Capítulo cinquenta e sete
Hoje o capítulo é um pouco longo...
***
Timmy
Tudo estava acontecendo rápido. Engraçado que antes de finalmente eu poder realizar tudo o que sempre quis ao lado da Sofia, o tempo parecia meu inimigo. Ele não passava. As vezes parecia retroceder. E isso estava me deixando aflito, nervoso e um pouco louco. Não era fácil mostrar calmaria quando se está quase histérico por dentro.
Mas aconteceu. Finalmente.
Vou guardar cada momento em minha cabeça para o resto da minha vida. Ela merece que eu relembre sempre, até o dia em que eu morrer. O que veio depois foi um turbilhão de acontecimentos. Não era nossa história e sim a do meu irmão querido. E ela sofria e se importava como se fosse com ela. Fiquei emocionado com a perspicácia dela. E eu não entendia como a Sofia conseguia enxergar além de nós.
Apesar de ela não ter nada a ver com a história do Gabriel com a Milla, não era para que ela fosse perseguida pelo meu sobrinho. Mas o que estava acontecendo afinal? Será que ele sabia de algo que eu mesmo não consegui descobrir? Ou será que ele entendeu que Sofia era uma humana que eu havia modificado e ele estava curioso. Afinal, ele era um híbrido e ela, bem, ela era quase isso, por assim dizer. Mas mesmo assim, não fazia sentido! Estávamos incomodados, mas não queríamos passar para ela o quanto era estranho. Minhas buscas no Brasil foram suficientes para entender que de fato, outros estiveram por lá, várias vezes. Inclusive nós. Mas não entendíamos porque nenhum Orvril nos contou esse detalhe. Eu tive que descobrir sozinho. Por sorte, eles não conseguiam saber exatamente onde estávamos o tempo todo. Foi fácil conseguir muito sobre nossa história na Terra. Embora estivesse claro que o muito que descobrimos era bem insuficiente para entender tudo.
Inclusive, foi em uma das minhas viagens que encontrei Sofia, finalmente, sem ser em sonhos, ela acordada e bem na minha frente. Aquele dia fazia parte das pesquisas e eu sabia que existia mais alguém apagando os rastros de todas as pistas que outros deixaram no Brasil. Antes pensávamos que eram os Condros, mas pelo visto, eles nem faziam ideia de nada, nem mesmo da Sofia.
Outra coisa importante: por que meu planeta estava tão misterioso? Até então eles não haviam se abalado sobre conhece-la. Claro, pegaram todas as informações, conferiram, acompanharam, entenderam, aceitaram sem objeções – o que foi mais estranho -... Mas até agora não marcaram encontro com ela. Estão, inclusive, dispersos sobre as nossas tentativas de busca para a cura do nosso planeta. Qual a ligação dos Condros com o nosso planeta? Estava tudo muito solto. Nós estávamos atentos. Éramos uma família e eu confiava em meus pais e nos meus irmãos. Eu tinha certeza que não seria traído por eles. E por essa razão que muita coisa exclusiva da gente na Terra eles não sabiam.
Eu e Sofia tivemos um momento lindo, só nosso, no banheiro! E estou cada vez mais envolvido e certo de estar com ela. Assim que nos acomodamos no quarto, Sofia ficou lendo alguma coisa e eu precisei trabalhar. Tanto nos nossos projetos pessoais, pois nossas vidas humanas demandavam atenção também, quanto sobre conversar com minha família, justamente sobre esses assuntos que nos alertavam cada vez mais e que algo grande estava prestes a acontecer. Precisávamos reunir forças. Não estávamos de férias, apesar dos momentos de desligue total. O que nem os Condros e nem mesmo os nossos em Orvril sabiam, era que aqui na Terra, tínhamos grandes aliados.
Eu mesmo menti à Sofia quando disse que os humanos não podiam saber sobre nós e que apenas alguns que ajudamos e, nos deviam lealdade, tinham conhecimento sobre a gente. Ainda não sabíamos como ela reagiria a tudo. E tive que provar aos meus que ela era a minha escolhida e que ela iria me amar da mesma forma que eu já a amava. Ela tinha o livre arbítrio, no final das contas, mesmo tendo sido modificada. E pelo visto, ela escolheu ficar comigo. E já que tinhamos a certeza, achei que havia chegando a hora de ela saber o quão forte nós somos neste planeta. Ela precisava entender que sim, temos muitos aliados em todo o mundo. Sim, a Terra está ciente e se prepara para uma defesa, caso necessário.
