de tudo, mas pelo visto, esconderam dos seus. E se não esconderam, estão em acordo.
- Mas que mentira é essa? É claro que eles estão mentindo, pai! Se os nossos soubessem de tudo, teriam nos avisado! Eles apenas disseram que os seus estavam impacientes e que queriam mais respostas sobre a cura do nosso problema, que vocês exigiam mais coisas dos nossos planetas para vocês aqui. E que ainda não estavam dispostos a colaborar... E nós realmente ainda não temos respostas concretas...
Depois que Gabriel respondeu desesperado, Peter aproximou-se dele e segurou um dos ombros dele e com a outra mão, tocou o peito do filho, como se tivesse tentando acalmá-lo ou tentado fazer com que ele se calasse. Talvez com medo de ele falar mais do que devia.
- Gabriel tem razão. O que vocês estão dizendo não faz sentido. Não posso concordar com esse absurdo. O que vocês pretendem? Envenenar-nos com suas mentiras? Colocar-nos contra o nosso próprio povo? Os Orvrils sempre nos passaram a situação de vocês, que continuavam na tentativa da busca da cura, mas que queriam na verdade nos destruir. – Respondeu Peter.
- Jack, está na hora deles saberem tudo – Disse Mia e Jack assentiu.
- Peter, vocês não são os únicos com tecnologia. Nós também temos a nossa. Inclusive, cada vez mais e cada vez melhor. Embora a maioria dessa tecnologia sirva mesmo para nossa proteção, principalmente contra vocês. E tudo enviado pelo nosso planeta, que obviamente é contra quase tudo o que venha do seu planeta, embora tenhamos outra teoria. Mas isso não é importante agora. Vocês acham que não sabemos que seu filho está neste momento dentro da passagem, ouvindo e vendo tudo o que estamos falando? – Falou Jack.
- Querido! - Disse Nicolle ironicamente - Isso é óbvio! Já que ele não está presente. E a mesma coisa deve estar acontecendo com a Milla, não é? Ela está protegendo vocês, da mesma forma que Timmy está nos protegendo. A diferença é que nós não temos medo de dizer o óbvio, bem como a verdade. E vocês ficam fazendo esse terrorismo porque sabe que Gabriel é um alvo fácil e que pode desestruturar toda nossa proteção. Por que não confessam logo? – Nicolle se apresentou mas logo saiu do campo de visão deles.
Gabriel ficou constrangido ao ouvir a irmã.
- Boa Nicolle! - Sussurrou Timmy, coisa que eles não devem ter ouvido – Mas eles também poderiam estar blefando e você entregou o ouro com essa exposição... – Nicolle abaixou os ombros em concordância.
Desta vez foi Mia que resolveu defender os dela.
- Eu gostaria que fosse assim. Vocês podem achar que nós deduzimos essas coisas. Vocês são bons nisso. Quase uma telepatia. E essa teoria até tem sentido. Mas não é bem assim. Quando estamos próximos, conseguimos captar a ligação entre vocês. Podemos não saber onde o Timmy está de fato, mas sentimos a proximidade dele. A diferença é que usamos tecnologia, e não essas sensações que vocês são capazes de ter. Isso é tecnológico e não fisiológico, infelizmente.
- Obrigado, amor, pela explicação, mas deixe-me continuar.
Mia concordou com a cabeça e colocou-se atrás do marido, que deu mais um passo ao encontro de Peter.
- Amigo, somos pouco sensitivos. Fato. Também usamos de tecnologia. E se vocês tentarem entrar em contato com os seus, neste exato momento, vão perceber que controlamos sua comunicação. Cortamos, graças ao fato de todos vocês estarem aqui.
- O que? - Desesperou Timmy. Então ele tentou entrar em contato com o planeta dele, mas não conseguiu.
Em segundos, todos já haviam percebido tudo. Peter concentrou-se em Timmy. E rapidamente Tim confirmou e pediu que o pai retornasse para o Alasca, pois poderia ser uma cilada. Mas Peter preferiu esperar mais um pouco. Ele precisava saber até onde tudo isso iria dar ou nunca poderiam saber se tudo era um blefe ou não.
