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10 | Virei Pai Sem Gozar

Cadu

20/01/2018

Sábado, 11:47

Eu tenho muitos problemas pra lidar.

Meu acerto atrasado e o escritório que não responde nem e-mail, nem mensagem e ligação sempre cai na caixa postal (desde quarta estou tentando contatar esses filhos da puta e nada), minha conta que já tá zerada, minha busca por um apartamento acessível nas proximidades, até uma quitinete serve, além dos meus medicamentos que estão acabando e eu vou precisar comprar mais, o Sr. Novaes que não pode nem sonhar que eu estou sem casa e o Nando que não pode descobrir que eu estou morando com um ômega, minha moto roubada que ainda me custa uma fortuna e uma maldição que está me matando.

Eu não preciso procurar mais problema pra me preocupar, mas de alguma forma, encontrei um: o saco de ossos com quem estou vivendo desde o começo da semana.

Henrique fica acordado de noite, dorme pouco antes do almoço e fica empoleirado na sala escrevendo até apagar ou eu o enxotar pro quarto pra ele dormir depois dele tomar café.

É quase como se eu estivesse vivendo sozinho nesse apartamento enorme, limpando todos os dias pra absolutamente nada, já que ninguém suja e ele realmente compra lanches depois que acorda de noite.

Quinta ele saiu com os amigos depois de me perturbar só porque faço crochê. Não me lembrava disso até aquele dia, minhas memórias ainda estão voltando depois do último cio, então comprei a linha e as agulhas só pra testar. De qualquer jeito, esse saco de ossos só voltou pela manhã de sexta quando eu já estava terminando de preparar o almoço, mais pálido do que o de costume, reclamando de ressaca e enjoado, comeu lentamente e foi dormir logo em seguida.

Eu não preciso mesmo fazer outras refeições já que ele não come.

Mas eu vou fazer o jantar e o café da tarde ou então ele vai continuar se entupindo de lanches de noite, está tão magro que parece que vai quebrar com uma rajada de vento. Então estou cozinhando com um plano de engorda pra esse saco de ossos conseguir ficar em pé sem quebrar com o vento.

— Como estou livre depois de meio-dia, vou sair. Quer que eu traga alguma coisa na volta? — perguntei, enquanto ele terminava de almoçar e Henrique me encarou com o cenho franzido.

— Vai sair? Por quê?

— ... É minha folga? — arqueei uma sobrancelha e ele ficou alguns instantes me encarando confuso, antes de arregalar os olhos.

— É sábado?! — se pôs de pé em um pulo, batendo ambas as mãos na mesa e acenei. — Ô MERDA, POR QUÊ NÃO ME AVISOU?! — berrou, antes de sair correndo, o prato de comida inacabado em cima da mesa enquanto o copo do suco que bebia se espatifava no chão.

Deixei a cozinha pra buscar um pano pra limpar e recolher os cacos de vidro e pra procurar alguma coisa pra embalar bem os cacos do copo que ele quebrou, e quando já ia voltar pra cozinha depois de pegar o que preciso, ele saiu correndo do quarto dele, uma bermuda arriada nas coxas enquanto tentava vestir uma camisa rosa, os tênis mal amarrados nos pés fazendo ele tropeçar antes de alcançar a porta e fiquei estático, vendo aquela figura patética se equilibrando enquanto puxava a bermuda até a cintura.

— Tenho um lugar pra ir, se me procurarem, diga que morri. — acenou apressado, saindo e batendo a porta.

Eu vou fingir que não vi isso.

*  *  *     (=^・ェ・^=)      *  *  *

Sábado, 15:43

Só pode ser brincadeira...

Transferiram sim meu acerto.

Pra conta errada.

Até me deram as informações da tal conta, mas eu acho um absurdo fazerem isso quando passaram meu salário nos últimos três anos pra conta certa. O estúpido do sobrinho que tomou meu lugar se confundiu na papelada que mandaram ele fazer e ele acabou lidando com os documentos do meu acerto e fez bagunça. E agora estavam tentando contatar o felizardo que recebeu minha grana, pediram pra esperar um mês pra resolverem.