São muitas as informações que ainda não temos sobre a nossa história aqui, muitas coisas que os nossos não nos informaram e descobri por acaso. Tínhamos a informação de que há cem anos os Orvril já tentavam entrar na Terra em busca da cura, porém descobri rastros nossos há muito mais tempo que isso. Inclusive no Brasil, local que eles negaram interesse. Tudo ficou mais estranho quando durante minhas pesquisas, os humanos acabavam por informar que haviam mais alguém interessado nas mesmas informações. E do resgate de algumas provas. Percebemos que alguém estaria apagando todos os rastros. Ou seja, esse alguém estaria mais adiantado que eu.
Sofia também era uma incógnita, pois simplesmente ela começou a aparecer para mim. E a medida que eu fazia pesquisas sobre ela, descobria que suas origens vinham justamente de cidades onde eu encontrei vestígios nossos e de outros, quem nem conhecemos, já que não configuravam nada de Orvril. Quando questionávamos aos nossos se por acaso eles tinham conhecimento de um passado de extraterrestres aqui, sempre nos negaram. A partir daí, descobrimos que havia algo realmente errado.
Essa história do Julian estava atrasando nossas pesquisas. Mas o que está me deixando ainda mais curioso é o fato do nosso planeta parecer nem se importar. Eles apenas falaram que continuássemos nossos trabalhos de enviar as amostras e de continuarmos a trabalhar nas pesquisas aqui e eles por lá. Impossível não desconfiar deles a partir de então.
Sofia
Kate discordava de estarmos separados. Ela achava que Gabriel poderia ser mais coração do que razão e disse ao Timmy que ele poderia intervir sobre o irmão, caso ele fizesse alguma besteira. Eu até fiquei lisongeada quando ela disse que eu seria a motivação do Timmy, que caso ele fosse fazer uma besteira eu seria a pessoa a não deixar que nada de errado acontecesse. Fiquei feliz em saber que ela pensa isso de mim, embora eu me considerasse uma pessoa sem juízo, principalmente depois de tudo o que já passei. Bastava lembrar o episódio com os lobos. Ela também confessou que previa alguma emboscada, mas não sabia de onde viria, mas sentia que alguma coisa iria acontecer. Isso me fez estremecer.
Eu tinha uma ideia que Julian talvez pensasse que o pai dele fosse o Timmy. E que por vingança ele quisesse me atingir, por achar que o pai havia trocado ele e a mãe dele por mim. Esse era o maior motivo de eu querer me afastar de todos. Eu sabia que perto de tantos, Julian não se aproximaria novamente, imaginei que ele iria apenas vomitar seu rancor, mas não pensei que fosse tentar me matar ou algo parecido. Obviamente eu não sabia que eu estava absolutamente equivocada e que talvez estivesse facilitando ainda mais que Julian fizesse algo muito ruim.
Decidimos dormir para no dia seguinte começar as nossas buscas, embora tudo fosse um tiro no escuro, já que estaríamos na verdade fazendo mais turismo do que encontrando alguma coisa que ligasse Julian aquela cidade enorme. O fato da família dele ter nos dado todas as informações de lugares onde ele morou e estudou nos EUA, não significava muita coisa. Ele aparecia onde e quando quisesse. Por enquanto, mais precisamente onde eu estivesse. Claro que fomos na faculdade que ele estudou, obtivemos informações, repassamos principalmente ao Gabriel. Inclusive ele apareceu em Nova Iorque, justamente para esse momento. Era especial para ele ver os passos do jovem na universidade.
Ficamos espantados, pois pelo menos nessa fase da vida ele aparentemente não aprontou, não manteve os holofotes voltados para ele. A passagem dele foi resumida a: aluno brilhante, notas altas, de bom relacionamento com os professores, discreto, poucas amizades, atleta. E só. A Columbia Univertisty, de acordo com Timmy, é uma das melhores do mundo. É elitista, faz parte da Ivy league, ou seja, tem uma admissão seletiva, portanto, não sabemos como ele conseguiu entrar, afinal, seu histórico de adolescente não era dos melhores, mesmo sendo inteligente e tendo notas altas.
