Lilian está terrivelmente confusa. Seu primeiro ano como investigadora da polícia havia sido conturbado, com toda a certeza. O segundo ano? Mais ainda. Só que, até então, apesar de lidar com coisas desastrosas em praticamente todos os dias, ela nunca tinha se deparado com uma situação tão estranha quanto aquela.

     Desde o momento em que encontrou a mulher de meia idade caída em meio ao mato alto de um terreno qualquer, seus instintos entraram em alerta máximo. Tinha algo de errado ali, as contas não batiam. E ela iria descobrir qual era o fragmento fora do lugar.

     Estava na cara que não seria um trabalho fácil. Susana tinha uma energia difícil de decifrar, como se fosse um quebra-cabeças de muitas peças. E, é claro, não servia de nada o fato de que nenhuma das pesquisas de Lilian parecia ter um resultado lógico.

     Já fazia um certo tempo desde que ela havia deixado a sala de interrogatórios e se debruçado sobre o computador, mas nada parecia surgir. Nenhum mísero sinal de conclusão.

     —E aí, Lili? – Ela sentiu o toque de uma mão no ombro esquerdo, e o único motivo de evitar encolher o corpo foi ter reconhecido o timbre da voz. O velho Carlos era, provavelmente, o único e melhor amigo de Lilian dentro daquela delegacia – Qual a grande história de hoje?

     Ela abriu um esboço de sorriso ao girar a cadeira de rodinhas para ficar de frente para o homem.

     —Não tem nenhuma grande história, Carlos. Sou só eu estourando os miolos para tentar entender alguma droga de parte do que aconteceu hoje.

     Ele puxa uma outra cadeira para sentar-se do lado da policial.

     —E o que foi que aconteceu, hein?

     —Nós recebemos a denúncia de um suposto tiroteio. – Lilian suspira fortemente, tentando expulsar a frustração junto com o gás carbônico – Mas a única coisa que encontramos perto do local foi a mulher que fez a ligação, desacordada em um terreno baldio. Você com certeza consegue imaginar a reação do Alves, e sabe que isso já foi motivo o suficiente para me tirar dos eixos. Mas a história que ela contou só piorou as coisas, e não consigo encontrar nada conclusivo sobre.

     Ela não precisou dizer mais nada antes que Carlos empurrasse a cadeira com os pés, fazendo as rodas deslizarem até a mesa com computador mais próxima. Sem nem hesitar, ele apoiou as mãos sobre o teclado, como se deixar de ajudar Lilian fosse algo impensável.

     Pela primeira vez naquele dia, Lilian permitiu que um sorriso cansado lhe curvasse os lábios.

     —Obrigada por isso, Carlos. De verdade.

     —Não precisa agradecer Lili. – Ele devolveu o sorriso – Sabe disso. Agora me conta o nome dessa mulher misteriosa, vai.

     —Minha mulher misteriosa se chama Susana Garrido.

     Os dedos de Carlos congelaram sobre o teclado, assim como sua expressão.

     —Susana Garrido? Está falando sério?

     O sorriso de Lilian se dissipou. A mulher ficou ainda mais alarmada, se é que aquilo sequer era possível.

     —Sim, é sério. Você a conhece?

     Ele riu, mas o som não pareceu bem-humorado.

     —Conheço, sim.