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03 | Entrevista Com um Burguês Safado

Henri

10/01/2018

Quarta-Feira, 08:37

— Vai mesmo fazer isso? — Fael soltou um suspiro exagerado, parado na entrada do meu apartamento e me encarando como se eu estivesse louco.

— Não vê que eu já estou fazendo? — questionei, preparando meu apartamento para receber os candidatos.

— Henri, é perigoso receber um monte de desconhecidos no seu apartamento assim.

— Por isso mandei um dos seguranças que papai contratou pro prédio ficar bem escondido no final do corredor, qualquer ameaça e ele vai agir, não tem nada com o que se preocupar.

— Você está louco.

— Sim, louco pela minha liberdade. Não quero um funcionário me vigiando desde a hora que acordo até o final do dia. — joguei umas caixas de pizza e embalagens de salgadinhos por ai. Os candidatos vão ter uma surpresa quando entrarem aqui. — Acha que é o suficiente? — franzi o cenho e ele suspirou.

— Acho que isso é loucura. — cruzou os braços e revirei os olhos, já impaciente. — Esse lugar está fedendo, Henri.

— Será que dá pra ajudar a espantar os candidatos ou vai ficar aí me julgando?

— A segunda opção é mais divertida. — o encarei um pouco irritado, apoiando as mãos na cintura e ele riu. — Ainda acho que deveria só desmarcar todas as entrevistas.

— Já fiz isso semana passada, quase que o meu irmão bota um ovo de puro nervoso que ele passou. Mais ou menos. Mandei os candidatos pra um prédio suspeito de golpe.

— Então espanta os candidatos de uma forma menos horrível! Vai aterrorizar eles com isso! E acha que só isso vai bastar?

— Claro que não! Por isso paguei o Rodrigo pra agir feito um babaca lá na portaria e ainda proibir a subida pelo elevador.

— Vai fazer os candidatos subirem onze andares? — ele (que já havia pegado um saco de lixo e começou a jogar latas de cerveja e refrigerante por aí) me olhou espantado e sorri.

— Claro que sim.

— Henri! Se ele irritar alguém, pode até levar um soco!

— Ninguém vai tentar bater nele com os seguranças ali. E eu prometi um bônus pra cada xingamento que ele receber, aposto que vai se esforçar pra isso. — ri e ele suspirou, tirando uma caixa de pizza e jogando em cima do sofá.

— Que nojo... eu não vou mais usar esse sofá depois de hoje... — fez careta.

— Nem eu. Vou redecorar a sala toda, detesto essas cores. Por isso estraga tudo o que ver pelo caminho.

A primeira vez que fizeram entrevistas na empresa do meu irmão, invadi a empresa fantasiado de Hatsune Miku e constrangi os candidatos, fazendo eles cantarem e dançarem como parte da entrevista, a maioria foi embora sem hesitar, o restante nem respondeu a tentativa de contato da assistente do meu irmão, responsável pela entrevista.

Então, da segunda vez eu mudei o endereço para um prédio que é conhecido por entrevistas de emprego que terminam em vendas de cursos, óbvio que Lucca ficou furioso e me proibiu de arruinar a entrevista outra vez. Então irei fazer a entrevista direitinho. Ou quase.

Só mudei o dia e o local. Quando terminei de bagunçar a sala, verifiquei todos os currículos. No total são onze coitados.

Pedi pra assistente algumas exigências bem ridículas pra alguém que vai cuidar de uma casa, coisa como curso técnico de administração, mais de um idioma, referências anteriores e experiências dignas de salários muito melhores, além de uma aparência... agradável aos olhos. Quando disse que não queria gente feia, ela me olhou como se eu fosse uma aberração fútil digna de pena, mas concordou e fez o que eu pedi. Já não basta ter de entrevistar um monte de gente, ainda vou ter de lidar com um monte de feios o dia todo? Nem pensar!

