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51 | Inseguranças

Cadu

02/04/2018

Segunda-Feira, 09:48

Pela primeira vez em muitos dias, Henri teve uma péssima noite de sono. Acordou diversas vezes com pesadelos, ou acordava chorando em desespero ou acordava paralisado de medo, mas enquanto o observava tomar o café da manhã, ele não parecia se lembrar de nada disso.

Talvez tenha tido pesadelos por ter tocado naquela coisa que me possuiu.

Se ele não tivesse aparecido, teria que ver como aquela coisa me provocava. Depois que me possuiu, não consegui tirar ele do meu corpo. Ele ficou se pendurando da sacada, ligando o gás, fingindo que se cortaria antes de resolver sair por aí.

Quando Henri o tocou, aquela coisa gritou e saiu do meu corpo, só assim consegui destruir ele.

Meu corpo ainda dói, parece que voltei pro dia do evento, onde fui possuído. Sinto uma queimação horrível no peito que vai se espalhando em ondas dolorosas por todo o corpo, até as pontas dos dedos. Mas é uma dor que já senti antes, então posso fingir que ela não existe.

Henri resolveu sair bem cedo, mesmo depois de tudo o que rolou ontem, ele agendou a consulta pra fazer o teste e recusou que eu o levasse depois que mencionei o lance de estar como um beta, segundo ele, não quer correr o risco de eu entrar no cio no meio da rua, então devo evitar ao máximo sair. Ontem perdi um pouco o controle e me deixei levar, felizmente não podia liberar qualquer feromônio ou poderia ter ferido ele de alguma forma.

Quando deu a hora do almoço e nada do Henri voltar, decidi deixar o almoço pré-cozido e terminar quando ele chegasse enquanto me ocupava fazendo os gorros de crochê pro Nicolas e pro Danilo, os bisnetos da dona Carmen. Não quero contato com o neto dela, mas ela me disse que os meninos estão muito sentidos com a minha falta e ficam me caçando cada vez que vão lá, então decidi fazer isso pra ver se eles param de perturbar os dois velhinhos.

Puf queria ver tevê e só deixei pois ele prometeu não ficar na frente da tela, então ele se empoleirou no topo da minha cabeça pra assistir uma série que o Henri também gosta, uma medieval com... sei lá, um bacanal e gente morrendo toda hora.

Me sentei no chão, esticando as pernas por baixo da mesa de centro, sentindo as juntas doendo e quando terminava o segundo gorro, ouvi a porta da sala se abrir.

Ergui o olhar, vendo Henri se arrastando da entrada na minha direção, a alça da mochila em uma mão enquanto a arrastava pelo chão, sem os tênis e meio sem fôlego, os ombros caídos em desânimo e ao invés de começar a tagarelar, veio se aninhando nos meus braços até sentar no meu colo e afundar o rosto no meu ombro e franzi um pouco o cenho, por alguma razão aquela queimação esquisita diminuindo um pouco enquanto o aninhava no meu colo.

— O que foi? — questionei, o abraçando de volta e me ajeitando no chão pra tentar deixar ele mais confortável. — O que aconteceu? — sussurrei, acariciando suas costas com uma mão enquanto penteava seu cabelo com os dedos e franzi o cenho ao erguer uma pena colorida ali do meio.

— Hoje foi horrível. — murmurou com a voz abafada, respirando fundo e soltando o ar lentamente.

— Deveria ter me mandado alguma mensagem, eu iria te buscar e...

