Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

6




     A textura da mesa da sala de interrogatórios é exatamente como eu me recordava. Já faz muito tempo desde a minha última vez aqui, mas o ambiente, mesmo assim, chega a ser opressivamente familiar.

     Sinto-me em casa e, sinceramente, nem ao menos sei o porquê.

     Meu celular está conectado à tomada, graças ao carregador de Lilian. Em breve, poderei provar cada uma de minhas palavras, e deixar esta delegacia pela porta da frente sabendo que fiz tudo o que poderia ter feito pela memória de Erica. Espero que seu assassino logo esteja algemado, largado nessa mesma cadeira onde estou sentada agora. Mas, enquanto isso ainda não ocorre, o olhar dos policiais parece examinar cada centímetro de meu rosto.

     Alves encara-me como se eu fosse uma mentirosa prestes a ser desmascarada. Lilian parece ver-me como um mistério a ser desvendado. Mas não sou uma mentirosa, muito menos um mistério. Sou apenas uma mulher atormentada pelo passado.

     —Senhora Susana. – Chama Alves. Os dedos de suas mãos estão cruzados, os pulsos apoiados sobre a mesa. Detesto a forma como ele se comporta: parece querer imitar um predador cercando a presa, mas não sou o tipo de pessoa que se intimida fácil. – A sua casa fica na porção Norte da cidade, correto?

     —Correto. – Confirmo.

     —E o que estava fazendo naquele terreno baldio, localizado em um ponto tão extremo na porção Leste?

     De repente, mal consigo respirar. O verde daqueles olhos parece inundar todo o meu campo de visão, sufocando meu peito e lançando-me em queda livre. Nem sei direito como explicar toda essa confusão, então resolvo começar pelo início.

     —Há alguns anos atrás, eu tinha uma amiga. Melhor amiga. O nome dela era Erica Sandovan. – A simples menção de seu nome é o suficiente para embolar minha garganta – Ela era a pessoa mais doce que o mundo já conheceu, e eu a amava como se fosse uma parte de mim. Até que ela desapareceu.

     Os policiais estão atentos às minhas palavras, mas não sei exatamente o que buscam nelas. A temperatura na sala parece diminuir cada vez mais conforme relembro os piores momentos de minha vida.

     —Passaram-se dias sem que ninguém soubesse de seu paradeiro e, então... – Preciso fazer uma pausa para respirar fundo, porque pronunciar aquilo em voz alta é tornar tudo real – Seu corpo foi encontrado boiando em um rio.

     —Sentimos muito pela sua perda, senhora. – Lilian diz, cautelosa, e afunda-me ainda mais no turbilhão de pensamentos – Mas como essa história se relaciona com a sua ligação para a emergência hoje?

     A cada inspiração, meu peito enche-se mais com agonia. Já contei essa história milhares de vezes, mas não o suficiente para parar de doer.

     —Na mesma época que a morte de Erica foi reportada, outras também foram. Todas as vítimas eram garotas jovens e loiras, e todas foram encontradas na porção Leste da cidade. Talvez vocês fossem novos demais para se recordarem agora, mas tudo aquilo criou um caos. Ninguém sabia quem estava por trás desses assassinatos terríveis, e as pessoas passaram a ter medo de sair nas ruas.

     Faço uma pausa hesitante, porque não sei como contar a verdade que vem a seguir. Não quero parecer louca, porque não sou, mas talvez seja difícil faze-los crer no que realmente aconteceu.

     —Quando a Erica se foi... eu me revoltei. E fiquei ainda mais irada por não ter alguém para culpar, para odiar. O assassino passou a ser conhecido como Maníaco do Lado Leste, mas ninguém sabia absolutamente nada concreto sobre a sua identidade. Tudo era um grande mistério cheio de páginas em branco, e a incerteza parecia uma punição divina. Mas, então, eu o vi. O assassino da minha melhor amiga... apareceu em meus sonhos.