Mostrei pro Fael os currículos no meu computador, todos com fotos de perfil no currículo, um monte de garotas gatas, do tipo que me fariam olhar duas vezes em uma balada. Pena que estão vindo para serem massacradas.

— Está recrutando modelos ou algo assim?

— Deixa de ser ridículo. Não estou recrutando nada. Uma pena ter de dispensar essa... — apontei pro currículo de uma garota, os cabelos pretos e cacheados, olhos escuros, pele clara, linda.

— Claro, faz seu tipo. — debochou ao cruzar os braços. — Se é assim, esse também faz! — apontou pra foto de um outro, o cabelo preto cheio de cachos volumosos, os olhos cinzas, óculos na face e fiz careta.

— Eu não gosto de homens. — mas que é bonito, ele é.

Quanto mais encarava, mais estranho parecia, quase que familiar de alguma forma. Foi quando vi o nome que percebi de onde achava familiar. Carlos Eduardo.

O mesmo nome do capeta no orfanato que subia no telhado e ficava brincando na beirada pra me causar ataque cardíaco. Devo estar associando ele com aquela peste do orfanato por que possuem o mesmo nome.

— Ei! — Fael estalou os dedos na frente do meu rosto e pisquei atordoado, o encarando. — Ouviu o que eu falei? Eu perguntei se depois dessa loucura toda, você vai ir na minha casa. Minha série acabou de lançar novos episódios, mas não quero ver sozinho.

— Provavelmente vou passar estresse o dia todo, não quero sair pra lugar nenhum depois de limpar essa zona e jogar toda a mobília fora...

— Tenho cerveja na geladeira.

— Agora falou a minha língua. — sorri e ele soltou um bufo divertido. — Eu levo a pizza.

Cadu

10/01/2018

Quarta-Feira, 14:22

Sonho ou não, aquela bruxa medonha estava certa.

Já faz doze dias desde que meu apartamento pegou fogo e as coisas parecem ter saído dos trilhos.

Geralmente, quando alguma coisa ruim acontece, leva alguns dias ou semanas para que outra aconteça. Mas desde que completei vinte e dois, tudo está meio horrível demais, risível até. Nenhuma entrevista de emprego dá certo e já fui em muitas. No instante em que descobrem que sou alfa, a cara azeda, parece que engoliram um monte de bosta e dizem o famoso "vamos entrar em contato".

Então tem o dinheiro que gasto indo e vindo de lugar pra outro procurando emprego. Isso aí é uma grana sem retorno, minha conta semi falida só vê retiradas.

Além de comprar umas peças de roupas em bazar de igreja, tive de encontrar o hotel mais podre, muquifo, xexelento e asqueroso que cobrasse a quantia mais insignificante e miserável possível que cabe no meu orçamento lamentável.

Antes de buscar outro lugar pra morar, preciso encontrar um emprego.

Não me preocuparia muito se esses fossem os únicos problemas com que tenho que lidar, dinheiro resolveria e isso eu conseguiria mesmo me prostituindo, mas me prostituir está fora de questão. Por enquanto.

De qualquer forma, já estou acostumado com isso, sempre foi difícil conseguir um emprego.

O problema é que coisas tem tentado me acertar com muita frequência. Por pouco não fui atropelado um monte de vezes nos últimos dias. Ontem, um vaso de flor caiu do terceiro andar de um prédio, se eu não tivesse parado pra atender uma ligação do Nando e tivesse continuado andando, seria atingido na cabeça.

E então tem os animais.

Parece que ficaram mais ansiosos por arrancar um pedaço de mim, inclusive um pássaro. Isso foi hoje, no instante em que desci do ônibus, ele veio me atacar, tentando arrancar meu cabelo, me bicando.

Nem sabia que pássaros voavam na chuva, muito menos atacassem pessoas com tanta sede de sangue, precisei bater nele com meu guarda-chuva que se quebrou enquanto tropeçava pela calçada. Se eu não estivesse com um guarda-chuva, não teria conseguido espantar ele.