— Não é isso! É perigoso você ficar saindo! Se acontecer alguma coisa... — começou, mas desistiu do que falava, relaxando outra vez. — Esquece! — murmurou, afundando o rosto na minha camisa. — Acredita que um tucano bateu em mim assim que pisei fora do prédio? Me seguiu o caminho todo até a clínica, gritando e tentando me bicar! Fiquei preso lá na clínica por três horas já que a minha médica sumiu, o equipamento dos exames dava defeito e... e-e disseram que teria de esperar outra semana pois aquele inferno de máquina não funcionava! — até gaguejou, talvez pelo nervosismo de viver um dia na minha vida. O apertei um pouco quando ele tomou fôlego pra continuar reclamando. — Eu saí sem exame nenhum, só pra ver um enxame de abelhas usando meu carro de descanso, nem é época de migração dessas safadas! E adivinha? — recuou, me olhando cheio de indignação e até abri a boca pra responder, mas ele prosseguiu: — Eu chamei um uber, mas todos ficaram cancelando! Fiquei quase uma hora tentando chamar um carro, só pra ele bater em outro carro e tive de ficar vendo os dois brigando no meio do trânsito que se formava atrás de nós! — e se aconchegou de novo, dessa vez apoiando o rosto no meu peito.

— Devia ter me avisado, eu iria te buscar. — murmurei, esfregando o nariz em seu cabelo e sentindo só o cheiro do shampoo, sentindo uma falta enorme daquele cheirinho cítrico gostoso dele.

— ... Eu... fui assaltado quando resolvi voltar o restante do caminho à pé. — sussurrou enquanto parecia que ia começar a chorar. — Foi a primeira vez que vi uma arma de verdade na minha direção, ele até levou meus tênis... — choramingou com a voz embargada e o apertei, tentando confortá-lo. — Foram os piores cinco quarteirões da minha vida... um cachorro gigante me perseguiu e... — sua respiração ficou pesada e me olhou com os olhos cheios de lágrimas. — Ele era enorme, ficou latindo e...

— Deveria ter voltado assim que o tucano bateu em você, já era um sinal que iria tudo de mal a pior! — ralhei e ele me olhou cheio de mágoa.

— Como eu ia adivinhar que tudo iria de mal a pior?! Eu não sou você que vive numa maré de azar e é pessimista por natureza! — e começou mesmo a chorar, o que me fez arrepender pelo que disse.

Segurei seu rosto, me desculpando enquanto dava beijinhos em sua face, suas lágrimas estranhamente doces enquanto tentava acalmar ele, o abraçando até que por fim foi parando de chorar.

Como ainda estava triste, o carreguei até a cozinha, o deixando na bancada enquanto terminava o almoço e vi ele finalmente voltando a vida enquanto comia, se tornando cada vez mais tagarela sobre alguma coisa engraçada que viu na internet ou qualquer coisa assim antes de ser roubado. Ele não queria ir na delegacia, pois segundo ele, foi só um celular e ele podia comprar outro.

Também lembrei de comentar sobre a carta da minha mãe e diferente do que pensei, ele não se debulhou em lágrimas lendo a carta e só ficou encarando a carta por um tempo com uma expressão estranha, antes de perguntar se podia ficar com a foto que veio junto.

É a foto de um bebê usando uma fantasia de marinheiro, as bochechas rosadas, os olhos cinzas e o cabelo curto bem cacheado. Acenei e vi ele dar um leve sorrisinho com os lábios sujos de açúcar e doce de leite batido do sonho que eu fiz pra sobremesa. Sua língua deslizando pelo lábio inferior tentando limpar antes de lamber os dedos, um por um e sinto que perdi o controle daquela coisa outra vez. Desde que "entrei na puberdade tardia" e perdi o controle do meu pau, ele sobe ignorando qualquer tentativa do meu cérebro de fazer meu corpo se comportar

Respirei fundo, desviando o olhar de seus lábios enquanto me ajeitava na cadeira, tentando focar na dor que sentia pra não ficar duro outra vez. É incrível, cada dia que passa, eu me pareço cada vez mais com um adolescente no auge da puberdade. Ele desce, ele sobe, ele desce de novo, parece que criou vida própria.

E Henri nem precisa fazer algo em específico, só existindo já é suficiente pra me deixar nessa situação humilhante de enfrentar a puberdade tardia. Não passei por isso na adolescência, o que é ainda mais humilhante.

Pra não fazer besteira e correr o risco de entrar no cio com um ômega que nem posso ter compatibilidade, é melhor manter minhas mãos longe dele e não cometer o mesmo deslize de ontem á noite.