Os Condros, sempre foram elite na região deles. O ensino do Julian foi em grande parte domiciliar, até mesmo pela condição do desenvolvimento dele. Com certeza eles também tinham aliados humanos. Entrar nessa universidade foi um mistério. Não entendemos a razão de ele escolher EUA quando poderia muito bem permanecer na Europa. Nem eles entendiam as escolhas do garoto. Quer dizer, eles não entendiam, mas Timmy e Gabriel, apesar de espantados, desconfiaram: Os dois também estudaram na mesma universidade. A relação era óbvia, mas a razão, ainda era um mistério.
Conseguimos fotos e nomes de amigos. O próximo passo seria investiga-los. Gabriel teve medo que eles mantivessem contato com o Julian e ele pudesse descobrir que estávamos investigando-o. Alertei que era indiferente. Afinal, ele sempre pareceu saber mais sobre nós do que o contrário, que ele já estava ciente que sabíamos dele. Seria mais do que natural tentarmos descobrir mais sobre ele. Talvez ele até estivesse rindo de nós, por sermos tão sem preparo, de estarmos engatinhando com tudo isso.
Gabriel saiu de NY. Voltamos ao hotel. Antes de dormir, nós nos amamos novamente. Agora sim, parecíamos dois coelhinhos! Só que dessa vez, não sei se por preocupação, não consegui dormir em seguida. Estávamos bastante cansados, mas mesmo com todo o cansaço e até mesmo com sono, eu não conseguia dormir de jeito nenhum! Estava pensando sobre essas viagens que eles fazem com tanta facilidade. Gabriel veio apenas para uma visita, não passou nem cinco horas em NY. Em um minuto estava aqui e no outro, Rússia. Fiquei pensando que eu precisava aprender a fazer isso também, sem precisar estar com o Timmy todas as vezes. Se é que isso fosse possível.
Comecei a pensar no sexto membro da família dos Condros. Alguma coisa estava errada com a história dele e com o fato de ele nunca ter aparecido para mim. Na verdade, eu não consegui ver direito os irmãos da Milla, apenas os pais. Não que eu fosse importante nesse contexto, mas diante do caso e da exposição da família do Jullian, por que ele não apareceu também? Onde ele estava? O que será que poderia existir por trás desse mistério? E por que ninguém se preocupava com ele ou falava dele?
Eles disseram que este tal Gregory poderia estar a procura do Jullian, mas algo me dizia que nada disso era verdade. Ao meu ver, ele era o responsável pelo desvirtuamento do adolescente. E se isso não fosse verdade, Jullian era no mínimo cúmplice do estranho e misterioso homem. Senti até um arrepio.
Consegui descansar muito pouco e ao contrário de mim, Timmy estava bem disposto. Eu não quis preocupa-lo, então preferi curtir o dia com ele sem reclamar de nada. Passeamos muito. Fomos para a Estátua da Liberdade que é bem alta, com pouco mais de 46 metros! Achei tão bonita quanto o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Só que a nossa estátua, apesar de ter 38 metros, fica a mais de 700 metros ao nível do mar! Em cima de um morro, em uma localização que grande parte da cidade consegue ver.
Na minha cidade natal, temos uma réplica da Estátua da Liberdade. Mas está tão mal cuidada. Nem todos os cidadãos sabem que ela é uma réplica. Acredito que devam existir umas três: a nossa, uma em Luxemburgo e em outra extremidade da Île des Cygnes.
Para ir para a Estátua da Liberdade, que fica em uma ilha, é preciso ir de barco. Para as pessoas normais, né? Poderíamos fazer diferente, mas Timmy preferiu não arriscar. Como ir de Ferry Boat era lento, ele alugou uma espécie de lancha táxi. Fomos mais rapidamente e até mais confortável. Não tive interesse em conhecer muito a ilha, preferindo ficar mais próxima a estátua. Tive medo de sair de perto dos turistas. Quanto mais pessoas perto de mim, melhor. Nesse dia eu tive um ataque de medo. Talvez seja resultado da noite mal dormida e extremamente pensativa. Por alguma razão, eu não queria encontrar o Jullian. Eu me ofereci como isca, mas acabei ficando com receio. A conversa com a Kate me deixou preocupada.
