🔹 33 🔹
Já faz dois dias que estou aqui, do lado de sua cama, lhe fazendo companhia.
E mesmo ainda não tendo despertado, Adam me passa uma tranquilidade que me energiza. Não quero chamar de coma, afinal, acho essa palavra muito pesada, mas ele não abre desde que minha avó retirou o veneno de dentro dele.
Seus sinais vitais estão estáveis, os exames que o submeteram deram normais, não sabiam o que tinha de errado com ele para que não despertasse.
Eu só saí do quarto um par de vezes para tomar banho, me trocar, esse tipo de coisa. Em algum momento durante esses dias que fiquei aqui com ele, se apiedaram de mim, e trouxeram uma espécie de sofá um pouco mais largo e confortável, já que estou dormindo aqui.
Logo nas primeiras horas que chegamos aqui, um bilhete selado e escrito pelo pai de Adam chegou, agradecendo por minha avó ter salvado a vida do seu filho, e que por mais que ele quisesse vir correndo para perto do filho, não poderia, pois sabia que tinha muitos olhos em cima dele e não poderia correr o risco de denunciar os esconderijos. Mas que para manter as aparências tinha mobilizado uma força tarefa para fingir que estava buscando o paradeiro do filho. Pediu que se possível mandassem notícias de Adam para a província, e mais uma vez agradeceu por salvar a vida do Adam.
Não estou dormindo muito, afinal, as poucas horas que consegui fechar os olhos foram conturbadas por movimentos e pesadelos.
O corte que minha avó fez no braço dele agora é algo do passado, e tudo o que tinha sobrado disso era apenas uma marca suave e clara no comprimento da sua pele. Ela me tranquilizou muito, explicou o que sabia sobre aquele veneno, e me garantiu que ele está fora de perigo, porém, só vou me sentir completamente tranquila quando ele acordar.
Mas uma coisa não me saia da cabeça, e quando compartilhei minhas ideias com dona Edith, ela disse que averiguaria aquilo.
De onde veio aquele veneno na lança?
Já tinha me garantido que ninguém do nosso lado usava aquele veneno, nem em situações extremas, então pela lógica, só poderia ter vindo do lado de lá...
O pensamento mais lógico é que alguém reconheceu o Adam quando ele estava correndo em minha direção e resolveu aproveitar a chance para eliminar uma ameaça. E até então não acho que isso seja uma ideia absurda.
O problema é que mais ninguém do nosso lado foi afetado por esse problema, e bem que gostaria de pensar que tivemos sorte, porém não consigo aceitar aquilo. Isso parece suspeito demais para pensar na simplicidade.
Estou quase cochilando sentada, quando batidas na porta me chama a atenção.
— Oi querida — o sorriso que minha avó abre ao entrar no quarto me faz sorrir também. — Como você está?
— Acho que consegui dormir um pouco mais — minto para ela, e vejo sua boca comprimir um pouco, não acreditando.
— Será que posso dar uma palavrinha com você? — concordo com a cabeça e ela senta ao meu lado. — Querida, nem sei como começar a explicar isso.
— Já percebi que a conversa não vai ser boa, não é mesmo? — solto um longo suspiro. — Pode ir direto ao ponto então, não precisa suavizar as coisas para mim...
— Odeio ter que fazer isso agora, quando o seu namorado ainda está desacordado, mas precisamos assegurar pelo menos uma conversa agora, para que as coisas não fujam do controle. Você sabe que aqui em Nihal, há alianças entre as províncias, correto?
— Sim. Mas que história é essa de conversa?
— E você se lembra que eu já fui governadora da província do Raio, e com o casamento da sua mãe, você se tornou uma herdeira importante tanto da nossa província, como de Nihal, correto?
— Não tem um dia que eu tenha a sorte de esquecer isso. E a senhora acabou de me relembrar o quanto ainda é poderosa.
— Sinto muito mais uma vez por isso. Mas o que é importante é: quando você nasceu, a província do Raio estava passando por sérios problemas, então para evitar que as coisas saíssem demais do controle, foi resolvido que faríamos uma aliança, com a província do Metal.
— Até então não vejo o motivo da senhora estar me falando isso. A não ser que... — digo já imaginando o que vem a seguir, porém não querendo colocar em palavras.
— Pela sua feição, acredito que você já assimilou o que eu vou falar querida. Essa aliança envolve você.
— Sei que essa não é hora para brincadeiras, mas por favor me diz que a senhora está brincando...
— Sinto muito querida — pelo seu tom de voz e pela tensão em seus ombros, percebo que realmente ela sente e que aquilo está realmente acontecendo.