Henri

06/04/2018

Sexta-Feira, 22:38

Eu devo ter ofendido alguma entidade em outra vida mesmo (quem sabe até nessa), por que não é possível estar tão na merda assim.

Nos últimos dias, pesquisei um pouco e descobri que quando um alfa e ômega tem alta compatibilidade, sentem de imediato mesmo através de uma única troca de olhares. É algo tão intenso que podem até entrar no cio de repente, uma primeira troca de olhar ou até contato físico.

Nunca senti isso, ou sequer me lembro de ter sido afetado por ele. E o caso dele é igual, nem parecia afetado por mim em nenhum momento. Só depois que parou de tomar tantos supressores que começou a mudar de pouquinho a pouquinho, mas não parece minimamente afetado por mim mesmo quando empesteio o apartamento dele com meus feromônios.

Cadu agora deu pra escorregar igual enguia de contato físico, nem abraço permite mais. Age como se eu fosse radioativo. Desde terça, não dorme comigo. Me faz apagar e vai dormir em outro quarto, só descobri por quê acordei de madrugada com um pesadelo e o encontrei dormindo em outro quarto.

Só soquei ele e fugi antes dele achar os óculos, deve ter pensado que foi algum pesadelo já que nem mencionou isso de manhã. Hoje de madrugada encontrei ele sonâmbulo, mas não fiz questão de impedir ele de capotar por aí.

Até tomei chocolate quente vendo ele rolar as escadas, capotar no sofá, derrubar um vaso de planta, derrubar a tevê da sala usando o aspirador de pó nela, só não saiu do apartamento porque a porta estava trancada e ainda dormiu no chão da cozinha.

E tem também aquele merda do neto da Dona Carmen! Ela me contou depois daquele almoço o que aconteceu, o que aquele ômega safado disse e fez e ainda pediu pra repassar o pedido de desculpas dela pro Cadu, que não quer nem tocar no assunto com ela.

Cadu nunca mencionou isso, se eu soubesse que aquele ômega safado ofendeu ele e ainda bateu nele antes, eu teria ido lá há muito tempo acertar as contas!

Observei com desânimo o Fael e a Manu cantando juntos outra música para cornos em cima do palco do karaokê do bar que escolheram dessa vez.

Prefiro ficar em casa mesmo, não sei quando esse humor de velho me dominou, mas não vejo mais tanta graça ficar nesse tipo de lugar quando eu posso ficar em casa vendo tevê enrolado num cobertor e bebendo chocolate quente cremoso que o Cadu faz pra mim enquanto massageia meus pés, mas estou com raiva do Cadu que nem me deixa abraçar ele mais, então não teria minha massagem.

Mais cedo, Fael estava chorando porque todas as fotos dele no Instagram do Victor foram apagadas e pra ele, isso é um absurdo e só por isso Manu e eu só estamos aqui pra ajudar ele a se esquecer daquilo e se animar um pouco.

Até queria dizer "eu avisei" pra ele, mas antes eu até disse que não ia consolar ninguém e agora olha onde eu estou?

Apoiei o cotovelo na mesa e a face na palma, olhando pro palco, os dois lá em cima pulando, dançando e cantando Meteoro da Paixão me fez querer voltar pra casa mesmo.

A outra música já terminava quando uma garçonete veio trazendo uma bebida que não pedi e quando recusei, ela apontou na direção de outra mesa, um cara ali sorriu erguendo o copo dele e fiz careta, negando do mesmo jeito. Ele acha que eu sou pobre e não posso pagar nem minha caipirinha?

A mulher levou a bebida de volta e não quis saber o que ela diria pro cara ao beber de uma vez todo o conteúdo do meu copo, erguendo o olhar de volta pro palco. Manu e Fael provavelmente vão cantar outra música, estão tão bêbados que as palavras até embolam vez ou outra.

Resolvi tirar o celular e gravar essa vergonha pra infernizar eles depois quando uma figura de repente se sentou na minha frente, era o cara que me achou com cara de pobre.