Nós continuamos o dia vendo mais alguns locais interessantes. Timmy ficou impressionado com minha rapidez em fazer visitas aos lugares mais turísticos. Eu sou bastante objetiva, pouco curiosa. Normalmente tiro uma ou duas fotos e já está bom para mim. Exceto alguns museus que me chamam atenção. Esses eu gosto de olhar tudo. Timmy brincou dizendo então que se eu fosse para o Louvre iria demorar pelo menos um mês, indo todos os dias, para então apreciar tudo o que eles expõem por lá. Duvido muito que eu fosse tão intensa a esse ponto. Mas sim, era uma possibilidade.
Eu falei que achava interessante igrejas, apesar de não ser assídua. Nunca fui de assistir missas e nem ser uma católica fervorosa. A arquitetura me impressionava pela oponência. Ele me levou para uma igreja que ele particularmente achava bonita. Na verdade era a St. Patricks Cathtedral. Era uma catedral interessante, pois ela se destacava naquele lugar, já que entre a catedral, estilo neo gótico romano, haviam prédios modernos. Dessa forma, ela se tornava na concepção dele, um local muito mais interessante.
Então ele me falou:
- Estamos no centro de Manhattan e aqui em frente é o Rockefeller Center.
- Eu já ouvi falar!
- É muito famoso. Na verdade é um complexo de dezenove prédios. Eles tem um pista de gelo e deixam essa árvore linda no natal. Lá de cima você tem uma vista muito bonita da cidade. Mas eu gosto de vir no verão. Consigo ver mais verde. Eu gosto dessa cor muito mais do que do branco e do cinza.
Essa era uma característica que eu percebi no Timmy. Deve ser por ser oposição ao planeta dele que é muito cinza, prata e branco. As plantas lá parecem de borracha. Ele até comentou que algumas lembram muito as nossas plantas-pedras.
- Se você quiser visitar a Catedral e depois irmos no Rockefeller, não tem problema.
- Ah, vou ficar bastante contente com isso. Não precisamos ir para lugar nenhum hoje. Estes lugares estão suficientes para um dia. Depois poderemos voltar ao hotel?
- Claro. Vai ser bom também. Preciso trabalhar um pouco.
Fiquei um pouco decepcionada com a programação. Na verdade eu estava pensando algo mais caliente para fazer. Quem sabe esse trabalho dele não durasse uma noite inteira? Será que eu teria algum poder de sedução? Eu estava decidida a agir com essa possibilidade!
Ao entrar naquela catedral cheguei a ficar arrepiada. Era simplemente fantástica. Engraçado que eu sempre olho para igrejas por fora e não consigo mensurar as dimensões corretamente, pois são tão grandes por dentro que parecem de mentira. Era divino. Eu tenho uma queda por igrejas, não tanto pelo o que elas representam, mais pelo empenho do homem com a ideia delas como símbolo ou casa de cristãos.
Essa igreja tem uma iluminação que deixa as paredes douradas, porém é da cor creme na realidade. E possui uma vidraçaria linda, colorida, porém com destaque a cor azul. O chão era tão brilhoso, claro, parecia um espelho. Em alguns pontos no chão haviam gravuras. Timmy gostava de me ver fascinada. Então ele fez questão de me acompanhar e conhecer junto comigo aquele lugar tão belo.
- Você sabe que pelo mundo afora, inclusive no seu país, temos outras igrejas tão belas quanto essa, né? – Perguntou levantando a sobrancelha, como se estivesse desconfiado do meus deslumbramento.
- Claro que sei bobinho. Mas eu me surpreendo com todas elas igualmente. Não sei explicar. Pra mim todas são iguais, mas todas também são diferentes. Parece maluquice, mas eu me sinto assim com igrejas.
Ele deu uma risada e depois concordou comigo. Mas o que falou em seguida me surpreendeu.
- Acho que vai ser difícil então escolher a igreja para o nosso casamento...