Vou esperar? Lógico que não.

Vou abrir um boletim de ocorrência e ir atrás de um advogado, vou querer minha multa incluso nessa porra.

Talvez seja pela "maldição" de azar que possuo que isso aconteceu. Geralmente, maldições são rogadas, não surgem do nada. Talvez deveria procurar algum especialista nisso, algo como um médium ou...

— Não vai adiantar de nada. — estremeci de susto ao ouvir uma voz ranheta e rouca bem próxima do meu ouvido e me virei, tomando distância do banco em que estava sentado. A bruxa estava ali, bem atrás de onde eu estava, usando preto, cada gato pendurado em um ombro, um sorriso sinistro nos lábios enquanto me encarava. — Se me chamar de bruxa outra vez... — começou e recuei um pouco mais, sua aparência talvez pior do que da última vez que a vi.

— Ô bruxa velha maldita, para de aparecer assim! — ela me encarou irritada e a voz do Sr. Novaes falando "Deixa de ser mal-educado, seu boca de sacola" me veio em mente e tentei corrigir. — Senhora. Dona. Dona Bruxa.

— Eu não sou uma bruxa. — replicou com mau humor, antes de puxar um dos gatos pela cabeça, o abraçando no colo e começando a acariciar seu pelo. — A maldição deveria ser sua última preocupação agora que essas coisas estão te encontrando, eles o veem como um farol... — bufei ainda mais cansado.

Sei que ela não vai explicar nada e eu não sou Sherlock Holmes pra desvendar mistério nessa hora ingrata no meio da praça depois do meu acerto ir parar na casa do caralho. Antes que eu perguntasse, ela arremessou algo que agarrei por reflexo, estranhando a textura na palma da minha mão.

— Use isso, ele vai te mostrar a gravidade da sua maldição. — abri a mão e vi um bolinha esquisita ali, felpuda, com uns pelinhos brancos ondulados e um rabo de três pontas, como o de um diabo daqueles desenhos antigos.

— Como eu...? — ergui a cabeça pra encará-la, mas não a vi. A dona bruxa havia desaparecido de novo. Olhei ao redor, preocupado de que surgisse na minha frente ou nas minhas costas, como costuma fazer. — Está tentando me ajudar a não morrer ou a virar sexto membro da gangue do Scooby Doo?

— Dê seu sangue a ele, feioso. — ouvi sua voz como um sussurro e bufei, mais aborrecido que antes.

Velha arrombada do caralho.

*  *  *    (=^・ェ・^=)   *  *  *

Sábado, 18:56

Enquanto preparava o jantar, ignorei aquela bolinha esquisita grudada na minha cara.

Depois que voltei da delegacia, amassei e espremi essa bolinha tentando descobrir do que é feita, mas além de muito macia e fofinha, não parece ser nada além de um brinquedinho bobo daqueles que se joga pro cachorro morder.

O estranho é que gruda na minha pele e faz cócegas de vez em quando, quase como se se movesse por conta própria.

Com os armários e a geladeira bem abastecidos com as compras que fiz de manhã, pude finalmente cozinhar alguma coisa mais elaborada, tipo uma lasanha. Não tenho muita coisa pra me gabar, mas minha lasanha está no topo da lista de coisas que eu posso me orgulhar de dizer que nunca vi uma melhor e já comi muitas lasanhas por aí.

Me apoiei no balcão pra esperar ela terminar de assar e apertei de novo aquela bolinha esquisita que a velha me deu. Estava prestes a amassar ela de novo quando ela emitiu um ruído engraçadinho e cada músculo do meu corpo enrijeceu.

Merda, não acredito que é um bicho vivo não identificado.

Enquanto considerava entre jogar essa coisa no lixo ou botar fogo, as palavras que a velha disse me veio em mente e me obriguei a pensar com calma. É com ele que vou saber se a maldição diminuiu ou não. Acho que uma gota de sangue não mata ninguém.