Ele se esparramou pela cadeira, um sorriso de lado nos lábios enquanto bebericava da própria bebida em silêncio e revirei os olhos ao sentir um cheiro esquisito dele. Um alfa, o que mais seria?

— Está a noite toda aqui sozinha, pensei que quisesse alguma companhia. — Ah, mas não é possível que é outro desses alfas que tratam homens ômegas como se fossem mulheres...

— Eu não quero. — fui direto e ele ficou em silêncio, me encarando por um instante antes de sorrir mais. — Falei grego por acaso?

— Não, apenas... achei engraçado, um ômega como você acreditar que tem alguma escolha.

— Um ômega como eu? — arqueei as sobrancelhas, um riso incrédulo escapando enquanto ele acenava, sorrindo mais.

— É, claro... a menos que essa gargantilha seja alguma moda esquisita... é difícil encontrar um ômega como você. — senti meu estômago embrulhar em repulsa diante de seu olhar. — E estou interessado em você. Eu posso te fazer sentir bem, sou muito bom nisso... mesmo que não seja meu tipo e tenha esse rosto feio, seu corpo ainda é... — seus olhos desceram pelo meu corpo e senti um arrepio de nojo enquanto recuava na cadeira, suas palavras se tornaram um zumbido ao fundo das vozes desafinadas cantando alguma música do Michel Teló.

Senti um nó no estômago ao lembrar disso, seu olhar arrogante, a expressão cheia de uma benevolência irritante, dizendo que eu deveria estar agradecido por alguém como ele olhar pra mim, que eu deveria ser grato por ele querer me foder apenas aumentou o enjoo que sentia.

Por alguns meses, convivi com um alfa tecnicamente normal ao ponto de quase esquecer como alfas realmente são: cheios de si, prepotentes e asquerosos.

— E então? O que me diz? — vi como ele deslizava a língua pelo lábio inferior, seus olhos num tom púrpura, ainda mais prepotente ao erguer as sobrancelhas num ar sugestivo, como se seu discurso sobre o quão feio e sortudo eu sou por ele olhar pra um ômega com cara de homem e ainda assim ele querer me comer tivesse me comovido de alguma forma.

Podia sentir a raiva fervendo no sangue, meu rosto queimando talvez pela vergonha e humilhação por ter de ouvir todas essas asneiras, mas ele pareceu considerar um bom sinal, se inclinando sobre a mesa pra falar algo e reagi por impulso, arremessando o copo em seu rosto.

Ele recuou chocado, mas não dei tempo dele reagir, me levantando e erguendo a cadeira pra acertar nele.

*  *  *   ヽ(=^・ω・^=)丿   *  *  *

07/04/2018

Sábado, 03:28

Foi só uma briga estúpida, por quê diabos estou preso outra vez?!

Deveria ter acertado ele mais vezes com a cadeira antes da polícia chegar. Fael e Manu saltaram do palco só pra me ajudar a bater e ainda nem sabem por quê briguei, mas riam disso divertidos.

Sentia um bolo na garganta que se recusava a ceder, meus olhos ardiam e queria muito chorar. De raiva, de desgosto, de humilhação por acabar preso de novo por causa de um maldito alfa. Mas não queria mostrar esse lado patético diante de ninguém.

Manu estava quase dormindo, apoiando a cabeça no ombro de uma dragqueen musculosa com cabelo rosa choque que não parava de falar um segundo sequer, parece que ela vem presa com frequência já que mencionou ter ficado presa durante o ano novo, foi contando fofoca da vizinhança dela, da boate em que trabalha e até queria saber como acabamos aqui, mas não estou com humor pra ficar batendo papo.

Fael é quem está aturando ela, reclamando do Victor e ouvindo conselhos que uma estranha pode dar.

— Sr. Fonseca? — a voz de um policial me fez erguer o olhar, ele chamando Manu e Fael também e me vi saltando do banco duro e desconfortável enquanto Fael e Manu se despediam da Hilary sei lá das quantas, que mandou um beijo pra nós quando finalmente nos libertaram dessa maldita cela.