Fiquei sem palavras, abri a boca e fechei umas duas vezes procurando a resposta certa. Ele nem era tão humano assim para uma tradição como essas. Nunca pensei que eu poderia viver uma possibilidade de casar em igreja. E aquilo era um pedido mesmo de casamento? Então ele resolveu me ajudar.
- Fique tranquila, teremos tempo de escolher – E saiu dando uma piscadinha.
Descobrimos então o local em que as pessoas acendem velas. Enorme e tão organizado. Tudo tão amplo, limpo e com uma iluminação impecável. O púlpito era um dos mais belos que vi. Nessa catedral a pessoa consegue dar uma volta ao redor do lugar. E é atrás dele que pudemos acender uma vela. Embora existisse também na entrada da catedral, preferimos em um lugar mais reservado. Orei pelos meus familiares. Timmy apenas observou. Mas me ajudou com a vela. Sempre gentil. Ele nunca havia estado dentro da catedral, apenas conhecia porque as vezes ia ao Rockenfeller Center.
E por falar nele, já estava na hora da nossa última visita. O famoso centro e ponto turístico de Nova Iorque: The Rockenfeller Center. Eu ainda estava tentando lembrar onde foi que ouvi tanto esse nome. Foi então que Tim fez uma pergunta:
- Você costumava assistir aquele show chamado "Saturday Night live" ou o seriado "30 Rock"?
Eu dei uma risada. Então ele continuou:
- Acho que agora você lembrou!
- Sim!!!! Nossa, gravam aqui?
- Sim. Aqui também tem a famosa NBC.
- Interessante.
- Eu acho legal esse lugar. Eles enfeitam para o natal, como falei, tem uma pista de patinação. É diversão garantida. Um show de imagens bonitas. E se você topar ir lá no topo do Rock, vai ficar ainda mais maravilhada. Por incrível que pareça é um dos meus lugares favoritos aqui em NY depois do Parque Central. Mas como falei, quero voltar com você para que veja em outra época do ano.
- Eu fico feliz em poder visitar seus locais preferidos no nosso mundo.
Depois que falei isso, Tim me abraçou e me deu um beijo apaixonado. Realmente era o nosso mundo. Nosso único mundo.
De fato era tudo muito bonito. Fiquei maravilhada. A vista era sensacional. Eu estava radiante e sem palavras para descrever meu contentamento. Eu jamais iria acreditar que há alguns meses estaria vivendo tantas coisas boas como estava vivendo. Fazia um tempo que eu não sentia aquela sensação tola de perda, quando a gente está feliz demais com uma nova aquisição, sabe?
Lembrei da minha infância, quando pela primeira vez ganhei uma bicicleta. Toda vez que eu andava com ela na rua e, precisava comprar alguma coisa em uma lojinha e tinha que enconstá-la do lado de fora, tinha medo de alguém montá-la e me roubar. Eu não sei porque pensei nisso, mas foi o primeiro pensamento que veio à minha cabeça quando me vi ali, no topo do edifício, pensando na minha infância. Mas lembrei também que nunca perdi aquela bicicleta. Ela ficou comigo até bem velhinha.
Comecei então a avaliar as reações das pessoas nas ruas quando falavam coisas triviais ou até mesmo importantes enquanto elas andavam em direção aos seus destinos. Todas pareciam estar tão ocupadas umas com as outras ou usando seus aparelhos celulares. Por vezes parecia que nossas preocupações eram pequenas diante de algumas outras. Mas tem também os momentos em que achamos que somos os únicos no mundo com algum problema, justamente quando consideramos que nunca foi tão grande.
***
Foi uma boa ideia pegar um táxi e descer há algumas quadras do nosso hotel. Gostei de andar pela cidade, observar a vida dos outros. Por alguma razão havia um congestionamento, resolvemos não demorar e apressamos o passo. Assim que entramos na quadra no nosso hotel, percebemos um certo aglomerado de pessoas em uma ruela por trás do nosso hotel. Alguns curiosos, algumas luzes acesas piscando.
Um pouco mais perto descobrimos que as luzes eram de dois carros da polícia. Alguns curiosos já deixavam o local. Até que eu pedi licença a uma dessas pessoas. Timmy logo achou estranha a minha atitude curiosa.