Como meu guarda-chuva quebrou, acabei em outro problema: nem minha cueca escapou depois de ficar exposto ao dilúvio que tá caindo. Está chovendo sem parar desde ontem à tarde.

Tenho outra entrevista (a quarta de hoje), totalmente fora da minha área, mas em tempos de desespero, aceitamos qualquer coisa.

Depois de trocar de roupa num banheiro público -pois é óbvio que levo um conjunto de roupas extras na mochila, junto de remédios, faixas, meu novo tablet que o Sr. Demônio recusou devolução e meus documentos-, tentei fazer um acordo com o meu cabelo, mas desisti já que ele é rebelde e sem paciência nenhuma pra enrolar aquilo ali, puxei tudo pra trás e me apressei para o endereço da entrevista.

Algo sobre assistente de lar, talvez envolva faxina e coisas assim. Sou muito bom limpando e posso pagar o contratante para que me contrate. Pagarei com minha alma, mas deve servir.

Quando enfim cheguei no prédio, vi que é um daqueles prédios que geralmente jogam desinfetante quando um pobre passa perto. Tem até seguranças na entrada e esses mesmos seguranças estão me olhando como se fossem me tirar daqui carregado.

Funcionário de rico é uma desgraça mesmo hein, não pode andar com esses burguesinhos que de repente adquirem uma alergia de pobre, veem um e querem dar logo uma bicuda. Sou ladrão maiks não, eu hein...

Assim que cheguei na recepção, um ser de terno e gravata borboleta me olhou como se eu fosse um inseto, mas é assim que os estudantes de direito e vendedor de shopping costumam olhar pra todo mundo, estou acostumado.

— Boa tarde, o senhor Fonse...

— Ah, outro... — me interrompeu com um tom de desinteresse e franzi o cenho. — Décimo primeiro andar. — apontou para uma porta que tinha escrito escadas bem acima. — O elevador é apenas para moradores, senhor. — o tom de desprezo quando me chamou de "senhor" e o sorriso debochado que deu me fez questionar quantos salários mínimos ele ganha pra ser assim.

— Valeu aí, filho da puta. — resmunguei, seguindo para as escadas.

Não entro em elevadores voluntariamente á menos que queira perder metade do meu dia preso nele. Da última vez foram cinquenta e três horas definhando em um até alguém perceber que aquela merda havia parado de funcionar.

No anúncio, dizia que a entrevista seria direto na casa do contratante, não sei o motivo, nem me interessa, o salário é bom e oferecem comida e vale-transporte. Por um vale-refeição de mil e duzentos reais, eu faço a entrevista até dentro do ônibus.

Enquanto subia o sétimo andar, ouvi passos se aproximando e logo, uma garota descia as escadas chorando. Ao me ver, ela franziu o cenho por um momento, antes de continuar descendo.

— Se é pelo Filho da Puta Fonseca, eu daria meia volta se fosse você. — tentou secar o rosto, passando por mim e observei ela desaparecer em outro lance de escada.

Como assim filho da puta Fonseca?

Continuei subindo, conferindo as horas no meu relógio. Ainda tenho trinta e sete minutos. Posso subir com folga e chegar com antecedência. Uma pena ter molhado meu cabelo todo, ele fica mais encaracolado se eu não pentear...

Quando finalmente cheguei no décimo primeiro andar, a porta se abriu de novo antes que eu terminasse de subir os degraus, dessa vez era um cara. Ele passou por mim bufando, pisando duro e quase esbarrou em mim. O que há com esse povo? Como se o entrevistador e o contratante fossem o próprio demônio...

Antes de entrar no corredor, parei de andar considerando dar mesmo meia volta. E se ele realmente for um crápula? Fazer um candidato sair chorando e o outro bufando de raiva... esse contratante talvez seja muito exigente...