No instante em que chegamos na sala de espera, vi o Cadu ali, segurando alguns casacos, seus olhos parando em mim por um instante e me analisando, antes dele distribuir os casacos.

Cadu não estava brincando quando disse que ninguém queria ver ele com sono, além de vir me buscar de pijama, não deu brecha alguma pra conversa depois que eu neguei ir em algum médico.

Manu e Fael nem ousaram fazer algazarra no carro, ele nem se ofereceu pra levar eles pra casa deles, simplesmente arrastou todo mundo pra casa dele e apontou os quartos de hóspedes, praticamente deixando um "se virem aí" para os dois pinguços ao me arrastar pro nosso quarto.

— Cadu eu... — gaguejei, sentindo a língua presa ao ser encarado por ele, incapaz de dizer qualquer coisa e sentindo vergonha por ter acordado ele só pra me tirar da cadeia mesmo depois de prometer que não me meteria em alguma confusão. — Eu...

— Senta ali. — me interrompeu e espremi os lábios, me sentando na cama.

Encarei fixamente minhas mãos que apertavam meus joelhos, os nós dos dedos vermelhos. Podia sentir a dor no meu rosto, nem sei exatamente onde estou ferido, meu estômago dói, as costelas também, meu peito e minha cabeça. Ainda sinto um gosto férreo na boca, devo ter cortado ela por dentro e pensar que me meti numa briga com um alfa só me fez sentir pior.

Que tipo de ômega sai no soco com um alfa por aí?

Não sou como um ômega. Não consigo agir como um, nem me pareço com um. Para os alfas sou feio, talvez seja o mesmo pro Cadu?

Engoli seco quando ele entrou no quarto outra vez, vindo na minha direção e parou diante de mim, me obriguei a erguer um pouco o olhar, mas ele se agachou na minha frente, me olhando com um olhar crítico.

Apesar de sonolento, não parecia irritado comigo e isso me fez relaxar um pouco. Ele começou a tratar dos meus machucados sem dizer nada, estava me sentindo péssimo, só queria deitar e dormir, quando terminou de tratar os do rosto, questionou se havia mais hematomas e hesitei um instante, antes de erguer a blusa.

Ele espremeu os lábios numa linha fina, antes de soltar o ar lentamente e tirar uma compressa adesiva, colocando onde estava roxo. A vontade de chorar voltou ao pensar que ômegas não deviam ter essas marcas, mamãe sempre diz que isso não é coisa de ômega. Aposto que metade da minha cara está inchada.

— Está doendo muito? — pisquei rápido, tentando afastar as lágrimas ao ouvir ele perguntar e neguei, gemendo de dor quando ele pressionou um pouco um dos adesivos. — Deveria tentar dormir um pouco já que não quer ir ao hospital.

— Não vai... perguntar o que eu fiz? — murmurei, me preparando pra qualquer bronca.

— Eu deveria? — ergui o olhar, vendo ele me olhando confuso. — Não importa, você está inteiro. Meio surrado, mas inteiro. E aquele otário deve estar pior que você.

— Não está com raiva?

— Pelo quê? — franziu o cenho, piscando devagar. — Eu estou com sono, Henri. Não com raiva. E é melhor te tirar da cadeia do que de um hospital, ou pior, do necrotério. Se te perturbarem, quebra a cara deles mesmo. — beliscou meu nariz suavemente e soltei o fôlego que nem sei quando prendi, piscando incrédulo. — Da próxima acerta bem onde fica as presas, derruba qualquer alfa com um golpe só, já te falei. — acenei, mesmo sem ter certeza disso. Será que funciona mesmo? — Aliás, quando abri sua bolsa pra pegar seus documentos... — senti meu sangue gelar ao lembrar da minha mochila.

É lá que eu escondi o teste. Ainda nem tive coragem de abrir ele, sinto que ainda não é hora de saber que não somos compatíveis. Quer dizer, olha só agora, o quarto está lotado dos meus feromônios e ele nem tem qualquer reação. Se fossemos compatíveis, ele não estaria calmo assim.