- Com licença! Olá, boa noite, me desculpe o incômodo, mas estamos hospedados aqui perto e estamos curiosos com tudo isso...
- Ah, parece que houve a morte de um funcionário de um desses hotéis. Não se sabe ao certo, parece que foi encontrado morto no porão do prédio. Mas já foi resolvido! O corpo já foi retirado, dizem que ele ficou tempo demais dentro de uma câmera frigorífica. Existem rumores que ele possivelmente haveria passado mal e os colegas de trabalho esqueceram que ele havia ido por lá e acabou que ele passou tempo demais preso. Os policiais estão apenas fazendo as perguntas de praxe e liberando as pessoas aos poucos.
- Nossa, que terrível! – Respondi horrorizada. Mas ao mesmo tempo, com uma dúvida. Por que tanto holofote por causa de um acidente? Policiais? Muitas pessoas observando?
Ao chegarmos no hotel em que estávamos hospedados, percebemos uma certa tensão. Mas ao mesmo tempo as pessoas estavam tentando disfarçar ao máximo alguma coisa. Todos os funcionários estavam ainda mais amigáveis e absurdamente prestativos. E pareciam querer resolver qualquer solicitação nossa com a maior presteza possível a fim de irmos fazer o que queríamos sem sermos incomodados ou até mesmo evitando contato com outros hóspedes. Haviam inclusive mais funcionários em serviço do que o normal, visto que já era noite e naturalmente é reduzido o quadro de funcionários. Era como se tivessem para cada hóspede um funcionário, os encaminhando aos seus destinos, evitando assim que os hóspedes ficassem próximos.
Timmy então olhou para mim e percebendo minha impaciência com a "tranquilidade" que todos tentavam passar e fez um comentário.
- A rua interditada é exatamente atrás do nosso hotel. Lá ficam os fundos de pelo menos quatro hotéis.
Foi então que tive um estalo.
- Acha possível que isso tenha acontecido no nosso hotel?
- Não acha estranho esse comportamento todo? Os humanos gostam de conversar. Se tivesse sido em outro hotel não haveriam tantos cochichos e tanta presteza nos serviços.
- É verdade. Os humanos são fofoqueiros! Se tivesse sido em outro hotel todos estariam comentando e quem sabe até com um ar de superioridade por não ter acontecido aqui. E tendo acontecido aqui eles vão mesmo querer o silêncio!
Ficamos calados por um tempo. Com certeza ambos pensando a mesma coisa: teria sido mesmo um acontecimento natural ou provocado? E se foi provodado, teria envolvimento do sobrinho do Tim? Não consegui evitar o pensamento. Senti calafrios. Como havíamos jantado em um restaurante fora do hotel e eu acabei ficando de fato cansada porque preferi andar mais do que utilizar qualquer tipo de transporte, ficar no hotel foi bom.
Timmy sugeriu um banho na piscina aquecida e tomar uma champanhe. Mas tive medo. Eu não quis facilitar para alguma ação indesejada. Imaginei que ficar no quarto seria mais seguro. E como estaria coladinha ao Tim, talvez assim não houvesse nenhum atentado contra nós. Eu realmente estava com medo dos planos que eu mesma sugeri. Não queria transparecer, mas acho que ele começou a perceber, pois eu enrijecia meus músculos sempre que acontecia algo que remetesse o assunto.
Como eu disse, jantamos antes de chegar no hotel, resolvemos caminhar até ele. Depois de tomarmos nosso banho, Timmy foi trabalhar, como de costume. Assisti um pouco da Tv local, mas me irritei com as propagandas. Tentei lembrar de algum seriado, lembrei que já gostei de Greys Anatomy. Mas percebi que tava tudo muito mudado, que eu havia perdido toda a história, então corri para Friends. Era mais seguro assistir o que eu já tinha visto mil vezes. Afinal, aprendi inglês assistindo esse seriado.
Usei um pouco o celular que Timmy havia me dado de presente, aproveitei para me comunicar um pouco com minha família e amigos através de redes sociais. Era preciso sempre deixa-los a par de mentiras. Infelizmente, ainda não era possível estabelecer uma moradia e nem mesmo estávamos seguros para trazê-los para perto.
