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09 | Os Empata-Foda

Henri

18/01/2018

Quinta-Feira, 10:38

Abri os olhos com o coração saltando do peito, os últimos resquícios do pesadelo se tornando cada vez mais confusos e distantes em minha mente.

Ainda podia sentir o corpo frio, cada músculo rígido, o suor frio cobrindo cada parte do meu corpo, a fraqueza no corpo me fazendo levantar com dificuldade e sair da cama, meio atordoado, procurando... eu não sei, alguma coisa.

Quanto mais tentava me lembrar do pesadelo, mais ele se tornava confuso e sem nexo, nenhuma palavra fazendo sentido, qualquer acontecimento vago demais pra me lembrar o que aconteceu.

Os últimos resquícios desaparecendo da minha mente enquanto tropeço em direção ao banheiro pra tomar um banho pra tentar relaxar.

Lavei o rosto com água fria da torneira, me sentindo completamente exausto. Quanto tempo eu dormi? Eu não sei também, detesto dormir. É sempre pesadelos, nunca um sonhozinho bom, do tipo voando por aí ou jogando xadrez bruxo com Harry Potter... É sempre sangue, e ossos, e campos de batalhas, e gritos e choros, cadáveres se agarrando em mim, implorando por ajuda, por salvação e eu não posso salvar ninguém, me afundando numa pilha de carne podre e...

Suspirei, olhando pra ducha. Um banho gelado, é o que eu preciso.

Me despi e liguei a ducha, mas saltei de horror quando enfiei a mão debaixo da água, tão gelada que até os ossos congelaria. Deixa pra lá, detesto água fria. Mudei para o modo cozimento, pra arrancar a pele e cozinhar cada músculo do meu corpo e até lavei o cabelo enquanto tentava ignorar a sensação esquisita que fica persistindo em mim depois de cada pesadelo.

Já estava enrolado na toalha e procurando meu secador pra lidar com meu cabelo quando ouvi batidas sutis na porta e demorei um segundo pra lembrar que agora tenho um funcionário vagando pela minha casa.

E que o funcionário é o meu filhote.

— Charles, seu puto, acorda aí! — já começa o dia me ofendendo, olha que abusado.

Escancarei a porta, mais uma vez me surpreendendo pelo meu filhote ter virado um... lobo gigante...

O desgraçado era todo fofinho e delicado quando criança, razão pela qual eu tinha de ficar atrás pois era um ímã de gente estranha.

Agora não tem só uma skin lendária (sua cara) como também habilidades apelativas (como vários idiomas e culinária avançada). Sem a barba é muito mais bonito, parece ter rejuvenescido uns dez anos e além de tudo, é alto. Muito alto. Talvez até mais alto que aquele alfa boca de sacola do Fael, que ja parece um poste.

Ele recuou um passo, me medindo de cima a baixo com uma expressão fria, franzindo um pouco o cenho quando voltou a olhar nos meus olhos.

— Bom dia, cria satânica. — olha como é simpático. — O almoço está pronto, não vai vestir umas roupas?

Apoiei uma mão na cintura e sorri o mais sem vergonha possível, ajeitando o cabelo com a mão livre.

— Por acaso gosta do que vê? Está encarando fixamente... — arqueei as sobrancelhas e pela cara que fez, tenho certeza de que ofendi ele em algum nível.

— Estou considerando quais carnes, legumes e vegetais adicionar na sua dieta pra te engordar já que você está abaixo do peso ideal considerando que tem cerca de um e oitenta. Você é meu salário agora, te manter vivo é minha prioridade. — uma cusparada na cara seria menos ofensivo que isso.

Deixei os ombros caírem enquanto deslizava a toalha da cintura pra tentar me cobrir um pouco mais.

— Agradeço a consideração. — debochei e ele acenou, como se não tivesse captado meu deboche.

— Vai vestir alguma coisa, eu vou servir a mesa. — concordei com um murmúrio e vi ele seguir pelo corredor, desaparecendo pela sala.

Fechei a porta, indo atrás do pijama mais longo, largo e folgado que consegui achar, só pra ele não ficar me analisando como se visse um doente terminal. Agora sei por que diabos ele sempre me encara fixamente, provavelmente fica analisando minha aparência e descartando doenças que eu devo ter ou não.

Eu só estou nove quilos abaixo do normal, e daí? Quem liga? Eu não.

