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21 de fevereiro de 2010.


     Desta vez, a carta estava enfiada embaixo do joelho do corpo. Era uma garota de vinte e poucos anos, loira, como todas as outras.

     "Vamos brincar de esconde-esconde. Será que você me encontra primeiro?"

     —Chegamos tarde demais, de novo.

     Fico enojada ao ler as palavras do bilhete. Desde o começo, esse homem brinca comigo e com suas vítimas como se todo o sangue que derrama não passasse de uma diversão infantil. Viro o papel amarelo rasgado nas mãos e vejo o que já sabia que estaria ali.

     "Para minha querida Susana Garrido."

     Prendo a respiração dentro da garganta. Toda essa situação me deixa atormentada como louca.

     Contando com essa garota estirada no chão do apartamento, já são oito. Oito mulheres mortas, e ainda não chegamos nem perto de captura-lo.

     Oito corpos e sete bilhetes. Desde que descobriu, de alguma forma, que eu fazia parte da equipe de investigação policial responsável pelo caso, o assassino começou a deixar bilhetes provocativos nas cenas de crime, assinando meu nome em cada um deles.

     Parece gostar de mostrar que está na minha cola, assim como estou na dele.

     —Como é que sempre deixamos esse homem escapar? – Questiono, mais para mim mesma do que para qualquer um.

     A denúncia havia sido feita há apenas 10 minutos. Um vizinho ouviu os gritos e ligou para a emergência. Nós chegamos ali tão rápido, e ainda não foi o suficiente.

     —Ele parece ser feito de poeira. – Meu parceiro diz, igualmente incomodado – Bum. E desaparece.

     Perdidos como nunca, nós resolvemos descer para olhar as câmeras de vigilância. E é nesse momento que as coisas ficam complicadas para valer.

     Porque as imagens gravadas não mostram ninguém saindo do prédio.

     —Caramba, Carlos. – Sussurro para o homem ao meu lado, porque tenho medo que falar mais alto acabe invocando algo encoberto – Ele não desapareceu. Ele ainda está aqui.

     O caos parece ser injetado em nossas veias. Em uma fração de segundos, o mundo torna-se um campo minado.

     Conforme a tensão estende-se como um cobertor ao meu redor, caminho atrás de um pesadelo de nome desconhecido.

     O prédio está abarrotado com dezenas de policiais em busca do assassino, mas é óbvio que sou eu quem o encontra, porque desde o começo ele queria ser encontrado por mim.

     Em um canto escuro perto das escadas de incêndio, ele parece me esperar. Não diz nada, e eu não digo nada, pois não há nada a ser dito.

     Os respingos de sangue em sua camisa branca podem até chamar antes a minha atenção, mas os olhos são os verdadeiros responsáveis por lançaram-me em um estupor. O verde das íris circula um anel acastanhado ao redor da pupila, formando um padrão inconfundível, do qual minha mente seria incapaz de esquecer-se enquanto a eternidade durar.

     São os olhos dele.

     Ergo a arma e miro em sua testa, mas hesito. O homem está sorrindo agora, porque sabe que não sou corajosa o suficiente.

     Mas ele é.

     Sinto o tiro antes de sequer notar a pistola em suas mãos. O sangue escorre de mim, quente, e estou desabando com os lábios entreabertos antes mesmo de ter a chance de implorar.

     Ouço a voz de Carlos surgindo atrás de mim, e eles gritam como que em câmera lenta.

     O mundo está girando tão, tão devagar.

     E, quando o som forte dos tiros ecoa pelo prédio, ele parece parar de vez.

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