Eu estava distraída, quando dei por mim, Timmy ainda sendado na cadeira que ficava diante de uma mesa de escritório, estava totalmente voltado para mim. Ele virou todo o corpo, sentado bem largado, porém me olhando. Eu dei uma risada, porque eu estava com os cabelos amarrados tipo rabo de cavalo, só que todo bagunçado, de barriga pra baixo, pés pra cima, apoiada nos cotovelos, comendo chocolate e tentando assistir Friends, imitando Janice em sua famosa frase "Oh my God" com a voz anasalada.
Ai eu percebi que ele estava era segurando o riso o tempo todo, só aguardando que eu percebesse a cena. Ele não resistiu e correu pra perto, já foi sentando e depois deitando sobre mim e fui me virando para aceitar aquele abraço tão perfeito, que pareceia ter sido esculpido só pra mim! E depois de um beijo bem gostoso ele falou:
- Então... eu prefiro o Suíço!
- É o que tem para hoje! Os chocolates do hotel são ótimos. Servem.
- Claro que servem!!! Mas só se eu sentir através da sua boca como senti agora. Se bem que... eu acho que eu preciso de mais amostras, essa foi pouca, chega mais que quero mais beijos gostosos como esse!!
É claro que vocês já imaginam como tudo acabou né? O chocolate mesmo, ficou em um cantinho da cama, quase caindo, pois o resto daquela cama gigante a gente usou para outra coisa e não foi só para beijo na boca não. Teve direito a beijo em outros lugares interessantes. Tanto meus quanto os dele! Tudo o que a gente faz juntos é tão perfeito, tão gostoso, que nem dá para acreditar que é real. Ele me faz muito bem.
Exaustos, não foi difícil apagarmos, um agarrado ao outro.
Acordei. Tive um pequeno mal estar. Na verdade parecia uma angústia. Saí dos braços do Timmy com sucesso. Ele não acordou. Fiquei surpresa, inclusive. Ele fica sempre tão atento quando acordo. Desde a Rússia que Timmy gosta de dormir bem colado em mim, pois ele sente quando saio de perto e rapidamente acorda. Ele disse que preferia assim. Talvez ele estivesse dessa vez muito cansado. Fui ao banheiro e depois peguei uma maçã e uma garrafa de água. Vesti meu robe de cetim, lindíssimo, lembrando de mim há alguns meses quando eu pensava exatamente se algum dia iria vestir coisas tão bonitas como a que estava vestindo naquela hora. E o mais engraçado é que além de estar acontecendo, me senti de fato linda.
Acho que estava mudando. E vendo que talvez eu tivesse uma visão distorcida de mim mesma. Meus cabelos estavam mais longos, volumosos e até mais claros. Eu até me sentia mais magra. E Timmy também estava mudando. Estava deixando barba por fazer. Sua pele estava mais morena, talvez um pouco mais corado. E até seus cabelos pareciam escurecer levemente. Ele parecia um camaleão. E eu me perguntava se eu também estivesse mudando um pouco. Estávamos nos ajustando, um ao outro. Nos tornando cada vez mais iguais. Era como se eu estivesse ficando mais parecida com ele e ele mais parecido comigo. O que era absolutamente estranho.
Comecei a comer a maçã absorta em pensamentos, mas uma coisa era certa, eu estava com um pouco de fome. Dei uma olhada para baixo, consegui ver o movimento da cidade. Realmente NY não descansa. Bastante movimentada. Vibrante. Mas não me reconheria em lugar nenhum, porque eu poderia fazer parte de qualquer lugar, desde que estivesse com ele ao meu lado, qualquer lugar do mundo seria bom. Eu estava distraída, quando comecei a sentir um cheiro diferente. Parecia um perfume. E não era o cheiro do Timmy. Olhei para os lados, pois poderia ser outro hóspede em outra varanda, mas não vi ninguém. Fiquei arrepiada. Decidi terminar a maçã no quarto.
Quando eu me virei, um susto. Jullian estava muito próximo, estava exatamente atrás de mim.
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Eita lasqueira.... o que será que vai acontecer agora?
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