Trancei meu cabelo e coloquei um gorro, antes de me apressar pra cozinha, mas parei na sala ao ver ela literalmente brilhando. Desde o piso, às janelas e paredes, tudo está tão impecável que parece melhor do que quando me mudei.

A mesa de centro não tem uma marca sequer, o sofá está com um cheirinho agradável, o estofado até mais claro... O que diabos ele fez? Trocou a mobília na hora e meia que eu dormi?

Quando entrei na cozinha, o vi servindo a mesa da copa com diversas travessas diferentes.

— O que você fez? — me sentei em uma das cadeiras, já puxando um prato, mas ele o tomou da minha mão e serviu ele mesmo.

— Arroz carreteiro, bife de panela de pressão acebolado, salada havaiana e tutu de feijão batido com bacon. — e enquanto respondia, foi colocando uma quantidade ridícula de comida no meu prato.

— Que isso, está querendo me tornar um alpinista? — brinquei, sem muita certeza de conseguir comer tudo isso quando ele me empurrou o prato. — Dá até pra sentir rarefeito daqui de cima, é um Everest de comida.

— Você é grande. Pessoas grandes têm que comer muito. — espremi os lábios outra vez, me controlando pra não ter um surto e mandar ele ir pra puta que o pariu. Eu sei que eu sou alto, todo mundo aponta isso no instante em que sabe que eu sou ômega, um Avatar. — Saco vazio não para em pé.

— Eu não como tudo isso, Cadu.

— Vai comer.

— Eu não vou conseguir.

— Sim, você consegue.

— Não, eu não...

— Então não vai comer da sobremesa.

— O quê? — pisquei atordoado, o encarando confuso. — Que sobremesa?

— Bolo com massa de chocolate meio amargo, recheio de mousse de maracujá e conhaque, brigadeiro de morango e cobertura de chocolate ao leite com uísque. E morangos fatiados. — o encarei incrédulo.

— O-onde comprou? Eu não pedi pra...

— Eu fiz. Comprei os ingredientes de manhã.

— Você sabe fazer bolo?

— Sei fazer diversas sobremesas. Fiz curso de confeitaria quando era mais novo. — senti a boca até salivar pra provar desse tal bolo, mas aí ele apontou para o prato. — Se não comer, não tem bolo.

— E eu sou criança agora?! Eu posso me cuidar e...

— Come sua comida, Henrique. — ele me encarou sério, um arrepio descendo pela coluna me fazendo hesitar. — Você vai comer tudo o que tem no seu prato ou nada de bolo.

Quis rebater, dizer que ele não manda em mim e se eu quiser comer bolo ao invés da comida, eu como sim pois sou quatro anos mais velho que ele. Mas seu olhar intenso me fez hesitar e me vi enfiando uma colherada de comida na boca em um silêncio conformado.

Estou comendo por quê eu quero, não por quê ele manda.

Enquanto comia, reparei que o Cadu continuou limpando e organizando o que bagunçou enquanto cozinhava, nem fazendo questão de se servir. Tive de insistir pra ele vir comer, mas ele disse que comeria depois das duas.

— Se não comer agora, não vai comer depois, vou ativar o modo tirânico e te infernizar o restante do dia. — ele me encarou duvidando do que eu dizia e sorri o mais inocente possível, o que o fez se sentar, servindo um pratinho mixuruca. — Serve mais, é muito pouco isso aí...

— Que horas foi dormir ontem? — e resolveu ignorar o que eu falei, começando a comer. — Você está acabado.

— Uma hora atrás, eu acho.

— Não dormiu?

— Não muito. Estava trabalhando já que estava inspirado. Onde aprendeu a cozinhar?

— Sozinho. Por quê?

— Você é muito desconfiado, só perguntei por perguntar. Tudo que eu pergunto, você retruca com um "por quê", eu hein... — ele soltou um suspiro, antes de por fim falar.

— Meu ex não sabia cozinhar, dizia que se nos casássemos, ou eu cozinhava ou íamos viver de fotossíntese. Então eu aprendi a cozinhar.

— Ex? Logo você? — comecei a rir, incrédulo. Quero saber a louca que se apaixonaria por essa cara carrancuda dele. — Não parece do tipo que namora.

— Eu não sou.

— Qual é, logo você com essa cara?

