15 | Inseticida Para Betas
Henri
27/01/2018
Sábado, 14:27
Minhas mãos tremiam enquanto tentava manter a calma, podia sentir meu coração quase saltando pra fora do peito, meu estômago embrulhando enquanto suor frio se acumula na palma da minha mão e escorre pelas costas.
Sair de casa está "fora de questão".
Pelo menos foi o que Leti mandou depois de ver a cara do Cadu na tevê. O tanto de mensagens que ela mandou, me proibindo de ver tevê, de sair de casa, de ir atrás do Cadu. O bom é que deixei o celular em casa, assim não vejo todas as outras ordens do restante da família.
Com Victor abrindo caminho, foi fácil chegar até a frente do cerco, aonde os policiais e bombeiros não permitiam nos aproximar mais. Havia muita gente, mal dava pra ver a entrada do mercado. De repente ouvi um disparo, algumas pessoas gritando e recuando, meu coração parando por um momento, só pra ouvir mais tiros e Victor começou a empurrar eu e Fael, repetindo pra não olhar pra frente.
Ouvir isso atiçou a parte mais curiosa de mim e me inclinei, vendo um pouco, um dos bandidos com uma máscara cobrindo o rosto caindo no chão no meio da rua, o sangue formando uma poça ao redor dele.
Senti meu estômago afundar, o suor frio escorrendo pelas costas ao olhar ao redor, procurar pelo Cadu, mas não vi qualquer sinal dele, os policiais continuaram sinalizando pra nos afastarmos mais e não tive outra escolha senão recuar. Ou era isso ou seria empurrado.
Voltei a roer as unhas e fiz careta ao arrancar um bife com os dentes, dá até pra fazer churrasco. Espremi um pouco a ponta do dedo, vendo o sangue começando a sair e tentei cobrir com a barra da blusa, só pra reparar que ainda estava de pijama.
Bufei, olhando ao redor, quase sentindo mamãe em forma espiritual vindo me julgar por comer as unhas até esse ponto de novo, até começar a sentir o ar escasso. Eu sei, acontece quando estou muito nervoso, não é normal, nunca foi, nunca será, não dá pra controlar meus pulmões e forçar eles a agirem normal e...
— Amigo, você está hiperventilando, calma, respira. — Fael veio me dando tapinhas nas costas e me abraçando. — Respira bem fundo... — respirei fundo, só por ser a única coisa que posso fazer agora. Respirar, já que meu Cadu tá ali com um monte de armas apontadas na direção dele. — Isso, inspira e expira, é ótimo pra não surtar... — continuei respirando, até ouvir algumas vozes e comoções, os helicópteros ao redor parecendo fazer mais ruído que antes.
Quando dei por mim, já estava empurrando as pessoas pra ver o que estava acontecendo até que vi o Cadu com alguns policiais, os bandidos caídos.
Soltei um suspiro de alívio por ele estar bem, aquela vontade de chorar descontroladamente desde que vi a cara dele na tevê antes quase me consumindo por ter acabado essa loucura toda, mas o alívio não durou três segundos ao ver ele sendo escoltado por outros sete policiais, dois mirando armas nele até ele entrar em uma viatura e então, ela seguir rumo á casa do caralho.
O que está acontecendo?
Cadu
27/01/2018
Sábado, 14:42
Quando a esmola é demais, até um santo desconfia.
Eu devia ter desconfiado, sempre que meu dia começa muito bem, algo de horrível acontece logo em seguida.
Pela primeira vez em anos, acordei sem enxaquecas, sem pesadelos, sem ter tido uma paralisia do sono, nada. Acordei tão bem que fiquei uns dez minutos na cama, duvidando se estava mesmo no meu corpo.
Não me lembro de como acabei na cama, mas não importa.
Nenhum objeto magicamente caiu em mim, nada se quebrou, não caí das escadas, nenhum pombo cagou (ou bateu) em mim, não teve carro dirigindo na calçada, nem coisa caindo de sacadas e na academia nenhum equipamento quebrou ou despencou na minha direção e o sistema não travou por meia hora antes de qualquer coisa.
E pra melhorar, consegui chegar até o mercado intacto, conheci uma senhorinha simpática na fila do mercado, um doce de pessoa, dona Carmen, que só se aproximou pois me achou parecido com o neto dela, um ômega dono de uma confeitaria.