Bom, tanto faz. Agora preciso de emprego, quem se importa se vou trabalhar pra um tirano?

Já conheci gente de todos os tipos, o pior que pode acontecer é o cara esconder um corpo debaixo da cama.

Saí das escadarias e verifiquei no e-mail qual o número da porta, como havia só dois apartamentos nesse andar, é o que ocupa a direita. Essa porra de apartamento ocupa metade de um andar.

Me aproximei da porta, sem campainha, nem maçaneta, como entra nessa porcaria? Até pensei em enrolar um pouco, ainda tenho vinte e cinco minutos pra mudar de ideia dessa entrevista com o demônio, mas mal parei perto da porta e ela se abriu, um cara parou ali, me medindo de cima a baixo da mesma forma que o medi.

O cabelo longo, a raiz loira e o comprimento azul, a cara pálida e umas olheiras marcadas, parece que faz dias que não dorme. Que isso, vou ser contratado pro um cadáver?

— Achei que já tinha acabado esse martírio. — primeiramente boa tarde, né carai. A educação foi esquecida no útero da mãe ao nascer. Subiu mais alguém atrás de você? — apoiou uma mão na cintura.

— Não sei. Fonseca?

— Eu mesmo, entra. Quanto antes começar, mais rápido acaba. — E deu um passo pro lado, sinalizando pra entrar.

Ele nem sabe quem eu sou, não perguntou nome ou algo do tipo. Eu poderia ser um doido e entraria nesse apartamento pra fazer qualquer coisa.

Sequer passei da porta antes de sentir um cheiro de imundice arder lá fundo nas narinas, a ânsia de vômito subindo junto e parei na entrada, encarando aquele defunto magrelo com um misto de nojo e incredulidade. O apartamento do cara é o que se pode chamar de ninho de ratazana.

Roupas, embalagens de comida, caixas de pizzas, garrafas e toalhas, sapatos e acredito, um corpo enterrado numa montanha de lixo num canto. Esquece o cadáver debaixo da cama, ele o deixou na entrada mesmo. Tudo isso só na sala. Agora sei por que o salário é alto.

É só ignorar o local que parece ser criadouro de ratazana. Se surgir um rei dos ratos num canto, nem vou ficar surpreso.

Entrei no apartamento sentindo que minha alma ficou ali na porta se recusando a pisar nesse chiqueiro e ignorei a sensação de estar sendo vigiado por alguém aqui dentro ao me aproximar do sofá.

— Veio de longe? — questionou o garoto, apontando pra me sentar no sofá e eu, honestamente, não quero me sentar ali.

Vou sair daqui direto pro hospital com uma leptospirose ou quem sabe uma peste bubônica.

Calma, tudo por dinheiro.

Me sentei na beirada do sofá, bem longe do lixo espalhado por ele, enquanto ele se jogava em... suponho que uma pilha de lixo, pois tinha tanta roupa e embalagem no que deveria ser uma poltrona ao lado que não sei exatamente o que é de verdade.

— Sabe toda a baboseira normal de uma entrevista, vai do começo.

— Meu nome é Carlos Eduardo. Tenho vinte e dois anos, sou fluente em inglês, espanhol, francês e alemão. Fiz alguns cursos complementares durante o ensino médio e trabalhei efetivamente em dois escritórios de advocacia e em um hotel como...

— Quanta coisa, só tem vinte e dois? Será que é um péssimo funcionário? Por isso não fica em nenhum emprego? E como sei que realmente fala outros dois idiomas? — nunca levou tão pouco tempo para eu querer amassar o nariz de alguém.

— Está escrito aí e a menos que uma máquina de lavar roupa fale outro idioma, não vai ter utilidade. — Aquele maluco ficou me encarando por um longo tempo, os olhos entrecerrados. Olho por olho, eu lá vou deixar esse mané falar o que quer sem ouvir o que não quer? Ah, espera, estou aqui pra ser contratado, controle-se Eduardo!