— Mas vó, a senhora nunca achou ruim meu namoro com o Adam, se eu estou realmente numa aliança, comprometida com outra pessoa, você poderia ter falado algo!
— Eu nunca falei nada sobre o Adam, pois realmente gosto dele e fiquei feliz por vocês dois! Foi totalmente contra os meus princípios fazer isso com você, mas se serve de alguma coisa, eu juro que tentei livrar você disso enquanto fui governadora do Raio, quando o poder saiu de minhas mãos, saiu da minha alçada também fazer algo sobre isso.
— Então isso quer dizer que eu vou ter que me casar com uma pessoa que nem ao menos conheço?
— Não querida! Quando ditei os termos da aliança, deixei sempre bem claro que a escolha final era de vocês, e graças aos céus o governador na época concordou com isso. Nós só íamos facilitar a conversa entre os dois, dar um meio para uma aproximação, só. Se vocês quiserem se envolver vai depender única e exclusivamente da vontade de ambos.
— Obrigada.
— Mas dito isso, vamos ter que fazer uma visita a província do Metal. Você só precisa conhecer o seu pretendente, não precisa passar disso. O governador atual, assim como Nihal inteira já sabe do seu relacionamento com o Adam, então acho que eles até já estão esperando cada um seguir por um caminho. Mas para não fragilizar ainda mais a aliança, você terá que cumprir o seu lado.
— Será que podemos ao menos esperar o Adam acordar? Não queria partir assim sem falar nada com ele. Bilhetes não são tão eficientes.
— Claro querida! Obrigada por ser tão compreensiva. Vou organizar os arranjos para partirmos assim que ele despertar. Agora que tal descansar um pouco querida? Numa cama de verdade para variar um pouco?
— Não consigo — estico as costas e escuto um leve estalar me ajudando a esticar um pouco mais.
— Tudo bem então — ela faz um carinho em meu cabelo e dá um beijo no topo da minha cabeça ao se levantar e sair.
Olho para Adam que ainda está inalterado deitado no leito e apenas sussurro uma prece para que consiga despertar logo.
A cada minuto que passava, me sentia mais angustiada e impotente. Olhar para ele, que sempre me encheu de força e confiança e não poder fazer nada para ajudar além de segurar sua mão e conversar de vez em quando me fazia chorar todas as noites.
E os dias foram passando.
Os bilhetes que o pai do Adam mandava, agora passam a ser endereçados a mim, e de alguma forma, mesmo a distância estamos nos apoiando.
"Entendo, obrigado por conversar com ele todos os dias enquanto eu não posso. Sei que posso confiar a vida dele aos seus cuidados. Vocês se complementam" sorrio ao ler o último bilhete que tinha recebido hoje pela manhã.
Contabilizamos sete dias e nenhuma reação vinda do Adam.
Eu comia muito pouco, mais me forçava sempre a comer um pouco mais para que quando ele acordasse, me visse bem. Recebemos visitas de muitas pessoas, e nesses momentos conseguia sorrir um pouco mais, mesmo sem soltar sua mão.
E foi na madrugada do oitavo dia, que escuto uma movimentação dentro do quarto, e ao abrir os olhos, me espanto com o que vejo.
⚜ Adam ⚜
Antes mesmo de abrir os olhos, sinto o cheiro de limpeza e escuto um bipe baixo ao meu lado. Não preciso pensar demais para perceber que estou em um hospital.
Abro os olhos e está um pouco escuro, deve ser de noite.
Fico um pouco atordoado por não saber como cheguei ali, pois minha última lembrança é de estar em casa, indo para a cama cedo, pois já tinha passado da minha hora.
Percebo que não estou sozinho no quarto. Uma menina de cabelos escuros está dormindo num sofá ao lado da minha cama. Ela parece ser mais velha, e mesmo com os fios cobrindo parcialmente o seu rosto, ela me lembra alguém.
Tento me sentar na cama, porém, meus braços e pernas estão presos. Não quero fazer barulho para não acordar a menina, senti que ela precisava descansar. Porém, sinto o medo gelar em minhas veias. Será que meus pais estão por aqui?
Olho para as amarras e acho estranho.
Meus braços estão diferentes. Bem mais compridos e com alguns pelos escuros. Testo a amarração e percebo que a da mão direita está um pouco frouxa, então depois de puxar com uma força que nem sabia que tinha, consigo livrar a mão.
Olho para a menina adormecida e sorrio ao perceber que ela não acordou com o barulho.