Então como de repente eu acabei ajoelhado na entrada do mercado com cinco armas na minha direção sendo usado de escudo contra um batalhão da polícia armados?
Antes tivesse só comprado meus supressores quando saí de manhã e voltado pra casa. Não, claro que não, eu tinha de passar no mercado pra comprar algumas coisas pro bolo que fiz depois que acordei e algo pra completar o almoço. Agora não tenho as coisas do almoço, nem do bolo e nem os supressores.
Verifiquei o relógio outra vez, quase três da tarde.
O último supressor que tomei foi às seis da manhã. Como não tomo injeções por enquanto, só os comprimidos, preciso tomar um a cada seis horas ou perdem o efeito rápido.
Respirei fundo, soltando o ar lentamente, tentando manter a calma ao erguer o olhar, o tanto de helicópteros sobrevoando, repórteres de canais de notícia variados ao redor, apontando suas câmeras e fazendo todo o sensacionalismo desnecessário sobre as cinquenta e poucas pessoas presas dentro do supermercado com cinco malucos armados que falharam num assalto, além de um bando de curiosos afastados pela polícia e policiais com escudos e armas mirando na nossa direção.
Sinto mais medo de liberar minha essência sem querer do que ter esse monte de arma na minha direção.
O erro dos bandidos foi terem vindo em um dia em que já não tinha dinheiro algum no supermercado. Balearam o gerente no escritório quando descobriram isso, deve estar morto.
Também atiraram em um cara que tentou tomar a arma de um deles, deixaram ele igual uma peneira, os primeiros minutos foram meio caóticos com gente chorando, berrando, tentando correr e desmaiando e as últimas horas foram passadas no meio da loja sentado, entediado e ouvindo os bandidos praguejando por tudo ter dado errado. Maldito dia que tirei o baralho da mochila.
Um dos bandidos, meio escondido atrás da porta dizia algo, apontando a arma pros policiais enquanto os outros, parados próximos e ocultos pelas portas fechadas, mantinham as armas erguidas.
Reprimi um bocejo enquanto eles negociam e ficam batendo papo, não estava prestando atenção até notar uma essência fascinante inundando meus sentidos. Doce e cítrica ao mesmo tempo, não enjoativa como a maioria da essência dos ômegas e que se tornava cada vez mais intensa.
Olhei ao redor, a multidão de pessoas ao redor não me impediria de achar o dono dessa essência se realmente quisesse, mas não podia me mover e senti um leve pânico ao perceber que aquele aroma se tornava fraco e distante, como se o dono estivesse se afastando e por um instante, senti minha essência escapando do meu corpo, quase como se instintivamente, quisesse chamar a atenção e fazer aquele aroma se aproximar e tentei suprimir isso ao perceber o que fazia.
Não foi mais do que um segundo, mas foi o suficiente pro ar se tornar denso e frio, pude ver alguns policiais mais a frente desmaiando e os reféns atrás gritando assustados. Como a merda já está feita mesmo, usei minha essência pra apagar os bandidos idiotas.
Primeiro ouvi o som de uma arma caindo atrás de mim. E então outra, seguida de um baque surdo, um corpo e depois outro. Um instante depois, um dos bandidos saiu correndo desengonçado pela rua e gritando apavorado, mas acabou baleado pelos policiais que ainda estavam de pé e que abriram fogo quando ele estava longe o suficiente de mim.
Outro desmaiou quase caindo em cima de mim, espumando pela boca quando consegui reprimir quase que completamente minha essência e me levantei, sentindo os joelhos meio dormentes. Porra de assalto, eu já teria almoçado uma hora dessas, o Henrique deve estar morrendo de fome agora.
Ajeitei a manga da camisa, hesitando entre entrar de volta na loja ou ir atrás do dono daquele cheiro. Não detesto literalmente todos os ômegas. Detesto todos os ômegas com essências doces e enjoativas como as daquela ômega maluca, o que tecnicamente engloba praticamente todos os ômegas existentes.
Nunca conheci um ômega com um cheiro diferente, cítrico, um pouco doce e refrescante ao mesmo tempo.