Tirei uma faca do suporte e respirei fundo, deixando aquela bolinha esquisita sobre o balcão, antes de considerar se realmente deveria fazer isso.

É loucura, eu sei que é. Uma velha bizarra que aparece e desaparece, tem cara de quem faz sopa de criança perdida e fica com aqueles gatos sinistros ao redor dela me deu uma bola macia, fofinha e bizarra que faz ruídos engraçadinhos e que precisa do meu sangue.

De qualquer jeito, preciso saber a gravidade dessa maldição. Se estiver muito ruim, eu só entrego pra algum deus e deixo a vida me levar. Ou a morte. Não tenho ânimo suficiente pra ficar lutando contra o inevitável.

Soltei o ar lentamente, resolvendo fazer isso de uma vez. Cortei meu dedo e quando o sangue começou a sair, pressionei naquela bolinha. Acho que não deve ser suficiente, mas quem liga? Vai que é um objeto amaldiçoado e eu esteja cometendo uma burrice sem tamanhos aqui?

De repente, senti uma corrente de ar estranha circular ao meu redor. Afastei a mão na mesma hora e observei com assombro aquela coisa ficar completamente negra. Uma fumaça estranha começou a sair daquela bolinha e minha visão ficou turva por um momento, antes de tudo clarear outra vez.

Tonto, me apoie contra o balcão, um estalo fazendo meu corpo estremecer quando senti uma esquisita sensação de dualidade, como se uma parte de mim tivesse sido transplantado para outro lugar e eu podia senti-lo bem ali, diante de mim. Aquela bolinha esquisita, que se remexeu e então, soltou um "kyu".

Senti que essa outra "metade" tomava consciência lentamente e prendi o fôlego vendo a bolinha se remexer outra vez e emitir um "krrr", aquela cauda pontuda fazendo um arco sinuoso ao redor de si mesma, os pelos se eriçando quando um olho se abriu no meio daquela pelagem, seguido por uma boquinha cheia de dentes pontiagudos em um bocejar preguiçoso, piscando mais algumas vezes antes do olho por fim se abrir e olhar ao redor, fixando em mim por fim.

"Papai", uma voz melosa e suave soou bem no fundo da minha mente e espremi os lábios, me perguntando se ouvi mesmo isso ou se estou imaginando coisas. Olhei ao redor, sentindo olhos sobre mim, me vigiando, mas foi uma sensação tão rápida que desapareceu logo em seguida que pensei estar imaginando coisas quando senti alegria. Não minha, claro que não.

Eu estou com sono, com fome, com dor de cabeça, com ódio daquele maldito escritório imundo, com medo do Sr. Novaes descobrir que fiquei desempregado, desabrigado e fui preso no meu aniversário e pavor do Nando descobrir que estou morando com um ômega. Não sei qual dos dois reagiria pior, só sei que os dois me querem fora do Brasil, de preferência bem embaixo do nariz deles onde poderão me vigiar, então alegria é a última coisa que sentiria logo agora.

Encarei a bolinha de volta, a certeza de que aquele sentimento de alegria vinha dela, um silêncio estranho surgiu enquanto ela se remexia, um par de asas surgindo daquele amontoado de pelos e então, ela disparou na minha direção como uma bala.

Me abaixei por reflexo, me jogando no chão e me virei a tempo de ver ela dar uma volta no ar, disparando de novo contra mim e forcei os pés no chão pra tentar me afastar. Ela bateu no chão, bem onde eu estava abaixado, e antes que eu me levantasse, ela disparou de novo e bateu na minha cara com um "puf" digno de uma pelúcia sendo esmagada.

— Krrrr... — emitiu um ruído, quase como um ronrom enquanto ia se esfregando na minha cara e afastei o rosto, a segurando pelo rabo pra observá-la.