— Tem carteira? Outras experiências? Quanto tempo? E por quê saiu?

— Tenho carteira de motorista A e B, trabalhei desde os quatorze anos como assistente de um advogado e quando completei dezoito consegui um segundo emprego no horário noturno como camareiro de um hotel. O escritório acabou fechando, pois o advogado foi fazer doutorado fora do país. No segundo escritório em que trabalhei, fiquei encarregado da recepção dos clientes, organização de arquivos e processos, mas fui desligado recentemente.

Falar que meu chefe resolveu contratar o sobrinho de quinze anos pareceria que eu estou reclamando de nepotismo.

Eu estou reclamando mesmo. Tomara que vá a falência.

— E o hotel?

— Pedi conta há quatro meses.

— Motivo?

— Problemas pessoais. — tipo o novo gerente que a minha bunda vivia assediando a mão dele. Era um alfa. Uma porra de um alfa e dos taradão ainda por cima.

Infelizmente meu punho também começou a assediar a cara dele no dia que pedi conta, foi um pouco caótico e muito satisfatório. Pena que o Sr. Demônio saiu lá da casa do caralho pra me tirar da cadeia e tentou me mandar pro inferno de tanto tapa que levei. Na frente dos Seu Polícia ainda por cima, quase prendem ele também.

— Talvez por ter dois empregos e ser demais pra lidar? — por que parece estar debochando agora? Eu hein... Deveria saber seu próprio limite, como posso confiar minha casa nas mãos de alguém que se acha o Superman? Enfim, algo mais?

— Trabalhei como freelancer em aplicativos de moto e como entregador, mas roubaram minha moto. E as pizzas que eu tinha de entregar. Na verdade, os ladrões me fizeram comer pizza com eles. — Eram gente boa. Mas ainda roubaram minha motoca, disseram que iam devolver depois de dar umas voltas, mas devolveram foi nada. Observei aquele tipo quase deixando os lábios subirem e fazendo careta pra continuar sério. — Também trabalhei como faxineiro, babá de crianças, de cachorro, tenho curso de cuidador de idosos e trabalhei em um asilo por cinco meses, também fui eletricista, montador, guia turístico, mas apenas pelo período de experiência e...

— Com esse monte de experiência, deveria ser fácil conseguir um outro emprego. Por que não aplica pra outros?

— Isso não é da sua conta. — e mais uma vez, falei antes que pudesse me impedir de falar. Talvez por esse lugar horrível ou esse burguês, está mais difícil controlar minha bocona de sacola. Ah, dane-se.

— Acho que sei por que não te contratam. — afirmou, cruzando os braços, sua atitude mais arrogante do que antes. — Seus pais devem estar orgulhosos, criando um moleque mal-educado e com essa cara feia emburrada... — o tom, a postura, o olhar, tudo de um desdém puro que me irritam ainda mais por vir falar de pais que nem tenho. Filho da puta. — Enfim, algum objetivo pra essa patética vida sua?

Não respondi. Deveria ter dado ouvidos pra sobrancelhuda chorona. Esse cara deve ter algum problema, não tem como alguém ser assim de graça. Ele ficou esperando uma resposta, me encarando e sustentei seu olhar. Se tem uma coisa que eu não temo, é olhar feio.

Quando me encaram então, aí é que tenho vontade de encarar de volta até que desviem o olhar. Vi como ele começou a ficar desconfortável, parecendo pensar em alguma coisa e franzir o cenho, finalmente desviando o olhar para a papelada que segurava.

— Não tem um sobrenome no currículo e você também não disse... — se endireitou, finalmente desfazendo a carranca e tentando mudar de assunto, mas me levantei, decidindo ir embora. — Espera aí! Eu estou falando! Que grosseiro, se levantar pra sair assim e...