Desfaço a amarra da outra mão e a dos pés e então passo a mão pelos cabelos, me assustando com o corte diferente. Não deveria ter crescido tanto assim! Minha cabeça doeu um pouco quando sentei e apertei do lado dos olhos, fechando-os com força.
Abaixo novamente a cabeça e me espanto ao sentir o que parece ser barba no meu queixo. Passo a mão para ter certeza, e aquilo realmente arranha levemente meus dedos.
O que está acontecendo aqui?
O medo atingiu um nível tão grande que quis me esconder debaixo dos lençóis e até me belisquei algumas vezes para ter certeza que aquilo não é um pesadelo.
Meu rosto e corpo parecem estão completamente diferentes.
Ergo o olhar e percebo uma porta entreaberta, e já como realmente estava num hospital, supus que aquilo era um banheiro, então ali dentro deve ter um espelho. Tinha um pequeno negócio preso como se fosse um pregador no meu dedo, e como aquilo estava preso a todas aquelas máquinas, percebi que tinha que tirar aquilo se quisesse ir ao banheiro.
Assim que retiro, um pequeno bipe ecoa pelo quarto, e imediatamente a menina que dormia, ergue a cabeça e desperta.
— Adam! — ela chama meu nome com uma voz doce e pelo sorriso que abriu, parecia bem feliz em me ver.
— Oi — respondo meio sem jeito.
Ela levanta-se da cadeira, e se aproxima de mim. Quando ela chega a menos de um suspiro, percebo o motivo de achar ela parecida com alguém.
Os olhos dela, os olhos dela são iguais aos da Megan.
Só que não podia ser verdade, já que eu conheço a mãe dela, e sei que não é ela aqui. E a Megan que eu conheço tem a minha idade, então não faz sentido eu encontrar nessa menina os olhos iguais aos dela. A não ser que ela tenha uma irmã mais velha que eu não conheça e...
— Como você está? — ela pergunta, tirando o cabelo da minha testa e analisando o meu rosto.
— Bem — então recordo do meu corpo que não parece meu e complemento. — Quer dizer, acho que estou bem.
— Estou tão feliz que finalmente você acordou — uma lágrima escorre por seu rosto e minha mão se movimenta quase que no automático para enxugá-la.
— Obrigado, eu acho — eu dormi por quanto tempo? Quis perguntar isso, mas a pergunta morreu em minha garganta. Senti que deveria perguntar algo primeiro. — Mas por que você estava chorando?
— Já estava ficando preocupada, pensava que nunca mais teria uma conversa assim com você meu amor.
Amor?
Acho que eu devo ter feito uma cara muito espantada, pois a menina recuou um passo e ergueu as sobrancelhas.
— Você sabe quem eu sou? — consigo sentir o nervosismo dentro de sua pergunta.
Não soube ao certo o que responder. Eu ainda preciso entender o que está acontecendo e parece que se eu responder sem consideração, a menina com os olhos iguais aos da Megan vai ficar magoada.
— Adam, pode ser sincero comigo. Não vou ficar chateada nem te fazer mal algum. Você sabe quem eu sou? — há tanta doçura em sua voz que o meu medo derrete que nem açúcar.
— Desculpe, mas não sei quem você é. Por mais que seus olhos me lembrem alguém, eu não acho que tenha lhe visto antes.
— Meus olhos te lembram alguém? Uma amiga quem sabe...
— Como você sabe disso? — um pouco de medo volta a percorrer minhas veias.
— Sua amiga por acaso se chama Megan? Megan White? — ela pergunta com a voz quase num sussurro e eu arregalo os olhos. Como ela poderia saber disso?
— Você me disse que não me faria mal — encolho um pouco o corpo.
— E eu não vou fazer Adam! — ela se apressa em dizer. — Mas queria dizer que sou eu.
— Eu quem? — fiquei um pouco confuso.
— Eu sou a Megan.
Solto uma gargalhada que saiu muito mais grave do que imaginei, e agora que percebi, minha voz estava diferente, grossa. Estava tão focado em levantar e me olhar no espelho, que esse detalhe tinha me escapado.
— Mas a Megan só tem dez anos! Você definitivamente não tem dez anos!
— Não, realmente não tenho... Deve ser um efeito colateral — ela fala baixinho, acho que mais para ela mesma do que para mim.
— Efeito colateral? Você disse que não faria nada comigo! — o medo volta com força total.
— E não fiz Adam! Pelos céus! Eu nunca faria nada para te prejudicar!
O olhar triste que escureceu o azul de suas íris me convenceu de alguma forma.
— O que está acontecendo? — um nó se forma em minha garganta quando percebo que não sei o que vai acontecer em breve.