Timmy tentou persuadi-lo sem sucesso.
- Ok, Jack. Estou vendo que vocês também possuem seus brinquedinhos. O que você finalmente quer de nós? Ajuda com suas pesquisas?
- Não se esforce para mostrar sua superioridade a nós. Não precisamos disso. Sei que tivemos nossos problemas, mas neste instante, o caso é mais sério do que qualquer diferença entre nós. Ademais, nós acreditamos que estamos todos vivendo uma cilada. E como prova de boa fé, irei liberar sua comunicação com os seus.
Nesse momento Ryan não gostou, mas entendeu o que o pai queria e liberou a nossa comunicação com os Orvrils.
Timmy confirmou que o canal não tinha mais interferências.
- Sou todo ouvidos, continue - Respondeu Peter com um ar um pouco mais sereno.
- Como vocês sabem, estamos presos a este corpo humano. Mas temos nossa genética original. E cada um de nós, tem suas próprias características. Só que não conseguiríamos imaginar ou encontrar a resposta para um híbrido. Quando Milla descobriu sua gravidez, ficamos felizes por termos o sétimo integrante. Mesmo ele também sendo 12,5% parte de vocês. Só que não estávamos contando com a interação gênica. E nem poderíamos pensar em como esse bebê seria.
- Então é verdade mesmo? Ela teve um bebê? Mas isso não poderia ter acontecido...
Gabriel fez a pergunta com um ar de desespero. Aquele Gabriel que eu conhecia estava completamente sem chão, nervoso, estressado, preocupado. Ele que sempre me pareceu o mais sisudo, o mais chato de todos por toda aquela prepotência que exalava, agora estava parecendo uma criança quando se perde dos pais em um grande shopping.
E desta vez, Mia aproximou-se de Gabriel e ele permitiu, o que ficou claro o quanto ele estava espantado com tudo. Ela segurou a mão dele com aquele olhar triste. Olhou bem nos olhos dele e simplesmente confirmou. O pai de Milla também se aproximou, colocou as mãos nos ombros do genro, querendo consolá-lo. Gabriel começou a hiperventilar e neste momento eu finalmente abri a boca:
- Timmy, acalme-o agora! Ele vai explodir! Ou ele começa uma briga com todos ou ele vai fugir para algum lugar perigoso a procura dela!
Ainda bem que percebi isso, pois Timmy tentou avisar ao pai, que aparentemente já tinha me ouvido, então imediatamente disse:
- Gabriel, eu já sei o que fazer!
Gabriel olhou-o com dúvida, ficou perdido, mas ao mesmo tempo ficou mais curioso com essa nova informação do que desesperado. E se afastou um pouco dos pais da Milla, talvez por defesa. E eles entenderam e tranquilamente também se afastaram dele um pouco. A necessidade do Gabriel em tomar qualquer decisão era tão grande, que sozinho ele não conseguiria raciocinar com lógica. A atitude do pai soou como música aos ouvidos dele, que claramente não sabia o que fazer.
- Vamos nos unir. Vocês agora vão nos dizer tudo o que precisamos saber para acharmos Milla – E foi então que confirmei que ela e fato estaria sumida.
- Oh! Era tudo o que eu precisava ouvir! Ainda bem que vocês concordaram! Eu não sabia mais o que fazer!! – Disse Mia, completamente aliviada. Aparentemente até Gabriel compartilhou do mesmo sentimento da Mia.
Não há dúvidas que esse sentimento de querer bem, proteção e amor existem entre todos nós humanos ou qualquer que sejam as espécies de extraterrestres, porque obviamente estou me deparando com dois tipos diferentes de alienígenas e em todos eles vejo o mesmo sentimento. A mãe da Milla expressou imensa gratidão, além de amor pela filha.
Pior que quando penso sobre essas coisas, mais estranho fica tudo isso. Eu gostaria de poder encontrar, inclusive, uma forma menos fria para me referir a todos eles, mesmo que em pensamento. Chamá-los de extraterrestres e aliens soa feio e insensível para mim. Talvez eu já me sinta tão parte deles que vejo tudo com muita naturalidade agora.
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E você esperava por essa?
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