Ainda é a mesma bolinha de antes, peluda e com um rabo de três pontas, mas agora todos os pelos são negros e tem uma fumaça que solta do "corpo" e fica ao seu redor.

Isso... não pode ser a gravidade da minha maldição, né?

Ela continuou emitindo aquele ruído engraçadinho, piscando aquele olho nojento e considerei jogar a bolinha sinistra pela janela quando a porta da sala se abriu de repente. Nem pensei quando enfiei ela no bolso do avental, a ouvindo soltar um "KYU".

— CADU! — era Henrique, quem mais seria? — Cadu, eu sinto cheiro de lasanha! — gritava se apressando, já parando na porta da cozinha e me encarando com as sobrancelhas franzidas. — O que você está fazendo? — abri a boca pra responder, mas a bolinha sinistra se remexeu na minha mão, o que me fez perceber que estava espremendo a coitada.

A soltei enquanto olhava ao redor, nenhum sinal daquela fumaça ou qualquer coisa estranha, acho.

— ... O jantar.

— No chão? — arqueou uma sobrancelha e tirei as mãos do bolso, me levantando.

— Eu caí. — menti, sentindo a bolinha se remexendo no bolso e dei um tapa nela pra parar, o que resolveu. Ou eu a matei, sei lá. Até soltou um gritinho que me fez sentir que sou horrível por bater nela.

— Acho que disse que não precisava fazer janta, lembra? De qualquer jeito, por que não disse que sabia fazer lasanha também? — e entrou na cozinha apressado com algumas sacolas na mão. — Eu ia pedir pra fazer no micro-ondas! — exclamou, tirando da sacola uma caixa de lasanha pronta. — Estamos em sintonia! Hoje estava doido por uma lasanha, mas não sei cozinhar isso e... — Tagarelava tão rápido que nem processei metade do que dizia. — Está me ouvindo?

— Eu ouvi. — ele estreitou os olhos, cheio de desconfiança e desviei o olhar pro fogão, espremendo os lábios. Sou um péssimo mentiroso, o melhor é ficar calado.

— Está bem... guarda essa lasanha do mercado, vamos com a sua mesmo, está cheirando bem! Eu vou tomar banho, então não vem me espiar! — e saiu da cozinha enquanto eu processava isso que acabei de ouvir. Ele acha que eu sou o quê? Um tarado?

— Como se eu fosse! — retruquei o ouvindo gargalhar e bufei, inconformado com o ego desse maluco.

Se eu quiser ver ossada, vou lá cavar um cemitério de novo, ué!

"Krrr..." aquela coisinha voltou a ronronar dentro do meu avental, se remexendo e fazendo cócegas na minha barriga.

A puxei de dentro do avental e a encarei. Sua cor era um pouco mais clara, talvez? Não tenho certeza. Agora está um roxo bem escuro, acho que vi errado antes por ser tão escuro.

"Krriu..." emitiu outro som fofo desses e a amassei de novo vendo-a piscar o olho várias vezes, a orbe se movendo ao redor como se estivesse curioso.

É tão macio. E fofo. Eita, espera, não é fofo não. É uma bolinha sinistra que se mexe, tem um olho sinistro e faz barulho fofinho de pelúcia. É bizarro pra cacete.

E um pouquinho fofinho.

Joguei aquela bolinha esquisita de volta dentro do avental, me apressando pra tirar a lasanha do forno. Enquanto preparava a mesa pra servir, aproveitei pra guardar as coisas da sacola e deixei uma cerveja pra ele. Ele bebe pra caralho, mal toma água.

Por mais que tentasse ignorar aquela bolinha sinistra, ela ficava se remexendo de lá pra cá e até andando dentro do bolso do avental, emitindo um ronrom baixo. Henrique não deve ouvir, pois não falou nada, então só me resta ignorar.

Quando Henrique voltou, usava um pijama ridículo com estampa de gatinhos, pantufas amarelas enormes e um gorro com orelhas de gato na cabeça, com o cabelo trançado de lado e ainda úmido.