Quando pedi pra pegar meus documentos, eu me esqueci disso e pela cara dele, é isso que ele encontrou na mochila. Ele leu o teste?

— Quem deixou revirar minha mochila?! — exclamei, me levantando num pulo pra achar a bolsa, mas ele me puxou e me fez sentar outra vez. — Você não leu o teste de compatibilidade, né?! Isso é invasão de privacidade, seu...!

— Em primeiro lugar, não revirei nada. Peguei seus documentos e fui até a delegacia. Nunca revirei suas coisas e não vai mudar só porquê estamos saindo. — disse, sério. — E em segundo lugar, eu só ia perguntar por que diabos tem uma blusa podre na mochila, deve estar mofando lá dentro há semanas! E eu sempre te digo que se tiver roupa suja, me dá logo pra mim lavar e mesmo assim tem aquela blusa mofada lá, mais um pouco e saía andando sozinha pra máquina de lavar! — ralhou e pisquei atordoado. Era sobre a blusa? Espremi os lábios quando ele estreitou os olhos, agora sim desconfiado.

— Q-quê? Eu... esqueci. — gaguejei, piscando em choque. Era isso?

— E em terceiro lugar, que teste? — disse pausadamente, seus olhos se estreitando cheios de desconfiança e traguei ar com força, sentindo que poderia só me enterrar numa fossa profunda que nem faria diferença.

Eu mesmo me entreguei.

Merda.

*  *  *   ヽ(=^・ω・^=)丿   *  *  *

Sábado, 04:02

Enquanto ele segurava o envelope com o exame, meus olhos iam de sua mão que erguia o papel para seu rosto concentrado, que não dava indício algum do que pensava.

Sentia meu coração acelerar a cada segundo, minha respiração ficando mais rápida e superficial enquanto minhas mãos suavam frio e um nó se formava no estômago.

Abaixei a cabeça, fixando o olhar no chão, incapaz de erguer o olhar.

Meu primeiro instinto é o de fugir sempre, pra bem longe, me enfiar no primeiro avião que me mande pro destino mais aleatório e distante possível, assim poderia esquecer isso. Maldito teste, malditos demônios, maldito azar, malditos, todos malditos!

Mas não consigo considerar isso, pois cheguei ao ponto em que a ideia de deixar o Cadu pra trás é inaceitável. Ele é meu problema agora e quero fugir dos problemas, mas mesmo na fuga, quero levar meu problema na mala!

— Então escondeu isso todo esse tempo por achar que não somos compatíveis... — começou num tom mais baixo e engoli em seco, desviando o olhar enquanto um bolo se formava na minha garganta. — E aí ficou mentindo e inventando razão pra não ver esse resultado... — mordi o lábio inferior, acenando, esperando ver aquelas orbes cinzas ficarem vermelhas, mas ao invés de abrir o envelope e ler o resultado, ele o colocou na mesa de cabeceira, ainda me encarando com aqueles olhos cinzentos frios. Nem está usando lentes, mas não muda nada. — Pode explicar ao menos de onde tirou a neura de que não temos compatibilidade? — seu tom ainda era tranquilo e senti o suor acumulando na palma das mãos. — Quer conversar? — neguei na mesma hora.

Como não sei como explicar e nem tenho coragem de olhar pra ele, fiquei calado e o ouvi soltando um suspiro suave e, contra todas as suposições que fiz de como ele reagiria, vi ele erguer o cobertor e se deitar na cama, se ajeitando e até dando umas batidinhas no travesseiro depois de tirar os óculos.

— O que você está fazendo? — murmurei e ele me encarou.

— Indo dormir. — quê? Por quê? — É que você não quer conversar e eu estou com sono. Então é isso, boa noite. — e ainda fechou os olhos, se ajeitando pra dormir na posição de defunto que ele costuma dormir, as mãos unidas acima da barriga.