     Estou de olhos fechados, mas ouço o riso anasalado de Alves, que parece pensar que sou uma piada. Sei que deve ser difícil acreditar em mim agora, mas não sou uma mentirosa. Não sou.

     —Em seus sonhos, Susana? – Ele pergunta, mas não com curiosidade. Tudo o que aquele homem diz adquire um certo tom de deboche. Mas não vou abaixar a cabeça.

     —Sim, em meus sonhos. O rosto de um homem passou a me atormentar em pesadelos terríveis. Eu sabia que estava sonhando, sabia que nada daquilo era real. Não sei como a imagem dele surgiu, mas estava lá. E, sempre que acordava, tremendo e suando, a única coisa nítida da qual conseguia me recordar eram os seus olhos.

     Mesmo agora, consigo ver aqueles olhos malditos com uma perfeição inabalável. Quando as cores deles começam a substituir a escuridão das pálpebras fechadas, eu sinto vontade de desaparecer. Mas permaneço ali.

     —Eu desabei. Imaginei que aquele sonho poderiater sido uma tentativa do meu cérebro de preencher as lacunas, de criar alguémque eu pudesse culpar. Eu honestamente precisava de uma resposta para ter paz,e pensei que poderia estar, inconscientemente, fabricando as minhas própriasverdades. E era só isso, um delírio. Até que, pela primeira vez, uma vítima queele baleou no peito escapou com vida. Ela passou dias e dias no hospital, mas,quando finalmente contou o que havia acontecido...

     Respiro fundo novamente. Não estou louca.

     —Disse que a última coisa que viu antes de desabar foramos olhos dele. E eram iguais aos que apareceram em meus pesadelos.

     Conto mentalmente até 10. É óbvio que os policiais estão confusos, até sem reação, talvez. Acho que ainda não acreditam em mim, embora Lilian pareça se esforçar para compreender o que digo.

     —Tudo bem. – Alves já estava balançando a cabeça, incrédulo, antes mesmo dela começar a falar. Se pudesse, ele provavelmente gritaria aos quatro cantos que sou uma farsa – E o que tudo isso tem a ver com o que aconteceu hoje?

     Talvez essa seja a parte mais simples da história. Mas, se não acreditarem em mim, vai se tornar a mais complexa.

     —Eu pego um ônibus uma vez por semana e gasto horas percorrendo a cidade. Sendo honesta, ver a vida e o movimento ao meu redor é uma das únicas formas que encontrei para evitar enlouquecer. Às vezes sinto a necessidade de me lembrar que, por mais que meu mundo possa ter desabado algumas vezes, ele ainda continua girando. E funciona. Gosto muito disso, mesmo. Mas hoje as coisas foram diferentes.

     —E por quê? – Pergunta a policial.

     —Porque, enquanto eu estava no ônibus, o Maníaco do Lado Leste se sentou ao meu lado. Eu o segui até o sobrado, e assisti quando ele fugiu depois de ter disparado cinco tiros.

     O silêncio na sala tornou-se sepulcral. Alves e Lilian pareciam ter perdido todas as palavras em algum canto desconhecido, e nem sequer tinham pressa para procura-las. E, quanto a mim, tudo o que pude fazer durante os vastos instantes em que a quietude se estendeu foi tentar banir o verde e o castanho que alugavam espaço em minha mente.

     Quando Lilian enfim disse algo, foi de forma incerta, como se estivesse andando sobre uma trilha de ovos.

     —Tudo bem, senhora. Alves, você pode analisar o conteúdo das gravações do celular? Acredito que já deve estar carregado à essa altura. Enquanto isso, eu vou checar as informações sobre o caso do Maníaco citado, tudo bem? Nós voltaremos em breve, Susana.

     Apenas concordei com a cabeça, sentindo meu corpo retorcendo-se com algum tipo de energia nervosa. Pareço ouvir um tique-taque soando, como um cronômetro fazendo uma contagem regressiva.

     Muito em breve, tudo isso estará acabado.

     E ainda não sei o que farei depois.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro