14 | Um Bêbado Difícil
Henri
26/01/2018
Sexta-Feira, 22:05
Alfas não foram feitos pra conviverem com outros alfas. Fato.
Sempre ouvi por aí que era difícil se suportarem, se hostilizavam e oprimiam mutuamente até explodirem de forma agressiva, mas então vi o Victor apoiar o braço no ombro do Cadu de forma nada hostil e se inclinando ainda mais perto dele, vi como Cadu nem mesmo recuava, aquele alfa horroroso rindo e dando alguns tapinhas no peito do Cadu que, pela primeira vez desde que o reencontrei, começou a rir de algo que Victor disse.
Senti minhas mãos suando frio quando aquela sensação esquisita no meu peito se tornou insuportável e me inclinei, puxando o rosto do Cadu que me encarou surpreso por um instante, antes de franzir o cenho. Ele estava sorrindo pro Victor antes, e todo mundo sempre cai de amores quando vê as covinhas na cara dele. É isso? Usou isso pra seduzir aquele alfa panaca?
— Não te dei permissão de exibir minhas covinhas por aí, Cadu! — falei, cobrindo a boca dele pra ele parar de sorrir por aí. Esse sorriso é muito perigoso.
— Aham que não gosta de gente, e esse carrasco aí? — ouvi a voz distante do idiota do Victor, mas ignorei, apertando ainda mais a cara do Cadu, que dizia alguma coisa, mas não entendi, nem fiz questão de entender, me irritando ainda mais por ele responder esse pervertido.
Acho que xinguei mesmo esse tarado, nem ligo, mandei ele caçar outro alfa pra ficar rondando e cada vez que falava algo, via o Victor rir e retrucar alguma coisa, daí o Cadu dizia outra e eu tentei manter os dois longe um do outro.
Tentei fazer os dois pararem de conversa fiada, ainda mais irritado pelo Victor ficar tentando puxar papo com ele e me levantei, arrastando o Cadu junto, mas senti tudo girar e me apoiei na mesa pra não cair.
— Não pode falar com ele. — apontei pro Cadu, que riu e disse alguma coisa pro Victor, que acenou e chutei a canela dele por me desobedecer. — Eu estou falando sé... — senti algo subir pela garganta e cobri a boca, o enjoo só piorando enquanto tentava afastar meu filhote desse alfa desumano.
Alfas não são confiáveis, são um bando de pervertidos, animais desnaturados, cruéis e desprezíveis. O Cadu não pode ficar perto deles, sempre foi uma presa fácil, esse abusado do Victor deve ter visto o charme das covinhas dele e agora está o cercando pra atacar.
Puxei Cadu pelo braço, sem deixar ele voltar lá e enquanto abria caminho entre as pessoas, senti o enjoo só piorar, parando por um momento pra respirar fundo até que senti mãos firmes me segurando pelos ombros e me guiando em outra direção.
— Vou te levar pra fora pra respirar um pouco. — estremeci de susto quando ouvi a voz do Cadu muito perto do meu ouvido e por um breve instante, o cheiro do perfume que obriguei ele a usar sendo a única coisa que conseguia sentir, durando tão pouco que quase puxei ele de volta, antes dele recuar e continuar me empurrando pra algum lugar.
Só me deixou livre quando saímos da balada, o vento frio me fazendo tremer na mesma hora e querer voltar pra dentro, mas aí o enjoo começou a diminuir e me encolhi, cruzando os braços.
Estava caindo uma garoa fina e o Cadu recuou pela calçada. Pensei que estava me deixando e o segui, sentindo o chão meio incerto, talvez se movendo um pouco, quando ele deu a volta e quase bati nele, enquanto ele tropeçava pra trás e me olhava surpreso.
— Por quê está me seguindo? — pisquei, inclinando a cabeça confuso.
— Você quem está me deixando. Você não pode me deixar.
— Não, eu... — começou, negando com um aceno antes de suspirar. — Está muito bêbado. — comecei a negar, mas ele acenou meio que me ignorando enquanto me fazia ficar na entrada da balada outra vez, debaixo do teto enquanto dizia sobre avisar alguém de alguma coisa e pegou o celular, se afastando outra vez.
Vi como ele ia de um lado pro outro, inquieto e pensei em como fica assim em casa quando não tem o que fazer. Pobrezinho... deve ter trabalhado tanto, estudando sem parar desde novo que virou hábito ser sempre produtivo. Oh, pobre. E eu gastando a adolescência e a juventude toda usando drogas, bebendo, sendo preso e saindo com garotas bonitas feito um playboyzinho...
— Ei, que é que você tá falando? — Cadu veio se aproximando, me encarando preocupado. — Para de besteira, você está bêbado...
— Eu não estou, eu não... fico bêbado com facilidade... — choraminguei, tentando me afastar, mas cambaleei, não sentindo força alguma nas pernas e ele me segurou pela cintura, me ajudando a ficar em pé, antes de me fazer erguer o rosto, suas mãos quentinhas segurando minhas bochechas.
Disse alguma coisa, não consegui prestar atenção, encarando sua boca. Por quê é vermelha? Ele dizia alguma coisa, só entendi que iria me levar pra casa por quê já deu de festa e bebedeira e sacudi a cabeça.
— Deu nada, ainda é só o começo.
— O começo do fim, hora de ir embora. — sacudi a cabeça de novo, me sentindo enjoado e funguei, um soluço me fazendo perceber que estou chorando. Ué? Desde quando?
Tentei secar o rosto, ele falando alguma coisa sobre já ter avisado o pessoal, antes de se aproximar mais, tateando pela minha calça, dando tapinhas nos bolsos e cambaleei quando enfiou a mão em um dos bolsos traseiros.
— Oh, que pervertido. Meu bumbum não é propriedade pública... eu não estou bêbado, então meu buraquinho ainda tem dono. — avisei e ele recuou um pouco, me encarando com as sobrancelhas arqueadas, um olhar divertido enquanto sorria.
— Sim, tem dono. E mesmo se "não tivesse", eu não deixaria ninguém reivindicar propriedade. — pisquei, vendo ele erguer as chaves do meu carro e comecei a rir.
E eu pensando que ele estava me apalpando, é claro que não. Meu Cadu nunca faria isso. Mas aposto que o bocó do Victor faria, ele é um alfa e alfas são pervertidos...
— Você não pode ficar perto do Victor, ele te quer. — ergui o dedo na frente do rosto dele, relembrando que até já estudaram juntos.
A irritação que veio junto só de lembrar disso me fez bufar. Victor é um alfa tarado, perseguindo o pobre do meu filhote, olha pra ele... nem deve ter percebido, coitado...
O Cadu não gosta de homens, nem de mulheres, talvez... goste de alfas? Só de alfas?
— Você tem muito mal gosto. — acenei, sentindo vontade de vomitar. — Você não pode sair por aí beijando alfas. — ele disse alguma coisa, não interessa, aposto que está tentando defender esse namoradinho dele, mas ele não entende, alfas são perigosos. — Não pode sair com alfas, Cadu... — solucei de novo, me sentindo ainda pior. Como ele pode sair por aí beijando outras pessoas? Meu filhote não é mais filhote...
— Eu não beijei ninguém, Charles. — o filho da puta estava rindo, aposto que lembrando daquela piadinha flertante daquele alfa tarado e o encarei ainda mais triste.
— Não beijou? — ele negou com um aceno e pisquei, confuso. Por quê? Se ele é lindo? Arrumei ele todo pra beijar alguém... — Por quê? — ele já ia responder, mas sacudi a cabeça. — Não precisa dizer. Não quero saber, seu beijoqueiro de uma figa.
— Henri, para de chorar e falar que eu sou um pobre coitado ignorante da vida, não beijei nada não, seu pinguço. — ainda ria, quando franzi o cenho. Ué... Não beijou mesmo? — Não beijei. - eu falei em voz alta? — Falou e continua falando tudo quanto é besteira. — ... coitado... veio todo bonito e nem beijou ninguém...
— Que desperdício. — o puxei pela gola da camisa, o beijando, algo duro batendo no meu lábio, acho que os dentes dele. Acho que puxei com muita força.
Ele recuou no mesmo instante e sorri, aquela coisa irritante na barriga enquanto algo quente começava a escorreu do meu lábio inferior e quando passei a língua, senti um gosto férreo, erguendo o olhar e vendo Cadu me olhando espantado? Surpreso? Não importa.
— Agora beijou, não foi um desperdício. — sorri ainda mais, sentindo minha consciência indo embora tão rápido que nem tive tempo de avisar ele que a cara dele tava ficando vermelha.
Cadu
27/01/2018
Sábado, 01:22
Depois de carregar Henri pro carro, consegui mandar uma mensagem pro Victor avisando que ele apagou e que o levaria embora, só pro caso dos outros amigos dele quererem saber.
Enquanto levava Henri pra fora da balada, ele me disse o número dele pra mandar mensagem, dizendo que me adicionaria no grupo de amigos dele, mas pra ser sincero, não lembro de ninguém daquele grupo.
Tentei me lembrar enquanto conversava com ele, mas a maioria das memórias do ensino médio e da minha infância são muito borrosas, ás vezes me lembro de algo quando é mencionado de forma muito específica e ás vezes, nem isso traz a memória de volta.
Sei que Victor era um idiota que vinha me desafiar e importunar cada vez desde que entrei na academia militar. Era tão irritante que cada vez que saíamos da escola, saíamos no soco. Não dava pra conviver pacificamente com ele, mas nem sei exatamente como acabamos entrando em um "acordo amigável" nos quatro anos em que estudei na academia militar.
Talvez me lembre com o tempo, talvez não, mas ele disse que podia me ajudar a lembrar das burradas que fazíamos já que tinha um monte de vídeos dessas merdas, tipo quando fomos em um show de um Mc, que terminou em tiroteio, chuva de granizo e nós sendo revistados pela polícia. Claro que, como morador de abrigo, eu não tinha permissão de estar lá e levei o maior esporro da minha vida, não me lembro direito disso.
Mesmo não me lembrando bem dele, ou de realmente sermos "amigos", não senti qualquer hostilidade ou animosidade contra ele, então não acho que esteja mentindo...
Encarei Henri outra vez, sem ideia de onde ele tirou que Victor e eu estávamos flertando. Pensar nisso ainda me faz rir, além de me irritar e ficar soltando umas humilhações que passei na escola, não teve nada da nossa conversa que parecia algum flerte. Eu acho.
Mordi o lábio inferior, ainda sentindo meus dentes doendo depois da pancada que dei na boca do Henri, talvez tenha cortado o interior da boca com aqueles dentinhos de coelho dele, mas não importa. Vou me vingar dele quando ele estiver sóbrio.
No meio do caminho, ele acordou meio atordoado, colocou música no carro, tentou tirar a camisa enquanto cantava uma cantora pop, se pendurou pra fora da janela, tentou saltar pelo banco pro banco de trás e pisou na minha coxa muito (MUITO) perto daquele que não deve ser pisoteado e fui obrigado a parar no encostamento pra amarrar ele com a jaqueta que eu usava, só pra ver ele se encolher no banco e ficar fungando a camisa enquanto finalmente calava a boca.
Quando finalmente chegamos no prédio, ele estava dormindo bem comportadinho. Pensei que conseguiria chegar no apartamento sem outro problema, nem pensei em passar pelas escadas tamanha a pressa de jogar ele no quarto dele e deixar que ele se vire sozinho e quando o elevador travou no décimo andar por quase uma hora e meia, me arrependi outra vez de agir sem pensar.
Pra piorar, ele acordou depois de vinte minutos presos no elevador, se desesperou com o escuro, se agarrou em mim chorando, dizendo que estava cego e vomitou. Em mim, nele, no painel de botões, na porta.
Parecia uma cena de filme de terror, comigo imóvel no meio do elevador escuro, sem ânimo pra fazer qualquer outra coisa e ele cambaleando pelo escuro, chorando cheio de drama.
Quando parou de surto, se encolheu numa bolinha deprimente e bêbada no canto do elevador e dormiu outra vez. Como estava todo sujo, o carreguei pra dentro do apartamento e o levei até o banheiro do quarto dele.
Primeiro, enchi uma banheira de água fria. Depois, o carreguei para o banheiro, tentando acordar ele até que estivesse mais ou menos me respondendo antes de empurrar ele pra água.
O impacto foi imediato. Assim que ele tocou a água, soltou um grito agudo que ecoou pelo banheiro. Seus olhos se arregalaram e ele começou a se debater, tentando sair da banheira o mais rápido possível com uma expressão confusa e desesperada, o que me fez rir.
Segurei seus pulsos enquanto se debatia, o impedindo de sair da banheira enquanto ele gritava que eu era louco e mordi o lábio pra me impedir de rir mais, arranhando a garganta enquanto puxava a ducha com a mão livre e ligava a água quente pra acalmar ele.
— Calma, é só um banho frio. — sorri, vendo ele engasgando com a água e começando a tossir.
— Eu odeio água fria! — choramingou, tentando cobrir o rosto e se virar pra fugir, mas escorregou na banheira e quase caiu. O puxei pela cintura para que se sentasse na banheira outra vez e usei a mão livre pra puxar seus pulsos acima da cabeça pra ele parar de se debater e joguei mais água em sua cabeça enquanto ele choramingava e pedia pra parar. — Eu vou morrer, Cadu!
— Ninguém morre por tomar banho. — garanti, vendo que ele já estava mais calmo e comecei a esquentar lentamente a temperatura da água, ainda mirando em sua cabeça e rosto depois de puxar o ralo da banheira pra esvaziar a água gelada. — Melhor? — ele ergueu um pouco o olhar, me encarando como um bichinho afogado, batendo o queixo enquanto tremia de frio, os lábios azuis e a pele pálida. — Mais sóbrio, Henri? — sacudiu levemente a cabeça e soltei seus pulsos. — Então vou jogar mais água gelada.
— NÃO! Eu estou! Eu estou sim! — pela voz um pouco menos arrastada, parece que está mesmo. — Eu não mereço isso...
— Ah, jura? Se você se lembrar disso de manhã, vai saber se é merecido ou não. — ele bufou, ainda indignado. — Consegue se limpar?
— Por quê? Vai me dar banho também? — soltou um sorriso sem vergonha e depois de tudo o que aprontou hoje, ameaçando e xingando o Victor, me "beijando" e cortando minha boca, quase me castrando, tentando ficar pelado no carro e se jogando pra fora dele, ou até vomitando no elevador, eu deveria estar bem irritado.
Mas com essa provocação, me vi apoiando a mão na outra borda da banheira, me inclinando sobre ele enquanto via ele recuando, se encolhendo encurralado.
— Sim, eu vou. — já trabalhei em um asilo por alguns meses, dei banho em idosos com esponjas e lenços umedecidos. Não há nada no corpo humano que não vá enrugar, cair e virar pelanca nessa vida. Ele ficou em silêncio por um instante, antes de se encolher, abraçando o próprio corpo. — Quer que eu te dê banho, Henri? — usei meu melhor tom de provocação e vi ele começando a ficar vermelho, sacudindo um pouco a cabeça.
— N-não. Posso fazer isso sozinho. — arqueei uma sobrancelha enquanto ele evitava meu olhar.
Está muito pálido mesmo, deveria ter usado só a ducha pra molhar ele. As sardas do rosto estão até mais evidentes e não consegui evitar dos meus olhos descerem um pouco mais, reparando como as roupas marcavam em seu corpo, a água tornando sua blusa branca transparente e pisquei rápido, desviando o olhar ao vê-lo se encolhendo e tentando ficar debaixo da ducha quente.
— Se você diz... — arranhei a garganta, sentindo a boca estranhamente seca e me levantei, estendendo a ducha pra ele antes de sair do banheiro com pressa, decidindo me ocupar de limpar o elevador.
Eu sei que é coisa do pessoal da limpeza do prédio pra fazer, mas me sinto culpado por ter deixado o Henrique fazer toda aquela zona no elevador, então depois de um banho rápido pra me limpar e... acalmar..., busquei um balde e mais desinfetante, e quando o elevador se abriu, o piso estava o mesmo nojo de antes.
Entrei no elevador, começando a limpar aquela zona e cada vez que a porta começava a fechar, usava o cabo do rodo pra impedir.
Fiz isso quatro vezes, antes de terminar de limpar essa merda de elevador. A porta quase fechou pela quinta vez, mas a impedi com a mão e no instante em que se abriu, o corredor estava completamente escuro. Franzi o cenho, sentindo a temperatura esfriar. Soltei o fôlego, vendo minha respiração diante do meu rosto.
Acho que voltei para aquele lugar de sonho.
Saí do elevador e o ouvi fechar atrás de mim vendo a porta do apartamento do Henrique se abrir lentamente, um rangido ecoando pelo corredor silencioso e uma luz fraca surgiu ali.
Caminhei em direção a entrada do apartamento, sabendo que é justamente pra onde alguém iria encontrar a morte num filme de terror, mas sem ter pra onde ir além daquela porta e por alguma razão, a cada passo que dava, sentia meu corpo pesar cada vez mais, o ar escasso, denso, sufocante. Quando por fim alcancei a porta do apartamento, mal consegui ficar em pé, apoiando a mão na parede, sentindo os joelhos fracos.
A sala estava completamente escura, a pouca luz que havia ali vinha da TV, que tinha uma tela branca cheia de chiados.
Senti minha consciência oscilar, um chiado baixo e distante ecoou no fundo da minha mente e tentei ficar acordado, até sentir algo atrás de mim e ao olhar por cima dos ombros, vi um par de mãos brancas com garras longas se esticando na minha direção, os braços pálidos desaparecendo no meio da escuridão e mal tive tempo de reagir quando escuridão se fechou ao meu redor.
Henri
27/01/2018
Sábado, 13:43
Ao abrir os olhos, a primeira coisa que percebi foi o enorme espelho que se erguia diante de mim. Minha cabeça latejando enquanto mal conseguia me mover.
Tentei me levantar e senti um torcicolo no pescoço, assim como uma dor horrível no cotovelo. Me movi incômodo, verificando os estragos da noite passada. Olhei pra baixo e percebi que estava usando só uma calça de pijama do avesso. Só uma perna, na verdade, completamente pelado, o que me deixou ainda mais confuso.
Engoli em seco, um gosto esquisito na boca enquanto tentava me lembrar do que fiz exatamente, mas tudo o que me veio em mente foi um borrão de risadas, música alta, copos de bebida e uma música da Beyoncé soando alta no fim de tudo.
Puta merda! Quanto foi que eu bebi?
Me inclinei, meu estômago se revirando enquanto tratava de me por de pé e ajeitar as calças do pijama. Como vim parar no closet? Por quê exatamente eu dormi no closet? Não importa, minha cabeça dói tanto que só quero uma cerveja e uma aspirina.
Caminhei meio trôpego pra fora do closet, cada passo que eu dava ecoando nas profundezas da minha ressaca. Ao sair do closet, a luz do sol me fez apertar os olhos com desconforto, a sensação de os raios perfurarem minha cabeça enquanto meu estômago se revirava outra vez.
Quis me enfiar outra vez no closet e me trancar ali mais um pouquinho, mas eu preciso achar o meu filhote e sua comida paradisíaca pra superar essa ressaca completamente.
Mal me aproximei da porta quando o som estridente do meu celular tocando me fez parar de andar, encarando a mesa de cabeceira onde ele estava. Caminhei até ele com relutância e ao ver o rosto bochechudo do Fael exibido na tela, quis atender ainda menos. Aposto que vai vir com zombarias sobre o que eu fiz ontem.
Sei lá o que eu fiz, mas aposto que ele sabe e eu não quero saber, não pela boca dele.
Mesmo assim, atendi somente pra parar com esse toque, que faz minha cabeça doer ainda mais.
— Fala, Mommy. — resmunguei, a voz rouca e falha, o que me fez desejar e muito um copo de água. Conviver com o Cadu faz esses milagres, eu acho.
— Liga a tevê! — seu tom urgente me fez sentir um frio no estômago, temendo alguma notícia ruim.
Será que eu fiz uma besteira tão grande que agora estou no noticiário de novo?! Bom, nada pode ser pior do que ser preso escalando a Torre Eiffel sob efeito de... alguma coisa, nem lembro que droga usei...
— Fael, o quê...
— A tevê, Henri! Onde você está? Estava dormindo? — não tenho certeza se respondi ou não, já estava cambaleando pra sala e dei ordem pro Al ligar a tevê. — Está em todos os canais de notícia, como diabos... — afastei o telefone, a imagem finalmente se tornando clara na tela da tevê. — Meu deus do céu, que filhote é esse que você arrumou?! — exclamava e pisquei ainda mais confuso, as palavras do jornalista passando como um borrão pelos meus ouvidos enquanto observava a imagem aérea de um mercado, muito parecido com o daqui perto de casa.
Ainda podia ouvir Fael discutindo com Victor no telefone, os dois pareciam apressados pra sair, sei lá pra onde iam e ainda meio grogue, tentei prestar atenção ao que acontecia na tevê.
— ... os suspeitos invadiram o local e estão mantendo reféns há mais de cinco horas... — a voz do jornalista seguia e estreitei os olhos, vendo uma quantidade ridícula de carros policiais pela rua, helicópteros de polícia rondando também. — ... um sniper foi solicitado, já ocorreram três disparos e até o momento apenas duas vítimas foram liberadas... não temos notícias se há vítimas fatais... parece que um dos assaltantes está saindo...
— Eu e o Victor estamos indo pra lá pra saber mais alguma coisa, se você quiser... — o telefone cai enquanto sinto meu estômago afundar, a carinha bem evidente do Eduardo passando na tela da tevê, os jornalistas fazendo o possível pra cobertura do caso e então, estremeço ao som de novos disparos, dessa vez para o alto.
De acordo com que as imagens e a narração se desenrolavam, sentia a ressaca se dissipando enquanto meu coração acelerava, um dos assaltantes apoiando o cano da arma na cabeça do Cadu, que verificou as horas no relógio de pulso como se ele não estivesse sendo usado de escudo.
Que porra é essa...?
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