— O que é que tem a minha cara?

— É que... você é muito... err... nada. — deixei pra lá, falar que é bonito vai deixar ele convencido. — Como pode não ser do tipo que não... ah! Espera aí! Qual seu tipo? Posso te arranjar alguma garota, tenho muitos contatos. — dei uma piscadela divertida, mas ele nem reagiu. — Qual é, seria legal sairmos pra nos divertir e...

— Não tenho interesse. — ué, como assim não... será que ele é gay? Bem, é possível já que é beta...

— Então... garotos?

— Não. — nem hesitou.

— Não se preocupa, não tenho nenhum preconceito. Conheço alguns garotos também... — ainda tenho contato de alguns colegas que fiz quando era modelo, com certeza se interessariam se eu apresentasse o Cadu.

Ele negou também, então não tive escolha senão deixar isso de lado. Ele não tentou puxar assunto, até parecia desconfortável comigo e terminou de comer rápido, se levantando pra terminar de limpar a cozinha.

— Vou lá limpar aquele ninho de ratazana onde dormiu. — avisou e na mesma hora lembrei dos rabiscos que fiz desenhando ele com a armadura do meu protagonista e que agora são um monte de bolinhas de papel no lixo.

— Não revira meu lixo! — ele concordou com um "aham" que não me deixou muito seguro e saiu da cozinha. Aposto que ele vai revirar sim!

Merda!

Comi tudo quase engasgando só pra ir lá conferir e quando cheguei na entrada do quarto, ele já tinha limpado quase tudo.

Ele trocou as cortinas, abriu as janelas, colocou um jogo de cama limpo, tirou as roupas espalhadas por aí, as embalagens de salgadinhos, latas de cerveja e caixas de pizza, limpou o chão e a mobília e já estava retirando meu tapete felpudo quando me encarou.

— Mexeu no meu lixo? — questionei, encarando o cesto de lixo do lado da mesa do meu computador.

— Não ' caçando seus restos de punheta não, ô paranoico. — ele ergueu o tapete e senti meu rosto queimar só de saber que ele acha que eu sou um punheteiro no auge da puberdade!

— Não é isso! — me aproximei da lata de lixo, mortificado pela vergonha, odiando como minha voz quebrou ao gritar meio desesperado e ergui as bolinhas de papel, que ele olhou com desinteresse. — Não quero que leia meus manuscritos! — e os enfiei no cesto de novo. — E eu lá me pareço com adolescente punheteiro?!

— E eu lá me pareço com catador de lixo? Vou ficar revirando teu lixo pra quê, Charles? — bufei, me sentando na cadeira e ele dobrou o tapete, o apoiando debaixo do braço. — Vou trazer esse tapete de volta depois que exorcizar ele, vê se não joga toalha molhada por aí, fica tudo com cheiro podre.

— Até as cinco eu sou seu chefe!

— Só porque é meu chefe, não deixa de ser um porco. — revirei os olhos e ele saiu do quarto sem nem olhar pra trás, parecia quase fugir do meu quarto.

Voltei pra cozinha ao lembrar do bolo que deixei de lado antes, estava ansiando um pedaço dele com tanta gana que nem parece que comi o meu peso em um prato, ignorando o Cadu que disse que ainda não estava pronto pois não tinha gelado o suficiente pra finalizar a cobertura. Servi um pedaço generoso, indo ao céu e voltando na primeira garfada. O capetinha é bom mesmo nessas coisas, se vendesse, já seria rico!

Comi outros dois pedaços só pra não deixar ele triste pelo bolo ficar intocado antes de decidir parar de enrolar e voltar a trabalhar. Meu prazo termina sexta que vem e preciso escrever outros sete capítulos pra pelo menos finalizar um arco.

Voltei pra sala e me sentei no tapete, apoiando meu notebook na mesa de centro enquanto voltava a escrever, até ver o Cadu passando da sala de jantar pro escritório-biblioteca pra limpar lá. Deveria comprar alguma coisa pra ele usar enquanto limpa, tipo um avental... Contive o riso imaginando ele com um avental rosa cheio de babados e frufrus, aposto que ele não vai querer usar.

Tentei ignorar ele indo e vindo pelo apartamento enquanto limpava e tirava tudo do lugar. Não fez barulhos ou ruídos, foi tão silencioso que me assustava cada vez que via sua sombra indo de lá pra cá.