— Se falar alguma coisa do meu cabelo, vou te jogar pela janela.

— Do cabelo eu não falo, finalmente lavou esse monte de sebo. — ele fez careta e apontei pra ele todo, impressionado que ele não sente vergonha de estar vestido como uma criança de cinco anos. — Qual é a desse pijama? Parece um vômito de unicórnio.

— Ganhei do meu irmão. Ele diz que combina comigo. — Sorriu, se sentando na mesa. Ah, se for considerar a personalidade infantil dele, acho que combina sim.

Quando servi o jantar, ele ficou tentando descobrir o que faço depois do horário de trabalho e além de enviar currículos e desenhar um pouco, não faço nada além de me trancar no quarto. Tentei ignorar o lance de morar com um ômega, mas é impossível, sinto como se tivesse que estar em alerta o tempo todo, mesmo sendo alguém com quem convivi no passado.

Quanto mais respondia suas perguntas, mais via a frustração em seu olhar só por quê não vejo séries, não sei jogar videogames, não saio pra passear pra baladas ou bares, não bebo, não fumo, não gosto de ficar comendo lanches por aí e os programas que assistia antes eram Globo Rural e Mais Você da Ana Maria Braga, além do Telecursos que via quando fazia os deveres de algum curso que eu fazia antes.

Antes de perder meu apartamento, tinha dois empregos, um de nove ás seis e outro de dez ás três, dormia quando chegava por volta das quatro e quando saía do emprego diurno, deixava o Discovery Channel ligado em casa pra pelo menos ter algum som ambiente e não ficar num silêncio absoluto em casa.

Como ele ainda parecia frustrado, tentei pensar em algo que eu fazia além de trabalhar, estudar ou passar os domingos de folga na casa da vizinha idosa brigando pela atenção dela contra o marido e os três gatos do casal.

Ele ficou bravo quando mencionou Harry Potter, mas não vi os filmes e mencionei que os livros são meio bobos, não fazem meu tipo de leitura já que adolescentes com doze anos estão descobrindo a punheta e virando sanfonas desafinadas, é meio ridículo pensar em um de doze anos matando uma criatura centenária e mortal com uma adaga no porão de um castelo bruxo.

Se tivesse lido os livros quando tinha uns oito anos, talvez tivesse gostado muito, mas li com dezessete e só conseguia pensar nos furos do enredo e o quão porcamente mal trabalhado foi o universo incrível que a autora tinha em mãos e jogou fora com um protagonista meio burro.

— Eu praticava luta antes, isso serve? — ele parou de comer, me encarando confuso, antes de me medir com um ar crítico.

Comecei lutando por recomendação médica, pra tentar diminuir o excesso de energia no meu corpo e controlar os distúrbios alimentares que tinha, além de usar como um "controle" da ansiedade e sindrome do pânico quando era adolescente.

Se passasse mais tempo treinando e estudando, não passaria tempo comendo sem controle até vomitar e voltar a comer.

— Então é isso? Gosta de lutar? — ele se empertigou cheio de interesse e acenei. — Tem uma academia aqui perto, sou associado, mas não uso pra nada. Pode se inscrever como um dos meus dependentes, vai ter um bom desconto e acesso a tudo. Tem pilates, salas de dança, dojo de lutas, spá e uma sauna também. — parece uma boa...

Estou muito impaciente e se voltar a treinar, vou poder socar alguma coisa e não vou ficar querendo esgoelar as pessoas por me darem bom dia.

— Depois manda o endereço. — ele acenou, sorrindo tanto que pensei que a cara ia se partir ao meio, os olhos brilhando enquanto exibia aqueles dentinhos de coelho dele.