— É porque eu não tenho. — ele se inclinou pra frente, finalmente parecendo ter algum interesse na entrevista e não só em me fazer de chacota.

— Como assim não tem?

— Meus patéticos pais não lembraram de deixar algum documento quando me jogaram num abrigo quando era bebê, então meu patético nome não tem um patético sobrenome. — e vi sua expressão mudar, parecendo chocado.

— Então cresceu em um? A vida toda?

— Te dá curiosidade o auge da miséria do ser humano? Lamento informar, não foi tão triste, deveria buscar algum refugiado de guerra ou alguém lá na Cracolândia.

— Em qual orfanato?

— Não te intere... — respirei fundo, tragando junto um fio de paciência. — Eu acho que isso não é relevante pra isso aqui. — ainda lutei comigo mesmo pra não ser grosseiro e vi como ele se levantava num salto, me encarando com os olhos vidrados de um maluco.

Abriu e fechou a boca algumas vezes, mas como não disse nada, decidi só ir embora logo.

— Espera aí! — gritou quando toquei na maçaneta da porta e o olhei por cima do ombro. — E-está contratado! — o quê? — Carlos Eduardo, não é? Pois é, tem... tem todos os benefícios da vaga, vale transporte, vale alimentação ou refeição, o que preferir, de nove ás cinco com uma hora de almoço e...

— Não, valeu. Trabalhar pra você testaria todo o meu autocontrole pra não cometer um crime de ódio e eu já gastei meu réu primário antes. — vi como ele arregalava os olhos, o queixo caindo e sua boca formando um perfeito "O" e dei o meu melhor sorriso cínico ao abrir a porta. — Eu não trabalharia pra um filho da puta feito você nem se me pagasse o dobro.

Saí daquele lugar sentindo o calor da raiva subindo pelo meu corpo e segui pelas escadas, tentando manter a irritação sob controle. É só um burguesinho arrogante que resolveu tirar o dia pra irritar pobre, não vou gastar energia com isso.

Vou caçar um puteiro pra trabalhar se não surgir nada até o fim do mês, seja o que o diabo quiser!

Estou desesperado por um emprego, mas não ao ponto de ir trabalhar com um palhaço psicopata. Não tenho lá o melhor dos controles.

No abrigo não era tão ruim quanto pintam por aí, os pajens eram muito cuidadosos, os mais velhos até ajudavam a cuidar dos menores e vez ou outra surgia uns possuídos com o capeta no couro que agiam como se estivessem em alguma prisão juvenil, bastava dar uns socos que logo eram exorcizados.

O problema sempre foi a escola, uns palhaços que achavam que podiam fazer o que bem entendiam comigo só por que era o filho da puta sem mãe, fui expulso de quatro escolas por reagir a bullying e ainda saí como o errado. De qualquer jeito, pra não apanhar, tive de bater. Nunca fiquei parado ouvindo ofensa de graça, não me orgulho disso, mas já bati em gente por muito menos.

Agora consigo respirar fundo e dar o fora, tudo graças aos ensinamentos na base do punho do Sr. Novaes. Se eu brigava na rua, apanhava o dobro com ele.

Eu sei, tenho que controlar meu temperamento, mas é difícil quando todo mundo acha que por ser pobre, tenho uma placa na cabeça escrito "Humilhe Aqui".

Não vou abaixar a cabeça pra filho da puta nenhum.

A Autora tem algo á dizer:

Rafael Goulart Luo

É o melhor amigo de Henri, que apesar de ter um ano de diferença, são confidentes. Eles estudaram na mesma escola no exterior e é um músico apaixonado de espírito livre e geralmente, foge de compromissos. É professor de diversos instrumentos musicais e leva muito á sério sua profissão.

Ele é um Ômega comum e tem uma essência suave de mirtilos, também é alérgico ao álcool, embora isso não o impeça de beber muito, ficando vermelho como uma lagosta no processo.

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