Queria descobrir quem era apenas por ser diferente, mas depois de considerar por um instante, concluí que estava apenas afetado pelo aroma, e outra coisa que odeio mais do que ômegas, é ser dominado por instintos esquisitos. Então dei a volta e entrei de volta na loja, os reféns todos estavam atordoados, confusos, alguns trêmulos e apavorados.
Não acredito que agora virei um inseticida pra betas também...
Pelo menos trinta pessoas haviam desmaiado aqui, os outros ainda estavam acordados.
A última vez que usei minha essência pra alguma coisa, foi há quatro anos e ainda foi sem querer, não tinha esse efeito. Meu médico vai adorar saber. Vou ter de informar isso por carta, a Correios entrega daqui um ano se deus quiser, se eu for pessoalmente ele vai querer me dissecar de novo.
Dona Carmen estava aterrorizada, abraçando com força uma mulher que segurava um bebê no colo, elas nem se conhecem, mas a mulher estava em pânico e dona Carmen puxou ela pra ficar acalmando e confortando a coitada.
— Dona Carmen, a senhora está bem? — tentei soar o mais gentil possível ao me abaixar diante dela, que me olhava desnorteada, as pupilas levemente dilatadas. É, até ela eu afetei, maravilha... — A senhora vai ficar bem, está tudo bem... — repeti, puxando sua mão e comecei a acariciar as costas da mão dela com o polegar, tentando acalmar ela mais um pouco e ela acenou, abobalhada. — A senhora consegue se levantar? — ela negou, apertando com mais força a mulher que ela abraçava, apoiando o bebê no colo da moça que estava desmaiada.
Não demorou muito pra polícia entrar no mercado, acho que ficaram atordoados lá fora pelo que aconteceu, mas quando por fim agiram, foram inspecionando ao redor enquanto alguns outros entravam pra ajudar os reféns a saírem.
Fui obrigado a seguir os policiais pra prestar depoimento já que era o único que não estava em choque ou desmaiado.
Como mal conseguiam ficar na sala de interrogatório comigo, tiveram de me arranjar um supressor e quando finalmente me deixaram sair, já era noite. Até recuperaram meu celular e tive de assinar papelada sobre meu testemunho e sobre a recuperação do item roubado, uma burocracia dos infernos.
A primeira coisa que vi assim que desbloqueei a tela, foi uma infinidade de ligações e chamadas do Nando, o que significa que eu estou ferrado.
Agora fica a questão de como contar pra ele que fui feito de refém de novo... Se bem que ele deve saber. Ele sempre sabe.
Antes de sair, o Ferraz veio me oferecendo café e perguntando se eu queria ir até o hospital, mas neguei. Não piso em hospital a menos que eu não tenha escolha e geralmente é quando sou atropelado e não consigo me mover por conta própria. Querer me levar pro hospital depois de me arrastar pra cá e me prender aqui a tarde toda? Só podem estar brincando.
— Vamos ver se esse ano você bate o número de visitas do ano passado nessa delegacia. — Ferraz zombou. — Esteve aqui trinta e duas vezes...
— Contou com a do meu aniversário?
— Quem acha que eu sou? Claro que sim! Apostei com o Nóbrega e o Vilela que vai chegar a trinta e cinco esse ano.
— Posso entrar nessa aposta? — sorri e ele me olhou divertido. — Não chego a cinco.
— Já veio uma vez, garoto. — ele riu e dei de ombros.
— CADU! — até saltei de susto ao ouvir esse grito, antes de quase cair pra trás quando Henrique se jogou em mim, me apertando tanto que perdi o fôlego, meu café quase caindo e o policial ainda rindo, se afastou.
— Se vai entrar na aposta, já deixa milzão separado pra nos passar no Revéillon. — e acenou ao sumir pelo corredor.
— Olha só pra você! — Henrique se afastou de repente, me medindo de cima a baixo, a cara mais pálida do que de costume, os olhos vermelhos e um pouco inchados enquanto recuava mais. — Está terrível! Como eles ousam te arrastar pra cá e te manter aqui todo esse tempo, isso é desumano! — e seguia reclamando, parecia pronto pra brigar com qualquer um que entrasse na frente e encarei aquele anão bochechudo que estava logo atrás, os braços cruzados e olhando pra ele meio aflito. — Cadu! Você está bem? Não te feriam? O que acon... — cobri sua boca com a mão.