— Vou avisar que você pode ir lá dar uma olhada, assim se decidir fazer a inscrição, já vão aplicar o desconto na mensalidade. Eu gosto de fazer um monte de coisas, tem esse evento de animes que rola no Minas Centro que eu vou, as vezes é em outro lugar, tipo algum colégio particular por aqui, sempre consigo fazer meus cosplays bacanas sem participar das competições, mas dessa vez vou participar sim, sempre tem muita gente que vem tirar fotos comigo. AH! Por que não te mostro alguns animes? São bem curtinhos, cerca de vinte e cinco minutinhos, acho que vai gostar. — e agora sorria de novo feito um maníaco. — Certa vez fui em um maid-café no Japão, todas as atendentes usavam orelhinhas de gato e trajes sexys de empregada, nunca fui tão feliz na vida e...

— Existe eventos pra se fantasiar de animais com orelhas de gato em cafeterias? — o interrompi e ele por fim calou a boca, me encarando confuso por um instante, antes de gargalhar, até jogando a cabeça pra trás. — Charles, eu não entendi metade do que você disse. Vai me mostrar vídeo de animal de vinte e cinco minutos? Tipo aqueles programas do Discovery, o Animal Planet? — ele sacudiu a cabeça, gargalhando ainda mais, até ficando vermelho.

— Entendeu errado... — tentou parar de rir, perdendo o fôlego e se inclinando pra frente. — Ai minha barriga! — exclamou, voltando a gargalhar e suspirei, bebericando da minha coca e esperando a crise de riso dele passar pra ter alguma explicação. — Goku, lembra? — falou sem fôlego, todo vermelho e os olhos até úmidos de tanto rir. — Assistíamos Dragon Ball quando pirralhos, quando íamos na casa de algum colega meu e quando alguém doou uma tevê pro orfanato e podíamos ver desenho lá, depois da escola.

— Ah... então isso aí é desenho?

— É, mais ou menos. Lembro que você gostava de Dragon Ball. Era uma peste que não parava quieto, mas se começava Dragon Ball, parava pra assistir e quando acabava, voltava ao seu "eu apocalíptico" de sempre... — não me lembro disso. — Existem milhões de animes, você deve se interessar por algum. Vou te mostrar meus favoritos. — e estava ainda mais empolgado que antes. — Prefere dublado ou legendado?

— Tanto faz.

— Ótimo! — e se dispôs a resumir todos os animes que gostava.

Me senti meio estúpido por ter pensado que se tratava de alguma coisa sobre animais, mas ele não ajudou em nada mencionando fantasias e depois orelhas de gato. Ainda não entendi metade dos termos que ele disse.

Depois de jantar, Henrique ainda pegou um monte de pacotes de salgadinho dos armários e carregou as cervejas pra sala, ligando a tevê enquanto se sentava no sofá. Eu já ia seguindo pro quarto, quando ele me encarou com um olhar de cachorrinho pidão.

— O que foi?

— Não ia assistir anime comigo?

— Eu ia?

— Ia sim, prometeu e tudo. — até deu tapinhas no sofá, indicando onde eu deveria me sentar e me encarou cheio de expectativas.

— Eu não prome...

— Prometeu sim, senta aqui! — meu interesse em desenhos é quase nulo, mas ver sua cara sorridente, os olhos brilhando de empolgação e querendo me mostrar algo que realmente gosta me tornou incapaz de dizer que não tenho interesse nisso.

Tive de convencer ele a pelo menos me deixar tomar um banho primeiro e já estava com o cabelo cheio de xampu quando lembrei daquela bolinha. Esqueci a bendita no avental, ela ainda está lá? Ou saiu voando pela casa?

*PUF* - a coisinha surgiu numa bolinha de fumaça bem diante dos meus olhos, aquele olho medonho piscando pra mim, antes dela dar uma volta em torno de si mesma. Me preocupei à toa.

"Krr..." saiu ronronando ao meu redor, até se esfregou no meu cabelo e tive de bater nela várias vezes pra conseguir lavar o cabelo em paz.

E ainda tive de lavar ela, já que molhou toda e encheu de espuma se embrenhando no meu cabelo. Soltou um gritinho engraçado quando a espuma caiu naquele olho e senti que estava criando um filho estúpido enquanto tentava lavar aquele olho pra ela parar de fazer barulho e se sacudir.