Estava sentado no chão, finalmente terminando outro capítulo quando ele parou no meio da sala, olhando ao redor, como se procurasse outra coisa pra fazer e bufou.

— Deveria parar e descansar um pouco. — sugeri e ele me encarou.

— Eu já terminei.

— Quê? Que mentira, esse apartamento é enorme.

— Não é. — e olhou ao redor outra vez. — Não tem mais o que fazer. Deveria virar diarista ao invés de...

— Deixa de besteira, se terminou, senta aí e vê um filminho, uma série...

— Não vejo tevê. — e puxou o celular do bolso, o verificando por um instante, antes de sua expressão se tornar ainda fechada.

— Que foi? Aconteceu alguma coisa? — ele me encarou, a face tensa relaxando um pouco antes de negou com um aceno. — Pode ver tevê, não me importo.

Sinalizei para que se sentasse enquanto ligava a tevê. Até perguntei se ele tinha alguma preferência e ele negou outra vez, então coloquei Game of Thrones, antes de verificar meu zap que não parava de chegar notificação com Fael e Manu mandando um monte de mensagens.

💬 Manu: Quero encher a cara hoje. 😤 | 15:43

💬 Fael: Aposto que levou um chute na bunda kkkk | 15:44

💬 Manu: Deixa de ser ridículo, não foi nada disso | 15:44

💬 Fael: Você só quer beber quando leva um fora ou virou corna | 15:45

💬 Fael: Muge aí, chifruda! Muuuuuge! | 15:45.

Contive o riso, vendo os dois se alfinetando sobre isso por um tempo, até o Fael ceder e se dispor a consolar ela, que admitiu realmente ter se dado mal de novo. O cara que ela estava ficando recentemente aparentemente, é casado.

💬 Fael: Ainda não é sexta, mas que tal virem aqui na minha casa? Lanches e bebidas por conta do Henri. | 15:48

💬 Você: Êpa, que papo é esse de por minha conta? | 15:49

💬 Fael: Você prometeu nos pagar lanches se te ajudássemos á stalckear aquele candidato bonitão que você espantou quinta passada. | 15:50

E ainda teve a ousadia de mandar os prints da conversa, Manu mandou um monte de emojis rindo e tive de os lembrar que é válido somente para sextas-feiras, o que eles driblaram insistindo que poderiam adiantar o dia dos lanches. Bufei, concordando só pelo coração partido da gazela da Manu, que só se dá mal com esses caras que ela inventa de sair. Então hoje virou a noite dos lanches.

💬 Fael: Não, pera! Eu chamei o Victor pra vir aqui hoje, não dá. | 15:52

💬 Fael: Remarca pra amanhã, pufavô. T-T | 15:53

💬 Você: Ia transar né safado? kkkk | 15:54

💬 Você: Te fode aí otário, já era, hoje é noite dos lanches! | 15:54

💬 Manu: Não acredito que você vai me trocar por um macho, mami ಥ_ಥ | 15:55

Continuamos o provocando até ele desistir e concordar em ser hoje mesmo. Aí Manu deu o braço a torcer e disse pra ele chamar o carinha também, bom que obrigamos ele a assistir nossa série da Ann With an E. Esse tal Victor só o vi duas vezes antes, irmão caçula de um amigo do Fael e pra tristeza dele e burrice do Fael, agora Manu e eu iremos lá só pra servir de empata-foda.

Mesmo que seja alfa, ele não é maluco, pelo menos até onde eu sei e não tem aquela presença de alfas. Fael disse que ele toma supressores com frequência, não sei se é muito saudável, mas muitos alfas fazem isso hoje em dia.

Encarei o Cadu, que estava mexendo no celular com uma carranca ainda mais fechada que antes e hesitei um pouco. Talvez ele possa se dar bem com aquele outro alfa e tirar ele de perto, não seria uma má ideia.

Convidei ele pra essa noite de lanches com meus amigos, só pra receber um "não", sem qualquer explicação. O que é que custa ele dar uma razão pra sair negando tudo o que eu sugiro?

Suspirei, decidindo voltar a escrever, até ver pelo reflexo do computador que ele estava me encarando. Deve estar entediado.

— Antes disse que não vê tevê, não vê nem um filme? Uma série? — o encarei, me virando um pouquinho e apoiando o braço em sua perna e ele negou. — Não gostou de Game Of Thrones? — apontei pra tevê, que já estava na metade do primeiro episódio.