— Ainda não tenho a certeza, porém, vou fazer tudo o que estiver em meu alcance para te ajudar.
E sua mão é quente quando a coloca em cima da minha, e de alguma forma sinto que tudo vai ficar bem.
⚜ Megan ⚜
Minhas preces finalmente foram ouvidas. Adam despertou.
Porém, como o destino sempre que está lidando comigo parece ter algo na manga, algo para tirar dos eixos o que poderia ser extremamente simples, percebo que algo está errado.
Durante a nossa conversa, ele admite que não sabe quem eu sou, mas me acha parecida com a sua amiga, Megan, que no caso ainda sou eu. Ele não parece tão diferente assim, porém, ele não está correto na idade que acha que tem e ele mesmo tem. Como se a sua memória recente tivesse desaparecido.
Deve ser um efeito não documentado daquele veneno.
Mas e agora, o que posso fazer? Posso utilizar meu domínio de mente para ver se as memórias dele ainda estão por lá, só que desconectadas de alguma maneira, mas prefiro não entrar na mente dele. Ainda não consegui tirar da cabeça aquilo que o Martin e eu conversamos, sobre sentimentos implantados e tudo mais.
Eu poderia ajudar ele contando algumas lembranças que nós dois compartilhamos, mas a infinidade de lembranças e experiências que ele teve durante todos esses anos que aparentemente ele não lembra... Não tenho como saber disso sem entrar em sua mente e nem assim é garantia delas estarem por lá.
Coloco minha mão por cima da sua e tento de alguma forma confortá-lo.
Por enquanto que eu não posso fazer nada por ele, vou procurar alguém que talvez consiga fazer algo. Um médico ou alguém com mais experiência.
Abrindo um sorriso fico de pé.
— Fica aqui um pouco Adam. Vou avisar para os médicos que você acordou — meu corpo se move quase que sozinho e só percebi que tinha dado um beijo em sua testa quando ele arregala os olhos e me olha espantado.
— Espera — ele diz segurando o meu cotovelo. Fico sem entender. — Espera só um minuto, não chama ninguém ainda, me promete.
— Prometo — digo ainda confusa, mas apenas me encosto na parede e espero por ele.
Ele abre um sorriso muito familiar e corre pro banheiro, e menos de dois minutos depois está de volta.
— Ok, mas por que você quis que eu... — e antes que eu completasse a frase, sou surpreendida com um beijo.
E não um beijo de alguém que está com lapso de memória e não lembra quem eu sou, mas sim um beijo do meu namorado. Do cara que esteve do meu lado nos piores e melhores momentos aqui. Do que eu tive tanto medo de perder, que o meu coração quase para nesse momento.
O hálito de hortelã que me cerca mostra o que ele foi fazer no banheiro.
— Oi amor — ele diz dando um beijo na ponta do meu nariz, me deixando ainda colada no corpo dele.
— A-Adam? Mas como?
— Estava morrendo de medo quando você me disse que era a Megan, acho que eu estava em alguma lembrança de quando tínhamos uns dez, onze anos. Porém, quando você plantou um beijo em minha testa, algo trouxe as lembranças e tudo de volta. Já não é a primeira vez que o nosso amor nos salva de algum modo — ele abre um sorriso lindo.
— Ainda bem que o nosso amor é além da magia ou sei lá o que aconteceu com você... — deposito a minha cabeça no seu peito e fico tranquila ao escutar as batidas do seu coração.
Estava tão feliz que nem percebo que temos uma pequena plateia na porta do quarto. Um médico, uma enfermeira, minha avó e Nicky estão parados ali, sorrindo.
— Fico feliz que esteja acordado e bem senhor Krauss — o médico diz, limpando a garganta e entrando no quarto. — Será que vocês podem nos dar licença um momento para que nós dois possamos examinar o nosso novo desperto? — ele aponta para as pessoas que não precisam estar no quarto e acenamos positivamente.
Mando um beijo para o Adam antes de sair e fechar a porta atrás de mim.
— E será que agora que você já viu o seu namorado sorrindo, e aparentemente está tudo bem com ele, será que podemos conversar sobre a nossa viagem iminente? — o sorriso que minha avó me dá já mostra como ela sente muito.
Minha felicidade morre um pouco, pois realmente não queria fazer aquilo, porém, eu só preciso ir conhecê-lo, e isso não parece ser tão ruim assim.
Boa tarde dominadores! Capítulo fresquinho com pequenos sustos, porém já superados! Estamos quase em contagem regressiva para o fim!
Emocionada estou, emocionada estarei!
Deixem aquela interação que eu amo, e vamos lá continuar!
Beijos e até o próximo capítulo.
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