— Cadu... — sussurrei, me inclinando em sua direção e ele não respondeu. — Não está com raiva? Não vai brigar comigo? Você... — recuei quando ele abriu os olhos de repente, me encarando.

— Por acaso quer que eu brigue com você? Te faria sentir menos culpa por mentir? — engoli em seco, vendo-o suspirar, se levantando um pouco só pra erguer o cobertor, num claro convite.

Eu que não sou bobo de rejeitar, engatinhei em sua direção e me joguei ao seu lado, gemendo pela dor do hematoma na minha barriga e ele me puxou pra perto, aninhando meu corpo ao seu enquanto uma de suas mãos deslizando pelas minhas costas em círculos suaves e respirei fundo, sentindo o cheiro de sabonete e perfume corporal nele, nada de perfume forte ou qualquer coisa assim e relaxei aos poucos quando começou a mexer no meu cabelo.

— Sabe, eu só disse pra fazer o teste pra sua própria segurança, você não acredita e nem consegue mensurar o desastre que eu causo sem ver com os próprios olhos. Se não queria fazer e nem ver o resultado, era só ter...

— Não é nada disso! Eu quem sugeri o teste em primeiro lugar, é óbvio que eu queria fazer! Eu... não escondi de propósito. — murmurei, respirando fundo outra vez tentando explicar sem parecer maluco. — E-eu ia te mostrar naquele dia, m-mas aí pensei que quando você soubesse que não temos compatibilidade nenhuma, iria terminar tudo e...

— Eu já te falei que só vai se livrar de mim morto. — recuei, o encarando tentando ver se estava mentindo, mas seus olhos eram claros, sem um traço de mentira. Ele sorriu, segurando minhas mãos, depositando um beijo suave em cada uma. — Você me obrigou a ficar na sua vida, agora vai ter de me aturar mesmo depois de morto.

— Você já está me largando, caso não tenha percebido! — ele arqueou uma sobrancelha, confuso e me dei conta de que ele nem deve ter percebido o que fez, o que serviu de combustível pra inflamar a raiva que sentia. — Você fica fugindo de mim, mal me deixa te tocar, mal me dá um beijinho e agora nem dorme mais comigo! Eu não gosto disso, eu vivo de afeto, sem isso eu vou definhar e morrer, sabia disso?! — ele até abriu a boca pra responder, mas continuei. — Sequer reage a minha essência, as chances de sermos compatíveis é nula! E eu pensava que não me atacou quando entrei no cio por quê é muito controlado e me respeita, mas a verdade é que não dá um peido pelos meus feromônios, não é?! — e ele tentou falar de novo, mas sequer emitiu um ruído, me olhando como se eu fosse doido, abrindo e fechando a boca por um instante. — Desde quinta esse quarto está parecendo uma caldeira quente, minha essência está impregnada até no teto e você nem reage!

— Henri, eu estou praticamente como um beta, nem sinto seu cheiro e isso já faz dias. E eu estou há anos evitando contato físico, virou até um hábito, faço isso tanto que nem percebo, pois eu não sei se você lembra ou essa sua audição seletiva apagou da sua memória, mas eu tenho um sério bloqueio físico que ainda estou tratando com terapia, deixar você me tocar não significa que de repente esse bloqueio sumiu. Trauma não resolve com duas pitadas de amor e três abraços.

Ah...

Eu tinha esquecido disso.

— E-eu... me desculpa... eu não...

— E se está chateado por eu dormir em outro quarto, eu já te disse antes que meu cio sempre começa quando estou dormindo, acha mesmo que eu iria preferir dormir em outro quarto do que te espremer a noite toda nos meus braços? Passei semanas te engordando pra ficar gostoso de apertar e agora nem posso te tocar sem pensar que se entrar no cio, vou acordar com seu cadáver frio me dando bom dia. — suspirou, sua mão começando a fazer círculos suaves pelas minhas costas e estreitei os olhos, tentando me lembrar quando ele disse isso.

Não me lembro não, ele sempre diz que disse algo, mas se eu não lembro, não aconteceu!

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