— Agora não, Henri. Eu estou com fome. — o guiei pra fora da delegacia, sem dar chance pra tanta pergunta.
— Cara, por um momento, achei que dessa vez você ia pra não voltar mais. — Victor, que seguia o anão bochechudo disse e tive de me controlar pra não falar asneira.
Não estava afim de mais falatório, mas fui interrogado de novo no carro a caminho de casa, nem pude terminar meu café já que Henrique tomou ele da minha mão e bebeu. Só não briguei pelo meu café por que ele estava tremendo, agitado e muito nervoso, não emitiu um ruído o caminho todo, o que já é sinal de que qualquer coisinha e ele vai explodir.
Quando finalmente chegamos no prédio, tentei seguir pelas escadas, mas Victor e o bochechudo insistiram pra ir de elevador e Henrique disse pra deixar fazerem como queriam. Ele mesmo iria de escadas.
Depois de uma hora e meia no elevador, saímos no décimo primeiro andar e antes mesmo de abrir a porta do apartamento, ela mesma se abriu e Henrique surgiu, nos encarando com a cara séria (algo antinatural na cara dele, já que mesmo sem querer, parece estar sempre sorrindo cheio de zombaria), já usando outro pijama, o cabelo úmido e penteado.
— Eu fiquei lá na portaria esperando o jantar. Pedi algumas marmitas. — e sinalizou para que todos entrassem. Fael dormiu em algum momento no elevador, então Victor o estava carregando e o deixou no sofá. Henrique já até tinha servido a mesa de centro, além de marmitas de comida, tinha espetinhos, porção de batatas e cerveja. — Esqueci que você não bebe, posso... — começou, me olhando meio culpado e sacudi levemente a cabeça.
— Não importa. Por quê aqui?
— Gosto mais de sentar no chão. — e ele já foi se sentando, pegando o garfo e tirando a tampa da marmita e já dando uma garfada.
O anão bochechudo foi acordando aos poucos, mas foi só falar em comida que ele saltou, sentando no chão e se servindo esfomeado.
Tomei água enquanto eles bebiam como se não houvesse amanhã, comemorando por eu estar vivo e depois de jantar, Victor saiu arrastando o anão com ele, já que ele já estava ficando bêbado e querendo virar a noite aqui. Henrique quem os levou até a porta e quando por fim saíram, ele me encarou com os olhos entrecerrados.
E aí só ficou ali, na porta mesmo, me encarando. Não sei o que estava pensando, mas já estava ficando preocupado com seu silêncio esquisito.
— Pela sua cara... parece que vai dizer que isso é rotina... — começou por fim e engoli em seco, antes de acenar devagar. Se souber que desde que me formei no ensino médio, acabei refém em situações e ocasiões diferentes pelo menos umas trinta vezes, vai ter uma síncope, então espremi os lábios e me calei, deixando ele processar isso como quiser. — Eu estou cansado, então eu vou... dormir. Boa noite, Eduardo. — e seguiu pra fora da sala.
Estava tão chocado com ele falando meu nome e não "Cadu" que só reagi quando o ouvi bater a porta e encarei Puf que surgiu num "puf" na minha frente, me olhando tão confuso quanto eu.
Ele está bravo comigo? O que foi que eu fiz?
Henri
28/01/2018
Domingo, 04:27
Parei de escrever, ouvindo um som estranho pelo apartamento, como o de uma pelúcia sendo amassada.
Ouço isso com muita frequência, mas sempre ignoro já que é só som de pelúcia. Me pergunto se o Cadu tem um ursinho de pelúcia ou algo do tipo, mas ele nunca se apegou a brinquedos ou coisas do tipo.
Tá, a única coisa que ele se apegou, eu destruí, era um boneco estúpido do Bumblebee, mas foi sem querer, só queria ver se desmontava, mas não montava de novo e tentei esconder.
Bufei, tentando parar de ficar remoendo essas coisas do passado, lutando contra a vontade de voltar a roer as unhas. Não tenho mais unhas, agora é só carne. Puxei uma mecha do cabelo e comecei a mordiscar, tentando acalmar o caos que está na minha cabeça.