Meu banho rápido demorou quase o triplo do tempo já que aquela bolinha esquisita escorregava igual sabão, não queria lavar o rabo e ficava escapando pra voar e ficar rolando pela parede e pelo chão.

E enquanto me vestia, ouvi o som de algo caindo na água e encarei a privada. A desgraçada estava nadando na porra da privada.

Cerrei a mandíbula pra não gritar de frustração enquanto enfiava a mão na privada, já que a burra não conseguia sair sozinha e ficava rolando e gritando na água, tive de dar outro banho nela e felizmente ela aprendeu a ficar de olho fechado ou teria sabão no olho de novo. Teleportou pra invadir meu banho, mas é incapaz de teleportar pra fugir da privada, bicho burro do carai.

Sinto que estou criando um filho burro que eu nem gozei pra ter.

Quando finalmente saí do banheiro, estava exausto. Sequei a bolinha com cuidado, já que ela parecia ter dormido depois de ficar tanto tempo com o olho fechado e amassei ela um pouco, ela fazendo aquele som de pelúcia fofo.

Se eu levar pra sala, Henrique vai descobrir... se não tiver descoberto ela graças ao escândalo que fez durante o banho.

Não importa. Deixei a bolinha no meu travesseiro antes de ir pra sala, só pra ser recebido com Henrique emburrado zapeando por um catálogo que mostrava uma infinidade de desenhos na tevê.

— Demorou. — resmungou, bebericando de uma lata de cerveja.

— Foi mal. — me sentei no sofá, sacudindo uma toalha no cabelo. — O que vamos ver?

One Piece.

— E é sobre o quê?

— Piratas. Você vai gostar, não tem romance.

— Eu não ligo se tem romance. Tem quantos episódios?

— Poucos. — sorriu depois de outro gole da cerveja e estreitei os olhos, desconfiado. Ele está com aquele olhar sacana que me estressa. — Vai gostar muito. Al, apague as luzes de todos os cômodos.

[É pra já.] e o assistente fez todas as luzes desligarem.

Comigo ele fica enrolando e falando "não entendi, pode repetir?" ou "você quis dizer: ligar para os bombeiros?".

Não o culpo, eu que fico espancando ele quando estou entediado. Henri até disse algo sobre ele estar no modo "amigo", onde tira a liberdade de agir como se fosse gente e, com tanta perturbação, poderia parar de receber minhas ordens só por birra. Pois agora ele vai sofrer o dobro comigo, pra deixar de ser otário.

Continuei secando meu cabelo com uma toalha quando ele colocou o desenho e vi como o desenho começava explicando alguma coisa sobre um rei de piratas e seguia vinte anos depois da morte dele, até um garoto saltar de um barril e espancar uma mulher. Foi meio divertido, mas Henrique ao meu lado parecia mais emocionado que criança entupida de açúcar em parque de diversões.

Ignorei o fato do Henrique que estava sentado lá do outro lado do sofá de alguma forma acabou grudado no meu braço, uma perna por cima do meu colo enquanto comia salgadinhos, enrolado em uma coberta até a cabeça, só o rosto e as mãos livres.

Não gosto de ser tocado, muito menos por um ômega, mas acho que se for ele, não tem problema.

Ele era assim quando éramos crianças, não entendia sobre espaço pessoal e só faltava me carregar no colo em todo canto. Não acho que vá fazer diferença mandar ele parar de grudar em mim agora e se não for por baixo da roupa, posso resistir ao impulso de recuar.

Nunca tive paciência pra ficar só sentado assistindo tevê, depois de alguns episódios, sentia os olhos pesarem de sono e queria ir pro quarto dormir, mas se é algo que ele gosta, posso aprender um pouco pra pelo menos saber do que ele está falando

A autora tem algo à dizer:

Dêem as boas-vindas ao mascote burro do bonde!! ✧*。٩(ˊᗜˋ*)و✧*。

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