— Não.

— Como assim "não"? É ótima e...

— "Não" de não. Inventaram outro significado para o "não" e não fiquei sabendo? — mas é um grosso mesmo, um cavalo ignorante.

— É que ficou me encarando.

— Estava pensando que tipo de história você escreve.

— É só perguntar. — sorri, me preparando pra contar sobre a minha obra onde o protagonista hedonista se parece muito com ele.

Foi só uma coincidência, já que quem é baseado na aparência que pensei que ele teria é o outro protagonista, um criado ômega.

Jurei que ele seria ômega pela aparência que tinha na infância.

O Cadu era todo delicadinho e adorável quando pirralho, com olhos grandes e expressivos, narizinho empinado, boca vermelhinha, além do cabelo meio longo e cheio de cachos e as covinhas nas bochechas, tudo isso somando com sua cara infantil, era mesmo como uma boneca.

Os adultos adoravam apertar as bochechas dele e as garotas o cercavam o tempo todo e eu sempre saía no soco com uns garotos idiotas que inventavam de chamar ele de mariquinha ou bicha, me irritava pra caralho. Não podiam ver uma criança fofa que inventavam apelidinhos.

Eu não era bom de briga e o Cadu sempre se metia, mas ver ele espancando os garotos que o apelidavam de "mariquinha" e "bicha" por causa da aparência dele era um deleite. Podia rir deles por dias.

Felizmente, o protagonista alfa também é um pouco parecido com ele, só que com cabelos longos e ondulado, sempre preso num rabo de cavalo alto. É, eu posso estar usando o Cadu agora pra acertar direitinho a aparência do protagonista do meu livro, ele quem deixou, problema dele agora.

— Eu não quero saber. — até senti a animação escapar do meu corpo feito um peido, o encarando confuso.

— Mas então por que estava pensando nisso se não quer perguntar e nem saber a resposta?

— Já pensei como funciona uma nave espacial, mas nunca pesquisei pra saber. — que lógica é essa? — Não é porque pensei em alguma coisa, que eu vou tentar descobrir a resposta, não sou movido pela curiosidade.

— Hm... eu sou. — ele deu um sorrisinho mínimo, me olhando divertido enquanto aquelas covinhas finalmente eram bem exibidas, sem a barba atrapalhando. — Pode assistir alguma série na Netflix. Tem muitas que são boas.

— Não, pode continuar aí. Vou revirar isso aqui. — ergueu o celular e continuou mexendo nele. Me levantei e me sentei do lado dele, vendo ele batendo no avatar do Al, que socava a tela tentando bater de volta.

— É sério que é isso que vai ficar fazendo?

— Volta a trabalhar, que tal?

— Eu estou com bloqueio. — suspirei, me esparramando no sofá. — Não consigo passar de certa parte...

— Acho que é porque está virado. Dorme que passa. — além do coice, ainda foi se afastando um pouco e o encarei aborrecido. Tem feito isso o tempo todo, recuando, me afastando, como se eu fosse algo nojento que nem quer ficar perto.

— Você era bem mais gentil comigo quando era criança. — resmunguei e ele ficou um instante imóvel, antes de acenar guardando o celular.

— Está bem, me desculpa. Que é que você quer, Charles? Tem alguma coisa que eu possa fazer pra você sair desse bloqueio?

— Henri. Me chama de Henri. — e o desgraçado ainda negou com aquele arzinho insolente. Suspirei, me esparramando pelo sofá. — Tem café? Você fez de manhã?

— Não, eu não fiz.

— Hm... faz um pouquinho... — o cutuquei na coxa, dando alguns tapinhas ali e ergui o olhar, vendo ele me olhando com os olhos entrecerrados . — Hein... Cadu... só um tequinho de café pra nós...

— Significa que não vai dormir?

— Eu vou sim, depois de tomar um pouquinho de café... ainda são... quatro e doze. Ainda é meu escravo. Cadê meu café?! Me serve, vadia! Me serve! — brinquei, mas vi sua expressão se fechar ainda mais.

— Vou fazer. Mas me chama de vadia mais uma vez e eu vou realmente bater em você. — quê? Será... gente, mas será que nem isso ele entendeu?

— Não pegou a referência?