Entre uma inspiração pra uma história totalmente nova, um embaralhado de ideias pro livro que tenho que terminar, a lembrança do Cadu cercado por armas na porra daquele mercado e o medo de ele só levar um tiro e morrer bem na minha frente e é claro, o que não pode faltar, um bloqueio criativo fodido, pode-se dizer que não escrevi duas linhas mesmo sentado aqui na frente do computador a noite toda.
Já não consigo dormir sob circunstâncias normais, quem dirá depois do horror de dia que vivi, toda hora achando que o Cadu levou um tiro ou um apavoro dos policiais só pra ele sair da delegacia tomando cafézinho apostando com os policiais.
Nem sabia se sentia alivio por ele estar bem ou raiva por ele estar até brincando com os policiais enquanto eu quase tinha um surto de tão preocupado que fiquei.
Nem sei exatamente o que estava pensando quando, ao ouvir aquele "kyu" fofinho de novo, me levantei e saí do quarto na ponta dos pés, me aproximando da porta do quarto do Cadu. Aquele chiadinho de pelúcia continuava soando, o que me fez pensar que o Cadu estava brincando com um ursinho pra lidar com a porcaria de dia que teve.
Só queria ter certeza de que ele estava bem e não chorando em posição fetal debaixo da cama abraçando um ursinho de pelúcia, então comecei a abrir uma fresta da porta só pra espiar, aquele "kyu" soando outra vez, me fazendo abrir um pouco mais a porta e vi a sombra de uma figura parada perto da cama do Cadu.
Abri um pouco mais a porta e arregalei os olhos ao ver a figura de uma mulher negra ali. Talvez pela escuridão do quarto, pensei que sua pele brilhava num tom de ônix, linda. As laterais da cabeça eram raspadas, com longas tranças prateadas no meio, imitando um moicano, que caía até a altura da cintura. Sua pele era marcada por inúmeras tatuagens e símbolos que até brilhavam no escuro e ainda usava uma roupa estranha, similar a algum tipo de armadura.
Ela murmurava algo numa língua estranha e o Cadu, deitado na cama, parecia um cadáver, a mulher do lado erguendo as mãos pro alto e uma coisa planando ao lado dela, parecido com um gato, mas com escamas negras no lugar dos pelos e asas similares as de um morcego.
Em cima da cama, havia outro desses bichos, só que do tamanho de um cachorro, sentado do lado do Cadu e logo acima, uma bolinha esquisita flutuando.
Estático, fiquei encarando aquela cena esquisita que mais parecia um ritual de sacrifícios, quando a porta fez um rangido nada bem vindo nessa madrugada escura e então, todos eles me encararam num silêncio constrangedor e perturbador ao mesmo tempo, como se eu os tivesse interrompendo de alguma coisa.
A mulher com os olhos completamente brancos e as tatuagens esquisitas brilhando na cara parecia irritada ao me encarar, o bicho escamoso com a face assustadora de uma cobra soltou um guincho barra sibilo sinistro e o outro, com seis pares de olhos nojentos piscou todos em tempos diferentes e a bolinha peluda esquisita soltou um "kyu".
Me senti oprimido com tantos olhares na minha direção, meu primeiro instinto era o de correr pra longe ou gritar, mas no instante em que pisquei, todos desapareceram, restando apenas o Cadu deitado na cama, as mãos unidas sob o peito, tal qual a pose de um cadáver num velório.
Ainda paralisado, encarei o cadáver na cama, tentando processar isso que eu acabei de ver.
* * * ヽ(=^・ω・^=)丿 * * *
Domingo, 10:22
Uni as mãos no colo enquanto encarava a tevê. As imagens se desenrolavam na tela, mas eu não tenho a menor ideia do que eu estou vendo agora. É uma série? É um filme? Só a Netflix saberia me responder.
Bufei, sentindo o estômago roncar.
Esse fim de semana está sendo uma loucura atrás da outra, não tenho tempo pra ficar faminto. Vou começar a arrancar tufo de cabelo na próxima bizarrice que ver por aqui.
Comecei a morder outra mecha do cabelo, já arranquei duas mechas assim, da próxima vez que mamãe me ver, vai chorar de tristeza pelo que estou fazendo nesse cabelo, mas eu não ligo. Não gosto de cabelo longo, nunca gostei, mas ela diz que me faz parecer mais ômega e não gosta quando corto.
...
Deveria ver se o Cadu está vivo?
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