— Referência do quê? — vi sua expressão ficar ainda mais confusa e pisquei incrédulo.

Não acredito que ele perguntou isso!

Me dispus á explicar sobre Avenida Brasil, a novela que literalmente, parou o país em dois mil e doze no último episódio. Sua cara me vendo falar era a de alguém encarando um louco, mas não me importei. Adoro essa novela, já revi umas dez vezes. Quando terminei, ele perguntou se podia ir fazer logo o café ou eu já tinha desistido dele e o expulsei antes que realmente não fizesse meu café.

Me espreguicei no sofá, o cheirinho de limpeza até me fez esquecer que entulhei ele de lixo semana passada e a sonolência que ignorei a tarde toda começou a me consumir. Detesto dormir, então desci do sofá e tentei voltar a escrever, mas não conseguia pensar em nada. Apoiei a cabeça no sofá, encarando o teto, a sonolência só piorando.

Só percebi que dormi quando acordei com o toque alto do meu celular, deitado na minha cama e enrolado como um burrito no cobertor. Me sentei com dificuldade, sem ter ideia de que ano estou, quem eu sou ou como vim parar aqui, até encarar o relógio de cabeceira. Oito e quarenta e sete.

Me levantei num pulo, tropeçando no cobertor que se enrolou no meu tornozelo e felizmente não caí ao correr pro banheiro pra lavar o rosto e escovar os dentes. Me arrumei apressado. Estou atrasado pra noite dos lanches e nem pedi a porcaria dos lanches.

Resmunguei um palavrão enquanto pegava o celular e mandava mensagem pro pessoal, correndo pra fora do quarto, mas parei já na porta da sala ao lembrar do Cadu. Ignorando o apartamento quase escuro, segui de volta pro corredor e bati na porta do quarto dele.

Como demorou alguns segundos, continuei batendo até a porta abrir e ele surgir usando só um moletom, o cabelo ainda úmido bem encaracolado puxado pra trás. Pelo cheiro de sabonete e creme de barbear, deve ter saído do banho agora.

— Eu vou sair, você... — comecei, desviando o olhar apenas pra ver uma coisa estranha na cama dele, parecia um monte de fio. — Que isso ali? — apontei, voltando a encará-lo e ele espremeu os lábios por um momento.

— É crochê. — murmurou após um instante de silêncio e pisquei devagar, o encarando atordoado.

E então, a risada veio. Lá do fundo da alma, incontrolável, só de imaginar esse gigante com essa carranca inexpressiva sentada tal qual uma senhorinha fazendo crochê, senti a barriga até doer de tanto rir.

— Quem diria ha ha ha ha... ai minha barriga! — tentei falar entre risos e ele suspirou, fechando um pouco mais a porta. — Você faz crochê? Hi hi hi... Ai, qual o nome da idosa que habita em você? — e gargalhei ainda mais quando ele confirmou, indiferente. — Você é uma mocinha bem prendada hein, crochê? Jura?

— Pode rir a caminho de sabe-se lá pra onde vai. Se era só isso... — e começou a fechar a porta, recuando de volta pra dentro do quarto, mas gritei tentando parar de rir e batendo na porta pra ele não fechar. — Que foi?

— Desculpa, não estava rindo de você... — estava sim, mas ele não precisa saber. — Anda, Carlito, não fique emburrado... — persuadi, mas ele só tentou fechar a porta de novo e arranhei a garganta, me impedindo de rir outra vez. — Você quer vir ou não? Vai ser divertido e...

— Já disse que não.

— Ah, qual é! Deixa de ser rabugento, vem. Vai ter um alfa lá, Victor, que é tào girafa quanto você. Dá pra vocês virarem amiguinhos, que tal? — brinquei e ele parou por um momento, franzindo um pouco aos sobrancelhas, antes de suspirar, negando outra vez.

Talvez tenha ficado mal-humorado só por quê ri um pouquinho do passa-tempo de velha dele, já que não se comoveu mesmo quando ofereci cinco reais pra ele vir comigo, praticamente bateu a porta na minha cara dizendo que era quase hora de dormir, o que é mentira pois ainda nem são nove da noite.

— Não me surpreenderia em saber que um insuportável que nem você não tem nenhum amigo! — chutei a porta do quarto dele antes de sair, decidindo não chamar mais esse rabugento pra nada.

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